segunda-feira, 11 de março de 2013

Anjo Cibernético

Todo escritor, em algum momento de sua vida, escreveu algo e guardou, sem nem ao menos mostrar para alguém. Esta é uma dessas histórias, criada em 2006, inspirada na minha época de colegial e nas influências que tive na época. Uma delas foi um amigo que, mesmo não nos vendo durante anos, fez questão de visitar a minha casa (e de ser o primeiro a fazê-lo) e me dar um presente muito especial, literalmente sagrado! Em agradecimento e também pelo seu aniversário, editei e trouxe de volta a vida esta história, a única que ficou completa. Ela pode não fazer muito sentido, uma vez que muito do conteúdo é baseado nas minhas outras histórias em que participo e explicar tudo poderia carregar o texto que já é por demasiado longo, mas espero que gostem e aproveitem com prazer. Tenham uma ótima leitura!

ANJO CIBERNÉTICO


Dedicado ao grande amigo Lincoln Berlick

 

Cyber Angel é a marca registrada dos softwares da empresa Impérios criados para coordenar os terminais pessoais, seu principal aparelho eletrônico portátil de uso cotidiano. Mas, quem criou estes complicados programas que, de tão complexos, não conseguem ser lidos por computadores comuns com processamento considerado super eficiente? Descubra a seguir como o “imperador” descobriu o Cyber Angel, o anjo cibernético.

...

 

Capítulo 01 – O Caso

 

            Já sou formado em mestrado e doutorado em magia e como rei-general coroado preciso resolver os problemas insurgentes do meu povo. No meio de um deles, entre vários papéis, havia um que me interessou: o caso dos rebeldes em Goldland, a terra do ouro e da supremacia da tecnologia. O caso era simples, poderia ser investigado pelas autoridades locais, mas resolvi investigar eu mesmo, antes que se prolongasse mais e acabasse numa grande rebelião, atingindo a população.
            Para começar, utilizei a minha carta 11, a Força, transmutada no manto de transformação para alterar o meu rosto e seguir para a torre principal do pequeno continente, a cidade-estado Torre de Cristal com suas centenas de andares, investigar o caso mais a fundo. O que descobri no começo era realmente bem simples: ninguém viu ou conheceu pessoalmente o líder dos rebeldes.
Desapontado por não conseguir mais pistas, estava retornando ao hotel quando passei por um beco no andar central, estranhamente limpo, devo dizer; e vi dois garotos, possivelmente colegiais, pichando de preto as paredes do local.
            Diante daquilo, tomei uma atitude. Como pichar é crime, tratei de capturar os criminosos. Ao me aproximar, notei que eles já haviam terminado a pichação que parecia um desenho estilizado de asas com uma auréola. Teria aquilo algo haver com um anjo?
            Assim que os entreguei a delegacia mais próxima, pedi para que entregassem suas fichas de informações no meu quarto de hotel e saí para pesquisar na melhor biblioteca pública da cidade de cristal, que compartilha de grandes conhecimentos da mesma forma que as bibliotecas da escola militar e da universidade máxima de tecnologia, o significado daquela imagem. Se bem que não é uma simples biblioteca, aliás, o local é conhecido como centro de informações da matriz, uma instalação gigantesca por onde o fluxo de informações do NEXUS – rede informações de cabos condutores que conectam diversos aparelhos – passa.
            Ainda inexperiente com os hábitos do continente, não sabia como entrar no local ou adquirir as informações e me informei devidamente sobre o assunto. Como todos os seres naturais de Goldland são ciborgues, todos eles, num determinado momento de suas vidas até então orgânicas, recebem uma entrada de informações chamada PRAGA, ligadas diretamente ao córtex cerebral e que, por meio de um indutor de informações – uma agulha bem afiada – tem suas mentes ligadas ao NEXUS. Seres normais como eu poderiam receber o conector também e logo marquei a cirurgia, em poucas horas a abertura circular metálica foi instalada na minha nuca, pronta para uso. Era tarde, retornei ao hotel para descansar, indo à biblioteca no dia seguinte.
            Voltando ao Centro de Informações, fui encaminhado para um terminal – uma cadeira acolchoada em que se pode relaxar. O indutor da NEXUS foi introduzido e senti a injeção de informações preenchendo a minha mente que parecia deixar o meu corpo. Navegando pela NEXUS, agora sim a biblioteca parecia comum, cheia de livros e estantes. A noção de realidade era meio dúbia, sendo possível perceber que tudo era virtual.
Procurei pela seção de símbolos e uma enorme estante se posicionou a minha frente, como um trem que chega repentinamente a estação. Lendo a minha mente, um programa reconheceu a imagem que eu havia visto e abriu um dos livros que veio voando até a minha mão. Folheando a informação virtual, encontrei o significado do símbolo que se tratava ser a marca de um anjo do Senhor, o Arcangelus. Somente um mensageiro do senhor poderia ter esta marca revelada e somente aqueles que se corromperam estão na terra com este símbolo, ou seja, o líder do revoltosos era, na verdade, um anjo caído. Além disso, a quantidade de pontas que as asas apresentam indica a classe hierárquica a qual o anjo pertence. A pichação tinha cinco pontas, quinta classe angelical – Virtude.

