Fala
sério!
“Eu não tinha ideia do que seria. Francamente, minha
vida nunca foi tão especial quanto agora que faço parte da Drugs. Antes dela,
minha vida era uma banalidade… Durante a escola eu não era nem o gênio que
sentava na frente, nem o bagunceiro do fundão. O fantasma que perambulava por
aí agora se tornou alguém!”
Codinome: SLASH
Ano 2010. 17 anos. SLASH vive sozinho, no fundo da casa de uma tia que atualmente saiu para viajar. Logo ele faria 18, então ela não se importou muito se algo acontecesse com SLASH enquanto ela estivesse fora. Pai? Nunca conheceu. Mãe? Uma prostituta que o abandonou assim que nasceu para voltar a sua labuta. Amigos? Não tem…
Trabalha
em uma lojinha de conveniência. Da mesma forma que em casa, ele sempre passa
despercebido. Quase sempre ouve um “não te vi aí” ou “você já tinha chegado?”.
Se sente triste e solitário, mas se sente confortável, a solidão é sua
“companhia”. Tem um estilo punk, cabelo sempre para o alto, mudando sempre que
pode, piercing na boca, na orelha e na sobrancelha. Às vezes passa um lápis
preto quando está na moda ou usa aquelas calças super apertadas, não muito,
incomoda andar na rua desse jeito. Sempre que está frio, ele põe um sobretudo
preto que comprara na Galeria do Rock no centro, assim como seus coturnos ou
botões. Na camisa preta estão estampados os mais diversos logos de bandas de
rock, punk, alternativo e o que for “do momento” que lhe esteja agradando.
SLASH tem uma paixão secreta, ele adora mangás, os quadrinhos japoneses.
Desde
que começou a trabalhar aos 12 anos, descobriu esse mundo alternativo na banca
de jornal. Comprou simplesmente porque a capa era interessante, não parou mais
depois disso. A maioria dos garotos que leem mangá se apaixonam pelos seus
traços e tenta imitá-los, com ele não foi diferente, SLASH, também desenha.
Por
trás do garoto de poucas palavras, existe um artista que clama para sair. Com
lápis e papel são criados os mais diversos aspectos da realidade “alternativa”
que ele desenvolveu para si.
Conforme
o tempo passou, seu quartinho foi ficando cheio de imagens esquisitas e
transversas, roubadas de algum lugar e misturadas com algum sonho que deu
errado. Por vezes era medonho, por vezes era simplesmente incrível! No entanto,
para sua tia amarga, era apenas lixo que o filho daquela mulher trazia pra
casa.
Uma
noite, aquela “velha”, como ele a chamava, cheia de raiva que tinha levado um
calote de uma cliente, resolveu limpar a casa, TODA a casa. Deveria ser uma
maneira de se acalmar, talvez. Ao chegar do trabalho, SLASH sentiu um cheiro de
queimado vindo do quintal dos fundos. Correu e viu aquela cena que, para ele,
era extremamente diabólica: sua tia pegara tudo, os papéis, os mangás… todo o
trabalho e esforço dele e estava queimando tudo. O que se sucedeu a seguir é quase
impronunciável. Deixar-se-á para o leitor pensar no que acontecera da melhor
maneira que lhe vier à cabeça. Mas deixa-se claro o desfecho:
—Moleque
maluco, você me paga! Eu deveria tê-lo deixado na rua desde o dia em que aquela
vagabunda te deixou aqui! — SLASH recolhe os últimos papéis que sobraram,
abraçando-os fortemente e entra no seu quartinho, fechando bruscamente a porta,
passando dias lá dentro, chorando…
Depois
daquele dia triste em sua via, as lágrimas secaram, ficara rude e mais quieto que
antes. Não mais falava com a tia, que também não se importou com a indiferença.
Não desenhava mais, de vez em quando tentava algum esboço quando tinha papel e
caneta na mão, algo inconsciente, deva se dizer, parando assim que se lembrava
do que havia acontecido. Continuava comprando mangá, apenas deixando os
infantis e comprando qualquer título impróprio para menores. Pode não parecer,
mas ele aparentava ser mais velho do que realmente era.
O ano
2010 havia chegado, sua tia tinha saído de viagem sem se importar com o que
aconteceria com ele, pois logo ele faria 18 anos. É aqui que realmente começa
nossa história, no dia em que o mangá de capa preta foi comprado.
Levantou-se
cedo, queria sair o mais rápido possível daquele lugar. Iria sumir, procurar
uma casa para alugar e se mandar da casa da tia. Tudo planejado há semanas!
