quinta-feira, 31 de maio de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Discussão entre Thagir e o Conselho de Nopporn
Informe do Multiverso



            “Como foi visto no último informe, não se soube o que aconteceu com o segundo caçador e ao ser perguntado pelo ocorrido, o Senhor de Castelo Thagir se negou a dar qualquer esclarecimento. Discutindo sobre o ocorrido, o Conselho chegou à conclusão de que Thagir deveria revelar o que escondia. Mas, para a surpresa de todos, Thagir rebateu acusando seriamente N’quamor de estar ajudando os Caçadores Sombrios. A discussão levou o conselho a prender o comandante Thagir, que será julgado em grande audiência, sendo transmitido para todo o multiverso. Os amigos mais próximos relatam não ter ideia do que está acontecendo. Teria o mestre Thagir se revoltado com o conselho? O que o grande ancião teria para esconder? Confiram nesta transmissão especial. Aqui foi Fentáziz, do Informe do Multiverso.”

...

Começando transmissão...

            Kullat foi visitar Thagir na cela. Esperava entender alguma coisa:
            –Porque você não pode dizer nada, nem pra mim que sou se amigo? – Kullat tentava chamar a atenção de Thagir, sem muito sucesso.
            –... – Thagir suspirou. – Há muito mais por trás disso do que você pensa...
            –...! – Kullat olhou para o amigo, praticamente irmão, e percebia um olhar vago, sério, quase com raiva. Deveria estar perdido em algum pensamento.
            –Thagir! Sua hora chegou! Você será levado imediatamente para a presença do conselho... – Uma comitiva de guardas castelares marchou para a frente da cela, anunciando a hora do julgamento e para escoltar Thagir.
            –Me diga qualquer coisa! – Kullat tentou falar uma última vez falar com o amigo...
            –... – Thagir falou algo baixinho, aparentemente Kullat entendeu e deu passagem à escolta.

...

            No tribunal, o bate-boca rolava solto:
            –Como o Senhor se justifica? – Perguntou um dos anciões.
            –Eu? Como vocês se justificam? – Retrucou.
            –Responda as perguntas! – Exigiu outro ancião.
            –Vocês têm noção do que fizeram?! – Thagir estava exaltado.
            –Mantenha se calmo, este é um simples inquérito. – Pronunciou-se uma das anciãs.
            –Então me diga... Vocês têm noção do que fizeram?! – Thagir repetiu.
            –Mantenha a conduta, Senhor de Castelo! Nós é que estamos te interrogando.
            –Se vocês querem mesmo entender o que tenho a dizer, é melhor que digam. Vocês têm noção do que fizeram?! – A última pergunta saiu com um grito.
            –Isso não vem ao caso. – O juiz N’quamor se pronunciou. – Conte de uma vez o que aconteceu ao segundo caçador que atacou Curanaã.
            Thagir deu um pequeno riso e continuou a atacar o conselho:
            –Você, grande ancião, você é o culpado de tudo isso! Não tente esconder!
            Todos que estavam presentes olharam para o atual líder, se perguntando o que acontecia, como um grande Senhor de Castelo havia ficado com um estado tão alterado. A anciã que tinha precedido o oririano, querendo confirmar os fatos, inquiriu diretamente a N’quamor:
            –Grande irmão, ele o acusa com grande interesse. Tens algo para dizer? – A face dos outros demonstravam o mesmo interesse.
            –Para todos os fins, declaro que ele deve estar louco e me caluniando.
            –É mesmo?! – Thagir se liberta das algemas e atira uma jóia de maru na direção do grande regente que, com sua perícia em tiro, não foi difícil acertar a runa que pendia em seu pescoço.
            Um tremendo choque explosivo ocorreu, fazendo N’quamor cair no chão fumegando. Todo mundo estava assustado. Os guardas castelares seguraram Thagir, forçando-o a ficar de cara no chão. Os anciões mais experientes em poder de cura se aproximaram de N’quamor para tentar repor suas energias e verificaram que sua runa havia se desfeito em pó:
            –Grande irmão? – A aparência do ancião ficava cada vez mais verde com folhas que apareciam e começavam a cair de seu corpo e que, por fim, não era mais o mesmo.
            –Vejam!!! Este é o caçador Baran, o acônito!!! – Gritou Thagir em sua posição nada confortável.
            O caçador sombrio estava em estado de choque, tendo convulsões, derramando seiva pela cabeça em forma de flor em botão. Seus apêndices formaram raízes no chão e ele começou a se fundir ao local, desaparecendo. A cena deixou todos boquiabertos. Vidara, que estava em segunda no comando do conselho, achou melhor tomar algumas decisões de última hora:
            –Irmãos! Vamos todos nos retirar para decidirmos o que fazer.
            –E quanto ao castelar Thagir? – Perguntou outro ancião.
            –Deverá continuar em observação, por desacato a nossa autoridade. Quando terminamos de debater o acontecido e tomar novas providências, nós reavaliaremos sua condição. No momento não podemos tirar conclusões precipitadas. É tudo. – Todos se retiram do salão de julgamento e Thagir foi levado de volta à cela.

...