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Capítulo 02 – Conclusão

 

            Ao termino da pesquisa, retornei ao hotel. Na recepção me entregaram os documentos que requeri no dia anterior. Entrei no meu quarto e fiquei lendo o conteúdo. O que mais chamou a minha atenção era o fato de terem sido presos diversas vezes em rebeliões tanto na vida real quanto na cibernética. Com tal histórico, cheguei ao conclusão de que eles devem ser próximos do líder o suficiente para que eu consiga alguma pista.
Liguei para o chefe de polícia, avisei-lhe que queria ouvir o interrogatório dos dois meliantes e ele me disse que ocorreria um novo em algumas horas. Novamente na delegacia, após exaustiva conversa investigativa sem nenhuma resposta, pedi aos policiais encarregados que me deixassem sozinho na sala atrás do espelho e que os adolescente ficassem também sozinhos onde estavam. Saquei algumas cartas do meu baralho mágico e manipulei a carta 9, o Eremita, desativando a carta 11, a Força, e transmutando a carta 12, o Enforcado, no machado de controle da mente. Com o artefato mágico, me concentrei e vasculhei suas mentes.
Durante a introspecção, procurei insistentemente nas memórias deles alguma informação. Consegui descobrir somente que eles recebiam um e-mail antecedido pelo símbolo Arcangelus. Nada mais. Então manipulei novamente minhas cartas antes de sair. Primeiro usei a carta do Louco para apagar a memória dos dois, em seguida usei a carta 9, o Eremita, para desativar a carta 12, o Enforcado, e reativar o manto de transformação ao transmutar a carta 11, a Força, me disfarçando novamente.
Mais uma vez em meu hotel sem nenhuma pista nova, fiquei pensando e percebi que só havia uma única coisa a fazer: me infiltrar no grupo rebelde.
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Capítulo 03 – Infiltração

 

            Decidido a entrar no grupo, ativei os poderes do manto de transformação e assumi a aparência de um adolescente. Com documentos falsos cedidos pelo conjunto policial da Cidade de Cristal, entrei para a mesma escola militar de informática em que os dois jovens estavam cadastrados como alunos do primeiro ano.
            No primeiro intervalo, e em todos os horários seguintes sem aula, subi discretamente ao topo da escola para observar os alunos. Sob minhas ordens, os jovens retornaram normalmente às aulas como se tivessem sido soltos completamente impunes por falta de provas e seguiriam normalmente com suas vidas. Em alguns momentos, quando eles se reuniam com outros possíveis rebeldes, eu me arriscava tirando o disfarce e usava o machado do controle da mente e vasculhava seus pensamentos discretamente. Com alguns dias sem resultados, uma semana depois finalmente consegui uma pista: um grupo do terceiro ano recebeu uma mensagem do líder, chamando-o de anjo. A mensagem mandava que eles entrassem no NEXUS e invadissem e deletassem os arquivos da biblioteca pública: “Estarei lá esperando as 9:00 PM”. Pelo que pude entender, o líder estaria presente na biblioteca virtual.
            Porém, havia um problema em prosseguir com o plano. O feitiço do manto de transformação não funcionava com a forma digital do indivíduo. Felizmente, outra transmutação de carta funcionaria. A função do machado de controle mental poderia ser útil, ao invés de ir com o meu corpo, eu iria através do corpo de outra pessoa, desta forma o NEXUS reconheceria a imagem dele e não a minha para digitalizar. Seria cansativo, mas poderia dar certo.
            Pouco antes do horário marcado, me concentrei mentalizando a localização de um dos jovens e minha mente percorreu todo o espaço até ele, sem que eu precisasse sair do hotel. Ouvi alguém chamando, abri os olhos no mundo virtual e vi que estava chegando a um grande prédio circular de centenas de andares. Eu estava infiltrado.

