O Labirinto Virtual
Vasto como
o infinito, essa era a definição mais precisa do labirinto. Paredes com
centenas de metros, quilômetros atrás de quilômetros de vias tortuosas, aquele
era o verdadeiro inferno, não havia nada lá além de passagem atrás de passagem.
Não havia nada vivo lá, o silêncio é tão grande que qualquer movimento do corpo
era um ruído ensurdecedor. Levar a loucura... Esse é o objetivo do labirinto!
Pois, quem quer que adentre nele para tentar roubar algo ou mesmo que chegasse
lá por engano teria sua sanidade drenada a cada passo. Alguém, em algum lugar
uma vez disse: “Só sabemos quem somos, porque não somo os outros com quem
convivemos”. Isso queria dizer que se alguém vivesse completamente sozinho,
longe de qualquer movimento da existência, se tornaria nada!
Kullat e
Thagir chegaram ao labirinto em pontos distintos, muito longe um do outro.
Começaram a andar e andaram durante horas a fio, gritaram para tentar ouvir
alguma resposta. Nada. Usaram suas armas e poderes para tentar ter alguma pista
do que fazer. Novamente, nada. Kullat estava sem muitas forças, mas Thagir
estava pior. Toda vez que tentava tirar um cochilo o poder do coração de Thandur
tentava tomar-lhe a consciência, penetrando em seus sonhos. Ele estava cansado,
estava há horas sem dormir. “Preferia não ter dado aquele energético para
Laryssa”, pensou ele, “seria melhor tomá-lo agora”. A cabeça estava doendo, os
olhos tentavam fechar e ficavam reabrindo, o coração palpitava se esforçando
redobradamente para levar o sangue para o resto do corpo. Sinais crônicos de
fadiga. O próximo sintoma seria:
–Alucinações...
Estou tendo alucinações... – Um vulto que lembrava alguém encapuzado passava
diante dele na próxima esquina. – Espere!
Seus gritos
foram em vão, sempre quando chegava bem perto de encontrar o vulto, o corredor
inteiro estava vazio. Não dava pra saber exatamente o que acontecia, estava
tudo rodando em sua cabeça, perdera completamente a aguçada noção de sentido e
já não percebia mais por quais caminhos ele havia passado, quais eram sem saída
e não reconhecia a direita da esquerda. Thagir deu mais um passo e desmaiou. Em
seu sonho perdido ele via a si mesmo, voltara à infância, era uma criança como
qualquer outra, esquecida num castelo velho sem ninguém por perto. “Um dia
ruim”, lembrou-se ele, “o dia em que conheci o monstro do meu quarto”. O Senhor
de Castelo não tinha ideia do porque estava sozinho naquele momento de sua
vida, foi apenas um dia ruim.
Caminhando
pelos jardins, ele começou a ouvir a voz de uma criança chamando-o para
brincar. Olhando em volta, percebeu que era alguém do alto do castelo, na mesma
janela de seu quarto. Puro e inocente subiu as escadas acinzentadas com aquele
relampejo de felicidade infantil que não distingui o perigo das outras coisas.
Curioso, foi entrando serelepe, parando somente quando a porta bateu com força
atrás dele. Do armário subia uma fumaça de maru escura ao mesmo tempo em que
ele tremia. Tomado pelo pavor, o jovem Thagir tentava desesperadamente abrir a
porta chamando pela mãe. Subitamente aquilo parou e a porta continuava trancada.
A criança se aproximou tomada pela curiosidade de saber se ainda havia algo lá
dentro, indo devagar e calmamente por causa do desejo de sair correndo e, ao
tentar abrir:
–Aaaaaaaaaah!
– Thagir gritou.
–Thagir!
Thagir! – Kullat balançava insistentemente o parceiro.
–Ahn? O
quê? – Thagir acordava de seu sonho ainda meio sonolento.
–O que
aconteceu? Você estava gritando!