            Naquele dia, aquilo não fora tudo que iria acontecer. Diversas explosões começaram a ocorrer por toda a ilha de Ev’ve. Os alarmes soavam alto:
            –Emergência! Emergência! Ev’ve está sobe ataque! Todos a seus postos! Todos a seus postos!
            Na imensidão do multiverso, grandes sombras começavam a surgir e a se aproximar da ilha. O sol artificial da ilha também estava sendo sobrepujado, escurecendo sob uma grande mancha. Toda a ilha tremia como se estivesse saindo de seu eixo. Depois daquilo, somente o farol de Nopporn e as luzes artificiais iluminavam a ilha de Ev’ve que estava imersa em escuridão.
            Todos os Senhores de Castelo, guardas e aprendizes estavam nas ruas, armados e prontos para o ataque. Eles bradaram anunciando que estavam prontos para a batalha sombria. Foi então que ouve uma saraivada de flechas perfurantes vindas da escuridão matando e ferindo alguns castelares. O escudo orbital continuava girando a plena potência. De repente, os alto-falantes voltaram a anunciar:
            –Atenção, as defesas da ilha estão baixando! Repito, as defesas da ilha estão baixando!
            Os guerreiros mais jovens estavam ficando preocupados, fazendo algazarras desnecessárias. Os mais experientes tentavam conter os aprendizes:
            –Fiquem calmos! – Disse Ydra, Senhor de Castelo e multibiólogo, aos que estavam a seu alcance.
            Átimos, o ultraquímico, além de Kennibo e tantos outros fizeram o mesmo, se preparando para o pior. Até uma voz ensandecida começar a falar pelo alto falante:
            –Eis o dia de bravura, caros Senhores de Castelo! Eu vos apresento uma batalha tão grande quanto às guerras espectrais! E para não os decepcionar, trago-vos aqui Set, o homem-sombra; Baran, o acônito; Inok, o vampiro; Doutor Tóxico, o limo inteligente; Kabeza, o demônio do medo; Xerubim, o anjo da distorção; Histério, o grande Cavaleiro Fantasma; Singo, o domador de feras; Elatra, a autômata; Alvora, a musa da Guerra; Lux, o homem das estrelas; e Ann, minha arqueira, cuja a mira é a mais perfeita! – A frase acabara com uma risada diabólica.
            Lá estavam eles, o vulto dos doze Caçadores Sombrios sobre as torres da ilha de Ev’ve – com mais um para completar?! Todas as luzes das estrelas apagadas por grandes sombras que, ao se aproximarem mais da ilha, revelaram-se nada mais nada menos do que quatro Estrelas Escuras!
            Os anciões, percebendo o alvoroço, se reuniram na torre do farol de Nopporn de imediato e anunciaram em uníssono:
            –Enquanto esta luz iluminar os Senhores de Castelo, sempre haverá esperança no multiverso!

...

Transmissão continua...


quarta-feira, 30 de maio de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine – Os Caçadores Sombrios


Thagir retorna ao reino de Newho – 2ª parte
Informe do multiverso



Começando transmissão...

            Conforme a expressão que Laryssa havia visto nos olhos de Thagir, ela ficara um pouco assustada, ele mudara completamente. Seus poderes naturais lhe diziam que Thagir estava consternado, mas sua intuição feminina lhe dizia que Thagir estava pensando em dizer algo como: “Querida, desculpe por não ter lavados os pratos da última vez...” Sua face estava impassível, não conseguia acreditar no ocorrido. No castelo de Newho fora construído em segredo uma espécie de quarto do pânico, protegido por runas antigas e poderosas que se soube serem utilizadas na guerra espectral para deter o inimigo de forma eficiente. Primir havia chegado há mais de uma semana e chegou a ouvir a voz da nora e das netas por detrás da porta e várias vezes foi ele que recolocou o estoque de comida. Aparentemente, depois de ouvir sobre a Estrela Escura e o que ocorrera na tentativa de resgate, ele foi ver se estava tudo bem com suas netas. Sem conseguir resposta, ele desfez o feitiço e verificou que elas tinham sumido. Não havia como sair, não havia como entrar e muito menos passar ileso pelo feitiço. De alguma forma, a rainha e as princesas de Newho foram raptadas.
            Posteriormente Thagir tentaria um chamado pelos comunicadores, pois soubera que um Caçador Sombrio estava no castelo de Newho e precisaria de reforços para enfrentar o caçador vermelho conhecido como Kabeza, o monstro do medo. Naquele momento, o que mais enlouquecia Thagir era que o ataque que o caçador havia feito ao planeta tinha apenas quatro dias...
            O navio de Kullat recebeu o chamado e contatou de volta o Senhor de Castelo. Por decisão unânime do Conselho de Nopporn a leitura dos códices seria feita em Curanaã. Mas antes:
            –Isso é loucura! – Insistiu Kullat tentando persuadir o amigo.
            –Eu preciso ir lá... Além disso, aquilo também está lá. – Thagir olhava diretamente para o castelo de Newho distante alguns quilômetros.
            –Do que você está falando? – Perguntou Laryssa, confusa.
            –A outra metade do coração de Thandur. – Respondeu Kullat.
            –Que outra metade?
            –Já faz algum tempo, uma teslarniana foi encontrada morta no quarto real com um buraco no peito. Perto dela foi encontrada uma jóia de Landrakar e o pedaço perdido do coração de Thandur...
            –O que pretendem fazer? – Perguntou Azio, calculando o sucesso da investida.
            –Se conheço bem o meu amigo, ele vai tentar usar os poderes do verdadeiro coração de Thandur para lutar contra os Caçadores Sombrios.
            –Sim... Vou! – Disse secamente e com determinação. – Se não quiserem ir, tudo bem, irei sozinho. Mas se forem, digam logo.
            Eles já lutaram tantas batalhas lado a lado e mesmo assim, naquele momento, o silêncio se fez presente:
            –Eu vou na frente... – Thagir montou em Mandíbula que saiu em disparada.
            Decididos a impedirem o Senhor de Castelo de fazer alguma besteira, Azio e Laryssa foram no gavião gigante e Kullat usaria a motonave para poupar suas forças. Os outros ficariam vigiando os códices tentando decifrá-los.
...

