A Cura
Westem, o
bárbaro de Gálion, continuava carregando o pequeno lutador que acidentalmente
sentiu na pele o peso do brutamonte, quando este tentou fugir da revolta que os
apostadores tiveram ao perceber que o grande lutador deles perdera para alguém
tão esquelético. Aquilo também era estranho para o Senhor de Castelo, que
também estava crente que quem venceria era o lutador maior.
Algum tempo
depois, quando já não eram mais perseguidos, uma vez que a vitalidade de Westem
deixaria qualquer um para trás, eles pararam, Westem precisava ver se estava
tudo bem com o jovem, se ele não havia quebrado algum osso. O lugar onde
estavam possuía algumas construções esquecidas pela Irmandade e que já estavam
bem desmanchadas pelas chuvas ácidas, mas que poderiam esconder os dois caso
ainda fossem encontrados.
O Castelar
estava admirado com o corpo tão debilitado do pequeno lutador, vindo de um
planeta onde os corpos esculturais, musculosos e cheios de saúde eram sempre
presentes, até mesmo nos bebês, Westem realmente encarava aquilo com muita
estranheza. Ele chegou até a ficar com medo de lhe ministrar a água mágica da
moringa encantada que ganhara do seu parceiro quando visitaram Arthúa, o
planeta natal de Iksio, com medo de que suas grandes mãos lhe fizessem algum
mal, mesmo porque ela estava debaixo da suit de sobrevivência e ele sabia que
passaria mal se a tirasse. Porém, não seria necessário, os olhos com olheiras
profundas logo se abririam:
– ...? ...!
– o lutador estava meio tonto, mas percebeu que alguém bem grande estava ao seu
lado e, assustado, jogou-o na parede com seus poderes mentais. Ele tentava
fugir, rastejando do jeito que estava sem conseguir se mover muito.
– Hahahah!
– ria Westem com vontade, sem se importar por estar preso a parede. – Você é
realmente forte! Agora sei por que conseguiu ganhar do outro lutador!
– ...? – o
pequeno olhou ao redor, percebeu onde estava e liberou vagarosamente o
desconhecido no chão.
Westem
estava feliz, agora que sabia que o jovem estava bem e se aproximou:
– Qual é o
seu nome, baixinho? Eu me chamo Westem eu sou de... – o castelar se lembrou que
não poderia falar que era um Senhor de Castelo e desconversou. – ...de onde eu
sou? Heheh, eu caí do céu... E, bem, acho que me esqueci dessa parte...
– ...? – a
expressão que o menor fazia era de dúvida, não entendia o que Westem dizia.
Então, ele
tentou se levantar e sentiu uma pontada no ombro. Estava deslocado e sentia
muita dor, cerrando fortemente os olhos. Westem entendeu que aquilo fora
causado por ele e se aproximou, querendo se desculpar:
– Droga!
Peço mil desculpas... – o castelar tentava usar a cordialidade do parceiro
Iksio, sem muito sucesso por sinal. – ...acho que eu desloquei o seu ombro.
Deixe-me ajudá-lo...
Sem muito
jeito, Westem colocou os fortes dedos no ombro do pequeno lutador e, do mesmo
jeito que seus irmãos faziam quando ele deslocava o ombro, simplesmente deu um
tranco nos ossos, fazendo o jovem sentir muita dor:
– ...! –
apesar da expressão, não saia um único ruído da boca dele.
–
Estranho... Mesmo eu acabo falando um belo palavrão quando meus irmãos faziam
isso comigo. – Westem pensou um pouco e concluiu. – Você é mudo?
– ... – o
pequeno balançou a cabeça positivamente, depois do torpor da dor passar e
sentir o alívio pelo ombro estar no lugar, movimentando-o para checar.
– E agora?
Como a gente faz? Se o Iksio estivesse aqui ele poderia ler os seus pensamentos...
O pequeno
lutador pareceu estar pensando um pouco e descobriu algo. Pegou na mão de
Westem e fechou os olhos. O Senhor de Castelo sentiu um formigamento e percebeu
estar vendo algo em sua mente. Eram conhecimentos novos, transmitidos pelo pequeno
que fluíam diretamente para os seus pensamentos:
– Você
consegue me ouvir? – disse uma voz.
– Hoh!
Consigo sim! – Westem estava mais admirado ainda com o pequeno.
– Eu não
tenho muita prática com telepatia, é difícil manter as conexões. Vou tentar ser
breve e lhe explicar tudo.
–
Continue... Por favor.
– Esta é a
minha história...
Os
pensamentos de Westem mostravam-lhe o mesmo lugar que eles estavam, em algum
tempo em que as construções permaneciam inteiras, com a zona de lixo ainda ao
redor. As coisas não eram muito diferentes, a mesma angustia que se sentia no
presente continuava no passado. A única diferença era a quantidade de pessoas,
a população era muito maior, o suficiente para fazer daquele lugar um mercado
de trocas – o ouro não valia nada no meio da necessidade: “Por vezes, as naves
de carga que voam acima das nuvens trazem grandes quantidades de comida que
iriam ser jogadas fora.” – começou. “Antes, era comida de verdade e com o
tempo, os restos de comida foram se tornando cada vez mais artificiais, com
porções cada vez menores. Agora, a única comida que cai do céu são pílulas,
pequenas quantidades de comida em pó que conseguem manter as pessoas em pé por
diversos dias, mesmo morrendo de fome. As doenças nas pessoas eram freqüentes.
Pessoas que se machucavam com as ferragens inevitavelmente ficavam gangrenadas,
diversas mulheres abortavam espontaneamente e as forças de qualquer um se
reduziam a nada, com constantes dores por todo o corpo. Foi então que caiu do
céu a caixa marcada com o símbolo da Irmandade Cósmica, a ampulheta em
distorção. Que os deuses me perdoem por ter compartilhado daquela caixa...”
– O que
aconteceu? – interessou-se Westem. – Algum problema?
As imagens
que o Senhor de Castelo via ficaram escuras, como se estivesse de noite:
– As
pílulas não deixaram mais ninguém morrer... – continuou o lutador.
– E isso
não é bom?
– Nenhuma
doença foi curada... Estou vivo há tanto tempo que já devo ter passado dos
duzentos anos...
– Então, as
outras pessoas? – o castelar sentia seu grande coração se apertar.
– Estão
vivas e sofrendo com as dores que começaram há séculos...
– E eu
pensando que ter cento e trinta e quatro anos era uma boa idade... Você é mais
velho que eu!
– ... – o
pequeno sentiu a tristeza de sua vida voltar-lhe e desfez a ligação, virando-se
para a parede, com as mãos trêmulas no rosto.
– Me perdoe
baixinho... As coisas vão melhorar, eu prometo! – disse Westem, tentando
retomar o entusiasmo natural dele.
– ... – o
lutador virou-se de volta para o castelar, com o rosto triste e cabeça baixa.
Ele voltou
a tocar na mão de Westem, reatando a ligação:
– Venha
comigo... – e pôs se a andar no meio daqueles restos de esqueleto urbano.
– Espere!
Você ainda não disse seu nome! – o Senhor de Castelo quase se esqueceu desse
detalhe tão importante.
O pequeno
lutador parou e foi tocar-lhe novamente na mão:
– Meu nome
é Esmal...
– Espere!
– ...?
– Esse nome
significa pequeno? – o bárbaro sentia que alguma lembrança do lutador havia
vazado para sua mente.
– ... – ele
deu de ombros, e continuou a caminhar. Westem foi atrás dele.
...
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