Separados
O jovem
castelar Ferus sentia um clima pesado no ar e o frio não ajudava nem um pouco.
Logo ele faria a pergunta inevitável:
– Você viu
os outros? – a senhora virou-se e foi para outra sala, fechando a porta sem
dizer nada. – Será que é sempre assim que as missões acontecem? – disse ele
para si mesmo.
...
Durante a
queda, as correntes de ar acabaram por separar os Senhores de Castelo,
levando-os para partes diferentes do grande lixão. O castelar Iksio havia caído
num lugar repleto de contêineres. Ainda com a suit de sobrevivência, sentia que
a energia que vinha de dentro deles lhe parecia familiar e triste. Sem muito
que fazer, ele abriu um deles e constatou o que havia ali:
–Água
poluída... Isto com toda a certeza é um absurdo! Estou muito contrariado! – e
chutou o contêiner com raiva. – Tem algo por aqui... – sibilos de alguma coisa
começaram a chiar atrás dele.
O
multibiólogo virou-se procurando pelo barulho, os montes de lixo iam por todos
os lados. Porém, havia um que era mais alto que lhe chamou a atenção. Aproximou-se
cuidadosamente e apontava seu dedo para todos os lados. Uma das habilidades de
Iksio era controlar a água como condutora de maru mágica, podendo exercer
determinadas funções, conforme a sua vontade, desde que ele use o dialeto
certo: a escrita mágica – a língua da forma-pensamento. Ele estava se lembrando
de suas pesquisas como multibiólogo, quando adentrou uma densa floresta de
cores vivas que brilhavam ao passar dele. Iksio chegou perto do monte sentindo
que havia um ser vivo ali. Apontou o dedo e escreveu no ar: “Percepção” –
dando-lhe maior capacidade de sentir o fluxo de maru ao seu redor. Ele
circundou mentalmente o monte e descobriu onde estava o animal...
...
O mesmo que
havia acontecido com Iksio aconteceu com Pilares, o assaltante, sendo que ele
usou o pano copiador para evitar a queda direta e planou para mais longe. O
teslarniano aterrissou em um lugar mais aberto, com mais máquinas de coleta, o
que permitia chegar ao chão. Ele andou um pouco, sabia que estaria muito longe
dos outros e tentou permanecer a vista, até que encontrou alguém do planeta e
decidiu falar com ele. No entanto, lembrou-se que não poderia dizer que estaria
ali para salvar a população como Senhor de Castelo. Resolveu fingir que havia
sido levado para lá por engano, junto com o lixo que via cair do céu ao longe
por máquinas flutuadoras:
– O senhor
poderia me ajudar? – Pilares agia dissimuladamente.
– Uhhh... –
o homem de pele esverdeada estava de costa e virou-se para ele. – Fome! Fome!!!
– Desculpe,
eu não tenho muito... – Pilares sentia que não estava num bom lugar. – Só
trouxe comigo algumas provisões e...
– Fome...
Fome! Fome!!! – Pilares tirou tudo que tinha de comida nos bolsos e jogou para
o sujeito, afastando-se.
O homem
pegou os pacotes e começou a mordê-los sem se importar com o papel da
embalagem. Pilares estava andando com atenção redobrada para trás, a cada
mordida que o sujeito dava naquela miséria de comida. Então ele esbarrou em
algo que estava bem atrás dele. Olhando, viu alguém muito parecido com o homem
que estava se alimentando a sua frente, com um cheiro forte que ultrapassava o
filtro de ar da suit espacial. O enjôo fez ele se ajoelhar, o outro sujeito
tentou agarrá-lo e ele conseguiu fugir. Os dois sujeitos diziam as mesmas
palavras, na mesma entonação. Outros também começaram a aparecer pelo caminho e
Pilares decidiu subir nos entulhos, pois seria mais seguro ficar num lugar onde
os famintos não teriam a mesma agilidade que ele. Grandes barulhos surgiam de
algum lugar no lixão, então Pilares viu Iksio passar correndo pelos famintos e
tentou avisá-lo de que estava ali:
– Iksio!
Ei! Eu estou aqui! – ele acenava freneticamente com as mãos para sinalizar sua
localização.
– Desculpe-me! Não tenho tempo
para falar! – e o multibiólogo continuava correndo.
...
Nerítico, o
ultraquímico, também havia pousado em segurança em algum lugar daquele
amontoado de lixo. Ele mandou o capacete de volta para a jóia e do bracelete no
pulso tirou uma pílula rosada que mastigou tanto quanto pode e começou a inflar
uma bola. Tirou outra pílula, azulada, mastigou um pouco menos e voltou a
inflar a bola, desta vez com maior velocidade, atingindo o tamanho ideal para ricocheteá-lo
para cima quando chegasse ao chão. Depois disso, a bolha estourou e ele chegou
ao chão são e salvo. O que para ele era um verdadeiro alívio, nunca havia
testado aquele método incomum de pousar e estava muito satisfeito com o desempenho
dos compostos que havia desenvolvido:
– Ainda bem
que eu não uso materiais de segunda! – disse, recolocando magicamente o
capacete.
– Moço,
você veio do céu? – uma moça com uma máscara de gás que cobria o rosto, deveria
ter uns dezoito anos, olhava para o ser que havia caído do nada e que tinha
olhos engraçados.
– Ahn... –
Nerítico pensava no que falar, enquanto verificava os indicadores de ar e via
que os mostradores tóxicos estavam altos. Os óculos de proteção o incomodavam e
a abertura para passar as mãos por dentro da roupa não lhe permitiam mexer
neles. – Poderia me levar a um lugar onde eu poderia respirar melhor? Meu nome
é Nerítico, e o seu?
– Meu nome
é Darla, pode vir comigo, eu moro numa vila aqui perto... – o Senhor de Castelo
sorriu para a moça de rosto desconhecido, só não sabia se debaixo daquela
máscara a moça lhe retribuíra da mesma forma.
Andando
pelo caminho, numa encruzilhada, Iksio passou correndo pelo caminho transversal
ao de Nerítico. O Senhor de Castelo tentou chamar-lhe a atenção, mas fora em
vão, o ultraquímico já estava longe. De repente, algo gigantesco passou na sua
frente em grande velocidade, sendo difícil visualizar a coisa direito, mas que
parecia um monte de lixo ambulante:
– Era seu
amigo? – a moça notou que Nerítico tentou falar com o homem estranho que estava
correndo. Podia se ouvir bem a respiração da moça através da máscara de gás,
que continuava inalterada.
– Era...
Mas, que coisa enorme era aquela?! – Nerítico demonstrava estar realmente
espantado com a coisa.
– É melhor
desistir dele... Ele já deve estar morto agora...
– ...! – a
moça continuou a caminhada e Nerítico foi atrás dela. – Certo...
Ainda
assim, Nerítico olhava preocupado para o longo caminho pensando no castelar de
Arthúa com grande pesar.
...
Na correria
de Iksio, o Senhor de Castelo só conseguia pensar em uma coisa:
– Da
próxima vez que eu me lembrar daquela sensação, eu vou sair correndo da boca do
monstro!!!
...
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