terça-feira, 19 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Dia de Milagre



            “Este é o dia em que um aprendiz deve testar e abrir sua mente para fazer o impossível, e acreditar que mesmo quando todas as esperanças se vão, sempre há a chance de algo realmente bom acontecer.”

...

            O multiverso se acalmou, toda aquela energia estava começando a diminuir e se dissipar. O farol de Nopporn continuava a brilhar com sua incrível chama azul-esverdeada que se intensificou ainda mais. A Espada do Infinito reagiu ao chamado da anciã e deixou o corpo de Thagir que voltou a ser como era. O artefato místico voou pelos céus da ilha de Ev’ve e parou acima da torre, brilhando como uma estrela, removendo toda a maru sombria que ainda escurecia as estruturas brancas e acolhedoras que os Senhores de Castelo conhecem tão bem. O céu azul retornou, as defesas da ilha voltaram a funcionar e lá, um pouco além do anel defensor, quatro colossos espaciais gigantescos orbitando em uníssono com a ilha e o sol artificial voltava a iluminar aquela terrível noite escura. Senhores de Castelo e aprendizes bradavam mais do que nunca pela vitória que chegava com o amanhecer.
            Dânima e suas filhas vieram ao encontro do pai e marido que tanto amavam, e se abraçaram fortemente com o calor da certeza que tudo ficaria bem dali para frente. Nos alto-falantes, alguns novos sons surgiam e o pronunciamento de Vidara começou:
            –Filhos de Nopporn! O dia amanheceu e as trevas se foram! Mais uma batalha chegou ao fim e temos muito que concertar e reparar, o trabalho e esforço de vocês serão árduos para trazer de volta o que tínhamos antes, mas tenho certeza que a força de trabalho unida de vocês logo terminará com esta simples tarefa! Descanse um pouco e ajudem a quem puderem, teremos um longo dia pela frente! – Os anciões já deveriam ter suas forças renovadas e o estado de petrificação desfeito quando a Espada do Infinito voltou para o seu lugar de descanso.
            Com a ajuda de todos, as populações que estavam aprisionadas nas Estrelas Escuras desceram para a ilha e eram prontamente atendidas por aprendizes e castelares, era um número incontável de pessoas e animais, de Curanaã, Oririn e alguns outros planetas. Alguns Capitães que estavam nas redondezas do centro do multiverso aportaram no porto da ilha e disponibilizaram seus navios para ajudar com a população, trazendo mantimentos e outras provisões.
Estava tudo correndo muito bem, até que se houve um tumulto causado pelos Caçadores Sombrios. Os anciões, como sempre, preferem ponderar no salão de reuniões sobre o próximo passo a ser tomado, enquanto aqueles que estão sendo julgados permaneceriam na prisão provisória da parte baixa da ilha, não fosse um pequeno problema com Histério, o cavaleiro fantasma, e seu filho Xerubim. Thagir, após ouvir o que estava acontecendo, foi em seguida para a Estrela Escura onde os caçadores se escondiam e viu que a coisa não andava muito bem:
            –Eu não vou deixar o meu filho!!! – Depois de se livrar do controle do Comedor de Sonhos, os caçadores perderam a aparência sombria e pareciam mais com humanos agora.
            –Senhor, você será encaminhado para as celas e permanecerá por lá até os anciões chegarem a um veredicto. – Ponderava um dos guardas.
            –Vocês não vão fazer nada com o meu filho!!! – A criança chorava atrás das pernas do pai.
            A armadura que Histério usava não tinha mais o poder fantasmagórico de antes, mas continha muito poder e ele insistia em afastar os guardas castelares. Thagir chegou o mais depressa que pode e tentou ajudar como podia:
            –O que está acontecendo aqui? Por que todo esse alvoroço?
            –Mestre Thagir! – O guarda ficou espantado com a presença do grande Senhor de Castelo. – São esses dois, eles devem ser levados para as celas e insistem em evitar o nosso auxílio.
            –Deixe me ver... – O rei de Newho se aproximou. – Seu nome é Histério, não é?
            –Sim... – O homem ainda estava inquieto. – Eu não quero que levem o meu filho!
            –Se acalme, não vamos fazer nada ao seu filho. Venha conosco, tudo ficará bem.
            –Não, eu não vou voltar para o meu planeta natal, jamais eu farei isso de novo!
            –E qual seria o seu planeta natal? – Thagir se mantinha calmo para ouvir o antigo inimigo.
            –Eu não vou dizer! Eu não vou voltar pra lá! Se afastem do meu filho! – Uma onde de força derrubou Thagir e os guardas.
            Nesse momento, o grande ancião N’quamor adentrou o lugar com mais guardas castelares:
            –Já chega! Os Caçadores Sombrios já trouxeram problemas demais por um único dia, levem-nos imediatamente.