            Sob uma grande nuvem escura, o castelo de Newho estava escancarado, de dentro dele uma neblina tomava conta do lugar ao redor. Os caçadores estavam esperando por sua presa.
            Thagir resolveu ir direto para a torre mais alta, onde ficavam seus aposentos. Isso o lembrava da época de criança, mas estava concentrado demais para notar. Como haviam previsto, Kabeza estava naquele lugar e saiu para recepcionar os que vinham ao seu encontro abrindo os grandes olhos azuis de seus ombros. O estado de fobia havia sido liberado, as ondas de medo se propagaram direto para seus alvos fazendo o Gavião de Laryssa despencar do ar, pousando forçadamente e fez a motonave de Kullat travar:
            –Os demônios do Naveeh esperam pelos seus espíritos! Hahaha! – Sua voz era medonha, ressoava como muitas águas.
            Um dos olhos se fechou e Kabeza prosseguiu utilizando apenas um para se aproximar dos guerreiros:
            –Vejamos... Hum... Tem um medo muito saboroso por aqui... – Kabeza passou a língua por entre os lábios. – Você!
            –...! – Ele apontava para Laryssa que estava no chão se contorcendo, e chegou mais perto dela.
            –Você está com medo!
            Laryssa se levantou e fez um corte com sua espada numa das pernas cabeludas do minotauro vermelho que urrou de dor.
            –Como?! Como conseguiram evitar a minha onda de medo?!
            –Fácil... Com a ajuda dos engenheiros da Ordem! – E deu lhe outro corte, desta vez nos braços.
            Laryssa levava no pescoço uma peça eletrônica ligada a uma pequena jóia de maru que restringiu as ondas psíquicas de Kabeza. Recuperados do primeiro choque, Azio e Kullat também se levantaram como se nada tivesse acontecido por causa do aparelho inibidor, lançaram seus ataques que surpreenderam o monstro que recuou completamente ferido:
            –Vocês miseráveis, vocês me pagam!!! – No ímpeto de sua raiva, o corpo de Kabeza foi tomado por linhas negras que aumentaram sua força.
            Mesmo machucado o caçador foi capaz de lançar mais um ataque:
            –Sacrifício do desespero!!! – De seu peito, um enorme olho negro brotou multiplicando as ondas psíquicas em cem vezes sobrepujando o inibidor.
            Os guerreiros tinham seus pensamentos completamente embaralhados, mesmo Azio que é imune a grande parte da magia, sentia sua maru vital sendo arrancada de seu interior:
            –Vou começar por você, pedaço de lata, assim que eu comer o que te mantém vivo nunca mais suas engrenagens iram te reconstruir! Morra...
            Um tiro interrompe Kabeza que faz um rombo no seu peito:
            –Onde está... O outro...  Caçador? – Kabeza mal conseguia falar.
            Um clarão azulado desceu da torre mais alta do castelo de Newho em grande velocidade. Era Thagir, completamente tomado pela força mística do verdadeiro coração de Thandur lhe permitindo agir com grande capacidade de deslocamento e aumentando infinitamente a sua percepção:
            –Para onde levaram a minha esposa e minhas filhas?! – Thagir não estava nada, nada feliz.
            Kabeza não conseguia mais falar, começou a desaparecer espectralmente no ar e sumiu, deixando Thagir irado. Laryssa, meio tonta por causa da última investida do caçador, tentou falar:
            –Thagir... O Azio...
            Voltando ao normal, Thagir percebeu que Azio estava desligado, não havia luz em seus olhos:
            –Não, não, latinha você também não! – O Coração de Thandur reagiu às emoções do pistoleiro e lhe revelou o interior de Azio com suas engrenagens, sendo possível ver o que estava errado.
            Com as duas mãos, Thagir deu uma pancada no peito metálico, que fez o autômato reagir:
            –01% de apoio emergencial %110 101% ativar.
...

            Acordando em um quarto do castelo real de Newho, Laryssa sentiu sua cabeça doer como nunca. Thagir estava lá, lhe disse para repousar. Logo Kullat também estaria bem. Ela relaxou no travesseiro, olhando para o teto. Só lhe restava uma dúvida:
            –O que aconteceu com o outro caçador? – Ao lado da cama, num criado mudo, havia uma boneca de porcelana com cachinhos dourados...
...

Transmissão encerrada...

terça-feira, 29 de maio de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Thagir retorna ao reino de Newho – 1ª parte
Informe do Multiverso



            “Como era de se esperar, Curanaã também não saiu ilesa dos ataques dos Caçadores Sombrios. De forma engenhosa eles atacaram a sede da Ordem e o castelo de Newho, furtando do reino algo muito precioso. Aqui foi Fentáziz, do Informe do Multiverso.”

...

Começando transmissão...

            Laryssa e Thagir estavam se organizando dentro do navio. Ela estava emburrada com a decisão de Thagir de separar os amigos daquele jeito, mas sabia que a resposta que receberia era meio óbvia, por isso se mantinha calada. Thagir estava alimentando um farejador canino gigante dos estábulos da ilha de Ev’ve que trouxera consigo por ser um animal esperto e extremamente rápido, perfeito para viajar por Newho. O Senhor de Castelo tirou duas latas pequenas dos bolsos e entregou uma para Laryssa:
            –O que é isso? – Perguntou a moça.
            –É um tipo de energético, vai te ajudar a ficar atenta contra os Caçadores. Tome na hora que precisar. Nos últimos dias tenho dormido pouco. – Thagir abriu a lata que fez um chiado e liberou algumas bolhas; ele deu alguns goles. – Fresco como cok e ruim como cuspe de dragão!
            Laryssa sorriu um pouco ao ver a cara feia que Thagir fizera. Ela já tinha ouvido falar que em planetas a partir do segundo quadrante poderia haver coisas como aquela, mas ainda não tinha visto uma. Ser princesa de um reino grande reino poderia ser bom, mas tinha lá seus problemas. Lembrando-se que Thagir era um rei que estava num estado parecido, Laryssa perguntou:
            –Vamos ver as princesas de Newho?
            –Sim! – Thagir tinha um sorriso alegre e suspirava de emoção. – Você vai adorar conhecer Dânima, ela é uma mulher sensacional!
            A realeza sempre parece cheia de luxo e poder, no entanto, ainda são seres normais, com sensações comuns, que também sentem daqueles que amam. Os dois castelares pareciam se entender muito bem.
...

