Devil’s Drink 30 – A
Cidade das Pontes
Um mundo
urbano. Prédios e edifícios por todos os lados. Pontes, dezenas de pontes,
pontes por todos os lados e nenhum rio transbordando, umedecendo ou poluindo a
paisagem, apenas prédios, edifícios e pontes. Não havia praças, não havia
árvores, não havia plantas. Não havia animais, não havia insetos, apenas
humanos viviam ali, naquele mundo cinza, triste e tenebroso.
Nos
entremeios da Cidade das Pontes, reinava a lei de ninguém. Assassinatos
cometidos com crueldade e obsessão eram frequentes e nenhuma autoridade sabia o
que fazer para acabar com as mortes. Eram cinco níveis distintos, que separavam
a parte baixa da mais alta e não incomum era encontrar alguns trechos em que as
ligações se tornavam um verdadeiro labirinto de seis níveis ou mais. Por causa
desse emaranhado confuso para os próprios habitantes, tornava-se difícil pegar
o serial killer que atormentava os inúteis cidadãos. Você poderia ser morto a
qualquer momento, a qualquer hora, sob qualquer ponte ou acima dela. Não havia
assinatura, eram apenas mortes culminadas em hábeis destrinchamentos
cirúrgicos. Eram homens, mulheres, idosos e crianças... Seu apetite era tanto
que fazia cerca de três vítimas por mês, uma a cada dez dias.
Para
solucionar o terrível caso, a concretada Cidade das Pontes, capital do mundo
desconhecido, recebeu da arborizada Cidade das Árvores ao norte, o seu melhor
detetive, Terat, o macaco. De certo que sua feições não são tão simiescas,
chegaria a ser confundido com um humano peludo, mas sua longa cauda, que
utiliza para segurar sua lupa eletrônica e diversos outros objetos, deixa claro
que ele é realmente um macaco.
Um tanto
intrépido, é verdade, Terat costuma deixar loucos aqueles que trabalham com ele
por tem um humor sucinto, uma inteligência exacerbada na área de deduções e um
eterno amor por bananas – cujas cascas são desleixadamente jogadas no chão;
exceto pelas cenas de crime, Terat é sempre encontrado rodeado por cascas de
bananas.
O detetive
chega à última cena do crime e observa com cuidado todos os sinais e evidência
que conseguia encontrar. O local ficava no segundo nível, acima da autopista
que leva à saída da cidade. O corpo se encontrava repartido, membros separados
do tronco e junções devidamente limpas com os ossos expostos, não havia sangue
visível no local.
Um dos encarregados chamado Dalon
que deve ajudar Terat no que quer que necessite, jovem e iniciante na
corporação policial, questionou:
– O que
acha senhor Terat?
– O mais
óbvio... – o homem macaco olhava minuciosamente o local sem lhe dirigir o
olhar.
– Que este
local não foi a cena do crime?
– Não... É
óbvio demais...
– E então?
– Me dê o
luminol... – o ajudante tirou de uma pasta cheia de apetrechos o frasco com o
líquido transparente à luz comum.
Terat pegou
os óculos e a lanterna especial que revelaria se houve sangue na cena e
borrifou o luminol. Começou em um canto e foi percorrendo um caminho até a
parede. Lá terminou com o frasco inteiro.
– Dalon?
– Sim... –
ele se aproximou.
– Você
consegue diminuir a luz deste local?
– Só um
momentinho... – Dalon tirou do bolso o celular e discou o número da central de
energia. Pediu para que a energia da região abaixo da ponte do terceiro nível
na seção vinte e três fosse desligada temporariamente em nome da corporação
policial.
– Ótimo...
– disse Terat. – Coloque os seus óculos, você vai se surpreender com isso!
Dalon
colocou os óculos e o detetive macaco ligou novamente a lanterna. O fotógrafo
forense que os acompanhava ficou atônito tanto quanto Dalon e começou a tirar
fotos e mais fotos.
– Algum
motivo para isso senhor Terat?
– Esta
parede estava estranhamente úmida... Seja como for, o assassino limpou a cena
do crime com muita precisão ao mesmo tempo em que destroçou a vítima em
segundos... O caso é pior do que eu pensava!
E deveria
ser mesmo. Na parede, em manchas de sangue residuais, estava a imagem clara de
que o assassinato ocorrera na parede e de imediato, dando pouco tempo para ele,
um homem de trinta e cinco anos e com porte físico razoável, sangrar somente
durante alguns segundos. Com as marcas que estavam claramente explodidas na
parede e o corpo que não foi lavado com ela, se podia deduzir que os cortes
instantâneos foram feitos por uma força que prendeu o corpo na parede, nela
teve os membros decepados e, tendo os pedaços do corpo sendo segurados em outro
local, tudo foi lavado.
Dalon
estava surpreso com as palavras de Terat:
– Nossa!
Como isso é possível? Nunca ouvi falar de algo que pudesse fazer isso e então
pouco tempo!
– Acho que
sei o que pode ter feito isso...
– E o que
seria? Poderia me dizer?
– Ainda não
tenho certeza, melhor esperar até o momento certo. Tenho dúvidas que precisam
ser sanadas antes de maiores conclusões... – o detetive tinha o rosto sério.
Vestido num sobretudo marrom colocou as mãos peludas para dentro dos bolsos
contraindo os braços contra o corpo. – Está frio aqui, não está?
– Sim. Aqui
na Cidade das Pontes sempre faz frio quando o sol se põe...
– São
apenas cinco da tarde! – disse com surpresa.
– Os níveis
mais baixos recebem menos luz diretamente do sol e acabamos dizendo que o sol
está se pondo...
–
Interessante... – o detetive se virou para ir ao carromóvel e retornou ao
encarregado. – Você não saberia onde posso conseguir bananas, sabe?
– Sabia que
iria pedir isso! – Dalon tirou o celular do bolso e digitou algumas palavras.
– Ah! Mas
eu nem gosto de bananas! Elas me dão azia... – a personalidade de detetive fora
substituída pela de macaco.
– Pronto, o
carromóvel já está habilitado para nos levar a um lugar cheio de bananas!
– É melhor
você arranjar outro veículo para você quando sairmos de lá... Não quero
constrangê-lo por causa da minha azia!
– Heheh.
Não se preocupe senhor Terat, darei um jeito nisso!
– É sério,
é melhor conseguir um veículo agora!
– Menos,
bem menos senhor Terat... Terei de me assegurar que a sua pessoa não se perca
nesta cidade imensa. Sem o GPS até eu me perderia nessa ruas confusas!
– Pelas
bananas! – bufou o macaco. – Não me chame de senhor! Sou muito jovem para parecer
um tiozinho...
– Vamos?
– Arranjou
o outro veículo?
– Não e é
melhor andarmos logo antes que a Superbanana Blaster feche!
– Mas esse
lugar é lotado de gente durante a noite toda!
– Eu já
trabalhei lá e o dono é meu amigo, ele vai separar para nós um especial de
banana daqueles!
– Você é um
anjo! – disse Terat com os olhos brilhando.
– Vamos?
– E o outro
carromóvel?
– Vamos! –
Dalon não sabia se gritava, chorava ou se ria daquele palhaço.
Eles
entraram no carromóvel e a guia foi afixada no cabo de movimentação. O veículo
foi carregado por ele até o local desejado, sendo guiado pelo sistema central
de inteligência da cidade.
...
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