Página de Diário
Iniciando gravação...
Nave de
infiltração, mares boreais, cabine dos passageiros:
“Pelos
deuses! Como estou muito ansioso! Esta é a minha primeira missão como Senhor de
Castelo! Parece que eu e mais outro cinco seremos mandados para um planeta
novo. Mal consigo segurar o meu coração, ele está palpitando tanto que parece
que vai sair pela boca!” – alguém manda o novo castelar falar mais baixo. Ele
se desculpa e continua a gravação: “Desculpem-me, ainda não conheço os novos
companheiros, acho que nunca os vi antes apesar de ser ávido para conhecer os
mestres castelares...”
Um dos cinco aparentando ser o mais velho se levanta e fala com o jovem:
– Ei,
garoto?! Quantos anos você tem?
– E... Eu?!
– ele engoliu a seco ao ver o homem fazê-lo ficar debaixo de sua sombra. – Eu,
senhor?
– Sim...
Estou falando com você...
– De...
Dezessete, senhor!
– Só isso?
Bem, meu nome é Westem, tenho 134 anos, sou um guerreiro bárbaro do planeta
Gálion. Pode deixar que eu arrebento todo mundo! – o grandão parecia ser de
confiança apesar de estar pouco vestido e levar um capacete com chifres na
cabeça.
– Meu nome
é Férus... – Ele finalmente conseguiu respirar aliviado. – Sou um Senhor de
Castelo armeiro... De Newho...
– Ei,
pessoal, vejam só! Ele é de Newho! – o velho guerreiro chamou a atenção de
todos, interrompendo o jovem castelar.
Outros três
se aproximaram para conhecer melhor o novo Senhor de Castelo que era do mesmo
planeta que o grande pistoleiro Thagir:
– É sério?!
– Ferus balançou a cabeça positivamente, sem conseguir falar, sentindo-se
intimidado pelos outros três veteranos. – Eu sou Pilares, assaltante natural de
Teslar. Nasci no deserto e sou especializado em ataques furtivos e certeiros.
Acerto qualquer coisa com as minhas facas.
Este Senhor
de Castelo tinha pele morena, cabelos claros e usava uma bandana para cobrir a
cabeça.
– Pilares!!!
– irritou-se um ao seu lado. – Deixe o garoto falar! Ficar se gabando desse
jeito não vai adiantar nada!
– Poxa,
Nerítico... O moleque é de Newho! Sempre quis saber se eles realmente são tão
capazes quanto dizem!
– Você não
toma jeito! Sempre querendo arranjar desafios desmedidos! Fique quieto que a
gente ganha mais... Hun... – Nerítico limpou a garganta se ajustando para ser
cordial. – Como meu parceiro já disse, meu nome é Nerítico. Como pode perceber
pelo meu jaleco branco, sou um ultraquímico, especialista em compostos
químicos, além de ter inventado o soro de cura...
– Sabia! Você
também queria se mostrar! – Pilares interrompeu Nerítico bruscamente. – Depois
fica falando de mim...
– E o que
você tem pra falar?! Nada! Você fica tagarelando mais do que qualquer um que eu
já tenha visto no multiverso!
– Ora, seu!
– Pilares pulou no pescoço de Nerítico.
– Me solte
seu arruaceiro!
Apesar da
briga, o terceiro dos outros três, que vestia uma suit de sobrevivência preta
típica de mergulhadores de grandes profundezas se aproximou. Sua pele era azul
escamosa, com dois pequenos orifícios na garganta, um de cada lado, não tinha
nariz; no alto da cabeça havia barbatanas que se eriçaram levemente,
demonstrando deixá-lo atento as coisas ao redor. Logo ele começou a falar:
– Perdoe
nossos amigos, caro Senhor de Castelo, eles nunca sabem se comportar
devidamente. Meu nome é Iksio, sou do planeta Arthúa e como pode ver pela minha
aparência excêntrica, meu povo adora ficar debaixo d’água e aproveitar os
quatro quintos de oceano que cobrem o planeta. Tornei-me Senhor de Castelo para
viajar pelo multiverso e conhecer novas espécies de seres vivos, pois sou um
multibiólogo, estudo todos os tipos de vida do multiverso.
– Essa é
boa, aparência excêntrica! Hahaha... – Westem ria da maneira muito recatada do
outro Senhor de Castelo.
