Destruição
– Vamos
todos por aqui! – Dimios e o Caçador Sombrio ajudavam a população a entrar no
núcleo branco das portas do paraíso. – Você tem certeza que o garoto está
vindo?
– ... – o
Caçador não respondeu. – Em fila! Todos em fila!
Automaticamente
a entrada da população, o espaço branco engolia as pessoas que eram
transportadas para um lugar seguro.
– Onde está
ele?!
– ... – o
caçador continuava sem responder.
– Cardial!
– Eu não
sou Cardial, sou o Caçador Mascarado. – não dava para saber qual era a sua
expressão debaixo daquela máscara dourada.
– Vai
continuar mentindo? Justo pra mim que fui seu fiel parceiro?!
– Não sou
Cardial. – insistia.
– Tenho
certeza que você é ele!
– Vamos,
continuem, a contagem regressiva está acabando!
– Vamos,
por favor! – Dimios via que o transporte era mais urgente e continuou. Faltavam
apenas alguns minutos para o marcador da torre da Cidade Aérea terminar a
contagem. – Toshi! Esmal!
O moço
menor tocou na mão de Dimios: “O que aconteceu com seu braço de metal?”
– Ele foi
destruído, mas isso não é problema... – o braço amputado ardia com as
terminações nervosas artificiais soltas. – Você viu Ferus?
“Não”,
respondeu mentalmente, “Não o vejo desde que deixou Dinha conosco lá embaixo”.
– Droga! Onde
está aquele moleque!
“Veja”,
continuou, “O monstro de lixo está trazendo Dinha”. A criatura era um pouco
maior que o espaço dos corredores, mas se apertava carregando uma cápsula de
sobrevivência dentro de si. “Vou com eles”, disse Esmal que soltou a mão de
Dimios e sumiu no espaço branco.
– Ferus! –
gritava Dimios sem saber exatamente o que fazer. – Ferus! Onde você está!
A última
pessoa passou pelo corredor e sumiu no espaço branco. O ziniano sentiu seu
coração gelar e apertou a alça do cilindro de armeiro que fazia questão de
levá-lo consigo. Não tinha certeza, mas o Caçador Mascarado havia dito que os
outros castelares atravessaram para o mesmo lugar seguro que a população iria.
Ele voltou pelo caminho, olhou bem para as cápsulas.
– Ele não desceu! – disse para si
mesmo.
Persistiu na procura e encontrou
a porta por onde Ferus havia passado. Estava apertado para ele, mas conseguia
se mover sem ficar preso. Ele saiu no mesmo lugar em que Ferus estava.
– Dimios... – disse uma voz
fraca.
O ziniano
buscou pela voz. O lugar era grande, lembrava o interior do núcleo de uma
estrela escura, cheia de cabos e conexões e um ponto comum por onde a energia
passava. Ali estava ele:
– Ferus...
O que você fez? – O cabelo do armeiro brilhava em diversas cores. Cuspindo
sangue, ele respondeu.
– Eu não
queria ser aquilo que você viu... Eu queria ser um Senhor de Castelo... O
controle mestre não possui chave ou botão de controle... Ele é controlado pela
mente dos altarianos... Por isso eu...
– Não fale,
eu vou te tirar daí...
– Não dá...
Estou usando meu corpo para me conectar as portas do paraíso... Sou eu quem
está tirando todos do planeta... Fui eu quem trouxe Cardial... – perdendo a
cores naturais, seu corpo ficou seco e se desfazia em cinzas. A radiação cósmica
não deve ser sentia por um corpo comum. – Vá... Não tenho muito tempo...
– Eu vou
ficar aqui... Não vou te deixar no seu Dia de Bravura... Parceiro...
– Eu sei
por que Cardial salvou a sua vida aquele dia... Eu posso ver perfeitamente... –
seus braços se desmancharam no ar. – Era para que você pudesse cuidar de
Lacroh...
Dimios
chorou. Chorou como não fazia há muito tempo. Tirou o cilindro das costas e o
colocou próximo de seu dono. Sentia um grande aperto no coração e virou-se. Fez
o caminho de volta, deixando o parceiro para trás. De volta ao núcleo branco, a
estrutura o engoliu. Naquele momento ele ouviu a voz de Ferus dizerem suas
últimas palavras:
– Iqueróm
wa puma... – Dimios completou a frase.
– Wa
puma...
...