–Eu... Não
me... Lembro direito. – Ele bateu no rosto tentando acordar. – Acho que eu vi
algo...
–E o que
era?
–...! – A
dor continuava fazendo-o apertar as mãos contra a cabeça. – Lembrei!
–Calma,
diga com tranquilidade, o que você viu?
–Um
monstro...
–...? –
Kullat estranhou a nova conversa.
–Era um ser
deformado... Não tinha lábios ou pálpebras e o rosto estava cheio de
cicatrizes. Ele me segurava pelo braço tentando me morder...
–E o que
aconteceu?
–Ah... Lembro-me
de meu pai entrar batendo com o pé na porta empunhando um canhão de maru de potência
enorme que fritou a coisa em segundos! Heh, aquela beleza me fez ter certeza
que eu queria ser pistoleiro!
–Não me
lembro de você ter me dito isso antes. – Kullat se sentiu mais calmo com o
amigo, ele parecia normal.
–Acho que eu
ainda tenho medo daquela coisa...
–Você?! Com
medo?! Conte outra! Nunca conheci um guerreiro tão corajoso quanto você! –
Kullat quase riu no fim da frase.
–Bem, até
um tempo atrás eu nem me lembrava disso. Engraçado, parece que esse lugar faz
isso de propósito. – Thagir estava sorrindo. – Quem é você?!
–Thagir,
você está me assustando... – O pistoleiro sacou uma pistola e mirou no rosto de
Kullat, a queima roupa.
–Se tem uma
coisa que eu considero abominável é entrar na mente das pessoas para
manipulá-las... Eu vou repetir. – Thagir puxou o cão para trás, armando a
pistola com um clique. – Quem é você?
–Uirbocsed
em êcov oãtne... – Ele gargalhou ruidosamente, liberando uma fumaça pela boca
que inibiu a visão de Thagir. –Agora que entendo como você fala, vai ser muito
mais fácil conseguir a espada do infinito!
O Senhor de
Castelo atirou na fumaça tentando acertá-lo, ela se dispersou e mesmo o
corredor sendo longo, o inimigo não estava mais lá. Nem o coração de Thandur
conseguia detectá-lo, sua velocidade fora realmente impressionante. Thagir
guardou a pistola e se sentou no chão, escorado pela parede do labirinto:
–Ainda bem
que eu me conheço muito bem... – Thagir estava rindo de si mesmo. – Pena que
não produzem mais daqueles canhões de potência, eu ainda quero um daqueles!
Thagir
ouviu passos ao longe e entrou em estado de alerta. Prosseguiu com a
supervelocidade do verdadeiro coração de Thandur, sem exageros, até a próxima
esquina do labirinto e tentou surpreender o novo inimigo:
–Parado! –
Thagir foi puxado e jogado contra a parede. – Droga! Essa doeu...
–Thagir?! –
Dessa vez era Kullat, o verdadeiro.
–Nossa... –
Thagir se recompôs. – Ainda bem que eu te conheço muito bem...
–Como? –
Kullat estranhou o que seu companheiro dizia enquanto estendia a mão para
ajudá-lo.
–Amigo,
tenho más notícias... –Thagir contou a Kullat o que acontecera com ele, que os
inversos já haviam feito contato e que eles poderiam estar em desvantagem.
Os dois
castelares estavam juntos de novo e o Labirinto Virtual reagiu a isso,
modificando sua estrutura. As grandes curvas secas se tornaram longos
corredores, entre os corredores, prédios surgiam e se formavam nas paredes.
Eles eram altos, tão altos que não se podia ver seu fim, o pescoço não
alcançava. Nas bases haviam pequenas aberturas retangulares do tamanho certo
para um humano passar, todas sempre na mesma distância entre elas, cerca de cem
metros. No fim do corredor havia um prédio diferente, gigantesco, metálico e
que se erguia aos céus, rodeado de canos virados para lá e para cá, lembrando o
caule de uma árvore:
–Aquela
deve ser a árvore de aço...
...
Transmissão continua...
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