Arrumou sua trouxinha de coisas na mochila, não era muito mesmo. Saiu de casa e
foi andando. Pegou um ônibus e foi ao centro, passaria pela Galeria do Rock,
depois numa livraria para comprar um jornal e iria lanchar qualquer besteira.
Foi o que fez. Na livraria, olhou por diversos títulos antes de pegar o jornal,
era um costume bobo, só para ter a sensação de que os livros não estão tão
distantes de seu alcance financeiro. Então ele viu uma seção especial atrás de
uma cortina, achou interessante e passou para o outro lado. Deu alguns passos
adentro e a abertura por onde havia passado desapareceu…
Não
havia notado de início e olhando distraidamente foi entrando cada vez mais. Ali
havia títulos sem nome, de capa preta; o ambiente era sombrio e empoeirado, a
luz se mostrava fraca, mas dava para enxergar tudo muito bem. O corredor dava
para um balcão com uns três metros de altura e com um atendente enorme que
estava de costas e agachado fazendo alguma coisa. A sensação era de que o
corredor estava crescendo, talvez fosse alguma vertigem, talvez. SLASH tentou
voltar e percebeu que a entrada não estava mais lá:
– Que
merda é essa! — SLASH tapou rapidamente a boca, voltando-se lentamente para o
balcão.
O
atendente ouviu e parou com o que estava fazendo, levantando-se. SLASH viu o
que parecia um enorme gafanhoto de olhos amarelos, um louva-deus na verdade,
vestido como um funcionário da livraria em que estava agora a pouco:
—
Vejo que o senhor veio buscar o seu livro?
— … —
Como era de costume, SLASH não falou.
— Ah,
sim, como sou esquecido! O senhor não gosta de falar, não é? — SLASH fez um
sinal de sim bem retraidamente. — Bem, bem… eu estava procurando por ele agora
mesmo. Onde será que eu o deixei? Onde será… Ah, sim! Esta na prateleira 20,
corredor 10, numeração 18! Poderia ir buscá-lo meu caro?
— … —
Novamente o sinal com a cabeça.
— Que
bom, assim terei mais tempo para organizar isso tudo. Não conte pra ninguém,
ouviu, você não viu nada… — O atendente louva-deus retornava para debaixo do
balcão.
“Que
esquisito”, pensou, “esse bicho me conhece”! Não entendendo exatamente o que
estava acontecendo, foi procurar o tal livro. Aquele lugar parecia ser enorme,
se desdobrando cada vez mais. As numerações estavam diminuindo, começando do
corredor 100. Chegando ao 10, viu de um lado as prateleiras ímpares e do outro
as pares. Teve de subir nas escadas. Na prateleira 20, haviam diversos livros,
do 00 ao 99, não eram grossos como a maioria, sua aparência lembrava mais a de
um… mangá!? Sim, tamanho A5, capa simples, completamente preta, com o nome
SLASH na capa. Desceu as escadas e começou a folheá-lo. Estava em branco. “O
que será isso”, indagou-se. Decidiu voltar até o balcão. Andou, andou… Não conseguia
chegar! Os número, antes previsíveis, mudaram de cara, pareciam em outra língua
ou coisa assim. Olhou para um lado, olhou para o outro, sempre a mesma cena,
estantes e mais estantes. Tentou correr… nada! Sentou-se e abriu novamente o
livro. Desta vez havia algo escrito na última página: “Vire-se”. Sentiu um ar
frio soprar em seu pescoço e virou-se. Viu a cortina e, tão logo quanto pode,
levantou-se e saiu daquele lugar. Olhou assustado para as pessoas que estavam
na livraria concentradas, vendo se encontravam alguma coisa para levar.
Virou-se novamente, novamente não havia mais nada lá… Pegou o jornal e saiu
andando depois de pagar. Foi para uma lanchonete, onde se sentou,
psicologicamente exausto, precipitando-se na cadeira. A garçonete foi anotar o
seu pedido:
— O
que vai querer senhor?
— Um
X-burguer , batatas e uma coca na latinha, por favor.
— Já
trago o seu pedido… Vai querer um copo?
—
Ahn?
— Um
copo senhor?
—
Sim…
SLASH
estava ainda muito desnorteado. Resolveu então pegar novamente o livro… na
última página estava escrito outra coisa agora, o que causou um sobressalto em
SLASH, que lia o seguinte: “Bem vindo a Drugs”…
Nenhum comentário:
Postar um comentário