quarta-feira, 13 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Um ser de Ébano renasce



“A única coisa de que me arrependo, é de nunca ter sido amado...”

...
            Thagir e Kullat saíram do Labirinto Virtual e logo foram transportados repentinamente para a Estrela Escura onde o arauto do Mestre Caçador estava. De volta ao salão do centro de energia do colosso espacial, os castelares observavam os doze Caçadores Sombrios, seis de um lado, seis do outro, todos com as mãos para trás e o rosto baixo. O mago estava no chão, não se movera, estava com um ar estranho, estático e imóvel. Ao se aproximarem, notaram que no chão estava uma imensa poça de sangue e um fluido negro que gotejava constantemente do Ilusionista, o grande observador atrás do arauto. Isso preocupava os Senhores de Castelo, o que eles fariam agora que o arauto estava morto? Uma voz que trovejava por todo o salão quebrou o silêncio:
            –Me entreguem a espada!!!
            –Quem disse isso?! – Indagou Kullat
            –Creio que este seja o Mestre Caçador... – Thagir continuava com o olhar fixo na direção do mago.
            –Huuunnnhuuunnnhuuunnnnhuuunnn... Huuunnnhuuunnnhuuunnnnhuuunnn... – Os Senhores de Castelo reconheceram o som daquele dia em que haviam chegado à ilha de Ev’ve.
            –Quem é você, mostre-se! – Exigiu o pistoleiro de Newho.
            –Eu... Sou... Ébano!!! – O grande grimório usado pelo arauto flutuava no ar ainda aberto e se fechou, na capa um grande olho observava os dois castelares.
            –Então era aí que você estava esse tempo todo! Realmente, eu ainda não havia desconfiado de um objeto... – Thagir parecia despreocupado.
            –O que é isso? – Perguntou Kullat.
            –Este... Esta coisa é... Um comedor de sonhos...
            –Mas, eles não estão presos na dimensão do meio? Para que serve a espada e toda essa movimentação de corpos e estrelas?
            –Huuunnn... Como pode ver, estou preso e com a espada do infinito poderei finalmente sair!!! – Aquilo ecoava estrondosamente.
            A vibração da espada estava no máximo e foi puxada para fora da estrela junto com o livro. Todos os Caçadores Sombrios recitavam as mesmas palavras antigas compelidos por uma força externa anormal que Kullat e Thagir também sentiam. Os antigos chamam essa energia de “O coro de anjos”, dezenas, centenas, milhares, milhões de seres recitando o mesmo cântico. Os reféns deviam estar sobre a influência do livro. Quando essa melodia começou a tocar, as Estrelas Escuras finalmente se iluminaram, vibravam em uníssono, junto à ilha de Ev’ve. Era agora, o tempo e o espaço estavam se rasgando e a dimensão do meio se abriu. De dentro da fenda, uma massa disforme e escura tentava se por para fora aos poucos. O que fazer? As armas haviam acabado, o canhão de potência estava com a bateria gasta depois de tantos tiros, o novo cajado de Jord não poderia ir contra um ser capaz de comer a realidade. Algo horrível estava saindo e iria começar a devorar o multiverso! Thagir se concentrava e tentava lembrar-se daquele dia em Newho, ele estava esquecendo-se de algo e sentia que sua memória estava voltando. Olhou para todos os caçadores e reconheceu algo familiar:
            –Dânima! – Thagir estava livre do feitiço. – Meu amor, acorde!
            O Senhor de Castelo estava parado diante da grande arqueira dos Caçadores Sombrio, que não se movimentava:
            –Thagir, você tem certeza, ela não se parece com a sua esposa...
            –Eu sei que é ela... Naquele dia, ela era o segundo Caçador!
            Kullat estava incrédulo:
–Como poderia ser? Dânima nunca faria uma coisa dessas! Ela nem é guerreira!
–Meu amigo, ela é de Newho! Veja isso... – Thagir tirou a parte da roupa de couro que cobria o rosto, mostrando algo incomum.
–Isto é... – Kullat se aproximou para ver. – Uma tatuagem fantasma!
–Sim, tudo está fazendo sentido agora! É assim que o comedor de sonhos controla os Caçadores Sombrios. Deixe me ver... – Thagir sussurrou algo no ouvido da esposa e a tatuagem desapareceu, fazendo a rainha de Newho desmaiar, caindo nos braços de seu marido.
–O que você fez?
