segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 40


Cidade Alta

 

            Semi-enterrados, os Senhores de Castelo foram retirados um a um dos escombros daquela imensa quantidade de prédios ruídos por eles mesmos. Um plano audacioso, Rigaht reconhecia, enquanto sua mestra infante lhe ordenava isso e aquilo para resgatá-los. Não dava para se saber ao certo quantas máquinas da legião parafuso haviam sido destruídos. Foram centenas e milhares, disso eles sabiam, constatando o incrível buraco que fizeram na paisagem urbana e morta que ardia em alguns poucos lugares em que o combustível dos maquinários era consumido pelo fogo. A poeira era forte e demorava a se dissipar, fazendo todos eles tossirem. Ficaram escondidos por mais de meio dia até se recuperarem.

            Novamente a noite chegara e com ela a plataforma se iluminou, dando a impressão de que o escuro se afastava por causa de alguma sociedade humana que existia ali. Poderia se sonhar com algum parque alegre, cheio de pessoas felizes e criancinhas sorrindo ao brincar. Ou ainda com pessoas trabalhando com total prazer em suas amadas profissões... Mas não era isso. A plataforma que cingia o topo dos prédios de base era carregada de laboratórios prontos, produzidos inteiros em outro lugar e trazidos para o planeta sem nome para servir de apoio a atrocidades inomináveis. E, se por algum motivo o laboratório se tornasse inútil ou infectado, ele era sumariamente jogado por um carregador flutuante em algum lugar da zona de lixo. Nos prédios abaixo da plataforma, funciona a fábrica de máquinas, consumindo milhares de litros de diesel e queimando uma quantidade absurda de oxigênio. Com a morte do último ser orgânico que desprendia esse gás tão importante para a sobrevivência da vida, estar naquele altar erguido nos céus para sacrificar almas ao conhecimento, se tornaria algo muito mais perigoso que enfrentar uma legião de máquinas.

...

            – Estou sentindo o ar ficar rarefeito... – concluiu o ultraquímico. – O oxigênio do ar está acabando.

            – Não temos tempo a perder. – disse Dimios. – Iksio, quantas máquinas ainda restam?

            Com alguns movimentos com o dedo, o multibiólogo reescreveu a palavra que lhe permitia detectar com perfeição quantas máquinas ainda existiam. O que via fora da fábrica era um completo vazio. O arthuano reparou que havia algo a mais no meio dos prédios. Viu as chamas e a construção de mais máquinas, a produção em massa estava se acelerando. Porém, o que realmente lhe causou temor foi o que tentou ver além das nuvens, acima da plataforma. Como um mastro colossal que se ergue rumo ao céu, acima da Cidade Alta havia uma coluna estrutural que subia e subia, chegando a uma altitude que ia além de suas habilidades. Tentou ver o que poderia ser e fraquejou. Vira luzes brilhando fortemente que reagiram a sua invasão perceptiva e atacaram a sua mente. Sentiu o mundo girar e desmaiou.

            – Iksio! – gritou Westem sacudindo o parceiro energicamente.

            – Isso não é bom... – Dimios se concentrou e passou a Garra de Sartel sobre o arthuano como fizera com o armeiro Ferus, sentindo que algo estava errado com o seu corpo. Saiu do transe momentâneo e colocou a mão em sua testa. Ele estava ardendo em febre. – Isso não é nada bom...

            – O que vocês vão fazer agora, Senhores de Castelo? – inquiriu o caçador vermelho.

            – Não tenho a mínima ideia...

...

            Quebrando o silêncio daquele momento de descanso e preocupação, uma máquina voadora rasgou o ar fazendo um ruidoso barulho. Ninguém conseguiu ver direito como era aquilo, sua velocidade combinada ao movimento repentino assustaram os guerreiros. Em seguida, mais e mais zumbidos de algo em grande velocidade atravessavam o céu nublado. Então, com mais algum tempo, diversas bombas caíram e explodiram por todos os lados.

            – Estamos sendo bombardeados! – gritou Nerítico.

...

