terça-feira, 21 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 14


Polímero Copiador



            Pilares e Iksio continuavam a serem perseguidos pelo estranho copiador de formas que insistia em deixá-los constrangidos:
            – Onde que você encontrou essa coisa multibiólogo?! – gritou o assaltante já sem paciência ao colega castelar.
            – Desculpe-me meu caro amigo, eu não o encontrei, ele me encontrou! – desculpou-se o arthuano, com sua educação refinada. – Eu estava pensando em lady Liliana de Tianrr e ele me apareceu exatamente na forma dela!
            – Hun... Lady Liliana...
            – O que disse?! – Iksio percebeu a expressão anormal de Pilares, quase perdendo a compostura.
            – Ela é linda, não?
            – Mas... – o multibiólogo reparou que o construto mudara novamente de forma. – Entendo... Sim, claro, ela é uma mulher da alta sociedade tianrriana. – o tom de voz de Iksio denunciava o seu constrangimento, fazendo a barbatana do alto da cabeça ficar eriçada.
            – E quem é ela? – o assaltante falava dissimuladamente. Estava mais de olho nas jóias que a dama poderia ter do que em conhecê-la, um velho hábito dos tempos de ladrão.
            – Ah... – Iksio suspirou. – Liliana é a mais bela flor que já pude catalogar. Sua espécie é de fina etnia, estabelecida na alta sociedade há séculos depois de começarem a viver em Tianrr. Sua educação é primorosa, não descuida do que faz ou comete desleixo que precise de retoques. Ela é rígida e controlada, não tolera insurgências contra ela, sua família ou seu planeta...
            – Ela roubou seu coração, não foi? – Pilares cutucava o Senhor de Castelo que novamente se pegou em devaneios.
            – Para onde estamos indo? – disse o arthuano com olhar sério.
            – Ué? Eu estou seguindo você!
            – ...! – o multibiólogo bateu a mão no capacete globular como que querendo bater na testa. – Deixe me ver...
            Iksio pensava em alguma inscrição mágica para escrever no ar e, encontrando, moveu o dedo indicador no ar, dizendo: “Encontrar”. Sua percepção foi alterada e ele começou a ver os caminhos que se seguiam por todo o lixão. A impressão de que tudo estava errado o fez sentir calafrios por toda a espinha. Em seu estado de transe momentâneo, ele buscava por rastros de outros Senhores de Castelo. Sentiu alguém bem grande por perto, indo na direção de um lugar cheio de pessoas muito pequenas. Tinha certeza de que era Westem, seu parceiro. Queria confirmar se concentrando mais, mas foi interrompido pelo polímero copiador que colocou a ponta de seu dedo indicador no dele, imitando seu gesto. Com a concentração interrompida, Iksio se irritou:
            – Ora, seu! – o castelar bateu com o dedo no do copiador, como uma espada rebatendo outra. – Como ousa me interromper num momento tão importante como este?! Estava quase encontrando Westem!
            O polímero mudara novamente de forma:
            – Hahaha... – Pilares estava rindo novamente.
            – Pelas cataratas da meditação! – Iksio baixou a cabeça, balançando-a negativamente, ainda com o dedo apontado para a criatura. – Eu nunca pensei que veria este dia inglório! – o construto pendeu a cabeça para o lado, provavelmente por estar confuso. – Poderia voltar à forma anterior de Liliana?
            – Liliana... – uma voz estranha saiu da boca do copiador, completamente distorcida, enquanto ele reassumia a forma da tianrriana. – Ora! Iksio! Por que está aqui? Aliás, por que eu estou aqui? Onde estão meus serviçais? Serviçais! – ela saiu procurando por eles.
            – ...! – Iksio engoliu a seco a inesperada transformação avançada do polímero.
            – Fina etnia, é? – Pilares tentava se segurar como podia, quase chorando ao ver a cara do Senhor de Castelo completamente atônito, abaixando a barbatana. – Hahahaha...
            – Eu desisto, afoguem-me!!!

...

            – Meu querido Iksio! – dizia o copiador com forma de Liliana, bem animado. – Porque tudo está uma bagunça desse jeito? Vamos, limpe tudo!
            – Você não gostaria de me dizer algo, multibiólogo? – cochichou Pilares, bem baixinho.
            – Mantenha a compostura, Senhor de Castelo, estamos diante de uma dama!
            – Ah, que é isso? Essa coisa não é ela!
            – Iksio, meu querido, quem é o seu amigo? – perguntou a falsa Liliana.
            – Este é Pilares... – começou, alinhando-se. – ...Senhor de Cas...
            – Você está louco! Já não nos foi dito para que não digamos isso! – o assaltante deu uma cotovelada certeira na barriga de Iksio que perdeu o fôlego.
            – Oh! Um desajustado, de certo! Eu disse que você se mistura com seres inferiores e deploráveis! Eu não admito isso! Mande-o embora, já!
            – Nunca! Você deveria se por no seu lugar criatura infeliz! Copiando de forma atroz os meus amigos e ainda se passando por minha amada Liliana! Suma você daqui! – a falsa Liliana deu um passo para trás sentindo-se acuada.
            – Plebeu! – bufou a moça retirando-se e sumindo no meio do lixo e entulho daquele lugar compassadamente, com os braços na frente do corpo e ar de superiora.
            – Iksio? Você está bem homem? – perguntou Pilares vendo a alteração repentina do colega.
            – Se tem uma coisa que eu definitivamente não suporto são declarações infames acerca dos Senhores de Castelo! E tenho dito! – Iksio fervilhava de raiva, mudando o seu tom de pele azulado para algo mais arroxeado.
            – Heh, fica calmo, ela, aquilo... Sei lá! Já foi. – barulhos estranhos começaram a estalar. – O que foi isso?
            – Eu já ouvi isso antes... Precisamos correr! – eles tentaram ir em uma direção e lá estava o som, se aproximando. – Pelo outro lado!
            – Droga, para onde iremos?! – disse o assaltante.
            Os estalos continuavam. A fera que os perseguia os estava cercando, demonstrando estar faminta. Do meio da neblina espessa que eles viam, uma criatura enorme figurava sua terrível figura e saltou para um monte de sucata, derrubando-o em cima dos castelares que acabaram se separando de novo:
            – Iksio!
            – Pilares! Você está bem?
            – Sim, estou... – o barulho voltava, estalando ruidosamente, deixando os dois apreensivos. Com sua agilidade, o teslarniano subiu de pulo em pulo até o topo do monte, procurando pelo Senhor de Castelo. – Iksio! – pilares apalpava a cintura procurando suas facas, percebendo que elas estavam presas no traje.
            – Pilares!
            – Iksio!
            – Pilares... – o som ficou mais distante.
            – Iksio?!
            – Pilar... – a voz ficou tão distante que não se podia mais ouvi-la devido ao vento.
            – Iksio!!! – desesperou-se o castelar que corria na direção da voz que estava sumindo.
            De repente, o assaltante acabou tropeçando em algo que não conseguiu ver direito, a neblina estava muito cerrada:
            – Droga! Como eu não vi isso? Iksio! – olhando direito, o que Pilares viu não era o colega, era apenas o traje de sobrevivência. – O que aconteceu? – o castelar apertou a suit por entre os dedos.
            Novamente os estalos começaram, por todos os lados, se intensificando. O assaltante olhava em todas as direções, sem saber o que fazer, sentindo-se rodeado e sufocado. Aquilo lhe lembrava o momento em que estava sendo perseguido por homens da lei prestes a lhe tirar a vida. Pilares tirou a luva da suit e jogou uma bomba de fumaça, desaparecendo no ar.

...

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