sexta-feira, 4 de maio de 2012

Devil's Drink - 10# Shot

            Nem todos os clientes que chegam a Toca dos Gatos conseguem ficar quietos curtindo em paz, tomando suas bebidas. Alguns teimam em arranjar brigas por puro egocentrismo. Uma vez, numa noite fria de neve de inverno, dois guerreiros de lugares distintos foram ao bar para ter alguma diversão e descobriram-se insuportáveis. Um se chamava Auran, um artífice – guerreiro que preza pela beleza e perfeição de suas missões mais do que pela batalha; o outro se chamava Hidari, um típico guerreiro que conquista tudo através das batalhas, no cara a cara, no mano a mano – nem preciso dizer o quanto ele é esquentado. Auran tem por arma uma harpa, tirando desde melodias incríveis a terríveis réquiens. Hidari usa a grande espada, uma arma maior que seu próprio corpo e tão grande quanto ele, diga-se de passagem. Eles são opostos que definitivamente não se atraem...

...

            Hidari chegou fazendo um escândalo:
            –GARÇOM!!! Eu quero sua melhor bebida!!! Minha goela está mais seca que o deserto do Saara!!! – Ele se sentou num dos bancos junto ao balcão.
            “Sujeitinho deplorável”, pensava Auran já sentado justamente no banco ao lado. En’hain fez como sempre, preparou a melhor bebida do bar, a Devil’s Drink – uma bebida alucinógena que faz quem o bebe vislumbrar um sonho. Hidari ia começar a beber, não fosse ele ter notado a grande beleza e satisfação da casa, Lady Neko:
            –Chega mais gatinha, o papai aqui quer te fazer muito feliz essa noite!
            –Miau! – Lady Neko se assustou com o puxão que Hidari lhe fez, deixando cair o pedido de um dos clientes que não ficou nada satisfeito com a atitude daquele homem:
            –Solta a moça. – Disse Auran. – Não está vendo que ela não quer nada com você?
            –E quem é você sujeitinho metido? Mamãe não lhe avisou que só deveria sair de casa depois que saísse das fraudas? – Hidari se referia à aparência franzina de Auran, deixando Lady Neko de lado.
            –... – Hidari não falou, na esperança de que o imbecil que estava a sua frente percebesse o erro que cometera.
            –É melhor ficar calado mesmo, frangote... – Hidari ia levar o copo da Devil’s Drink à boca, não fosse ele ter quebrado na sua mão. – Que porra é essa?!
            –Lá fora, agora... – Auran saiu de dentro do bar e foi para a praça da vila e Hidari foi atrás, ambos calados.
            Os dois ficaram se encarando por algum momento, esperando ver quem começava. Como o assunto não ia pra frente, Auran falou:
            –Pro seu próprio bem, acho melhor você pedir desculpas... – Hidari começou a rir descontroladamente.
            –Hahaha... Nem a pau! – Sua cara ficou séria de repente e partiu para cima de Auran, sacando sua espada.
            –Acho que vou precisar ser mais duro com você criança. – Auran saltou, desvencilhando-se facilmente do golpe, o que deixou Hidari vermelho de raiva.
            Com precisão e rapidez, Auran abriu o estojo de sua harpa oriental de treze cordas, sentou-se e começou a tocar sua música mais conhecida, a sinfonia das facas. Hidari começou a ser golpeado constantemente pelo próprio ar, que lhe fez alguns cortes superficiais. Ele colocou a grande espada na frente do corpo e a enterrou no chão, impedindo os golpes de fazerem mais estragos. Auran cerrou os olhos:
            –Você realmente pensa que algo assim vai me impedir? – Ele mudou a maneira como tocava a harpa e as facas de ar começaram a dar a volta por trás dele.
            –Desgraçado! – Depois de alguns corte, Hidari tirou a espada do lugar e deu um forte giro de trezentos e sessenta graus, mandando uma forte onda de ar que quase atingiu Auran que saltou bem alto dali mesmo. – Haha! Esse jogo é para dois, seu metido!
            –Me parece que o imbecil está se divertindo com nossa pequena disputa? – Hidari se enraiveceu mais ainda. – Ter prazer numa luta de honra é para os ridículos!
