quinta-feira, 7 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


O Labirinto Virtual



            Vasto como o infinito, essa era a definição mais precisa do labirinto. Paredes com centenas de metros, quilômetros atrás de quilômetros de vias tortuosas, aquele era o verdadeiro inferno, não havia nada lá além de passagem atrás de passagem. Não havia nada vivo lá, o silêncio é tão grande que qualquer movimento do corpo era um ruído ensurdecedor. Levar a loucura... Esse é o objetivo do labirinto! Pois, quem quer que adentre nele para tentar roubar algo ou mesmo que chegasse lá por engano teria sua sanidade drenada a cada passo. Alguém, em algum lugar uma vez disse: “Só sabemos quem somos, porque não somo os outros com quem convivemos”. Isso queria dizer que se alguém vivesse completamente sozinho, longe de qualquer movimento da existência, se tornaria nada!
            Kullat e Thagir chegaram ao labirinto em pontos distintos, muito longe um do outro. Começaram a andar e andaram durante horas a fio, gritaram para tentar ouvir alguma resposta. Nada. Usaram suas armas e poderes para tentar ter alguma pista do que fazer. Novamente, nada. Kullat estava sem muitas forças, mas Thagir estava pior. Toda vez que tentava tirar um cochilo o poder do coração de Thandur tentava tomar-lhe a consciência, penetrando em seus sonhos. Ele estava cansado, estava há horas sem dormir. “Preferia não ter dado aquele energético para Laryssa”, pensou ele, “seria melhor tomá-lo agora”. A cabeça estava doendo, os olhos tentavam fechar e ficavam reabrindo, o coração palpitava se esforçando redobradamente para levar o sangue para o resto do corpo. Sinais crônicos de fadiga. O próximo sintoma seria:
            –Alucinações... Estou tendo alucinações... – Um vulto que lembrava alguém encapuzado passava diante dele na próxima esquina. – Espere!
            Seus gritos foram em vão, sempre quando chegava bem perto de encontrar o vulto, o corredor inteiro estava vazio. Não dava pra saber exatamente o que acontecia, estava tudo rodando em sua cabeça, perdera completamente a aguçada noção de sentido e já não percebia mais por quais caminhos ele havia passado, quais eram sem saída e não reconhecia a direita da esquerda. Thagir deu mais um passo e desmaiou. Em seu sonho perdido ele via a si mesmo, voltara à infância, era uma criança como qualquer outra, esquecida num castelo velho sem ninguém por perto. “Um dia ruim”, lembrou-se ele, “o dia em que conheci o monstro do meu quarto”. O Senhor de Castelo não tinha ideia do porque estava sozinho naquele momento de sua vida, foi apenas um dia ruim.
            Caminhando pelos jardins, ele começou a ouvir a voz de uma criança chamando-o para brincar. Olhando em volta, percebeu que era alguém do alto do castelo, na mesma janela de seu quarto. Puro e inocente subiu as escadas acinzentadas com aquele relampejo de felicidade infantil que não distingui o perigo das outras coisas. Curioso, foi entrando serelepe, parando somente quando a porta bateu com força atrás dele. Do armário subia uma fumaça de maru escura ao mesmo tempo em que ele tremia. Tomado pelo pavor, o jovem Thagir tentava desesperadamente abrir a porta chamando pela mãe. Subitamente aquilo parou e a porta continuava trancada. A criança se aproximou tomada pela curiosidade de saber se ainda havia algo lá dentro, indo devagar e calmamente por causa do desejo de sair correndo e, ao tentar abrir:
            –Aaaaaaaaaah! – Thagir gritou.
            –Thagir! Thagir! – Kullat balançava insistentemente o parceiro.
            –Ahn? O quê? – Thagir acordava de seu sonho ainda meio sonolento.
            –O que aconteceu? Você estava gritando!
            –Eu... Não me... Lembro direito. – Ele bateu no rosto tentando acordar. – Acho que eu vi algo...