            Dando prosseguimento à viagem, tudo ocorreu calmamente. O navio aportou com sucesso no porto mais próximo da sede de Newho. Só havia algo perturbando o Senhor de Castelo:
            –Onde está todo mundo?
            De fato, estava tudo calmo de mais, dava até para ouvir o barulho dos ventos. Thagir ficara preocupado e saltou do navio, ativando o coração de Thandur para verificar as redondezas. Laryssa, com noção do procedimento, penetrou em si para ouvir melhor as vozes da natureza que encontrasse e desceu para juntou de Thagir, usando a ponte que se liga ao cais:
            –Não encontrei ninguém... – Disse Thagir voltando ao normal.
            –Eu consegui ouvir uma voz no meio do silêncio... – Laryssa estava meio constrangida pelo que ia dizer.
            –Vamos, diga, o que você ouviu? – Thagir estava certo do que fazia.
            –A voz dizia: “Fujam”, e apenar isso, repetidas vezes. Senti grande pavor e angustia.
            –Kabeza... Os Caçadores Sombrios já estão aqui! – Thagir se lembrou do dia em que estava para fazer o pronunciamento na ilha de Ev’ve; no ar pairava a mesma sensação, um pouco mais fraca de certo, mas a mesma. – Descarreguem o Mandíbula!
            Thagir fez sinal aos tripulantes para descarregarem aquele animal que usaria como transporte. Laryssa, por sua vez, preferiu mandar trazer um gavião gigante de Agabier, ele era seu conhecido e não hesitaria num momento daquele, com sua pose altiva. Os Senhores de Castelo que estavam dando apoio também trouxeram suas montarias – as naves de transporte disponíveis estavam todas no navio de Kullat e Azio.
Laryssa, que ainda tinha visto pouco dos segredos do multiverso, ficara surpresa com as montarias. Havia uma Wyvern – espécie de dragão que lembra uma galinha; um Frizio – fera albina, quadrúpede, natural de um planeta congelado e que usa a luz como fonte de energia; um Rijadi – mais conhecido como anjo estelar, sua forma lembra uma arraia gigante que flutua no ar, vive em bando no espaço, sendo sua migração muito apreciada pelos astrônomos; e um Golait – considerado um tipo de quimera, por reunir características de plantas, rochas e animais num único ser, além disso, possui quatro patas, cauda longa e rombuda, pescoço comprido, cabeça pequena, garras afiadas, placas extremamente expansíveis e duras por todo o corpo e produz o próprio alimento como uma planta ao colocar a cauda no solo. Eram seres magníficos e raros. Laryssa sentia a confiança deles em seus mestres, isso a fazia se sentir segura.
            Logo partiram, atravessando as estepes que ladeavam o rio Pangodes que os levaria ao centro de Newho e posteriormente ao castelo de Thagir. Um cavalo poderia levar um dia daquele porto, aquelas feras velozes fizeram o trajeto em cerca de uma hora e meia.
            Já no centro da cidade principal, novamente, o silêncio. Thagir tentava detectar alguém com o estado aguçado que o coração de Thandur deixava, novamente nada. Virou-se para Laryssa:
            –Alguma coisa? – A esta altura, todos já estavam com os comunicadores.
            –Não sei ao certo... Não sinto nenhum animal, por menor que seja... Espere! Ouço algo! Está vindo dali! – Mais a frente, na direção em que o gavião voava, havia um prédio grande, com algumas torres e o símbolo dos Senhores de Castelo entalhado numa pedra do arco do portão.
            Thagir usou Mandíbula para saltar a muralha e quanto aos outros, os animais voadores carregaram os que não podiam passar para dentro da sede da Ordem. Thagir retomou a conversa com Laryssa:
            –É aqui dentro? – Perguntou Thagir.
            –Sim... Sinto seres humanos aqui dentro. Estão com medo... – Laryssa demonstrava desconforto ao falar sobre aquilo.
            O Senhor de Castelo de Newho foi até a porta, fez alguns toques de maneira incomum, por um momento houve silêncio até alguém bater de volta da mesma maneira. Thagir repetiu os movimentos incomuns e a porta se abriu. Dentro da sede, havia alguém conhecido:
            –Pai?! – Perguntou Thagir. – O que o senhor está fazendo aqui?!
            Depois de um abraço caloroso Primir, o antigo monarca de Newho, começou a falar:
            –Soubemos da existência dos Caçadores Sombrios e viemos cuidar de Dânima e as crianças. – O velho estava triste, parecia querer esconder algo de Thagir.
            –Onde estão os outros?! Eles não estão cuidando dos códices?! – Thagir olhava para dentro da sede, estava tão preocupado com a missão que deixou escapar a impressão que teria do pai.
            –Pelos deuses filho! Você não soube?!
            –O quê?! – Thagir estava assustado, pois finalmente percebera a seriedade do pai.
            Laryssa tentou ouvir a conversa, mas não conseguiu. Viu Thagir cair de joelhos abraçado ao pai. A Senhora de Castelo se aproximou e tocou em seu ombro:
            –Thagir? – Ele se virou com o rosto cheio de lágrimas.
            –Eles levaram elas... Eles levaram Dânima e minhas filhas!

Continua...

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Kullat contra Alvora, a Musa da Guerra – 2ª parte
Informe do Multiverso



Começando transmissão...