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Capítulo 04 – Encontro

 

            No controle da mente do jovem, eu estava na biblioteca virtual. Por uma entrada secreta, seguimos por um túnel de manutenção com as defesas previamente desligadas. Chegando ao núcleo, me deparei com um homem encapuzado com a mesma altura que eu. Observei ele da maneira que conseguia e sem poder ver seu rosto na penumbra. Eram 9:00 PM e vários adolescentes compareceram na biblioteca. O líder então levantou a mão e começou a dar suas ordens:
            – Vamos deletar todos os dados do núcleo e deixar uma mensagem no lugar. Mas antes...
            O líder apontou na minha direção, aliás, na direção do garoto que eu controlava e uma pena voou na direção da testa dele. Perdi completamente o controle sobre o jovem, retornando a mim com o feitiço sobre a carta 12 desfeito bruscamente, soltando fumaça. Espantado, cheguei à conclusão de que aquele era mesmo um ser puro, um anjo caído do Senhor! De que outra forma um feitiço de alto nível poderia ser desfeito?
            Então vi algumas penas caírem do teto, me vi sonolento e adormeci...

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Capítulo 05 – Batalha Cibernética

 

            Pela manhã seguinte, acordei desnorteado. O telefone ligou, era o delegado responsável: “Onde você estava?”, perguntou, “Uma grande quantidade de dados foi apagada da biblioteca ontem! Por sorte você nos deixou de prontidão e conseguimos fechar a parte interna do núcleo antes que mais arquivos fossem perdidos. Vocês está bem?” Não conversei por muito tempo e antes que desligasse ele disse: “Aquele garoto, ele não sobrev...” Tirei o telefone da linha, não queria ouvir o óbvio. Minha cabeça latejava um pouco e tive de usar a carta 2, a Sacerdotisa, para aliviar as dores. Prossegui normalmente com o disfarce com a carta 11, a Força.
            Na escola, o professor de engenharia cibernética passou uma tarefa prática para a classe:
            – Hoje será o grande dia! Vocês serão conectados ao NEXUS e deverão prosseguir até o centro de pesquisas – fiquei preocupado, meu disfarce poderia ser descoberto! – ...controlando a armadura de seus avatares pessoais... – me senti aliviado ouvindo aquilo. – ...e trazer uma das últimas noticias disponíveis.
            Como já havia ido à biblioteca, não me preocupei com aquilo. Contudo, os outros alunos estavam apavorados:
            – Cara, esse professor é louco! – disse um aluno próximo de mim.
            – É... Pelo que ouvi dizer, nenhum aluno dele conseguiu entrar no NEXUS e terminar a missão... – concordou outro.
            – Vocês aí atrás! – eles olharam para o professor tremendo de medo. – Prestam atenção na aula!
            – Sim, professor! – disseram os dois.
            – Quem não conseguir trazer o conteúdo, sairá do semestre com nota baixa. Haverão iscas para atrair vírus e, para assegurar que suas mentes não sejam devoradas por eles, vocês terão um botão de LOGOUT na armadura digital em caso de emergência. Mas, se apertaram o botão, levarão nota baixa do mesmo jeito! Prontos? Vocês terão apenas quatro horas para concluir o objetivo!
            Pouco depois, no terminal da escola, fomos conectados e iniciamos a missão com armas de desfragmentação em punho... Olhava aquilo e estranhava, sei que cada continente de Geonova possui seu método de ensino particular, apenas não imaginava que fosse tão radical! O professor deu suas últimas palavras e deu a largada, abrindo as portas do servidor da escola.
            Naquele ambiente novo percebi que tudo era diferente de antes. Ali era uma zona livre do NEXUS que praticamente imita o mundo real a sua maneira digital, com montanhas de dados, florestas de programas, rios de conexão e, por consequente, os animais do mundo virtual eram os vírus. Prosseguindo, cada um foi pelo caminho que considerava melhor. Uns permaneceram e grupos de dois ou três, e outros, como eu, seguiram sozinhos. As armaduras dispõe de mapas interativos e tracei a rota mais curto para o objetivo.
            O caminho era longo, infestado de vírus de todas as formas e tamanhos – uma verdadeira fauna e flora virtual! Sou militar experiente com prática em campo de batalha, o que me dava vantagem sobre os outros alunos e sobre os vírus que não eram nenhum desafio, pois deletava-os facilmente. Mais a frente, no meio da floresta de programas, por um acaso, encontrei uma isca com um vírus gigantesco próximo a ela. Os livros sobre a descrição de vírus denominavam aquela espécie como troll, da classe gigas. Decidi deletá-lo para que não causasse mais problemas, porém, antes que eu pudesse reagir alguém quis atacá-lo na minha frente. O aluno que se aproximou do troll era o melhor da sala e pensei que não seria necessário que eu interferisse, permanecendo escondido, apenas observando.
            Ele estava agindo habilmente, seus tiros eram certeiros, mas a carapaça do vírus era resistente e, percebendo que ele o estava atacando, prendeu-o com seus braços vinha. Torci para que o aluno ativasse o botão de emergência e fizesse o LOGOUT. Ao contrário do esperado, ele gritou bem alto:
            – Eu não vou perder! – e respondendo a sua determinação a arma em sua mão evoluiu para um canhão.
             Com um único tiro, o gigas foi deletado. Contudo, o confronto ainda não havia terminado, novos vírus trolls apareceram, encurralando-o ali. Ele atirou mais três vezes, acertando dois trolls de raspão que ficaram enfurecidos e o derrubaram com força, fazendo-o largar o canhão que rolou para longe. O vírus o apertou com tanta força que ele ficou inconsciente. Sem hesitar entrei na briga e dei um super soco naquele vírus, arrancando sua cabeça. Com o jovem a salvo, lutei contra os vírus que surgiam mais e mais. Mirei rapidamente na isca e tratei de escapar com o garoto durante a explosão que cegou os gigas tempo suficiente.
            Dali em diante correu tudo normalmente, consegui chegar ao seção de notícias do centro de pesquisas a salvo e tornei o caminho todo com aquele aluno nas costas. Surpreso, o professor nos deu os parabéns, éramos os primeiros que conseguiram voltar do NEXUS na primeira incursão... na história da academia! Não entendi o entusiasmo e pesquisei posteriormente: menores de idade não tem permissão para sair de áreas seguras e só utilizam o servidor da escola militar para treino. O certo deveria ser avaliarmos bem a situação, escaparmos sem duvidar e abandonar o objetivo diante do perigo. Afinal, eram alunos jovens e inexperientes...

...

 

Capítulo 06 – Revelações

 