            – Se é guerra o que eles querem... É o que terão! – gritou Rubber, o ilusionista, olhando do alto da plataforma.

...

– Preciso agir rápido... Isso está saindo das proporções... Vocês estão comigo? – várias pessoas de feições amuadas e tristes encaravam-no. – Vou perguntar mais uma vez... Como se diz isso mesmo?

– Kakeru no iko... – respondeu a senhora.

– Ah, sim... Obrigado... – ele sorriu e levantou a espada. – Kakeru no iko?!

– IKO!!! – gritaram todos.

– KAKERU NO IKO?!!!

– IKO!!!

– ASATH!!! (ATAQUEM!!!)

...

            De fora da Cidade Baixa, passos pesados foram surgindo, emergindo do silêncio da zona do lixo. Máquinas de batalha que vinham caminhando lentamente, já atingiam a área aberta. Mísseis e projéteis foram atirados na direção das máquinas que voavam acima das nuvens. Algumas foram atingidas, afastando as outras. Brados de animação foram dados. Isso não durou muito tempo, os bombardeiros fizeram a volta e voltaram a atacar, desta vez contra aqueles que lutavam contra eles.

            Dimios estava preocupado, procurava um novo lugar para que todos se escondessem e percebeu que as máquinas voadoras estavam sendo atacadas. Mas por quem? Seja quem fosse, estava dando a distração necessária para que os Senhores de Castelo e seus aliados chegassem a entrada da fábrica de máquinas.

            Na base daquele prédio de mil e quinhentos metros, uma porta mecânica se abriu revelando um elevador suficientemente grande para que todos entrassem e se refugiassem dos ataques. Dentro do elevador, através de uma janela de vidro bem larga, podia se ver o interior daquele edifício onde uma chama intensa queimava, fundindo metais numa grande caldeira que despejava tudo nas mais diversas fôrmas que, ao esfriar e serem abertas em seguida, desenformavam peças e engrenagens que eram levadas para a área de montagem. Esta parte, porém, era coberta e só poderia ser bem vista quando já se estivesse a quinhentos metros de altura. O elevador continuava subindo e já deveria estar chegando nesta altura que revelava o segredo da legião parafuso. A verdadeira fábrica de máquinas era nada mais nada menos que um enorme cérebro! Não um cérebro artificial, um cérebro orgânico, gigantesco! Se alguém pudesse descer e olhar a pequenina placa de instrução que alguém colocara apenas para enfeitar a grande construção, leria: “Cérebro de Gigante. Engenhoso, criativo e sonhador. Operando somente para a Legião Parafuso que próprio criara”. No fim do córtex cerebral que se desenrolava pelo fundo e paredes do prédio, um maquinário novo do exército de máquinas saía, completamente montado. Os Senhores de Castelo viam aquilo horrorizados...

            Chegando ao último andar – não havia nenhuma parada além desta – a porta do elevador se abriu. Todos saíram e a porta se fechou. Todo o local estava tomado pela neblina forte e zunia com alguma coisa elétrica dando choques consecutivos. Iksio, que ainda suava e tremia, despertou aturdido e atônito nos braços de Westem. Dando lhe algum apoio, o bárbaro deixou-o de pé. Uma voz estranha falou ao longe:

            – Venha Croaton... – e o arthuano saiu correndo.

            – Iksio, aonde você vai?! – clamou o parceiro que tentou ir atrás dele.

            – Westem, pare! – gritou Nerítico segurando o pelo braço como podia.

            – E o Iksio? Para onde ele foi?

            – Westem... Olhe...

            A neblina começou a se dissipar e todos puderam ver, diante deles havia um campo elétrico fortíssimo que pulsava freneticamente fazendo um barulho irritante. Nerítico se lembrara de algo de quando vira algumas palestras de megafísica e concluiu:

            – Isto deve ser um Haarp... – disse, ainda surpreso ao ver aquelas torres de arco voltaico passando raios de uma para a outra.

– E o que seria isso? – perguntou Dimios.

– Um complexo elétrico de controle do tempo...

– ...!

...

 

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