quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 20


Vazio

 

            – O que eu faço agora? Isso não estava nos manuais de sobrevivência... – se perguntava Ferus, pensando nos companheiros.
            – Você só precisa fazer o que tem de fazer... – disse Vaik, chegando mais perto.
            – Ah! – gritou ele assustado. – O que você quer comigo?
            – Hahaha... – o garoto sorriu para o jovem castelar. – Nada. São seus pensamentos que estão fluindo pra mim. Você está confuso, não está?
            – ... – Ferus não queria falar, sentia arrepios vindos daquela estranha criança.
            – Se não quiser falar tudo bem. Eu posso ler os seus pensamentos... – Vaik fez um barulhinho com a boca. – Vejo que está preocupado com o seu cilindro.
            Ferus não falou; desvio o olhar para o outro lado, tentando esconder o acerto do garoto.
            – Tem algo no seu cilindro que é importante pra você?
            – Pare com isso! Eu não lhe dei permissão pra ler a minha mente!
            – Hun... – Vaik voltou a sorrir. – Acertei de novo!
            – ...! – Ferus ficou vermelho.
            – Me diga uma coisa... Porque seu cabelo está azul?
            – Não sei...
            – Heh, essa foi direta. Você sempre pinta o cabelo pra esconder essa coloração diferente, não é?
            – ... – Ferus se lembrou da academia. Não sabia como o cabelo havia ficado azul, só sabia que aquilo não era natural. Seus pais, seus familiares, ninguém natural de Newho tinha cabelos tão azuis. Ele só sabia que não queria chamar a atenção por ter cabelos que mudam de cor.
            – Que pena...
            – O quê?
            – Não poderemos mais conversar. Nina chegou...

...