            O coração batia forte, dava para ouvir as batidas, era preciso muito sangue frio. Kullat se aproximou de Alvora, decidido a extrair as informações. Usou sua levitação uns poucos centímetros do chão para que seus passos na acordassem aquela mulher. Se ela acordasse, um monstro vil como aquele não teria piedade. Kullat pensou na primeira pergunta:
            –O que os Caçadores Sombrios querem? – A musa continuava gemendo e por algum tempo, não ouve resposta.
            –Ah... Os... Caçadores... Querem... A... Chave... Oh... – Alvora permanecia flutuando em pleno ar, intercalando gemidos com palavras.
            –Que chave é essa?
            –Essa... Uhn... Chave... É... A... Vida... – Kullat transpirava.
            –O que essa chave abre?
            –As... Portas... Inversas... Oh... Uhn...
            –E onde estão as portas?
            –As... Portas... Estão... Reunidas... Ah... – Kullat pensou na melhor pergunta que poderia fazer naquele momento.
            –Quem é o mestre dos Caçadores Sombrios?
            –O... Ah... Oh... Ébano...
            –Onde está Ébano?
            –Ele... Fala... Uhn... Por... Nopporn...
            Vibrações sombrias começaram a emergia da musa. O multibiólogo gritou que ela estava prestes a acordar, era melhor que eles saíssem naquele momento. Mas era tarde demais, Alvora despertava. Kullat se afastou rapidamente da deusa e preparou se para o pior. Concentrou sua maru branca e pronunciou um encanto novo que havia aprendido recentemente, fazendo emergir de sua capa sua maior arma, o novo cajado de Jord. Seu poder fazia emergir uma grande quantidade de maru mágica de Kullat que brilhava intensamente, fazendo seus olhos brilharem. Alvora tinha saído completamente do transe:
            –Quem ousa chegar perto de mim, seres imundos, pronunciem seus nomes, eu exijo saber! – Sua voz era irritante e alta, sua posição no ar ainda continuava, mas se movimentava com mais frequência.
            –Meu nome é Kullat, cavaleiro e Senhor de Castelo de Oririn, o planeta que acaba de destruir...
            –Sou Azio, autômato de Binal. – Azio também estava certo daquela luta.
            –Sou Ydra, multibiólogo e Senhor de Castelo do planeta Genni.
            –Sou Átimos, ultraquímico e Senhor de Castelo do planeta Acinki. – Os Senhores de Castelo, seguindo Azio, também estavam certos da batalha.
            –Hun... Sinto uma aura de decisão vinda de vocês. Quando eu os massacrar vai ser adorável. Hahaha... – Com uma risada alta, a deusa concentrou grande quantidade de maru rubra que insurgia pelo chão, gerando vários pontos fixos ao redor dela.
            Os olhos dela se modificaram, sendo preenchidos pelo vermelho sangue. Na sua pele apareciam desenhos vermelhos e cintilantes que convergiam para os olhos. Alvora lançou seu primeiro ataque:
            –Chuva da desgraça! – Diversas esferas de energia voavam em questão de segundos destruindo completamente o lugar.
            A fumaça e poeira voavam alto, impedindo a visibilidade. O que não evitou os adversários de Alvora de contra atacar:
            –Voem vespas das sombras... – Ydra foi o primeiro a atacar, liberando de um pequeno livro onde coletava diversos seres do multiverso, um enxame microscópico escurecido.
            Em seguida foi Átimos, lançando granadas que ele mesmo preparava, contendo o rótulo: Nº1 – alto poder explosivo. Azio também emitiu seu ataque, investindo contra a musa dois canhões de laser. Kullat se concentrava em estado de meditação, usar o novo cajado de Jord requeria grande quantidade de energia e utilizou somente o necessário para criar uma barreira para diminuir a ofensiva de Alvora. Depois da neblina se dispersar, já dava para ver os guerreiros e seus escudos. Ydra usava uma carapaça de escaravelho mágico gigante, um ser raríssimo, encontrado em uma das poucas, mas densas, florestas do quarto quadrante; Átimos tinha em seus braços dois tipos diferentes de escudo, um grande e pesado, feito de diamante e outro menor, do tamanho do pulso, capaz de desviar gravitacionalmente algo de seu curso; e Azio, por sua vez, tinha sido atualizado com um poderoso escudo desenvolvido nos laboratórios da ilha de Ev’ve. O esforço conjunto para deter o ataque teve sucesso, apesar da violência que ruiu a estrutura do castelo, os guerreiros não foram atingidos.
            Alvora se sentiu satisfeita:
            –Que ótimo! Seus poderes de defesa parecem ser eficientes... É uma ótima oportunidade para que eu os deixe empalados no meu cemitério carmim da loucura! – A musa abriu os braços até a parte posterior do corpo e lançou-os para frente, evitando os ataques com um escudo feito com o tecido de sua roupa que endureceu e também absorveu energia.
            Subitamente, todo o castelo começou a tremer, fazendo cair mais pedaços de suas ruínas. Kullat fez alguns movimentos com as mãos:
            –Pra fora, agora! – Um grande fluxo de maru envolveu os quatro como uma onda, levando-os para o exterior do castelo.
            Do chão ao redor de Alvora, começaram a brotar finas torres de algum material desconhecido. Eram várias, emergiam com rapidez e sua altura alcançava o teto de dez metros do salão principal. O castelo sede da Ordem dos Senhores de Castelo no planeta Oririn terminou de vir abaixo. Kullat olhou para trás por um segundo, dando adeus ao lugar que mais adorava em Oririn e também para checar se Alvora os seguia. Sua intuição aguçada dizia que sim e logo Alvora, parecendo uma estrela escarlate, alçou vôo para o alto, lançando um último ataque:
            –Estrela da devastação!!! – Com as mãos para o alto, uma esfera gigante de maru rubra se formava, lançando-a, o ataque causava grande devastação.
            Kullat, no impulso de proteger os outros, enviou-os numa esfera azul para o navio boreal:
            –Partam logo, eu irei atrás de vocês! – Eles tentaram reclamar, mas não conseguiam ser ouvidos naquela distância.
            –Por Khrommer!!! – Uma imagem gigantesca de maru se formava como um ser humanóide, com forma de guerreiro, que sobrepujou a esfera de Alvora.
            A musa da guerra estava admirada, de todos as guerras que já havia incutido em humanos, monstros, demônios e deuses, nunca viu tamanho poder ser liberado contra ela. Não teve dúvida, chamou o segundo Caçador que estava em Oririn:
            –Lux!!! Venha, tenho um ótimo adversário para nós!!! – A voz da deusa repercutia sobre todo o planeta.
            Uma segunda estrela viajava no céu em grande velocidade e parou ao lado de Alvora. Kullat sentia o poder de maru dourada, se ele estiver certo, este Caçador possui o poder de uma estrela:
            –Onde ele está?! – Também se podia ouvir a voz daquele ser em chamas repercutir por quilômetros.
            –Veja! O guerreiro lá embaixo! – Alvora apontava para o guerreiro formado por maru branca.
            –Interessante, não vou castigá-la por me incomodar desta vez! – A musa gargalhava alto com tanta emoção.
            –Vamos unir nossa forças? – Sugeriu Alvora, excitada.
            –Sim... Não há mais nada que fazer neste planeta. Vamos destruí-lo de uma vez!
            Os dois começaram a entoar um cântico antigo e inaudível, enquanto giravam no alto do céu como estrelas gêmeas. O seu brilho era alaranjado e intenso. Com os poderes da desgraça e da fusão atômica juntos, o feitiço antigo foi liberado:
            –Sinfonia do Caos!!! – Cantaram os dois no clímax final do cântico.
            Oririn toda tremia com erupções em centenas de lugares do planeta. O ser gigante criado por Kullat se desfez no meio da onda de caos e por fim o planeta se desfez, simplesmente, voltando à poeira da qual havia sido formado.

