quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 05


As Crianças

            O irmão mais velho começou a falar com o irmão mais novo, eles estavam em uma caverna que eles mesmos conseguiram camuflar:
            – Elians, como está a nossa comida? – o menino de uns dez anos chegava do monte de lixo e tirava a suit de sobrevivência através da jóia mística do traje.
            – Vaik... – o outro menino, de uns cinco anos, estava com uma expressão chorosa. – Eu não quero mais isso! Eu quero comida de verdade...
            – Desculpe irmãozinho. Comida artificial é tudo o que temos e só vai dar para mais alguns dias... – o mais velho estava pensativo. – Os Senhores de Castelo já estão no planeta, espero que eles não demorem muito para nos encontrar aqui.
            – Hun... – o garotinho menor fazia beicinho, demonstrando algum desgosto infantil. – Eu queria ser como você, eu ainda não consigo sentir as pessoas que estão no planeta...
            – Heh. – Vaik sorria para o irmão. – Um dia você vai sentir todo mundo que está no multiverso!
            – Eba! – Elians pulou de alegria, abrindo os braços para o alto junto com o irmão.
            – Mas, por enquanto, vamos comer a nossa comida...
            – Ah! – Elians fechou a cara tão rápido quanto ficara feliz.
            – Vamos logo, senão eu deixo você sem sobremesa...
            – Você trouxe?!
            – Trouxe, agora vamos comer!
            – Irmão...
            – O que foi agora?!
            – Eu te amo...
            – ...! – Vaik ficou vermelho.

...

            Dimios, como os outros, também se perdeu na grande zona de lixo e caminhava por um lugar com algumas construções antigas. De acordo com o que lhe parecia, aquela era uma região avançada que posteriormente fora abandonada, mas que mantinha alguma ligação com o centro de inteligência do planeta. Andando por aquelas vias, Dimios notava que o lugar estava bem cuidado em comparação com o resto que havia visto: ‘Deve haver alguém por aqui’, concluiu. Foi então que ele viu um homem alto, de casaco vermelho e uma barba esverdeada, junto a uma menina de rosto angelical e vestido também vermelho, cabelos loiros amarrados com fitas na mesma cor do vertido:
            – Veja meu querido Thagir vermelho, um Senhor de Castelo com quem podemos brincar! – Disse a menininha à frente do homem alto.
            – Cara, seria melhor você não ter nascido! – disse o homem, com deboche.
            – Quem disse a vocês que eu sou um Senhor de Castelo? – Dimios se mantinha frio apesar da ameaça.
            – Eu sei, bobinho! – a menina apontou o dedo para Dimios.
            De repente, os prédios ao redor do castelar começaram a cair sobre dele. A garotinha estava muito feliz e bateu palmas para comemorar.

...