A viagem
cósmica atravessou todo o multiverso. Era como se você viajasse pelos mares
boreais numa velocidade incrivelmente maior. Pelo caminho, começou a ver
formações estelares conhecidas e terminou caindo num lugar familiar:
– A Ilha de
Ev’ve! – o local estava calmo. Um zumbido de restauração de bloqueio espacial
soou. – O que eu faço agora?
Às vezes,
depois de passarmos por grandes tempestades, a dúvida nos invade e nos sentimos
perdidos. Uma enfermeira passou por ali e chamou a atenção de Dimios.
– Senhor? –
o ziniano não respondeu. – Senhor?!
– Ahn...
Ah! Sim?
– Precisa
de primeiros socorros? Todos estão sendo transportados para as novas
instalações médicas da Estrela Escura laboratorial sob ordens do Doutor Tóxico
que deixou todos de prontidão para recebê-los. Quer ir para lá?
– Acho que
preciso sim...
...
Naquele
planeta longínquo, onde todas as piores atrocidades possíveis aconteciam, uma
imensa massa luminosa passou, engolindo as luas e o planeta. Sua luz se
intensificou e tudo explodiu no espaço. No meio da poeira cósmica, se houvesse
alguém passando por ali poderia ter ouvido:
–
Obrigado...
...
Algumas
horas depois, uma bagunça começou nas instalações médica improvisadas:
– Eu não
quero você! Eu quero meu irmão!
– Esqueça
ele, venha comigo... Comigo... – Elians e Nina estavam brigando.
Dimios,
ouvindo aquilo, se levantou de sua cama e foi tentar ajudar.
– Crianças,
parem com isso!
– Foi ela
que começou! Eu quero meu irmão de volta! – o menino chorava copiosamente.
– Ele não é
seu irmão!
– Ele é
sim! Fala pra ela pai! – o ex-Senhor de Castelo Thagir vinha pelo corredor.
– Dantir! –
os dois se abraçaram.
– Eu não
gosto desse nome pai, me chame de Elians!
–
Garotão... – já fazia um bom tempo que os dois estavam separados. – Como você
cresceu!
Nina bufou,
virando o rosto. Começou a andar e ia desaparecer.
– Nina, não
é? – a menina olhou por cima do ombro. – Era você que estava no quarto do
Dantir todas as noites, não era?
– Sim...
Era eu... Nós nascemos interligados pelas diferentes marus do multiverso... É
nosso destino ficarmos juntos...
– Por sua
causa tivemos que procurar outro lugar no multiverso que pudesse manter o meu
filho seguro...
– ... –
Nina não disse mais nada e ia voltar a andar.
– Você não
gostaria de ser uma Senhora de Castelo? – Nina ficara confusa. – Dantir um dia
será um grande Senhor de Castelo, porque você não fica por aqui? Você poderia
ajudar muito...
– Se é por
ele... Eu fico...
– Não me
chame de Dantir! Eu me chamo Elians! – o ex-castelar sorriu.
– Claro,
garotão! Vamos, sua mãe e suas irmãs estão esperando...
– Espera!
Vaik me disse pra dar isso pra ele... – o menino pegou o boneco que pertencia
ao falso irmão e deu ele para Dimios. – É pra engolir o que está dentro... – e
voltou para o pai, mostrando a língua para Nina, que também mostrou a língua.
– Nina? –
perguntou o ziniano.
– Sim...
– Onde
estão os Caçadores Sombrios que estavam com você?
– Eles
passaram pelas portas do paraíso e sumiram... Não tenho ideia de onde eles
foram...
– Obrigado...
...
Dimios
estava se sentindo mal ali e saiu, voltando a Ilha de Ev’ve pelas portas do
infinito. Tomando um ar fresco, se sentou num banco da praça dos heróis.
Observou o boneco de perto e viu uma abertura. A cabeça saiu e dentro dele
havia uma pequena esfera vermelha.
– O que
pode ser isso? – fez como o garoto havia mandado e engoliu.
Aquilo
bateu forte no seu estômago, parecia queimar e fazia o corpo inteiro formigar,
principalmente o braço amputado. De repente, a pele começou a borbulhar:
– Ah! –
Dimios estava sem fôlego. – Não acredito! Isso é impossível! Como?
Pensou em
falar com o garoto, mas o navio boreal com a bandeira de Newho já havia
adentrado os mares boreais. Perdendo a noção por causa da alegria gritou assim
mesmo:
– Obrigado!
Obrigado pelo braço novo! – lágrimas rolaram pelo seu rosto. Não de tristeza,
eram de felicidade.
Sentou-se
novamente no banco e ficou admirando o braço novo:
– Agora
posso voltar para Lacroh!
...
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