...

Nos mares boreais, os Senhores de Castelo e o autômato se preocupavam com Kullat:
–Ele está vindo. – Disse Azio.
–Será?! – Perguntou Ydra olhando para o fluxo que levava para Oririn.
–Estou sentindo um deslocamento...
Naquele momento, Kullat apareceu. Primeiro sua capa e em seguida ele, caindo no convés, muito exausto.
–Kullat! Mestre! – Diziam os Senhores de Castelo enquanto Azio piscava os olhos em azul, demonstrando alguma calma e alívio.
–Os códices, onde estão os códices? – Kullat estava preocupado com o cumprimento da missão.
–Não se preocupe, estão no navio. – Dizia Azio. – Conforme você tinha dito aos castelares, eles vieram direto para o navio, completamente em segurança.
Kullat relaxou e acabou dormindo. Talvez lhe ocorresse algum pesadelo, mas estava certo do que tinha que fazer para superar o medo que lhe ocorria.
...

            Mais tarde, Thagir entrou em transmissão pelo rádio, que não estava recebendo muito bem os sinais:
            –Reforços! (chiado) Esses desgr... (chiado) Eles levaram... (chiado) Não pude detê-los a tempo de... (chiado)

...

Transmissão encerrada...

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Os Caçadores Sombrios


Kullat contra Alvora, a Musa da Guerra – 1ª parte
Informe do Multiverso



            “Os Caçadores Sombrios atacaram novamente. Os líderes do grupo de repressão Kullat e Thagir partiram para seus planetas natais para averiguar os códices antigos que podem conter mais informações sobre o que os Caçadores querem. O que eles encontraram não os deixou nada felizes. Kullat e seu amigo Azio, o autômato, partiram para Oririn e Thagir e Laryssa partiram para Curanaã, ambos seguidos de três duplas de Senhores de Castelo experientes. Esta é a transmissão do encontro de Kullat e Alvora, a terrível musa da guerra. Aqui foi Fentáziz, do Informe do Multiverso.”
...

Começando transmissão...

