sábado, 5 de maio de 2012

Devil's Drink - 11# Shot

            O Bar Toca dos Gatos abre praticamente o ano inteiro, exceto por um único dia: O dia das Bruxas. Segunda a antiga tradição celta, o ano começaria no dia primeiro de novembro, sendo este um dia sagrado – o dia de todos os santos. Eventualmente, o dia anterior é considerado um dia escuro, onde seres do plano transversal sobem a superfície. A vila dos Gatos é protegida por uma magia antiga chamada parede de silêncio que não deixa o plano transversal passar para o plano físico. Porém, nesse dia, as criaturas do abismo, os amorfos, conseguem ultrapassar essa barreira e ficam perambulando pelas ruas da vila. Aquele que for pego por uma dessas criaturas nunca mais volta a ver a luz...
...

            –Akai, saia já dessa janela! – Disse En’hain já sem paciência.
            –Nyaaa! Eu quero ver... – O gatinho fazia beicinho.
            –...! – En’hain fechou a cara.
            –Tá bom... – O gatinho estava se retirando.
            De repente, ouviu-se um barulho do lado de fora. De súbito, Akai voltou para a janela esperando ver alguma coisa:
            –BUU! – Um ser disforme apareceu na janela.
            –NYAAA!!! – O gatinho se assustou e se escondeu debaixo de uma mesa.
            –Gurei, vá à merda, seu desgraçado! Tem nada melhor para fazer não? Assustar o pobre do Akai desse jeito... – Gurei sai debaixo de um lençol completamente preto. – Entre já, essas criaturas vão aparecer a qualquer momento.
            –Hahaha, você devia ter visto a cara dele. – Gurei entrou no bar. – Foi hilário... hihihi.
            –Ha-ha... Muito engraçado... Estou rindo muito com isso... Canalha!
            En’hain foi para trás do balcão, onde limpava os copos, pensativo. Akai olhou para Gurei e correu para trás do balcão ainda nas quatro patas:
            –Nyaaa! Lady Neko? – Perguntou Akai.
            –Sim... Ela foi ficar com o vovô gato, o Nekomata... Espero que ela fique bem...
            –Que preocupação é essa? A vaca leiteira sabe se cuidar muito bem...
            –...! – En’hain olhou para Gurei com um olhar assassino... – Não é isso...
            –O que é então? Não vai me dizer que...
            –Qual é o seu problema, hein?
            –Você é mesmo muito engraçado, haha... Você está tendo sensações esquisitas de novo! – Gurei não se aguentava de rir.
            –Vá-te catar Gurei... – En’hain joga o copo que enxugava na cabeça de Gurei.
            –Ai, cacete! Doeu... – Gurei esfregava o galo na cabeça. – Não tinha nada mais duro não?
            En’hain olhou novamente com seu olhar assassino e começou a apontar uma garrafa das grandes:
            –Tá bom, tá bom... Não tá mais aqui quem falou... Sossega dragão! – En’hain apertou forte o punho enquanto uma veia na sua testa saltava. – Vixi!
            Akai ficava meio escondido atrás do balcão, apenas com seus olhinhos e com suas orelhinhas aparecendo. En’hain fez um cafuné nele e voltou a enxugar os copos do balcão. Então alguém começou a bater freneticamente na porta:
            –Quem será? – Disse En’hain se dirigindo à porta.
            –En’hain, meu querido, preciso de ajuda! – Disse Lady Neko afoita.
            –Espere aí, o que foi que acontece? Porque você está assim.
            –Tinha um pequeno neko lá no templo do vovô gato... Eu não encontrei ele e o neko tava desmaiado... eu vim correndo sem saber o que fazer...
            –Quê? Não dá para entender nada dona peituda...
            –O QUE VOCÊ DISSE?! – Lady Neko acertou aquela garrafa grande que En’hain pensava e jogar.
            –Gurei tem razão, não deu pra entender nada. Pode repetir, com mais calma dessa vez?
            –Ei, ninguém vai me ajudar não? Acabei de ser bombardeado!
            –Bem, eu cheguei ao templo e não encontrei o Senhor Nekomata. – Lady Neko se sentou num dos bancos do balcão para se acalmar. – Não tinha ninguém lá, exceto um pequeno neko muito bonitinho, eu me aproximei um pouco e ele desmaiou. Vim pra cá correndo.
            –Certo, vamos até lá ver direito o que aconteceu. Akai, você vem com a gente...
            –Nyaaa! – O gatinho ficou feliz.
            –Não é segurou pra ninguém ficar sozinho... – En’hain olhou para Gurei. – Você não vem?
            –...! – Gurei saiu andando como uma múmia, lento e todo enfaixado. – Eu tô bem, me deixa, eu tô bem...
            Durante todo o trajeto até o templo eles ficavam juntos, tomando cuidado para não esbarrar com nenhum amorfo. Eles estavam muito juntos:
            –Desencosta, cacete! Assim vocês me sufocam! – En’hain empurra os outros três para respirar melhor.
            –Nyaaa?! – Fez Akai.
            –Você pode subir nas minhas costas... – Os outros dois olharam para aquela cena. – Nem pensem nisso vocês dois! Onde já se viu...
            Continuando a caminhada, os quatro chegaram ao templo xintoísta dos nekos, um lugar típico dessa cultura, exceto pelos grandes gatos de pedra ladeando o portal vermelho. Cada gato levantava uma das patinhas ao lado do rosto, como quando estão tomando seu banho de língua – os do lado direito estavam levantando a pata esquerda e os do lado esquerdo a pata direita. As grandes árvores ornamentais traziam pureza ao lugar, tornando aquele dia sombrio mais bonito. Dentro do templo, encontraram o tal neko, no mesmo lugar que Lady Neko o havia deixado:
            –Vejam, ele está ali. – Lady Neko apontou para o jovem neko.
            En’hain correu para perto dele, depois de descer Akai de suas costas. Tomou seu pulso, viu sua respiração, tinha um pouco de sangue no nariz... Concluiu que ele apenas tinha desmaiado e que estava bem:
            –Lady Neko, o que exatamente aconteceu aqui? – Perguntou En’hain.
            –Como assim, eu estava aqui, ele desmaiou...
            –Você abraçou ele? – Indagou En’hain.
            –Ahn? Acho que sim... Isso é ruim? – Lady Neko era muito inocente.
            –Já sei o que aconteceu... Acorda vovô, eu sei que é você!
            –Ta-dá! – Uma pequena explosão de fumaça e o jovem neko se revelou o velho Nekomata da vila. – Gostaram da transformação? Aprendi com uma velha chaleira lá no Japão...
            –Só você mesmo, velho tapado, pra fazer uma brincadeira dessas em pleno dia das bruxas. – Disse Gurei.
            –Você devia se envergonhar por fazer uma confusão dessas! Você devia se envergonhar!
            –Eu estava tão preocupada, vovô... – Lady Neko sentiu algo estranho lhe tocando. – Mas agora que eu sei que o senhor está bem!
            Lady Neko deu um murro e tanto na cara do velhinho tarado:
            –Eles são lindos, eles são tão lindos... – Dizia o Nekomata, abrindo e fechando as mãozinhas no meio do ar, com a cabeça afundada no chão, revirando os olhos.
            Já que todos estavam ali, lá ficaram. Naquele dia, não apareceu nenhum amorfo...
            –Ahn? – Disse um amorfo no meio da rua.
            Foi isso...

Nenhum comentário:

Postar um comentário