            –E o que era?
            –...! – A dor continuava fazendo-o apertar as mãos contra a cabeça. – Lembrei!
            –Calma, diga com tranquilidade, o que você viu?
            –Um monstro...
            –...? – Kullat estranhou a nova conversa.
            –Era um ser deformado... Não tinha lábios ou pálpebras e o rosto estava cheio de cicatrizes. Ele me segurava pelo braço tentando me morder...
            –E o que aconteceu?
            –Ah... Lembro-me de meu pai entrar batendo com o pé na porta empunhando um canhão de maru de potência enorme que fritou a coisa em segundos! Heh, aquela beleza me fez ter certeza que eu queria ser pistoleiro!
            –Não me lembro de você ter me dito isso antes. – Kullat se sentiu mais calmo com o amigo, ele parecia normal.
            –Acho que eu ainda tenho medo daquela coisa...
            –Você?! Com medo?! Conte outra! Nunca conheci um guerreiro tão corajoso quanto você! – Kullat quase riu no fim da frase.
            –Bem, até um tempo atrás eu nem me lembrava disso. Engraçado, parece que esse lugar faz isso de propósito. – Thagir estava sorrindo. – Quem é você?!
            –Thagir, você está me assustando... – O pistoleiro sacou uma pistola e mirou no rosto de Kullat, a queima roupa.
            –Se tem uma coisa que eu considero abominável é entrar na mente das pessoas para manipulá-las... Eu vou repetir. – Thagir puxou o cão para trás, armando a pistola com um clique. – Quem é você?
            –Uirbocsed em êcov oãtne... – Ele gargalhou ruidosamente, liberando uma fumaça pela boca que inibiu a visão de Thagir. –Agora que entendo como você fala, vai ser muito mais fácil conseguir a espada do infinito!
            O Senhor de Castelo atirou na fumaça tentando acertá-lo, ela se dispersou e mesmo o corredor sendo longo, o inimigo não estava mais lá. Nem o coração de Thandur conseguia detectá-lo, sua velocidade fora realmente impressionante. Thagir guardou a pistola e se sentou no chão, escorado pela parede do labirinto:
            –Ainda bem que eu me conheço muito bem... – Thagir estava rindo de si mesmo. – Pena que não produzem mais daqueles canhões de potência, eu ainda quero um daqueles!
            Thagir ouviu passos ao longe e entrou em estado de alerta. Prosseguiu com a supervelocidade do verdadeiro coração de Thandur, sem exageros, até a próxima esquina do labirinto e tentou surpreender o novo inimigo:
            –Parado! – Thagir foi puxado e jogado contra a parede. – Droga! Essa doeu...
            –Thagir?! – Dessa vez era Kullat, o verdadeiro.
            –Nossa... – Thagir se recompôs. – Ainda bem que eu te conheço muito bem...
            –Como? – Kullat estranhou o que seu companheiro dizia enquanto estendia a mão para ajudá-lo.
            –Amigo, tenho más notícias... –Thagir contou a Kullat o que acontecera com ele, que os inversos já haviam feito contato e que eles poderiam estar em desvantagem.
            Os dois castelares estavam juntos de novo e o Labirinto Virtual reagiu a isso, modificando sua estrutura. As grandes curvas secas se tornaram longos corredores, entre os corredores, prédios surgiam e se formavam nas paredes. Eles eram altos, tão altos que não se podia ver seu fim, o pescoço não alcançava. Nas bases haviam pequenas aberturas retangulares do tamanho certo para um humano passar, todas sempre na mesma distância entre elas, cerca de cem metros. No fim do corredor havia um prédio diferente, gigantesco, metálico e que se erguia aos céus, rodeado de canos virados para lá e para cá, lembrando o caule de uma árvore:
            –Aquela deve ser a árvore de aço...
...

Transmissão continua...

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