            Kullat estava no deque do navio boreal, observando o passar do tempo, sentindo a brisa leve provocada pela travessia. Azio vinha a seu encontro verificar o que se passava, estava viajando por novos mundos quando recebeu a mensagem de convite para a luta contra os Caçadores Sombrios. Ele ainda não havia entendido o que se passava:
            –Estamos numa guerra, creio eu. – Disse Kullat, ainda indeciso sobre o que estava acontecendo.
            –Porque os Caçadores têm como alvos os Senhores de Castelo? – Perguntou Azio com sua voz robótica.
            –Pelo que Thagir e os anciões especulam, é pelo motivo óbvio... – Kullat se interrompeu.
            –E qual seria? – O autômato piscou os olhos tentando processar a questão, sem sucesso aparente.
            –Porque, além da Ordem dos Senhores de Castelo ser uma grande potência no multiverso, cada um que é admito na academia se torna o melhor daquele planeta, é uma seleção natural dos melhores. Eles estão experimentando, tentando saber quais são os mais fortes. O motivo real ainda é desconhecido, Thagir espera que reunindo os códices místicos de Curanaã e Oririn, a questão se torne mais lúcida.
            –E o que são esses códices?
            –São relíquias de culturas muito primitivas que absorveram o conhecimento transmitido pelo poder de um artefato antigo que geraram os dois planetas... – A informação deixava o processador de Azio um pouco lento para entender.
            –Estamos indo atrás dos códices para saber o que há neles?
            –Sim, latinha. Thagir espera ir além do jogo doentio dos Caçadores e virar ele completamente.
            Nesse momento o capitão do navio avisou que Oririn já estava visível e que logo chegariam à entrada dos mares naturais do planeta. Kullat estava um pouco apreensivo, já fazia algum tempo que não voltava ao seu planeta de origem. Ele e Azio ficaram observando a chegada impassíveis, esperando que aquela fosse mais uma chegada qualquer. O que exatamente não ocorrera:
            –Este é seu planeta? – Azio fez uma observação.
            –... – Kullat estava abismado, a figura de seu planeta que lhe era mostrada estava completamente diferente.
Ele foi falar com o capitão:
            –Tem certeza que este é o planeta Oririn? – Ele estava preocupado, mas seu tom era sério e decido.
            –Pelos registros... Sim. – O capitão observava os computadores que estavam disponíveis na cabine. – Esta são fotos dele há 24 horas e as horas seguintes...
            Na tela, o computador mostrava fotos conseguintes de um planeta normal se deformando. De um lado do planeta as matas verdes e os mares vivos iam dando lugar a tórridos desertos e a lugares poluídos e mortos. Do outro a situação era pior, era como se alguém tivesse ascendido um lança-chamas e queimado metade do planeta, que se mostrava incandescente ainda em algumas partes. Kullat apertava as mãos e cerrava os dentes, tentava se concentrar e pensar normalmente. Em uma batalha, o que o inimigo mais quer é que você se renda aos seus esforços para te abalar, conseguindo assim uma vitória fácil. Ele tomou uma decisão e foi em frente:
            –Vamos direto para o castelo sede da Ordem... – Isso significava que usariam naves voadoras para chegar mais rápido e não perderiam tempo aportando em algum porto.
            Kullat e Azio partiram numa nave onde só cabiam os dois, como também as outras duplas de Senhores de Castelo que os acompanhavam. As naves eram leves e extremamente rápidas, se tivessem rodas poderiam ser consideradas como motos. Aquele era um método incomum para Kullat viajar, mas o tempo urgia, não havia tempo para vôos livres. Eles se dirigiram diretamente para a sede no centro da maior da capital de Oririn, do lado do planeta que parecia morto. A capital antes viva tinha ares de desgraça, a paz que os Senhores de Castelo haviam trazido àquele simples planeta havia dado lugar a um cenário por onde a guerra com certeza teria passado. Nos belos rios de água límpida e potável, havia um tom muito peculiar, o de que havia sido derramado sangue inocente naquelas águas. Porém foi quando eles chegaram à sede da Ordem que souberam que quem fizera aquilo havia passado dos limites. O lugar estava repleto de empalações, os cadáveres do povo de Oririn jaziam ao redor do castelo atravessados por agudas estacas que os erguiam em pleno ar. O mais inexplicável daquela cena horrorosa era o fato dos mortos já estarem putrefatos, quando os registros afirmam que há um dia tudo estava completamente normal. Com a permissão de N’quamor, eles já sabiam onde os códices estavam e seguiriam direto para lá.
            Já dentro do castelo, no torreão principal, os Senhores de Castelo e o autômato se viram de frente com o inimigo. Naquele lugar aberto, havia uma mulher pairando no ar. Ela tinha a aparência de uma moça delicada, cabelos fartos, pele sedosa e roupas esvoaçantes em tons de vermelho. Suas mãos estavam vermelhas, sujas de sangue, levando-as frequentemente a boca. Tinha emanações de maru carregada, detectada com tons rubros, uma rara maru sombria notada apenas nos deuses da chacina. Pela experiência do multibiólogo do grupo, aquela deveria ser a mais bela deusa do panteão da chacina: Alvora, a musa da guerra. Seus poderes são catastróficos, não obstante, fora ela que causara a degradação do planeta em tão pouco tempo. No momento não havia perigo, comentou o especialista, poderiam perguntar qualquer coisa que ela responderia, pois ela estava em estado de êxtase, devorando as energias de desespero que ela mesma criara. Por isso os constantes gemidos:
            –Quatro de vocês procurem pelo códice e saiam por onde der, não tentem voltar por aqui. – Ordenou Kullat. – O multibiólogo e seu parceiro fiquem comigo. Vamos tentar obter informações. Todos os comunicadores funcionando?
            –Sim. – Disseram os outros que imediatamente partiram para os andares superiores.
            –Azio, desculpe ter que envolver você nisso... – Kullat estava preocupado com o autômato.
            –Compartilho de sua dor, amigo. Eu também vi meu planeta morrer em pouco tempo. Vamos conseguir reverter a situação. – Azio pensava mecanicamente e entrou em modo de batalha.
            Todos estavam prontos para o quer der e vier...

Continua...

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Devil's Drink 17 - Sasha 2ª parte