–Durante a luta que tivemos no alto da torre do castelo de Newho, fomos surpreendidos por uma pequena boneca de cachinhos dourados...
–Aquela usada por Inok, certo?
–Certíssimo! Dânima não se mexia diante dela e eu aproveitei para derrubá-la sem maiores esforços. Para meu espanto, aquela boneca medonha começou a falar uma única palavra repetidas vezes: “Dentro, dentro, dentro”...
–Dentro da boneca?
–Isso mesmo! Dentro dela havia um papel e uma jóia. Quando tentei ler o que estava escrito, as letras passaram para a minha mão e subiram, direto para a minha mente! É isso! Os Caçadores Sombrios estavam mandando uma mensagem, nela dizia sobre N’quamor, o contra-feitiço para a tatuagem fantasma e...
–E o que mais homem?! Não podemos perder tempo, o multiverso está sendo desintegrado lá fora!
–Dânima sabe o que precisamos fazer, ela precisa acordar! Acorde meu bem! Acorde! – A rainha não respondia. – Eu te amo...
Como um sopro de vida, as palavras de Thagir ecoaram nos ouvidos de Dânima, despertando-a de seu sono:
–Ahn? O quê? Onde estou? Thagir? Você está chorando? – A esposa passou carinhosamente a mão na barba de seu marido que a apertava fortemente, e ele segurou em sua mão em sinal de resposta.
–Dânima, meu amor, nós precisamos agir! – Thagir ajudava sua bela esposa a se levantar enquanto ela ia retomando a figura serena que o povo de Newho tanto amava.
–Sim, estou me lembrando... Precisamos dar corda nas engrenagens do arauto!
–Fruto da magia e da tecnologia... – Thagir olhava para Kullat, tentando diminuir seu espanto.
Os três se aproximaram do arauto e lhe tiraram a capa que cobria o corpo, mostrando um peito feito de vidro, completamente preenchido por rodas dentadas da mais fina espécie, delicadas e frágeis como flocos de neve. No lugar do coração havia um relógio, havia marcações de ano, mês, dia, hora, minutos e segundos; com uma inscrição por debaixo dos ponteiros: “A única coisa de que me arrependo, é de nunca ter sido amado...”. Dânima olhava para o mecanismo tentando se lembrar do que devia fazer e começou a contar ao marido o que havia acontecido quando fora sequestrada:
–Me lembro de estar com nossas filhas, eu estava bordando e elas lendo alguns livros. De uma hora para outra estávamos num lugar diferente, que parecia um grande cilindro onde cabia quilômetros de chão, florestas e rios... – Thagir prestava atenção na esposa. – Todos que conheço em Newho estavam lá, como éramos prisioneiras importantes, fomos levadas para outro lugar, onde conheci o arauto...
–Continue querida, você está indo muito bem... – Thagir tentava animar a esposa.
–Ele era gentil, nunca nos obrigou a nada... Mas um dia o livro disse que me queria, e o arauto se revoltou contra ele. O livro desregulou seu suporte de vida como retaliação e o deixou sofrendo no meio do chão, quase sem respirar. Ele disse que não queria ser visto naquele estado, eu insisti e me aproximei; e pude ouvir algumas notas musicais que me lembraram aquela velha canção que sua mãe cantava para nossas filhas. – Dânima começou a sussurrar a velha canção, tentando se lembrar, Thagir então pegou em sua mão suavemente e começou a acompanhá-la...
Aquela bela canção parecia surtir efeito, as engrenagens reagiam, se movimentando aos poucos. O arauto abriu os olhos:
–Sistemas em baixa... Tempo de funcionamento acabando... A espada do infinito não serve para destruir, apenas para criar... Ébano possui inteligência... Ébano não possui coração... Vão atrás de Kullat...
Os reis de Newho perceberam que o Senhor de Castelo de Oririn não estava mais com eles:
–Kullat!!! – Thagir gritou furioso.
–Meu amor, vá atrás dele... Eu vou ficar bem.
Thagir olhou para Dânima no fundo dos olhos e tirou um pedaço de papel do bolso, o mesmo que estava dentro da boneca, e entregou a ela:
–Cuide de nossas filhas... – Thagir ia sair e se lembrou de mais uma coisa. – Nunca mais vou me esquecer disso.
E os dois se beijaram, com a mais bela das ternuras, um amor verdadeiro, cuidado com requintes do destino, onde as duas almas, em qualquer lugar do multiverso em que estivessem, se encontrariam novamente para serem, de novo, uma...
...

Transmissão continua...

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