Chuva Ácida
O sinal da
próxima região desafortunada soava alto, bem alto. Todos correram para se
esconder onde podiam, lutando contra os ventos de gases tóxicos que se
intensificavam. Nerítico estava próximo a essa área acompanhando Darla e
perguntou a moça o que significava o alarme:
– Corra...
– ela respondeu, fazendo os dois acelerarem o passo.
A moça não
lhe deu maiores detalhes, mas Nerítico sabia que algo estava acontecendo no
meio das nuvens. O identificador digital em seu pulso começou a apitar e ele
verificou-o: ‘Grande quantidade de ácido, perigo!’, dizia o mostrador. “Como
isso é possível?”, pensou ele. Darla percebeu a dúvida do ultraquímico e lhe
falou sobre o que estava acontecendo:
– É a chuva
ácida. Se não corrermos, seremos derretidos... – a moça não parava nem por um
segundo, mesmo usando aquela máscara de gás que parecia ser extremamente
incomoda e pesada.
– Entendo
que este lugar esteja cheio de gases prejudiciais, mas meu mostrador indica um
nível de ácida superior a qualquer produto químico que eu já tenha visto. Nem a
água régia consegue disparar tanto o meu analisador!
– Moço,
compreenda uma coisa, estamos num planeta morto, há séculos que essas chuvas se
formam e a cada dia mais elas se tornam corrosivas. Depois que entrarmos na
minha vila não poderemos sair por pelo menos duas semanas... – a moça
finalmente parou por um instante.
– Chegamos?
– Nerítico perguntou, ainda olhando para ela, sem perceber que foram
recepcionados por pessoas mal encaradas que também usavam máscaras de gás.
– Darla,
gracinha! Chegou pro papai aqui? – o mais alto e forte estava à frente dos
outros. Segurava um pedaço comprido e metálico de alguma máquina, grande o
bastante para esmagar uma pessoa com facilidade. Ele apontava para o meio das
pernas indicando o que ela deveria fazer se o obedecesse.
– Karvak,
saia da frente, a chuva ácida está vindo!
– Vejam
pessoal, eu estou sendo tão gentil e olhem como ela me retribui! – os outros
riam junto do líder. – Ou você dá ou você não entra!
– ...! –
Nerítico percebia a raiva que vinha dos olhos sob a máscara.
– Deixo nos
passar, ou... – o ultraquímico se pôs a frente da moça para protegê-la.
– Moço, por
favor... – Darla não queria que ele interviesse.
– Ou o quê,
tampinha?! – Karvak apontava o bastão na direção do Senhor de Castelo.
– ...ou a
chuva ácida vai ser o menor dos seus problemas! – Nerítico estava decido a
proteger Darla.
– Moço, por
favor, não faça isso! – Darla tocava nas costas do castelar para lhe chamar a
atenção. – Vamos para outro lugar, antes que a chuva chegue...
–
Hahahah!!! – Karvak gargalhava alto. – Você?! Rapazes, ensinem a ele uma lição!
Os outros
dois que estavam junto de Karvak começaram a correr e foram para cima de
Nerítico. Eles carregavam correntes com maças repletas de pontas que eram
giradas freneticamente e foram lançadas em Nerítico, prendendo-o. O castelar
estava imobilizado e Karvak se aproximou, batendo com a arma levemente na mão
algumas vezes. Nerítico ouviu-o dizer algo, sem entender o que disse, enquanto
mexia o maxilar como se estivesse mascando. Quando o bandido ia dar-lhe um
golpe certeiro, o castelar tirou o capacete através da jóia da roupa e soprou
um gás azulado que derrubou Karvak no chão, fazendo os outros dois se
assustarem. O ultraquímico tirou os óculos de proteção que lhe apertavam os
olhos e repôs rapidamente o capacete de seu traje, respirando profundamente
depois de prender a respiração por tanto tempo:
– Assim
está melhor! – disse, com alguma alegria no tom de voz.
– Como você
fez isso?! – disse a moça, desconcertada.
– Não sou
do tipo que gosta de lutar... – disse sorrindo. – Eu só o coloquei pra dormir
com um sonífero forte que penetra diretamente na pele.
