domingo, 16 de dezembro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 46


Destruição

 

            – Vamos todos por aqui! – Dimios e o Caçador Sombrio ajudavam a população a entrar no núcleo branco das portas do paraíso. – Você tem certeza que o garoto está vindo?
            – ... – o Caçador não respondeu. – Em fila! Todos em fila!
            Automaticamente a entrada da população, o espaço branco engolia as pessoas que eram transportadas para um lugar seguro.
            – Onde está ele?!
            – ... – o caçador continuava sem responder.
            – Cardial!
            – Eu não sou Cardial, sou o Caçador Mascarado. – não dava para saber qual era a sua expressão debaixo daquela máscara dourada.
            – Vai continuar mentindo? Justo pra mim que fui seu fiel parceiro?!
            – Não sou Cardial. – insistia.
            – Tenho certeza que você é ele!
            – Vamos, continuem, a contagem regressiva está acabando!
            – Vamos, por favor! – Dimios via que o transporte era mais urgente e continuou. Faltavam apenas alguns minutos para o marcador da torre da Cidade Aérea terminar a contagem. – Toshi! Esmal!
            O moço menor tocou na mão de Dimios: “O que aconteceu com seu braço de metal?”
            – Ele foi destruído, mas isso não é problema... – o braço amputado ardia com as terminações nervosas artificiais soltas. – Você viu Ferus?
            “Não”, respondeu mentalmente, “Não o vejo desde que deixou Dinha conosco lá embaixo”.
            – Droga! Onde está aquele moleque!
            “Veja”, continuou, “O monstro de lixo está trazendo Dinha”. A criatura era um pouco maior que o espaço dos corredores, mas se apertava carregando uma cápsula de sobrevivência dentro de si. “Vou com eles”, disse Esmal que soltou a mão de Dimios e sumiu no espaço branco.
            – Ferus! – gritava Dimios sem saber exatamente o que fazer. – Ferus! Onde você está!
            A última pessoa passou pelo corredor e sumiu no espaço branco. O ziniano sentiu seu coração gelar e apertou a alça do cilindro de armeiro que fazia questão de levá-lo consigo. Não tinha certeza, mas o Caçador Mascarado havia dito que os outros castelares atravessaram para o mesmo lugar seguro que a população iria. Ele voltou pelo caminho, olhou bem para as cápsulas.
– Ele não desceu! – disse para si mesmo.
Persistiu na procura e encontrou a porta por onde Ferus havia passado. Estava apertado para ele, mas conseguia se mover sem ficar preso. Ele saiu no mesmo lugar em que Ferus estava.
– Dimios... – disse uma voz fraca.
            O ziniano buscou pela voz. O lugar era grande, lembrava o interior do núcleo de uma estrela escura, cheia de cabos e conexões e um ponto comum por onde a energia passava. Ali estava ele:
            – Ferus... O que você fez? – O cabelo do armeiro brilhava em diversas cores. Cuspindo sangue, ele respondeu.
            – Eu não queria ser aquilo que você viu... Eu queria ser um Senhor de Castelo... O controle mestre não possui chave ou botão de controle... Ele é controlado pela mente dos altarianos... Por isso eu...
            – Não fale, eu vou te tirar daí...
            – Não dá... Estou usando meu corpo para me conectar as portas do paraíso... Sou eu quem está tirando todos do planeta... Fui eu quem trouxe Cardial... – perdendo a cores naturais, seu corpo ficou seco e se desfazia em cinzas. A radiação cósmica não deve ser sentia por um corpo comum. – Vá... Não tenho muito tempo...
            – Eu vou ficar aqui... Não vou te deixar no seu Dia de Bravura... Parceiro...
            – Eu sei por que Cardial salvou a sua vida aquele dia... Eu posso ver perfeitamente... – seus braços se desmancharam no ar. – Era para que você pudesse cuidar de Lacroh...
            Dimios chorou. Chorou como não fazia há muito tempo. Tirou o cilindro das costas e o colocou próximo de seu dono. Sentia um grande aperto no coração e virou-se. Fez o caminho de volta, deixando o parceiro para trás. De volta ao núcleo branco, a estrutura o engoliu. Naquele momento ele ouviu a voz de Ferus dizerem suas últimas palavras:
            – Iqueróm wa puma... – Dimios completou a frase.
            – Wa puma...

...