            –Miserável! – Mandou outra onde de choque para cima de Auran. – E o que você entenderia miserável! Um guerreiro de verdade vive pela sua batalha!
            –Tolo! – Auran pulou novamente para longe. – Só os tolos têm prazer em tirar a vida do próximo!
            –Ora.. seu!
            De um lado, Hidari mandava ondas de ar comprido sucessivas tentando acertar Auran; do outro Auran aumentava a intensidade de sua sinfonia de maneira frenética, sem, no entanto, estar parado. A disputa se prolongava por apenas alguns minutos, mas o estrago que causava a pequena vila dos gatos era grande. Os nekos estavam preocupados, o Senhor Gunshin estava fora de novo e se aquilo se prolongasse ainda mais, a vila poderia sofrer grandes consequências.
            –E o que você pensa em fazer? – Perguntou Gurei a En’hain.
            –Eu vou dar um jeito...
            En’hain foi mais próximo que pode daquela guerra insana e tentou falar com os dois:
            –PAREM JÁ COM ISSO! – Os dois olharam para En’hain, se entre olharam e fizeram sinais comuns, se entendendo entre eles.
            –Vamos acabar com esse aí primeiro...
            –Quem matá-lo ganha...
            –FUDEU!!! – A batalha tinha mudado completamente de sentido. – Bem, se assim que vocês querem...
            En’hain deu uma espalmada poderosa, reverberando por todo lado, chegando até os encrenqueiros que se desequilibraram um pouco, mas só um pouco:
            –Vejam só! Ele também sabe brigar. – Disse Hidari num tom de gozação.
            –Então quer dizer que Gunshin deixou este lugar sagrado nas mãos de seu barman?
            –...! – En’hain não entendia nada. – Do que vocês estão falando?
            –Acho que aqui vou poder usar meus poderes especiais... – Disse Hidari.
            –Hum, ótima idéia! Também vou usar minhas melhores notas para desfiar a carne desse intrometido.
            –Não será preciso... – Interrompeu Hidari.
            Na espada de Hidari existem duas grandes jóias, um rubi e uma safira, que possuem propriedades elementais do fogo e da água, respectivamente. Hidari colocou a espada na frente do corpo e apertou fortemente a empunhadura, liberando a energia contida nas jóias. Seu corpo se metamorfoseou sendo tomado pelas energias das salamandras e das ondinas, deixando um lado do corpo alaranjado e em chamas, e o outro azul e cristalizado. O poder Elemental também tomou conta da espada que liberou uma descarga intensa de energia sobre En’hain, que foi acertado em cheio, sumindo no meio do vapor em chamas:
            –Eu disse que não seria preciso. Onde nós estávamos, mesmo? Disse Hidari.
            –A luta ainda não terminou... Olhe! – Auran apontava para o meio da fumaça que se dispersava.
            –ISSO DOEU! – Aquele tom voz macabro anunciava que En’hain estava praticamente transformado, uma vez que sua carne fora inteiramente removida.
Porém, havia algo de diferente daquela vez, a transformação ocorrera rápido demais e não houve tempo para ele conter suas emoções. O próximo estágio de En’hain estava surgindo. Na sombra daquela fumaça podia se ver algo medonho, de olhos vermelhos e sem nenhuma outra feição, de corpo completamente prateado. En’hain sentiu dores fortes e começou a se contorcer e diversas bocas cheias de dentes surgiram pelo seu corpo. De dentro delas estavam sendo emanadas chamas azuis que tomaram conta da aura de En’hain, deixando a visão ainda mais sombria. En’hain se moveu para frente e sumiu. Os dois guerreiros nem tiveram tempo de se defender...
Pela manhã, como de costume, Gunshin, o dono do bar, aparece sem ser anunciado:
–En’hain, o que aconteceu aqui? Porque estes dois estão completamente enfaixados?!
–O idiota exagerou ontem na hora de proteger a vila... – Disse Gurei.
–...!
Foi isso...

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