– Menos
mal... – Darla falou, com indiferença. – Precisamos correr, falta pouco para a chuva
ácida começar.
Os outros
dois, meio zonzos por causa do gás que os atingiu levemente, acordaram da
sonolência e viram o grande líder Karvak caído no chão, se assustando muito e
largando as correntes que já haviam se afrouxado e largado Nerítico que estava
ao lado de Darla. Ao verem que o homem que derrotou seu líder olhava para eles,
correram sem pestanejar:
– Não
fujam... Por favor... – o castelar parecia desapontado. – Agora vou ter que
levar ele sozinho!
– Mas, olha
o tamanho dele moço, ele é muito maior que o senhor! – Nerítico tirou outra
pílula da pulseira e desta vez a engoliu.
– Vamos
ver... – o castelar se mexia e se alongava. – Acho que já fez efeito...
Nerítico
levantou os braços grandes de Karvak e se meteu debaixo dele, erguendo-o em pleno
ar:
– Darla,
vamos? O efeito não dura muito...
– Sim...
Andando um
pouco, havia uma escotilha aberta por onde todos entraram e foi fechada logo
depois deles terem passado. A moça respirou, colocando a mão no peito, como se
não estivesse respirando por causa da apreensão em chegar de uma vez a um lugar
seguro.
Nerítico,
por outro lado, estava deslumbrado com a imagem da vila de Darla que parecia
uma escavação profunda que ia vários metros para baixo e em cada lado,
incrustados na pedra, haviam pequenas casas com portas e uma janelinha
minúscula que era iluminada por uma luz muito fraca, como de uma lâmpada a óleo
ou uma vela. No fundo daquele imenso poço, algo parecido com um rio corria numa
cor estranha e prateada saindo de um imenso tubo que estava incompleto. No
centro, suspenso pelo teto do lugar, uma célula de energia esférica que
brilhava fracamente, dando sinais de um fim próximo. O castelar deixou Karvak
de lado e tirou a suit, recolocando-a na jóia mágica, também respirando
profundamente. Sentiu que o ar não era tão limpo quanto imaginava quando acabou
pigarreando com uma irritação na garganta e disfarçou, para não preocupar a
moça. Olhou para Darla e estranhou algo:
– Não vai
tirar a máscara?
– Sabia que
uma hora iria fazer essa pergunta... – a moça continuava parada como antes,
como se fosse uma boneca de porcelana, meio dura e sem movimentos.
– Algum
problema? – Nerítico estava ficando preocupado.
– Vou lhe
contar de uma vez, para que não me persiga por eu usar esta máscara o tempo
todo... Moço, quando eu era pequena, eu gostava muito de brincar lá fora. Mesmo
sabendo que os gases tóxicos poderiam me matar, eu continuava a ir lá para fora
escondida, sem nenhuma proteção. Um dia, eu resolvi sair antes do tempo de
acidez passar e uma pequena poça da chuva havia se formado em algum lugar... –
Darla desabotoou o fecho da máscara e a tirou, como não fazia há muito tempo,
deixando Nerítico atônito. – ...e ela espirrou em mim, deformando completamente
o meu rosto. Mesmo com dores constantes, sobrevivi à queimação. Passo muito
tempo dentro de casa e só resolvi sair hoje, porque sonhei que o senhor viria
para ajudar as pessoas que continuam vivendo este inferno. Eu sou uma telepata,
só consigo te entender por que entendo seus pensamentos e tento retransmitir os
meus através deles, por isso conseguimos nos comunicar... Esta realmente não
será uma chuva ácida como as outras, ela irá romper finalmente com a estrutura
do teto que tanto aguentou o tempo difícil. Por favor moço, mesmo que eu não
possa mais chorar por causa das queimaduras, lhe suplico, ajude-nos!
Darla, a
esta altura, já estava de joelhos, de cabeça baixa, com uma expressão
terrivelmente triste. Nerítico ficara sem palavras...
estou adorando tudo.........esta muito bom......mesmo.......
ResponderExcluirvc é unico........
Que bom que esteja gostando anjinho do roque. :D
ExcluirE seja bem vinda a Toca dos Gatos! \o/