quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 04

Separados



            O jovem castelar Ferus sentia um clima pesado no ar e o frio não ajudava nem um pouco. Logo ele faria a pergunta inevitável:
            – Você viu os outros? – a senhora virou-se e foi para outra sala, fechando a porta sem dizer nada. – Será que é sempre assim que as missões acontecem? – disse ele para si mesmo.

...

            Durante a queda, as correntes de ar acabaram por separar os Senhores de Castelo, levando-os para partes diferentes do grande lixão. O castelar Iksio havia caído num lugar repleto de contêineres. Ainda com a suit de sobrevivência, sentia que a energia que vinha de dentro deles lhe parecia familiar e triste. Sem muito que fazer, ele abriu um deles e constatou o que havia ali:
            –Água poluída... Isto com toda a certeza é um absurdo! Estou muito contrariado! – e chutou o contêiner com raiva. – Tem algo por aqui... – sibilos de alguma coisa começaram a chiar atrás dele.
            O multibiólogo virou-se procurando pelo barulho, os montes de lixo iam por todos os lados. Porém, havia um que era mais alto que lhe chamou a atenção. Aproximou-se cuidadosamente e apontava seu dedo para todos os lados. Uma das habilidades de Iksio era controlar a água como condutora de maru mágica, podendo exercer determinadas funções, conforme a sua vontade, desde que ele use o dialeto certo: a escrita mágica – a língua da forma-pensamento. Ele estava se lembrando de suas pesquisas como multibiólogo, quando adentrou uma densa floresta de cores vivas que brilhavam ao passar dele. Iksio chegou perto do monte sentindo que havia um ser vivo ali. Apontou o dedo e escreveu no ar: “Percepção” – dando-lhe maior capacidade de sentir o fluxo de maru ao seu redor. Ele circundou mentalmente o monte e descobriu onde estava o animal...

...

            O mesmo que havia acontecido com Iksio aconteceu com Pilares, o assaltante, sendo que ele usou o pano copiador para evitar a queda direta e planou para mais longe. O teslarniano aterrissou em um lugar mais aberto, com mais máquinas de coleta, o que permitia chegar ao chão. Ele andou um pouco, sabia que estaria muito longe dos outros e tentou permanecer a vista, até que encontrou alguém do planeta e decidiu falar com ele. No entanto, lembrou-se que não poderia dizer que estaria ali para salvar a população como Senhor de Castelo. Resolveu fingir que havia sido levado para lá por engano, junto com o lixo que via cair do céu ao longe por máquinas flutuadoras:
            – O senhor poderia me ajudar? – Pilares agia dissimuladamente.
            – Uhhh... – o homem de pele esverdeada estava de costa e virou-se para ele. – Fome! Fome!!!
            – Desculpe, eu não tenho muito... – Pilares sentia que não estava num bom lugar. – Só trouxe comigo algumas provisões e...
            – Fome... Fome! Fome!!! – Pilares tirou tudo que tinha de comida nos bolsos e jogou para o sujeito, afastando-se.
            O homem pegou os pacotes e começou a mordê-los sem se importar com o papel da embalagem. Pilares estava andando com atenção redobrada para trás, a cada mordida que o sujeito dava naquela miséria de comida. Então ele esbarrou em algo que estava bem atrás dele. Olhando, viu alguém muito parecido com o homem que estava se alimentando a sua frente, com um cheiro forte que ultrapassava o filtro de ar da suit espacial. O enjôo fez ele se ajoelhar, o outro sujeito tentou agarrá-lo e ele conseguiu fugir. Os dois sujeitos diziam as mesmas palavras, na mesma entonação. Outros também começaram a aparecer pelo caminho e Pilares decidiu subir nos entulhos, pois seria mais seguro ficar num lugar onde os famintos não teriam a mesma agilidade que ele. Grandes barulhos surgiam de algum lugar no lixão, então Pilares viu Iksio passar correndo pelos famintos e tentou avisá-lo de que estava ali:
            – Iksio! Ei! Eu estou aqui! – ele acenava freneticamente com as mãos para sinalizar sua localização.
– Desculpe-me! Não tenho tempo para falar! – e o multibiólogo continuava correndo.

...

            Nerítico, o ultraquímico, também havia pousado em segurança em algum lugar daquele amontoado de lixo. Ele mandou o capacete de volta para a jóia e do bracelete no pulso tirou uma pílula rosada que mastigou tanto quanto pode e começou a inflar uma bola. Tirou outra pílula, azulada, mastigou um pouco menos e voltou a inflar a bola, desta vez com maior velocidade, atingindo o tamanho ideal para ricocheteá-lo para cima quando chegasse ao chão. Depois disso, a bolha estourou e ele chegou ao chão são e salvo. O que para ele era um verdadeiro alívio, nunca havia testado aquele método incomum de pousar e estava muito satisfeito com o desempenho dos compostos que havia desenvolvido:
            – Ainda bem que eu não uso materiais de segunda! – disse, recolocando magicamente o capacete.
            – Moço, você veio do céu? – uma moça com uma máscara de gás que cobria o rosto, deveria ter uns dezoito anos, olhava para o ser que havia caído do nada e que tinha olhos engraçados.
            – Ahn... – Nerítico pensava no que falar, enquanto verificava os indicadores de ar e via que os mostradores tóxicos estavam altos. Os óculos de proteção o incomodavam e a abertura para passar as mãos por dentro da roupa não lhe permitiam mexer neles. – Poderia me levar a um lugar onde eu poderia respirar melhor? Meu nome é Nerítico, e o seu?
            – Meu nome é Darla, pode vir comigo, eu moro numa vila aqui perto... – o Senhor de Castelo sorriu para a moça de rosto desconhecido, só não sabia se debaixo daquela máscara a moça lhe retribuíra da mesma forma.
            Andando pelo caminho, numa encruzilhada, Iksio passou correndo pelo caminho transversal ao de Nerítico. O Senhor de Castelo tentou chamar-lhe a atenção, mas fora em vão, o ultraquímico já estava longe. De repente, algo gigantesco passou na sua frente em grande velocidade, sendo difícil visualizar a coisa direito, mas que parecia um monte de lixo ambulante:
            – Era seu amigo? – a moça notou que Nerítico tentou falar com o homem estranho que estava correndo. Podia se ouvir bem a respiração da moça através da máscara de gás, que continuava inalterada.
            – Era... Mas, que coisa enorme era aquela?! – Nerítico demonstrava estar realmente espantado com a coisa.
            – É melhor desistir dele... Ele já deve estar morto agora...
            – ...! – a moça continuou a caminhada e Nerítico foi atrás dela. – Certo...
            Ainda assim, Nerítico olhava preocupado para o longo caminho pensando no castelar de Arthúa com grande pesar.

...

            Na correria de Iksio, o Senhor de Castelo só conseguia pensar em uma coisa:
            – Da próxima vez que eu me lembrar daquela sensação, eu vou sair correndo da boca do monstro!!!
...

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