Vazio
– O que eu
faço agora? Isso não estava nos manuais de sobrevivência... – se perguntava
Ferus, pensando nos companheiros.
– Você só
precisa fazer o que tem de fazer... – disse Vaik, chegando mais perto.
– Ah! –
gritou ele assustado. – O que você quer comigo?
– Hahaha...
– o garoto sorriu para o jovem castelar. – Nada. São seus pensamentos que estão
fluindo pra mim. Você está confuso, não está?
– ... –
Ferus não queria falar, sentia arrepios vindos daquela estranha criança.
– Se não
quiser falar tudo bem. Eu posso ler os seus pensamentos... – Vaik fez um
barulhinho com a boca. – Vejo que está preocupado com o seu cilindro.
Ferus não
falou; desvio o olhar para o outro lado, tentando esconder o acerto do garoto.
– Tem algo
no seu cilindro que é importante pra você?
– Pare com
isso! Eu não lhe dei permissão pra ler a minha mente!
– Hun... –
Vaik voltou a sorrir. – Acertei de novo!
– ...! –
Ferus ficou vermelho.
– Me diga
uma coisa... Porque seu cabelo está azul?
– Não
sei...
– Heh, essa
foi direta. Você sempre pinta o cabelo pra esconder essa coloração diferente,
não é?
– ... –
Ferus se lembrou da academia. Não sabia como o cabelo havia ficado azul, só
sabia que aquilo não era natural. Seus pais, seus familiares, ninguém natural de
Newho tinha cabelos tão azuis. Ele só sabia que não queria chamar a atenção por
ter cabelos que mudam de cor.
– Que
pena...
– O quê?
– Não
poderemos mais conversar. Nina chegou...
...
Ela estava
ali, a garotinha de vestido vermelho. Ao seu lado, o alto caçador sombrio de
casaco vermelho, o inverso do Senhor de Castelo Thagir, Rigaht. Ferus sentiu na
pele a semelhança entre ele o seu rei, arrepiando-se todo. Ele pensou em correr
para dentro do mercado, mas foi impedido por Vaik:
– Fique
aqui... Você está desarmado. Rigaht está
sedento por matar alguém.
–
Precisamos sair daqui! Precisamos chamar os... – Ferus ficou gelado, estava
quase falando Senhores de Castelo.
– Não se
preocupe em falar, eles sabem que vocês são Senhores de Castelo.
– ...?
–
Intrometido! Sempre se metendo aonde não é chamado! – a menininha estava com
raiva. – Agora eu mesma darei um jeito em você!
O Thagir
vermelho estava parado, somente olhando. Ferus não sabia o que fazer, olhava
para a figura imponente do adversário e fraquejava. “Se pelo menos eu tivesse o
meu cilindro!”, pensou ele, percebendo que sua primeira batalha em campo não
seria fácil.
Nina
apontou o dedo para cima. O mundo ficou escuro, tomado pelas trevas. “Ela não
vai brincar dessa vez”, concluiu o pequeno Vaik, “ela vai usar a zona de
sombras”. Ele pôs a mão no bolso e tirou um pequeno boneco, um brinquedo que
lembrava a imagem de um homem comum, feito de plástico. Ele se posicionou e
concentrou-se no objeto:
– Casa de
Bonecos! – gritou ele com toda a força de seus pulmões infantis. Uma grande
caixa de energia se formou ao redor dos quatro, havia espaço suficiente para
eles se moverem livremente.
– Que força
é essa? – Ferus estava surpreso.
– Pelo
visto o intrometido não vai ser fácil... Mestra.
– Cale-se!
Se você o enfrentasse sozinho, você não teria chance. Mas eu estou aqui e todo
o meu ódio irá esmagá-lo de uma vez! – a face de Nina foi tomada pela zona
sombria que ela mesma havia criado.
As energias
dos dois infantes eram contrárias e se tencionavam. Rigaht resolveu atacar,
aproveitando a brecha. Ele deu um passo e percebeu que estava fraco, arfando
com falta de ar:
– Mas o
quê?