            Não teve jeito... Sasha só arranjou problemas no bar, a começar pelo seu mau hábito:
            –Eu querer vodka! – Exigia o russo com cara cachorro.
            –Nem pensar! – Disseram Gurei e En’hain.
            –Você não tem idade pra isso! – Falou Gurei.
            –Se quiser trabalhar aqui terá de trabalhar sóbrio! – Completou En’hain.
            –Au! – Sasha não conhecia muito bem outras culturas e estranhava aquele jeito de ser tratado. – Meu avô sempre me dar um trago...
            –Fique sabendo que ele é um velho tapado! – Se irritou Gurei. – Ele não tinha nada que ficar levando você pra cima e pra baixo no inverno russo!
            –... – Sasha fez cara de cão sem dono, literalmente.
            –Pega um osso... – Disse Gurei.
            –Gurei?! – En’hain olhou para ele.
            –O quê? – Sasha ficava com olhos fixos no pedaço de osso. – Ele adora isso.
            –(Nhac) – Sasha mordeu o pedaço de osso e foi para fora, provavelmente para roer.
            –Não disse? – Gurei olhou de volta para En’hain, chacoalhando a mão por ter sido quase mordido.
            –Isso não é motivo pra você tratar ele assim... – En’hain cerrou os olhos e sua típica fumaça voava pela cabeça. – Você não tem nada melhor pra fazer não?
            –Não te interessa... – Gurei deu as costas pra En’hain.
            Era difícil dizer que você se importa com alguém. Quando os seres humanos só pensam em extrair os poderes mágicos de um ser sobrenatural, eles costumam ser exageradamente cruéis, tal qual foi o caso de Gurei. No meio da desgraça, passando fome e sede, receber um prato de comida e um pouco de água de uma pequena criança te faz repensar a vida, ou mesmo seu ódio...
            Naquele dia, Lady Neko já estava melhor e finalmente voltaria ao Bar Toca dos Gatos:
            –Oi amores, voltei! – A gata trajava um vestido fino, babado, provocante no colo, justo na cintura. – Mas o que é isso?!
            Naquele momento de relapso, Gurei e En’hain se lembraram que Lady Neko poderia voltar a qualquer momento e, se depender daquele momento vergonhoso em que ela derrubou o Senhor Gunshin, algo muito ruim poderia ocorrer ao Sasha. Foram ver como o cachorro estava e viram algo muito estranho:
            –Não acredito! – Disse En’hain.
            –Esse cachorro só me envergonha! – Falou Gurei levantando as mãos e olhando para cima.
            –Socorro! O que esse cachorro tem?! Ele não larga da minha perna! – Lady Neko balançava o cachorro no ar com sua tremenda força e mesmo assim o cachorrinho continuava grudado nela.
            –Só tem um jeito de resolver isso... – Gurei entrou no bar e voltou com uma garrafa de vodka. – Sasha? Olha a vodka aqui...
            –Gurei!!! – En’hain olhava para o gato de cabelo cinza azulado com indignação.
            Sasha então pulou da perna de Lady Neko direto na garrafa. Gurei não pensou duas vezes e deu uma garrafada na cabeça dele:
            –Você tem um jeito muito estranho de fazer as coisas... – E lá vem a fumaça de En’hain...
...
            Depois de algum tempo, tudo foi explicado à Lady Neko que, pobrezinha, estava com os nervos em frangalhos de tão frágil que ela é:
            –Não quero saber! Tirem esse vira-lata daqui! – Berrava a moça. – Ele destruiu a minha meia favorita!
            –Se acalme Lady Neko. – En’hain pedia por compaixão.
            –Se depender de mim, ele pode é ir embora... – Disse Gurei com o rosto virado para o outro lado.
            –Você também? Não creio! Até tu, Brutos, meu filho! – En’hain fazia um encenação dramática.
            –Vai ser melhor pra todo mundo... – Gurei tinha um tom sério.
            –...! – En’hain se calou por um instante. – Quer conversar?
            –Não. Quero que ele vá embora... – Gurei saiu do quarto de Lady Neko, desceu as escadas e saiu do bar, deixando En’hain pensativo.
            No quarto destinado a Sasha, o mesmo de Gurei – a casa já estava ficando apertada pra tanta gente – En’hain foi falar com o cão sem dono que estava com a cabeça completamente enfaixada:
            –Sasha? – En’hain dava alguns toques para acordar o russo.
            –Estar dormindo, voltar mais tarde... – Disse, descaradamente.
            –Gurei disse que prefere que você vá embora... – En’hain sentou e ficou de cabeça baixa.
            –Ser melhor eu ir...
            –Mas... Quando eu vi vocês dois rindo juntos, pela primeira vez eu vi Gurei sorrir sem ser por sarcasmo ou por tirar sarro de mim. Ele sorriu de verdade... Você precisa falar com ele. – En’hain se levantou e ia sair do quarto.
            –Por favor, esperar... Precisar que veja uma coisa. – En’hain parou na porta e Sasha começou a tirar as bandagens.
            –Você... – En’hain olhou para o russo que não estava mais como antes.
            –O efeito da lua finalmente passar... Alexander odiar humanos. Melhor eu ir.
            –Não. Não e nunca vai ser. Ficar adiando o dia em que você vai entender o quanto está errado só vai te tornar alguém vazio, inútil e descartável. Acredite. Isso não dá certo... – Ele saiu da sala e Sasha ficou pensando naquilo.
Saindo para se encontrar com Gurei, En’hain sentiu uma coisa ruim nele, uma sensação infeliz e triste que queria fazê-lo chorar. En’hain limpou o canto do olho e ouviu uma piadinha infame:
            –Você está chorando, tubarão? – En’hain olhou para Gurei que estava de novo com aquele sorriso falso, de gente mesquinha e fútil.
            En’hain cerrou os olhos, em sinal de indignação. Não deu muita importância e seguiu andando. Parou um pouco e disse:
            –Você precisa falar com ele... Se ele for embora, a parede de silêncio vai fazer com que ele se esqueça completamente de você. – E continuou andando.
            Sasha desceu as escadas e ficou atrás da porta para falar com Alexander que estava do lado de fora:
            –Você realmente querer que eu vá?
            –... – Gurei não falou nada.
            –Me responda, você querer que eu vá? – Sasha insistiu.
            –... – Gurei continuou em silêncio.
            –Pela Grande Mãe Rússia, me dizer, por favor... – Sasha saiu detrás da porta e virou Gurei para que ele respondesse, Gurei estava chorando...
            Os dois conversaram melhor depois daquilo. E também porque tomaram uma bela garrafa de vodka:
            –Seus desgraçados! Porque foram beber!
            –E... qual o probleminha moço... ou serão... moços? – Disse Gurei, mais mole que gato escaldado se esparramando pela mesa. – Hihihi...
            –Vocês estão completamente bêbados! – En’hain estava vermelho de raiva, soltando mais fumaça que um trem a pleno vapor na ferrovia.
            –Viva a vodka! – Disse Sasha sem nenhum senso de noção, vindo a dormir em seguida, com o copo ainda na mão.
            –Boa... ideia... – Gurei dormiu também.
            –Cacete... Eu dou uma saidinha pra ver se os dois se acertam e quando volto encontro isso?! – Lady Neko aparece andando de fininho por trás de En’hain levando uma garrafa na mão. – Lady Neko!!!
            –Miau?!
            Foi isso...