A Escolha
Dimios
estava sozinho no quarto, os dois meninos foram dormir em outro. Ele queria
dormir, porém, os pensamentos o incomodavam, teria que tomar uma decisão
difícil. Em sua mente, as instruções que o pergaminho mágico lhe passou
diretamente para sua memória o perturbavam...
...
“Senhor de
Castelo Dimios de Zínio”, disse uma voz forte e poderosa. “Seus desígnios já
estão previstos nas paredes do Templo do Fim. Sua missão, em separado dos
demais que deverão retirar a população do planeta da missão, será matar o Filho
do Fim. Ele está no planeta sem nome, acompanhado do Intrometido. Se
necessário, mate os dois, impeça de qualquer forma que seus poderes sejam
revelados as grandes potências do multiverso. É uma ordem...”
...
Dimios sabia da obrigação que é
seguir as ordens de seus superiores. Se seu próprio mestre e daimio lhe ordenou
algo é por que o risco era sério, não poderia haver falhas. O castelar mexeu na
parte superior da Garra de Sartel, cutucando algo próximo da amputação, que deu
um clique. Ele sentiu um formigamento junto a uma corrente elétrica forte que
percorreu seu corpo, alterando os sinais mentais:
– Isso deve ser o bastante... –
Dimios se referia ao bloqueador mental embutido em sua principal arma.
Ele se levantou e começou a percorrer
o lugar no meio do escuro, pensando no que deveria fazer. A maior dificuldade
que ele encontrava em cumprir a sua missão não era ter que enfrentar crianças,
o motivo de sua preocupação era outro. A Ordem dos Senhores de Castelo não sabia,
mas Dimios é pai de um garoto que sonha em ser um grande castelar. Não, o
ziniano não é casado e muito menos mantém relações com alguém. O menino, um
pouco mais velho que Vaik, é um filho que ele havia acabado de adotar. Ele o
deixa com uma babá praticamente o tempo todo e é incrível ver como o jovem, de
passado parecido ao do pai, se contentar apenas com as histórias que ele conta
quando tem algum tempo para vê-lo. A decisão de adotá-lo ainda solteiro foi
difícil, principalmente ele sendo um Senhor de Castelo em pleno serviço para a Ordem.
Foi por causa de seu parceiro castelar que o incentivou a ir em frente com a
decisão:
– Cardial... Seu desgraçado! Você
tinha prometido que iria me ajudar! – Dimios se levantou, cerrando dentes e
punhos, além de estar tomado pela raiva. Em seus pensamentos vinha a imagem de
Lacroh, seu filho.
Ele
caminhou pelos corredores escuros, passou pelo banheiro que havia usado algumas
horas antes e procurou pela entrada do quarto dos meninos. Sua garra, levada
pelos sentimentos confusos, faiscava, iluminando levemente o caminho.
...
Antes de
usar a Garra de Sartel no lugar do braço, Dimios era um guerreiro que usava os
punhos para lutar. Sabia artes marciais e como executar um homem de dez
diferentes formas. Ele é acostumado ao suor pingando na cara e as dores
musculares frequentes de todo o treinamento árduo. Fazer flexões apoiado em um
único dedo não era difícil, estourar um crânio com um único golpe era mais
fácil ainda. Ele seria sempre o cara que arranjava brigas com alguém quando
necessário e mostraria seu valor na luta, cara a cara com o adversário.
Um dia, no
meio das missões com Cardial, Dimios viu seu parceiro usar uma técnica de luta
que ele nunca tinha ouvido falar:
– É melhor
você não me perguntar... – o parceiro, um pouco mais velho, desconversou.
– Eu quero
saber! – o jovem Dimios socava o ar com agilidade mostrando que era capaz de
aguentar qualquer treinamento.
– Você não
vai me deixar em paz, não é? – conclui o outro.
– Não! Eu
vou ficar te socando assim até você me dizer que técnica você usou dessa vez! –
a animação era decidida.
– Então
fique aí que eu já te mostro...
Cardial olhou para os lados e
encontrou uma grande rocha, isolada de qualquer outra coisa, que resistiu as
intempéries até aquele dia. Ele puxou o braço direito para trás e levantou
apenas o dedo médio e o indicador. Com incrível velocidade, até mesmo para os
olhos treinados de Dimios, ele apenas tocou com a ponta dos dedos um único
ponto da grande rocha. Por um momento, o castelar mais jovem viu a rocha vibrar
como se fosse feita de água e então ela rachou, em milhares de pedaços! Com a
pedra completamente destruída, Cardial virou-se para Dimios:
– Este é o estilo da
destruição... – Dimios olhava maravilhado para o poder superior que seu
parceiro tinha nas mãos, sem nem ao menos perceber que Cardial não estava nada
contente com aquilo.
...
Voltando a si, Dimios tentava
entender o que acontecera naquele dia, sem conseguir juntar os fatos e chegar a
alguma conclusão. Ele estava diante da porta do quarto das crianças e, ela
estando destrancada, entrou. Não havia ninguém lá.
Por um instante, ele sentiu
alívio por não ter mais que tomar aquela decisão pesada, mas voltou a ficar
sério, o lugar estava revirado, com sinais de luta:
– Como isso aconteceu sem que eu
percebesse? – indagou-se.
Ele olhou bem, algo os havia
levado por algum lugar, arrastando-os de forma abrupta. Levantou a cama
construída com uma armação metálica improvisada que estava virada ao contrário,
tirou o colchão feito de um saco plástico grande cheio de fibras artificiais e
encontrou o que procurava:
– Um buraco! – era o que ele via
no chão. Ao lado, havia pedaços de cabos sintéticos que pareciam ter sido
mastigados numa tentativa desesperada de se livrar deles.
Olhou mais de perto e ouviu que a
terra ainda se movimentava lá dentro e decidiu entrar, sem se importar com a
suit de sobrevivência. Dimios se esgueirou durante uns poucos metros e
prosseguiu, sentindo que aquela abertura ficava cada vez maior. Acabou
escorregando sem querer e terminou de sair do túnel. O que ele encontrou foi um
imenso corredor de terra que ia para baixo, muito para baixo. Uma grande
quantidade de barulho se fazia lá no fundo. Eram sons de máquinas perfurando e
animais rosnando alto. Ele foi caminhando, passando a Garra de Sartel na parede
caso precisasse dela para se segurar e evitar outra queda.
No fundo daquele lugar, uma
batalha estava sendo travada e Dimios caminhava para ela, seja qual fosse a
decisão que havia tomado para executar ou não a missão destinada somente a ele.
...
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