– Vejo que
percebeu a virtude dos poderes de nosso inimigo... – falou a criatura sombria
que emergia da sombra de Nina que já estava completamente escura. – Sua
principal força é extrair a maru de seus alvos.
– Como? Foi
rápido demais! Ele é só uma...
– Não diga
besteiras! Ele é uma criança como eu, mas tem a capacidade de ir além, ele é o
intrometido!
Ferus
olhava aquilo completamente perplexo, já ouvira falar da lenda do intrometido,
um ser poderoso que aparecia misteriosamente em momentos importantes do
multiverso e alterava o curso das histórias, mudando mentes e intenções. As
conclusões que se podia tirar sobre o intrometido eram dúbias, mas se sabia que
eram acertadas, nações inteiras devem as vitórias de suas guerras a ele. Seria
Vaik o intrometido dessas histórias? Ferus sentia que havia algo estranho ali,
algo que ia além de sua imaginação.
O garoto
permanecia inalterado, segurava o boneco com determinação:
– Ferus,
pegue a caixa de música que está com você...
– O quê? A
caixa de... Como você sabe disso?! – a certeza de que ele era o famoso intrometido
estava em seus pensamentos.
– Não
discuta comigo! Faça ela tocar agora!
– Não...
Onde vocês acharam essa caixa?! – vendo que o monstro de sombras recuava com a
simples menção da caixa, o jovem castelar tirou ela do bolso.
Inesperadamente,
o cubo metálico flutuou no ar girando suas engrenagens com força. Ferus não
sabia o que fazer com ela e tentou pegá-la de volta, sua doce melodia
reverberou com intensidade:
– Vocês
agora são meus! – Vaik liberou uma das mãos que segurava o brinquedo e virou a
palma na direção dos inimigos. – Marionetes de corda!
– Não
mesmo, seu intrometido! Se você extrai a força da maru, eu tiro a minha força
das sombras, da sua sombra! Sua solidão é grande, sua tristeza e seu pesar
serão seus carrascos. Quanto mais maru você tira de mim, mas as sombras dominam
o meu corpo humano e minha liberdade será completa! As energias sombrias que
habitam em mim irão tomar o seu ser e você será meu!
O conflito estava
ficando insuportável, as energias provocavam distorções que engoliam o entulho
ao redor que se desintegrava. Ferus sentia um mal estar, o poder dos infantes iria
esmagar a sua mente logo. Rigaht já não se aguentava em pé, estava quase
desmaiando.
De repente,
uma esfera de luz atravessou as forças opostas e quebrou a casa de bonecos e a
zona de sombras simultaneamente:
– Irmão!
– Elians!
Volte já pra dentro! – o irmão mais velho viu o menor correr em sua direção.
– Dantir! –
gritou Nina, fazendo o pequeno olhar pra ela, como se perdesse o rumo.
– Elians! –
Ferus estava quase desmaiando e ouviu perfeitamente o que sua inimiga disse, se
lembrou de algo e finalmente veio ao chão.
Rigaht se
levantou e levou a menina nos braços:
– Me solte
seu imprestável! Eu quero ficar com o meu querido Dantir!
– Olhe
direito, mestra. Você usou muito de sua força e os Senhores de Castelo estão
chegando...
– Droga!
Você me paga intrometido! – sua voz desaparecia no meio da fumaça expelida pelo
escravo enquanto fugiam.
Elians se
aproximou do irmão e o abraçou, estava preocupado com ele:
– Você
deveria ter ficado lá dentro... – disse Vaik.
– Quem era
aquela? – perguntou Elians, meio tímido.
– Um dia
você vai saber... – e desmaiou. Westem, que estava próximo, acudiu a criança
que não conseguia segurar o irmão.
Dimios, que
sentia a grande energia no ar, levantou Ferus, passando ele para suas costas.
Pilares, que ainda não havia percebida o poder daquelas crianças, exclamou:
– Que droga
foi essa?!
...
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