            A viagem cósmica atravessou todo o multiverso. Era como se você viajasse pelos mares boreais numa velocidade incrivelmente maior. Pelo caminho, começou a ver formações estelares conhecidas e terminou caindo num lugar familiar:
            – A Ilha de Ev’ve! – o local estava calmo. Um zumbido de restauração de bloqueio espacial soou. – O que eu faço agora?
            Às vezes, depois de passarmos por grandes tempestades, a dúvida nos invade e nos sentimos perdidos. Uma enfermeira passou por ali e chamou a atenção de Dimios.
            – Senhor? – o ziniano não respondeu. – Senhor?!
            – Ahn... Ah! Sim?
            – Precisa de primeiros socorros? Todos estão sendo transportados para as novas instalações médicas da Estrela Escura laboratorial sob ordens do Doutor Tóxico que deixou todos de prontidão para recebê-los. Quer ir para lá?
            – Acho que preciso sim...

...

            Naquele planeta longínquo, onde todas as piores atrocidades possíveis aconteciam, uma imensa massa luminosa passou, engolindo as luas e o planeta. Sua luz se intensificou e tudo explodiu no espaço. No meio da poeira cósmica, se houvesse alguém passando por ali poderia ter ouvido:
            – Obrigado...
...

            Algumas horas depois, uma bagunça começou nas instalações médica improvisadas:
            – Eu não quero você! Eu quero meu irmão!
            – Esqueça ele, venha comigo... Comigo... – Elians e Nina estavam brigando.
            Dimios, ouvindo aquilo, se levantou de sua cama e foi tentar ajudar.
            – Crianças, parem com isso!
            – Foi ela que começou! Eu quero meu irmão de volta! – o menino chorava copiosamente.
            – Ele não é seu irmão!
            – Ele é sim! Fala pra ela pai! – o ex-Senhor de Castelo Thagir vinha pelo corredor.
            – Dantir! – os dois se abraçaram.
            – Eu não gosto desse nome pai, me chame de Elians!
            – Garotão... – já fazia um bom tempo que os dois estavam separados. – Como você cresceu!
            Nina bufou, virando o rosto. Começou a andar e ia desaparecer.
            – Nina, não é? – a menina olhou por cima do ombro. – Era você que estava no quarto do Dantir todas as noites, não era?
            – Sim... Era eu... Nós nascemos interligados pelas diferentes marus do multiverso... É nosso destino ficarmos juntos...
            – Por sua causa tivemos que procurar outro lugar no multiverso que pudesse manter o meu filho seguro...
            – ... – Nina não disse mais nada e ia voltar a andar.
            – Você não gostaria de ser uma Senhora de Castelo? – Nina ficara confusa. – Dantir um dia será um grande Senhor de Castelo, porque você não fica por aqui? Você poderia ajudar muito...
            – Se é por ele... Eu fico...
            – Não me chame de Dantir! Eu me chamo Elians! – o ex-castelar sorriu.
            – Claro, garotão! Vamos, sua mãe e suas irmãs estão esperando...
            – Espera! Vaik me disse pra dar isso pra ele... – o menino pegou o boneco que pertencia ao falso irmão e deu ele para Dimios. – É pra engolir o que está dentro... – e voltou para o pai, mostrando a língua para Nina, que também mostrou a língua.
            – Nina? – perguntou o ziniano.
            – Sim...
            – Onde estão os Caçadores Sombrios que estavam com você?
            – Eles passaram pelas portas do paraíso e sumiram... Não tenho ideia de onde eles foram...
            – Obrigado...

...

            Dimios estava se sentindo mal ali e saiu, voltando a Ilha de Ev’ve pelas portas do infinito. Tomando um ar fresco, se sentou num banco da praça dos heróis. Observou o boneco de perto e viu uma abertura. A cabeça saiu e dentro dele havia uma pequena esfera vermelha.
            – O que pode ser isso? – fez como o garoto havia mandado e engoliu.
            Aquilo bateu forte no seu estômago, parecia queimar e fazia o corpo inteiro formigar, principalmente o braço amputado. De repente, a pele começou a borbulhar:
            – Ah! – Dimios estava sem fôlego. – Não acredito! Isso é impossível! Como?
            Pensou em falar com o garoto, mas o navio boreal com a bandeira de Newho já havia adentrado os mares boreais. Perdendo a noção por causa da alegria gritou assim mesmo:
            – Obrigado! Obrigado pelo braço novo! – lágrimas rolaram pelo seu rosto. Não de tristeza, eram de felicidade.
            Sentou-se novamente no banco e ficou admirando o braço novo:
            – Agora posso voltar para Lacroh!
...

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