– Meu caro
amigo, porque toda essa excitação exagerada? Estou simplesmente relatando ao
novo castelar a aparência impar que apresento.
– Heh...
Passam-se anos e você não muda nunca peixinho fora do aquário! – Iksio não
aparentava se importar com o deboche.
– Então,
vocês são parceiros castelares, certo? – perguntou Ferus.
– E como! –
disse o grande bárbaro de cabelos ruivos puxando os fios da barba desgrenhada
evidenciando estar orgulhoso de si. – Já desafiamos meio multiverso para ajudar
planetas e reinos em perigo!
– Meu caro
Westem, mal lutamos em cem missões e você já quer que tenhamos conhecido meio
multiverso?
– O que é
isso parceiro? Já passamos por noventa e nove missões bem sucedidas. A
centésima está no papo!
– Desculpe-me
interromper-lhe, mas creio que o jovem castelar Ferus tem outra dúvida em
mente... Pode continuar, por favor. – seu tom era bem convidativo.
– Os outros
dois que estão no chão também são parceiros, certo? – Ferus estava novamente
intimidado.
– Sim, são.
– Respondeu Iksio polidamente. – Qual o interesse em saber se somos parceiros?
Todos os castelares só participam de missões em duplas.
– Heh,
bem... Eu ainda não fui apresentado ao meu parceiro...
– O quê?! –
falaram os quatro ao mesmo tempo. Mesmo os dois que estavam brigando pararam
para ouvir a resposta do jovem castelar.
– Eh...
Bem... – Ferus estava se sentindo envergonhado por ele parecer desleixado em
não saber quem era seu parceiro.
– Creio que
você deve estar falando do guerreiro Dimios de Zínio... – Iksio apontou para o
último castelar na cabine de passageiros.
Ferus olhou
para o fundo e reparou no homem que estava ali. Sua aparência era triste e
vaga. Deveria ter uns vinte e cinco anos, tinha cabelos castanhos e curtos,
olhava para os mares boreais pela janela sem nem ao menos perceber a confusão
que se fazia ali. Ele trajava uma grande capa preta que cobria o corpo e uma
das mãos, a outra estava sustentando o queixo. Dimios se acomodou um pouco para
mudar de posição e a outra mão ficou descoberta, deixando Ferus afoito:
– Isso é...
Isso é.... Isso é a Garra de Sartel! – os Senhores de Castelo não reconheceram
a arma de Dimios.
– O que é
isso baixinho? – perguntou o bárbaro.
Ferus se
aproximou de Dimios com os olhos brilhando, como se tivesse encontrado uma
grande maravilha do multiverso:
– Essa é
simplesmente a melhor de todas as armas já produzidas pelo grande armeiro Sartel
de Armiger. Ela é feita de uma liga especial que une jóias de maru com metais
de hipercondução, chamada de maru metálica pelo seu criador, e que pode gerar
maru mágica, elétrica e sônica com mais facilidade que qualquer jóia de maru já
produzida. É simplesmente um trabalho artesanal de uma vida! Seu misterioso
segredo foi perdido quando Sartel morreu e não existe outra no multiverso! –
Ferus estava completamente emocionado.
Dimios
olhou para Ferus e lançou-lhe um olhar de desprezo, escondeu a mão debaixo da
capa e voltou a olhar para a janela. O jovem castelar se sentiu acuado:
– Mas... O
que deu nele?
– Não se
preocupe com ele, meu caro Senhor de Castelo. – interveio Iksio. – Dimios
carrega consigo uma das mais tristes histórias de um Senhor de Castelo.
– E qual é? – perguntou
inocentemente.
– Ele viu seu parceiro morrer na
sua frente e ele não pode fazer nada...
– ...! –
Ferus virou-se de volta para o castelar solitário.
A indagação
era longa, Ferus não sabia se tentava se aproximar ou se deixava pra lá, até
ser interrompido pelo alto-falante que anunciou a chegada dos guerreiros ao
novo planeta:
– Atenção,
chegaremos a qualquer momento, posicionem-se nos seus lugares que logo
estaremos saindo dos mares boreais.
Ferus e os
outros quatro voltaram aos seus lugares sem mais conversas. A dúvida permanecia
na cabeça do jovem castelar: o que ele deveria fazer? Eles eram parceiros... Ou
não eram?
Gostei muito dos nomes ;)
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