            Com Westem não foi diferente, ele também acabou por cair em um lugar bem distante dos outros Senhores de Castelo. No meio dos entulhos, uma grande construção semi-esférica se erguia diante de seus olhos. Muito barulho se fazia lá dentro, ovações e gritos histéricos davam a ideia de que havia um público se divertindo com alguma apresentação. Curioso, Westem se aproximou e percebeu que a língua deles era diferente da língua comum empregada pela Ordem dos Senhores de Castelo. Chegando mais perto, o castelar viu por uma fresta dois seres se digladiando um contra o outro, um menor e extremamente magro de aparência quase cadavérica que mostrava a ponta dos dedos mexendo-os em pleno frenesi, enquanto o outro era um brutamonte deformado de músculos tão grandes que rasgavam sua roupa a cada movimento violento que tentava acertar o adversário. Ambos estavam usando máscaras de ar de modelos diferentes, o baixo usava uma que tampava a boca e o nariz com uma abertura circular na frente de onde se podia ver o filtro de ar; o maior usava uma máscara com dois cilindros de ar em seu pescoço, ligada a eles por dois tubos que se projetavam para frente, um de cada lado. Westem, como fã de uma boa briga, não teve como deixar de exclamar:
            – Eu aposto no grandão! – disse com entusiasmo.
            A luta seguia, o grande tentava esmurrar o pequeno e só conseguia acertar o ar; o outro permanecia do mesmo jeito, sem tentar nenhum golpe, apenas mexendo os dedos. Westem não se continha, queria muito que o lutador parecido com ele desse um jeito naquele baixinho que não sabia lutar de verdade. Foi então que ele parou, o menor ficou completamente parado olhando o maior vir em sua direção com o seu braço descomunal que esmagaria completamente a sua pequena cabeça. Era o que deveria acontecer... Westem ficou abismado com a força que o menor desempenhou com a própria mente, fazendo aquele cara gigante parar em pleno movimento de combate. O menor pareceu ter um tique nervoso, pendendo a cabeça para o lado em movimentos repetitivos e os cilindros de ar da máscara no pescoço do adversário explodiram, machucando-o muito. Seu tamanho gigantesco começou a diminuir e diminuir até ficar aparentemente normal, como os outros nas arquibancadas, que por sinal começaram a vaiar o vencedor. Seus olhos fecharam e ele tirou a máscara, cuspindo sangue no chão e tossindo sem parar. Alguém, que deveria ser o árbitro da disputa, puxou o vencedor pelo braço e o levou para dentro de algum lugar debaixo das arquibancadas. Westem estava pensativo:
            – Droga! Essa eu teria perdido! Nunca mais penso em apostar sem conhecer os lutadores... – os pensamentos de Westem foram interrompidos por um tumulto na entrada do domo de lutas.
As pessoas estavam revoltosas com o resultado da luta e queriam quebrar tudo o que viam pela frente. Westem achou melhor sair dali antes que sobrasse para ele. Isto é, se ele não tivesse tropeçado em cima de alguma coisa quando se virou:
– Olha por onde anda! – o senhor de castelo ainda não havia se acostumado com a suit de sobrevivência.
Levantando-se, viu que aquele que estava debaixo dele era o mesmo cara que estava lutando há pouco. Os revoltosos perceberam que o lutador estava ali e foram atrás dele. Como ele acabou desmaiando, Westem pegou o pequeno nos braços e deu o fora dali o mais rápido que pode.
...

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 04

Separados



            O jovem castelar Ferus sentia um clima pesado no ar e o frio não ajudava nem um pouco. Logo ele faria a pergunta inevitável:
            – Você viu os outros? – a senhora virou-se e foi para outra sala, fechando a porta sem dizer nada. – Será que é sempre assim que as missões acontecem? – disse ele para si mesmo.

...

            Durante a queda, as correntes de ar acabaram por separar os Senhores de Castelo, levando-os para partes diferentes do grande lixão. O castelar Iksio havia caído num lugar repleto de contêineres. Ainda com a suit de sobrevivência, sentia que a energia que vinha de dentro deles lhe parecia familiar e triste. Sem muito que fazer, ele abriu um deles e constatou o que havia ali:
            –Água poluída... Isto com toda a certeza é um absurdo! Estou muito contrariado! – e chutou o contêiner com raiva. – Tem algo por aqui... – sibilos de alguma coisa começaram a chiar atrás dele.
            O multibiólogo virou-se procurando pelo barulho, os montes de lixo iam por todos os lados. Porém, havia um que era mais alto que lhe chamou a atenção. Aproximou-se cuidadosamente e apontava seu dedo para todos os lados. Uma das habilidades de Iksio era controlar a água como condutora de maru mágica, podendo exercer determinadas funções, conforme a sua vontade, desde que ele use o dialeto certo: a escrita mágica – a língua da forma-pensamento. Ele estava se lembrando de suas pesquisas como multibiólogo, quando adentrou uma densa floresta de cores vivas que brilhavam ao passar dele. Iksio chegou perto do monte sentindo que havia um ser vivo ali. Apontou o dedo e escreveu no ar: “Percepção” – dando-lhe maior capacidade de sentir o fluxo de maru ao seu redor. Ele circundou mentalmente o monte e descobriu onde estava o animal...

...

