TESLAR
Após a
passagem pelo portal, a nave boreal atracou numa praia próxima. Os Senhores de
Castelo e o Caçador Sombrio desembarcaram, levando consigo a sua bagagem. O
casaco de Elians, absorvendo energia solar, tomou tons de bege para aliviar o
calor. A moça, por sua vez, tirou a jaqueta, evidenciando seu belos atributos.
Contudo, Nina e Elians ficaram boquiabertos com o que Lacroh trouxera:
— Isso é
seu? — perguntou Elians.
— Que
linda! — exclamou Nina.
Lacroh
acelerou sua belezinha, verificando se os motores estavam em ordem:
— Claro que
é minha. De quem mais seria? — respondeu, colocando os óculos de proteção que
trazia no alto da cabeça em seu devido lugar.
Ele desceu
de sua moto nova e verificou o motor elétrico blindado contra possíveis infiltrações
como areia ou líquidos, abastecido por baterias internas ligadas a cristais
receptores de energia solar nas laterais que as carregam automaticamente,
movimentando os propulsores por até doze horas com aceleração contínua de
duzentos quilômetros por hora. Isso sem contar no implemento de injeção de
força que dobra a velocidade da máquina em casos de necessidade. Com
estofamento de couro, pneus capazes de andar tanto em pistas macias quanto nas
duras e rastreadores que auxiliam na pouca visão do seu motorista, a Gamax III
é o veículo perfeito para Lacroh.
— Escuta só
o som dessa garota!
— Não estou
ouvindo nada — Elians estava confuso.
— Eu sou um
caçador, a minha moto tem que ser invisível em todos os sentidos — respondeu
sorrindo, montando novamente na moto para ativar a invisibilidade.
— Nossa!
Até isso ela faz? — perguntou Nina, entusiasmada.
— E muito
mais! — Lacroh voltou a ser visível. — Espero que ela dure o suficiente...
— O que
você quis dizer com isso? Você já perdeu quantas? — perguntou Elians, curioso.
— Quantas
as que foram necessárias. Por sorte meu pai me deixa sempre ter uma nova desde
que eu cumpra com as minhas missões como caçador.
— Por falar
nisso, como está seu pai? Nem me lembrei de perguntar por ele.
— Se me
lembro bem — Lacroh tirou os óculos. — A última coisa que ele disse foi que
iria para a base dos Caçadores Sombrios. Eles estão muito ocupados reforçando
as linhas de frente e possíveis necessidades dos Senhores de Castelo. Tem sido difícil
tanto para os castelares quanto para os caçadores...
Nina ouvia
aquilo e ignorou tudo. O que ela queria mesmo naquele momento era experimentar
aquele veículo exótico, saltando na garupa sem ser convidada:
— Essa
Gamax tem capacete? — a Senhora de Castelo sabia o que estava fazendo.
— Tem...
Por quê? Quer viajar abraçadinha comigo? — gracejou Lacroh com animação.
— Cale a
boca e dirija! Quero saber como é andar nisso...
— Olha!
Mais respeito com a minha Gamax! Ela fica magoada quando a tratam como objeto —
o veículo piscou os faróis sozinho.
— Essa moto
tem sistema de inteligência artificial? — inquiriu Elians.
— Claro! —
Lacroh sorriu e ligou novamente a sua máquina. — Vamos Nina?
— Está
esperando o quê? Acelera logo!
Dando uma
volta para ficar com a moto na direção do deserto, Lacroh deu seu último recado
antes de começar a viagem:
— Eu vou na
frente. Vou mostrar pra Nina que não se brinca com uma Gamax III! — Nina sorria
enquanto via os capacetes sendo colocados magneticamente em suas cabeças, peça
por peça. A moto e a roupa dos dois ficaram beges, se camuflando na areia. —
Não vou ficar muito distante, por isso trate de nos alcançar... E cuidado com
os vermes da areia!
Numa
empinada, a moto sumiu nas duas de areia.
— Aqueles
dois... — Elians se viu sozinho com os outros três. — Bem... Rapaziada! Temos
que ir, é uma longa jornada até o templo dos Homens Puros!
Eles
conversavam entre si e encararam Elians por alguns segundos. Foi Mundergrand
que quebrou o silêncio:
— Elians...
Perdoe-nos... Nós não saber o que viemos fazer...
— Droga...
A Nina não explicou direito?
Foi a vez
de Sêminus falar:
— Ela nos
disse que viríamos para Teslar pois fomos convocados para dar apoio à elite e
não disse mais nada...
Elians agiu
de forma incauta e sentiu que deveria se retratar aos companheiros:
— Me
desculpem, por favor! — ele se inclinou para frente, demonstrando subordinação
ao grupo e que eles eram mais importantes que a missão. — Peço perdão a todos,
eu deveria ter feito isso antes. No meio dessa guerra, acabei recebendo grandes
responsabilidades e me sinto no dever de lhes explicar tudo.