            No dia seguinte, me apresentei com pequenos (e falsos) curativos e puder ter aula normalmente. Não me importo de estudar de novo, é um ótimo entretenimento. Com o termino do horário letivo, na saída, encontrei com aquele aluno da missão. Ele se apresentou, seu nome era Lítion, nickname UNDERDARK – esta é a forma como você se apresenta cordialmente numa cultura tão arraigada no mundo virtual. Pensei que ele queria me agradecer ou me parabenizar, entretanto, seu tom de voz se tornou áspero:
            – Saia do meu caminho... Vou acabar com qualquer um que entre na frente dos meus objetivos!
            Sorri abertamente para ele:
            – “No dia 23 do quinto mês, ocorreu um terrível atentado à família Cyber World, deixando vivo apenas o filho mais novo do casal Jack e Lilian Cyber World, dos então presidentes da companhia Cyber World de programas avançados, Lítion Cyber World. As únicas evidências do crime são: o fato deles terem sido eletrocutados e de misteriosas penas brancas deixadas no local. Fará dez anos desde este acontecimento que abalou as indústrias de programação da Cidade de Cristal... Blá, blá, blá...” E pensar que esta fora a primeira notícia que encontrei ontem... Lítion Cyber World!
            – Seu desgraçado! E o que você entenderia?
            E respondi simplesmente:
– Meu nome é Victório Anthony, nickname NIKKE. Rei-general coroado pelos supremos sacerdotes de Geonova. Estou investigando o caso dos rebeldes que tem criado problemas ao NEXUS e a sociedade de Goldland. Vim aqui para deter o líder deles e, realmente, não devo entender nada.
– E o que isso tem haver comigo?
– Isso... – e tirei uma pena do meu bolso. – A pena que encontrei recentemente depois de ter sido atacado pelo anjo cibernético, é a mesma encontrado há dez anos no assassinato dos seus pais.
– Impossível! Isso não é verdade! Não pode ser, não pode ser... – ele se virou de costas para mim. – O líder dos rebeldes me criou esses anos todos!
Surpreso com sua resposta, só me restava perguntar:
– Onde ele está agora?
Atordoado, ele falou baixinho:
– Na escola, ele é o nosso professor de engenharia cibernética...
De súbito, os aparelhos elétricos ao nosso redor começaram a piscar, perdendo o controle, e uma nova pena veio ao chão. Olhamos para cima ao mesmo tempo. Ele estava lá...
...

 

Capítulo 07 – Perseguição

 

            Vestido da mesma forma que no ataque ao núcleo da biblioteca, logo ele retirou o capuz preto:
            – Agora que sabe de tudo Lítion, você deve saber de mim mesmo. Sim, eu matei sua família...
            – Por quê?! – gritou o jovem. – Por que você fez isso?!!!
            – Por quê? – riu-se ele. – Porque vários foram mortos por eles em nome do antigo governante. Tudo para que a população de Goldland não descobrisse as experiências demoníacas do primeiro ministro com os clones, os fullenergys e as próteses mecânicas usadas nas guerras...
            – Mentira! Meus pais eram muito carinhosos comigo, eles nunca matariam ninguém!!!
            – De fato, até aquele momento seus pais não matariam, foram obrigados a matar... – o anjo então retirou sua máscara revelando sua verdadeira forma, pele branca, cabelos loiros e olhar triste, misturados numa beleza quase divina. O poder que emanava entorpecia meus sentidos, quase me fazendo dormir como em nosso último encontro virtual. – Agora que sabem quem realmente sou, não poderei deixá-los viver. Se vocês realmente têm fé, tentem me impedir!