            O mesmo que havia acontecido com Iksio aconteceu com Pilares, o assaltante, sendo que ele usou o pano copiador para evitar a queda direta e planou para mais longe. O teslarniano aterrissou em um lugar mais aberto, com mais máquinas de coleta, o que permitia chegar ao chão. Ele andou um pouco, sabia que estaria muito longe dos outros e tentou permanecer a vista, até que encontrou alguém do planeta e decidiu falar com ele. No entanto, lembrou-se que não poderia dizer que estaria ali para salvar a população como Senhor de Castelo. Resolveu fingir que havia sido levado para lá por engano, junto com o lixo que via cair do céu ao longe por máquinas flutuadoras:
            – O senhor poderia me ajudar? – Pilares agia dissimuladamente.
            – Uhhh... – o homem de pele esverdeada estava de costa e virou-se para ele. – Fome! Fome!!!
            – Desculpe, eu não tenho muito... – Pilares sentia que não estava num bom lugar. – Só trouxe comigo algumas provisões e...
            – Fome... Fome! Fome!!! – Pilares tirou tudo que tinha de comida nos bolsos e jogou para o sujeito, afastando-se.
            O homem pegou os pacotes e começou a mordê-los sem se importar com o papel da embalagem. Pilares estava andando com atenção redobrada para trás, a cada mordida que o sujeito dava naquela miséria de comida. Então ele esbarrou em algo que estava bem atrás dele. Olhando, viu alguém muito parecido com o homem que estava se alimentando a sua frente, com um cheiro forte que ultrapassava o filtro de ar da suit espacial. O enjôo fez ele se ajoelhar, o outro sujeito tentou agarrá-lo e ele conseguiu fugir. Os dois sujeitos diziam as mesmas palavras, na mesma entonação. Outros também começaram a aparecer pelo caminho e Pilares decidiu subir nos entulhos, pois seria mais seguro ficar num lugar onde os famintos não teriam a mesma agilidade que ele. Grandes barulhos surgiam de algum lugar no lixão, então Pilares viu Iksio passar correndo pelos famintos e tentou avisá-lo de que estava ali:
            – Iksio! Ei! Eu estou aqui! – ele acenava freneticamente com as mãos para sinalizar sua localização.
– Desculpe-me! Não tenho tempo para falar! – e o multibiólogo continuava correndo.

...

            Nerítico, o ultraquímico, também havia pousado em segurança em algum lugar daquele amontoado de lixo. Ele mandou o capacete de volta para a jóia e do bracelete no pulso tirou uma pílula rosada que mastigou tanto quanto pode e começou a inflar uma bola. Tirou outra pílula, azulada, mastigou um pouco menos e voltou a inflar a bola, desta vez com maior velocidade, atingindo o tamanho ideal para ricocheteá-lo para cima quando chegasse ao chão. Depois disso, a bolha estourou e ele chegou ao chão são e salvo. O que para ele era um verdadeiro alívio, nunca havia testado aquele método incomum de pousar e estava muito satisfeito com o desempenho dos compostos que havia desenvolvido:
            – Ainda bem que eu não uso materiais de segunda! – disse, recolocando magicamente o capacete.
            – Moço, você veio do céu? – uma moça com uma máscara de gás que cobria o rosto, deveria ter uns dezoito anos, olhava para o ser que havia caído do nada e que tinha olhos engraçados.
            – Ahn... – Nerítico pensava no que falar, enquanto verificava os indicadores de ar e via que os mostradores tóxicos estavam altos. Os óculos de proteção o incomodavam e a abertura para passar as mãos por dentro da roupa não lhe permitiam mexer neles. – Poderia me levar a um lugar onde eu poderia respirar melhor? Meu nome é Nerítico, e o seu?
            – Meu nome é Darla, pode vir comigo, eu moro numa vila aqui perto... – o Senhor de Castelo sorriu para a moça de rosto desconhecido, só não sabia se debaixo daquela máscara a moça lhe retribuíra da mesma forma.
            Andando pelo caminho, numa encruzilhada, Iksio passou correndo pelo caminho transversal ao de Nerítico. O Senhor de Castelo tentou chamar-lhe a atenção, mas fora em vão, o ultraquímico já estava longe. De repente, algo gigantesco passou na sua frente em grande velocidade, sendo difícil visualizar a coisa direito, mas que parecia um monte de lixo ambulante:
            – Era seu amigo? – a moça notou que Nerítico tentou falar com o homem estranho que estava correndo. Podia se ouvir bem a respiração da moça através da máscara de gás, que continuava inalterada.
            – Era... Mas, que coisa enorme era aquela?! – Nerítico demonstrava estar realmente espantado com a coisa.
            – É melhor desistir dele... Ele já deve estar morto agora...
            – ...! – a moça continuou a caminhada e Nerítico foi atrás dela. – Certo...
            Ainda assim, Nerítico olhava preocupado para o longo caminho pensando no castelar de Arthúa com grande pesar.