— Heheh...
Não seja tão formal Elians! – riu Corinto. – Nós entendemos... Mundergrand não
está em sua primeira missão e Sêminus já é experiente nisso. Não é gente?
— De
fato... – disse o jiguniano com sua voz agudíssima, sentado no ombro de
Mundergrand. — Tenho larga experiência em missões, principalmente por ser um
Senhor de Castelo megafísico de apoio muito eficiente.
— Li as
fichas de cada um... Já são dez anos de missões?
— Correto,
Elians... — ele fez silêncio, não conseguia falar direito. — Desculpe estou com
problemas no meu aparelho de voz.
— É por
causa do seu irmão?
— ... —
Sêminus ficou calado, com olhar sério.
— Meus
pêsames — e virou-se para o giganto. — E você Mundergrand, ser o mais baixinho?
O
companheiro sorriu:
— Eu ter
valor, muito valor! — algumas de suas lembranças ruins vieram à tona. — Minha
família considerar qualquer um com menos de quinze metros inferior. Meus irmãos
ter mais de vinte metros! — apesar de triste, Mundergrand procurava
transparecer sua alegria. — Mas só eu ser Senhor de Castelo!
— Sempre
estaremos unidos por isso meu amigo! — por fim, Elians olhou para o metamorfo. —
Só falta você e poderei finalmente dar as instruções.
Corinto
colocou as mãos atrás da cabeça:
— Eu sou um
metamorfo, apesar de ter habilidades não muito desenvolvidas, posso me
transformar em qualquer animal que eu conheça e tenha convivido. Conheço
animais do mar, do céu, do solo e abaixo da terra. Um dia eu serei um
multibiólogo e vou ajudar a conscientizar meu planeta natal a cuidar da fauna e
da flora. Esta é minha primeira missão e ela será a melhor de todas!
Elians
sorriu, estava contente por não ter errado com suas escolhas:
— Bem...
Dois de vocês já conhecem a Senhora de Castelo do grupo, ela se chama Nina e
possui poderes sombrios. Ela compartilha o corpo com uma sombra viva que lhe
permite entrar na zona das sombras. Sua força é descomunal e acredito que ela
desenvolva grandes habilidades no futuro. — Corinto e Mundergrand se
entreolharam, a imagem de Nina em suas cabeças era muito mais do que aquilo. —
E o outro que está de moto e tem olhos cor de coral se chama Lacroh, ele é um
Caçador Sombrio...
— Ah! Por
isso eu não vi a tatuagem fantasma, já estava pensando que eu havia ficado
maluco! — interrompeu Corinto, pretendendo parecer inteligente e fazendo pose.
— Sim —
Elians riu. — A marca fantasma dele é diferente e você precisaria ser um
caçador ou conhecer os hábitos deles para descobrir como vê-la. Além disso, ele
é um lutador e tem a habilidade de prever o futuro, o que pode nos ser útil
durante a missão.
— E você?
Por que nos convocou? — indagou Sêminus, desconfiado.
— Sou do
planeta Curanaã e príncipe do reino de Newho...
— Você é o
príncipe Dantir?! — gritou Corinto. — Cara! Eu sou seu fã!
— ...! —
Elians ficou sem reação, permanecendo impassível.
— O que
aconteceu com você? Porque mudou de nome? E a cor do cabelo? — eram muitas
perguntas.
— Por hora,
basta saber que é assim que eu quero ser... Tenho motivos para ser chamado de
Elians — ele fez uma pausa. — A missão que recebi diz respeito ao arquétipo de
Teslar. Ele foi convocado a comparecer as linhas de frente e a missão foi
diretamente dada pelo Daimio a Lacroh, Nina e eu para que façamos a guarda do
indivíduo em segurança até o objetivo. Vocês são o nosso apoio. A Irmandade
Cósmica está vindo para Teslar e logo avistaremos uma de suas grandes naves
anunciando o combate pelo planeta.
— Estamos
participando da guerra?!
—
Indiretamente, sim.
— Pelos
deuses...
— Não
precisa se preocupar Corinto — Elians sorriu para ele, colocando a mão em seu
ombro. — Eu prometo que vou proteger cada um de vocês!
Ao longe
Lacroh retornou montado em sua moto:
— Vocês não
vão vir?! — gritou ele.
— Nós já
vamos!!! — gritou Elians de volta.
— Ele
precisa relaxar... — disse ele, sendo ouvido somente por Nina.
— Estamos
em uma missão, lembra? Sempre vai ter situações em que ele tem que cuidar de
outras responsabilidades — ponderou a moça. — Dantir gosta de cuidar das
pessoas próximas a ele.
— Se você
diz... — e acelerou a Gamax.