            Ele tirou sua capa preta e a deixou cair. O anjo vestia roupas simples de linho branco e reluzente, imagem pertencente exclusivamente aos santos mais puros. Num movimento assombroso, abriu sua única asa. Isso mesmo, UMA asa, não havia outra para fazer o par. Com um rápido bater de asa, lançou em nossa direção duas penas, uma para cada um. O primeiro efeito do ataque não agiu sobre mim, em vez disso, desfez o manto de transformação que retornou a sua forma de carta fumegando. Lítion, porém, não conseguiu se desviar e adormeceu. Antes que ele chegasse ao chão, enquanto eu estava atordoado, o anjo caído voou e o pegou nos braços, levando-o para a sala do terminal escolar da NEXUS. Pensando rápido, coloquei meu bracelete zodiac signae e corri atrás deles.
            Ao entrar naquela sala, os dois estavam se desmaterializando e sendo transportados por completo para o NEXUS, sem necessitar de magia ou tecnologia. Decidido a acompanhá-los, saquei a minha carta 13, a morte, e a transmutei na foice dimensional, seccionando o tempo e espaço, abrindo um portal para o mundo virtual tendo por base a última transposição. Assim, eu não teria desvantagens, lutando de igual para igual. Ativei minha carta 4 de ouros aumentando minha velocidade em quatro vezes, acompanhando-os de perto dentro do NEXUS. Atravessamos as florestas de programas, passamos por várias montanhas de dados e seguimos pelos rios de informações até chegarmos a um lugar que parecia um grande templo, erguido com altíssima segurança de criptografia, a página pessoal do anjo cibernético. Entrando em seu território particular, a segurança foi ativada e a conexão com o mundo virtual foi cortada, por muita sorte consegui atravessar, passando para o terminal.
Finalmente de frente com ele, utilizei os poderes da carta 4 de espadas para tentar acertá-lo. Ele se protegeu usando sua asa, bloqueando meu soco. O anjo deu um rodopio para trás no ar, se afastando um pouco, deixando Lítion a salvo no chão. Voltando ao ataque, ele empunhou uma espada elétrica de raios e voou para cima de mim. Invoquei o poder dos signos do bracelete e formei uma barrei circular. O impacto foi tão grande que fui jogado para trás, em um bloco concreto de dados. Sentindo os efeitos da eletricidade, não conseguia me levantar. O anjo caído guardou a espada e, com as mãos no rosto, retirou as lentes de contato. Prostrando-se, ergueu as mão para o céu, pronunciando uma oração:
– Oh, poder da natureza! Vinde a mim e me ajude a derrotar meus inimigos. Dê ao anjo Likael o teu poder! Venha raio divino! Amém!
A estrutura do mundo virtual mudou rapidamente, nuvens se formaram no céu e a estrutura elétrica se irrompeu numa grande descarga de energia. Inexplicavelmente, alguém se interpôs entre mim e o raio, criando uma barreira de dados com as próprias mãos. Aquilo não foi o suficiente para barrar tamanha força e a explosão ultrapassou o obstáculo, acertando o garoto. Depois que a visão clareou, Likael correu em socorro dele, era Lítion que salvara minha vida. Com um aperto no peito e lágrimas no rosto, a situação era extrema e o anjo não podia fazer nada:
– Desgraçado! – vociferou. – A culpa é sua! Eu vou te matar!
Me levantando lentamente, apoiando-me na foice dimensional, fiquei observando-o:
– Você vai me pagar! – e apertou uma última vez o corpo do filho adotivo que cuidara com tanto zelo.
Deixando Lítion de lado, foi de encontro a mim, focalizando grande quantidade de centelhas elétricas entre as mãos.
– Explosão elétrica!
Com todos os sentido recobrados, desviei do ataque com precisão. Segurei-lhe pelo braço usando a manopla da minha armadura e o joguei no alto da mesma parede de blocos que me segurou no outro ataque. Vários dados se desintegraram com a explosão do bloco de criptografia rígida.