            Ela estava ali, a garotinha de vestido vermelho. Ao seu lado, o alto caçador sombrio de casaco vermelho, o inverso do Senhor de Castelo Thagir, Rigaht. Ferus sentiu na pele a semelhança entre ele o seu rei, arrepiando-se todo. Ele pensou em correr para dentro do mercado, mas foi impedido por Vaik:
            – Fique aqui...  Você está desarmado. Rigaht está sedento por matar alguém.
            – Precisamos sair daqui! Precisamos chamar os... – Ferus ficou gelado, estava quase falando Senhores de Castelo.
            – Não se preocupe em falar, eles sabem que vocês são Senhores de Castelo.
            – ...?
            – Intrometido! Sempre se metendo aonde não é chamado! – a menininha estava com raiva. – Agora eu mesma darei um jeito em você!
            O Thagir vermelho estava parado, somente olhando. Ferus não sabia o que fazer, olhava para a figura imponente do adversário e fraquejava. “Se pelo menos eu tivesse o meu cilindro!”, pensou ele, percebendo que sua primeira batalha em campo não seria fácil.
            Nina apontou o dedo para cima. O mundo ficou escuro, tomado pelas trevas. “Ela não vai brincar dessa vez”, concluiu o pequeno Vaik, “ela vai usar a zona de sombras”. Ele pôs a mão no bolso e tirou um pequeno boneco, um brinquedo que lembrava a imagem de um homem comum, feito de plástico. Ele se posicionou e concentrou-se no objeto:
            – Casa de Bonecos! – gritou ele com toda a força de seus pulmões infantis. Uma grande caixa de energia se formou ao redor dos quatro, havia espaço suficiente para eles se moverem livremente.
            – Que força é essa? – Ferus estava surpreso.
            – Pelo visto o intrometido não vai ser fácil... Mestra.
            – Cale-se! Se você o enfrentasse sozinho, você não teria chance. Mas eu estou aqui e todo o meu ódio irá esmagá-lo de uma vez! – a face de Nina foi tomada pela zona sombria que ela mesma havia criado.
            As energias dos dois infantes eram contrárias e se tencionavam. Rigaht resolveu atacar, aproveitando a brecha. Ele deu um passo e percebeu que estava fraco, arfando com falta de ar:
            – Mas o quê?
            – Vejo que percebeu a virtude dos poderes de nosso inimigo... – falou a criatura sombria que emergia da sombra de Nina que já estava completamente escura. – Sua principal força é extrair a maru de seus alvos.
            – Como? Foi rápido demais! Ele é só uma...
            – Não diga besteiras! Ele é uma criança como eu, mas tem a capacidade de ir além, ele é o intrometido!
            Ferus olhava aquilo completamente perplexo, já ouvira falar da lenda do intrometido, um ser poderoso que aparecia misteriosamente em momentos importantes do multiverso e alterava o curso das histórias, mudando mentes e intenções. As conclusões que se podia tirar sobre o intrometido eram dúbias, mas se sabia que eram acertadas, nações inteiras devem as vitórias de suas guerras a ele. Seria Vaik o intrometido dessas histórias? Ferus sentia que havia algo estranho ali, algo que ia além de sua imaginação.
            O garoto permanecia inalterado, segurava o boneco com determinação:
            – Ferus, pegue a caixa de música que está com você...
            – O quê? A caixa de... Como você sabe disso?! – a certeza de que ele era o famoso intrometido estava em seus pensamentos.
            – Não discuta comigo! Faça ela tocar agora!
            – Não... Onde vocês acharam essa caixa?! – vendo que o monstro de sombras recuava com a simples menção da caixa, o jovem castelar tirou ela do bolso.
            Inesperadamente, o cubo metálico flutuou no ar girando suas engrenagens com força. Ferus não sabia o que fazer com ela e tentou pegá-la de volta, sua doce melodia reverberou com intensidade:
            – Vocês agora são meus! – Vaik liberou uma das mãos que segurava o brinquedo e virou a palma na direção dos inimigos. – Marionetes de corda!
            – Não mesmo, seu intrometido! Se você extrai a força da maru, eu tiro a minha força das sombras, da sua sombra! Sua solidão é grande, sua tristeza e seu pesar serão seus carrascos. Quanto mais maru você tira de mim, mas as sombras dominam o meu corpo humano e minha liberdade será completa! As energias sombrias que habitam em mim irão tomar o seu ser e você será meu!
            O conflito estava ficando insuportável, as energias provocavam distorções que engoliam o entulho ao redor que se desintegrava. Ferus sentia um mal estar, o poder dos infantes iria esmagar a sua mente logo. Rigaht já não se aguentava em pé, estava quase desmaiando.
            De repente, uma esfera de luz atravessou as forças opostas e quebrou a casa de bonecos e a zona de sombras simultaneamente:
            – Irmão!
            – Elians! Volte já pra dentro! – o irmão mais velho viu o menor correr em sua direção.
            – Dantir! – gritou Nina, fazendo o pequeno olhar pra ela, como se perdesse o rumo.
            – Elians! – Ferus estava quase desmaiando e ouviu perfeitamente o que sua inimiga disse, se lembrou de algo e finalmente veio ao chão.
            Rigaht se levantou e levou a menina nos braços:
            – Me solte seu imprestável! Eu quero ficar com o meu querido Dantir!
            – Olhe direito, mestra. Você usou muito de sua força e os Senhores de Castelo estão chegando...
            – Droga! Você me paga intrometido! – sua voz desaparecia no meio da fumaça expelida pelo escravo enquanto fugiam.
            Elians se aproximou do irmão e o abraçou, estava preocupado com ele:
            – Você deveria ter ficado lá dentro... – disse Vaik.
            – Quem era aquela? – perguntou Elians, meio tímido.
            – Um dia você vai saber... – e desmaiou. Westem, que estava próximo, acudiu a criança que não conseguia segurar o irmão.
            Dimios, que sentia a grande energia no ar, levantou Ferus, passando ele para suas costas. Pilares, que ainda não havia percebida o poder daquelas crianças, exclamou:
            – Que droga foi essa?!

...

Nenhum comentário:

Postar um comentário