A nave
boreal soou o seu apito e recuou pelo mar, partiria na mesma hora de volta a
ilha de Ev’ve. Elians já tinha um plano em mente para atravessar o deserto e
tratou de pô-lo em prática:
—
Mundergrand! Agora é com você meu amigo!
— Eu poder?
— é recomendado aos gigantos a não fazer isso em planetas que desconhecem a variedade
de raças do multiverso.
— Nós vamos
por uma caminho direto e não visitaremos as cidades de Teslar. Em todo caso, se
houver algum problema, você voltara ao tamanho original. Certo?
— Eu
confiar em Elians! — Mundergrand colocou as duas mãos no cinto e Sêminus desceu
de seu ombro.
O Giganto
brilhava, envolto em maru que parecia evaporar de seu corpo. Em pouco tempo o
homem com dois metros crescia e passou a ter o seu tamanho normal, cerca de dez
metros de altura. Seu braço gigantesco desceu até o chão, permitindo aos outros
três subirem, sendo colocados nos ombros de Mundergrand.
— Você
cuida da caixa de mantimentos... — disse Sêminus a Elians, que pôs a caixa em
sua costas como uma mochila. — E você Corinto com a caixa de experimentos — o
metamorfo fez o mesmo que o primeiro, recebendo o jiguniano no ombro.
Elians
ficou no ombro direito e Corinto no ombro esquerdo do Giganto:
— Sêminus,
por que você não tem um cinto como o do Mundergrand?
O
homenzinho abaixou o tom de voz do aparelho:
— Eu não sou louco...
No outro ombro:
— Podemos ir Munder! – disse
Elians.
Com tudo pronto, a longa
caminhada começou.
...
Mais a
frente:
— Que
calor! — reclamou Corinto. — Quando vai anoitecer? Já se passaram horas e nada
do sol baixar!
— Você não
conhece Teslar, não é mesmo? — perguntou Sêminus, amigavelmente.
— Erh...
Bem, não tirei boas notas em conhecimentos do multiverso, se é o quer dizer...
— Teslar é
repleto de desertos porque possui uma inclinação incomum. Os pólos permanecem
no escuro e sob o claro do sol durante meses ininterruptamente. Em poucas
palavras, não vai anoitecer antes que chegue a entre estação e enfim a noite chegue,
durando o mesmo tempo deste dia interminável, por assim dizer.
— Você só
conseguiu fazer com que eu sinta mais calor... – retrucou o metamorfo. — Tenho
uma ideia. Mas vou ter que deixar a sua caixa aqui.
O jiguniano
ficou curioso, ajustou o aparelho de voz e falou com Mundergrand:
— Poderia
trazer a palma até aqui amigo? — sem dizer nada, o giganto obedeceu. — Segure a
minha caixa de experimentos por alguns minutos sim? Não a destrua, por favor!
Corinto
desceu a caixa até a palma de Mundergrand, ele assentiu com o combinado movendo
a cabeça e Sêminus continuou, depois de reajustar o tom de voz:
— O que
você vai fazer?
— Você
gosta de voar?
— Não
muito, jigunianos não gostam de serem subitamente levados por predadores
maiores — Sêminus tremeu de medo.
— Espere só
um minuto... — Corinto acionou um fecho circular na frente de sua roupa que
recolheu a parte externa, deixando-o apenas com a roupa de batalha, e se
concentrou. — Pense em pássaros, pense em pássaros, pense em pássaros...
A forma do
metamorfo começou a mudar, assumindo as feições completas de uma ave de rapina
de plumagem completamente branca, bico curvo e negro, olhos amendoados e garras
afiadas, com longas e poderosas asas. A roupa de batalha, sendo preparada para
ele, acompanhou a mudança sumindo no meio do corpo. Corinto agora era
perfeitamente uma ave, não fosse apenas aquele fecho que permanecia ainda
visível.
— Sob,
crack! Vai ser legal! Crack! – e se abaixou para que o jiguniano pudesse subir.
—
Interessante... Eu devo ser o primeiro homem de vinte centímetros que vai voar
sem ter que domesticar o inimigo! — com algum cuidado, Sêminus foi subindo.
Atrás do pescoço de Corinto, as correias que prendem o fecho ao corpo serviram
maravilhosamente bem como rédeas.
— Pronto?
Crack!
— Sim! —
Sêminus se segurava fortemente.
— Lá vou
eu! — ele correu para a ponta do ombro e num rasante que durou poucos segundos
Corinto e Sêminus estavam voando pelos desertos de Teslar, sentindo a brisa
soprar.
— Uou! Que
divertiiii... ido! — berrou Sêminus, rindo de si mesmo.
Elians
ficou feliz em ver eles assim, relaxou um pouco, sentou-se ali no ombro do
gigante e estendeu as pernas. Tudo estava calmo, por enquanto...
...
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