...

 

Capítulo 08 – Fim das lágrimas

 

            Likael começou a cair e conteve a queda com a asa. Me afastei dele e ele empunhou novamente a espada de raios. Segurando-a firmemente, fincou a espada no chão, proferindo nova oração:
            – Decadência! Amém...
A realidade virtual se alterou mais uma vez, tornando-se escura e tenebrosa, e um raio escuro desceu em minha direção. Levantei a cabeça e o raio me acertou em cheio.
– Desapareça desgraçado!
Da nuvem de poeira, surgi inteiro de armadura completa e a máscara dourada no rosto, com as asas negras de dragão abertas. Podia sentir o vermelho tomando conta dos meus olhos e o poder de dragão me tomar por completo:
– Quem é você criatura?! – gritava Likael. – Que mostro és tu?!
– Não sou nenhum monstro. Sou Victório Anthony, cavaleiro do dragão demônio e vim aqui para te deter.
Levantando a mão, conjurei um feitiço com a carta 14, a Temperança, invocando uma forte e densa neblina. Confuso, Likael me perguntou o que eu pretendia, ao que eu respondi:
– Cessar as tuas loucuras, porque não é desta forma que você deve proteger os outros.
Erguendo a outra mão, conjurei meu segundo feitiço utilizando a carta 16, a Torre, formando meu próprio raio. Likael riu do que eu estava fazendo:
– Não adiantará! Sou imune a ataques elétricos! Minha asa deletará tudo que tocar... – e abriu a asa, que estava úmida.
Notando que as penas estavam encharcadas, Likael percebeu o que eu planejava. Preenchido de raiva e indignação, lançou mão de seu último recurso, rasgando a roupa de linho:
– Senhor, protegei teu servo! E me usa como arma divina para deletar tudo!
De repente, meus feitiços foram facilmente anulados, fazendo a neblina e o relâmpago desaparecerem. Likael me fitava com aqueles olhos brancos, numa espécie de transe. Com a espada em riste, ele apareceu atrás de mim:
– Me atacar é perda de tempo... – exclamei. – Tudo de que preciso é de alguns segundos antes que seja tarde!
Usando as habilidades telecinéticas da carta 6, os Enamorados, bloqueei seus movimentos e o arremessei para bem longe do outro lado do campo de batalha, perto o suficiente para que pudesse ver o que eu estava fazendo. Empunhei a foice e caminhei até o corpo de Lítion. Likael gritava, perdendo o controle sobre os poderes elétricos:
– Pare! Não se aproxime dele!
Levantei a foice e iniciei a leitura dos seus fios de vida. Naquele estado crítico, faltava-lhe apenas um fio para que estivesse completamente morto: o fio da coragem. Tomei as minhas cartas 10, a Roda da Fortuna; 7, o Carro; 2, a Sacerdotisa; e 21, o Mundo, revivendo o poder antigo da ressurreição. Uma forte luz brilhou, se propagando por todo o lugar. Likael, admirado, simplesmente desmaiou...
...