            –Não, me larguem! Deixem meu filho em paz! – Vários castelares mais bem equipados os estavam rodeando com o que pareciam ser inibidores de força.
            –Grande Ancião? Por que estas medidas tão drásticas, eles só estão com medo...
            –Thagir... – Seu tom era austero. – Estamos tomando apenas medidas provisórias, nada definitivo. Temos urgência em cuidar das milhões de pessoas que abarrotam nossas ruas. Isso se faz necessário...
            –Eu não teria tanta certeza... – Fentáziz acabara de chegar ao salão da Estrela Escura.
            –Você?! O que faz aqui? – Thagir e o ancião acharam estranho a intervenção do repórter.
            –Vim fazer o que preciso fazer... – Fentáziz parou os guardas e chamou a atenção do garotinho, se abaixando e abrindo os braços. – Venha, pode vir Xerubim.
            O garotinho hesitou um pouco, com o rosto molhado e o nariz escorrendo de tanto chorar e se dirigiu para perto de Fentáziz:
            –Isso, bom garoto. – O repórter levantou-se junto com Xerubim num abraço, enquanto esfregava as mãos nas costas do menino que começava a se acalmar.
            –...! – Histério estava surpreso. – Xerubim nunca ficou assim com ninguém!
            Fentáziz olhava para os seus dois superiores com olhar de desaprovação e levantou um pouco a camisa do garoto, mostrando diversas cicatrizes que deveriam ser muito profundas:
            –Seu planeta natal... – Fentáziz virou-se para Histério. – É Adrilin, não é?
            –... – O cavaleiro de armadura apenas mexeu levemente a cabeça dizendo que sim.
            –Como eu suspeitava... Xerubim não era um caçador que obteve seus poderes do comedor de sonhos, ele é mais uma das crianças que acabaram nas mãos dos cientistas loucos daquele planeta...
            –Espere! O governo de Adrilin nunca permitiria isso, os poderes que ele tem são poderosos demais. – Interveio Thagir.
            –Receio que não são esses cientistas. Estive com Alvo e Blanco agora a pouco para confirmar a possibilidade e eles me disseram que alguns dos cientistas gêmeos de Adrilin sequestravam crianças univitelinas para experiências desumanas. Há alguns anos anunciei uma pequena reportagem sobre Adrilin que falava sobre crianças desaparecidas. Reconheci o brasão da armadura de Histério, é uma ordem fundamentalista que prega coisas desse tipo como coisas normais e que aparentemente tem alguma ou pouca ligação com o governo... Estou certo, cavaleiro?
            –... – Histério baixou o olhar, tentando fugir de seu passado. – Eu nasci com um irmão gêmeo, mas por complicações médicas ele veio a falecer e tive uma infância solitária naquele planeta... Quando já tinha idade para sair da casa dos meus pais, pedi a eles que me dessem uma viagem interplanetária. Nesse novo planeta, conheci a mãe de Xerubim. Levei-a para Adrilin e nos casamos. O povo sempre ficava comentando sobre a nossa relação, que a minha esposa lembrava alguns adrilinianos, eu não liguei. Ela estava grávida e foi então que a desgraça começou. Vândalos pintavam a fachada da nossa casa com palavras como: “Solitários”, “Sem irmãos”, “Uni”... Sempre duas vezes. Por causa disso e de outras situações mais constrangedoras, a gravidez dela passou para uma gravidez de risco, e veio a falecer, dando a luz a um filho único. Eu estava feliz, pude ter perdido quem amava, mas ganhei o melhor filho do mundo. Até ele ser sequestrado...
            Histério estava chorando. Os guardas o soltaram e Fentáziz levou o filho de volta ao pai. O repórter perguntou algo no ouvido da criança e ela apontou para o corpo do arauto que estava mais adentro do salão. Thagir e N’quamor olhavam curiosos para saber o que o simples repórter estava fazendo, trocando alguns olhares de vez em quando. Os outros caçadores que se escondiam pelas instalações do centro da estrela, também demonstraram interesse, aparecendo de seus esconderijos. Fentáziz procurou por algo e encontrou, era a esfera amarela que Xerubim usava como arma. Ele sentiu algo diferente ao tocar naquele objeto que começou a brilhar intensamente, sumindo no ar:
            –Ué?! Que esfera louca! Disse-me que tudo iria melhorar... – Fentáziz estava admirado e retornou para junto do caçador e seu filho. – Desculpe, a bola se foi... Tome. – Ele tirou um pequeno docinho caramelado do bolso. – É tudo que eu tenho.
            A criança ficou feliz com o agrado, sorrindo abertamente. De repente, um guarda castelar entrou correndo no recinto:
            –Grande ancião, grande ancião, temos grandes notícias! – O jovem estava esbaforido.
            –O que foi meu filho, o que aconteceu?
            –É o seu planeta natal... Ele reapareceu em sua orbita original!
            –...! – Todos estavam surpresos.

...

Transmissão encerrada.

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