 

Capítulo 09 – A Decisão de Likael

 
            No hospital, Likael acordou meio assustado. Eu estava do lado dele:
            – O que foi, teve pesadelos? – perguntei sorrindo.
            Ele me olhava perplexo e constrangido:
            – Você? Onde estou? Que lugar é esse? – tratei de acalmá-lo antes que perdesse o senso e viesse a me atacar.
            – Calma, não há nada com que precise se preocupar. Você está no hospital do Palácio de Cristal – e ele tornou a fazer mais perguntas.
            – E Lítion? Onde está Lítion? O que vão fazer comigo?
            – Eu já não disse para se acalmar? – retruquei. – Bem, esqueça o que ocorreu. Sobre Lítion, ele está lá fora. O que irá acontecer com você depende somente da sua decisão...
            Me levantei e fui chamar o jovem, que entrou no quarto com um buquê de flores, acompanhado do primeiro ministro da Goldland. Sem saber o que dizer, Lítion se abriu com seu pai adotivo:
            – Likael... Pai... Você me criou e me ajudou a crescer mesmo sabendo que seus crimes são imperdoáveis... – por um momento, sua voz ficou embargada por causa do choro. – Eu te perdôo...
            Num abraço apertado, o anjo também começou a chorar. Dado o tempo certo para os dois, o primeiro ministro fez seu pronunciamento:
            – Eu, Virgo, com os poderes a mim atribuídos como primeiro ministro de Goldland, declaro que os crimes cometidos por Likael, o anjo cibernético, serão absolvidos em virtude de poderes superiores, devendo este ficar em observação e trabalhar para a reconstrução dos bens que foram perdidos...
            Sem entender direito o que estava acontecendo, Likael se recosta no travesseiro:
            – Senhor, obrigado por tudo que me deste, pode me levar agora... – e, emanando uma aura branca e límpida, começou a desaparecer.
            Dei-lhe um murro na cara:
            – Quem disse que é pra você ir? – perguntei-lhe rispidamente.
            – Mas, mas... Eu tenho que ir!
            – Não tem nada! Você vai é me ajudar com os problemas que me causou e cuidar da empresa Cyber World como deve!
            Colocando a mão no rosto, ele pensou bem e sorriu:
            – Aceito...
            – Assim é melhor! – e todos riram alegremente.

...

            E foi assim que tudo começou... FIM!

3 comentários:

  1. Interessante, apesar de ser um pouco confuso pra mim XD

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    1. Essa história é particular e faz menção ao final dos vários anos que passei em Geonova. Como é a única que realmente ficou pronto e não passou de especulação, além de ser um presente a um amigo, resolvi colocá-la aqui.
      Fora isso, seria difícil explicar a complexidade das teorias sobre o meu armamento mágico escolar, meu artefato de batalha e meus poderes adquiridos do dragão demônio - que me deu o título de Gunshin, deus da guerra, além das minhas próprias heranças - sou o nono rei de Geonova.
      Contudo, agradeço pela leitura Joe! E volte sempre! o/

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