...

            Na correria de Iksio, o Senhor de Castelo só conseguia pensar em uma coisa:
            – Da próxima vez que eu me lembrar daquela sensação, eu vou sair correndo da boca do monstro!!!
...

terça-feira, 31 de julho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 03


Planeta Sem Nome


            Ferus estava caído, no meio de vários destroços do que parecia ser uma nave estelar, vestido com uma suit espacial. Acordando, sentia sua cabeça doendo:
            – O que foi que aconteceu... Ah, é mesmo! Chegamos a algum lugar na floresta e encontramos essa nave que voa pelo espaço e... – o machucado na cabeça voltou a doer, fazendo-o por a mão no local. – Dimios! Onde ele está?!
            O jovem procurou pelos outros castelares naquele lugar imenso, cheio de lixo e ferro velho. Por todos os lados, onde quer que a vista alcançasse, havia entulho. O capacete de vidro que tinha um formato globular estava quebrado, Ferus sentia o cheiro de gases tóxicos e ferrugem forte penetrarem as suas narinas e irritar seus olhos. Sua garganta estava engasgando e sentia ficar cada vez mais ofegante. A vista estava ficando nublada e finalmente desmaiou uns cinquenta metros depois. Em suas lembranças, apareciam as imagens da corrida que os Senhores de Castelo tiveram antes de entrar naquela nave tão incomum...
...

            Um jovem castelar em sua primeira missão, Ferus sentia um calor em seu peito, uma empolgação tão grande que não se cabia em si. Além de tudo, ele fitava a imagem do parceiro castelar que ia a sua frente e que por algum motivo, ele queria provar que poderia ser útil. A possibilidade de voltar para a ilha de Ev’ve, reclamar com o conselho sobre a atitude de Dimios e deixar a missão para lá passava insistentemente pela sua cabeça. No entanto, aprendera que decisões precisam ser tomadas e que mostrar que se é capaz é algo muito importante. Ao mesmo tempo em que sentia a brisa no rosto que a sua velocidade provocava lhe vinha a imagem de seu rei, seu ídolo. Assim, disse para consigo:
            – Serei alguém tão bom quanto o meu senhor. – voltou-se de volta para o caminho e prosseguiu.
            A frente, algo estranho começava a surgir na floresta, lembrava um conjunto de torres enormes, cobertas por placas que iam de cima abaixo. Ao lado, uma estrutura armada que formava uma escada até a parte superior daquelas torres. Ferus viu Dimios parado na base da escada, esperando que os outros chegassem e então ele perguntou:
            – O que é isso? – seu pescoço mal conseguia se envergar para ver o topo daquela estrutura.
            – Uma nave estelar... – disse secamente, admirando a coisa ao invés de dar mais atenção ao parceiro.
            – E pra que serve? Não podemos tomar um navio boreal como se costuma fazer?
            – Não podemos... Para onde vamos, as vias dos mares boreais são politicamente proibidas aos Senhores de Castelo.
            – Um planeta fora do alcance da Ordem... – Ferus estava pensativo. – Qual deles?
            – O planeta sem nome...
            – A Irmandade Cósmica! Então é verdade... Como eles também fazem parte da aliança do multiverso, tem total liberdade em vetar a entrada de qualquer um em seus planetas territoriais.
            – Nossa missão será resgatar o povo que está preso no planeta que a Irmandade dominou no início da ordem castelar e assegurar que os sobreviventes fiquem a salvo em outro lugar.
            – Mas não podemos usar os mares boreais... Vamos ter que tirá-los do planeta... Por fora!
            – ... – Dimios ficou em silêncio por algum tempo. – Se os outros não chegarem em alguns minutos iremos partir sem eles...
            – ...! – Ferus continuava sem entender a atitude arrogante de Dimios. – Qual é o seu problema?! Essa sua atitude já está me enchendo! Porque não podemos esperar um pouco? Eles estavam bem atrás de mim e...
            – E nada! Esta é uma missão suicida, com noventa e nove por cento de chance de morrermos...
            – ... – Ferus ficou gelado.
            – A Irmandade Cósmica é mais antiga que a Ordem dos Senhores de Castelo. Seus conhecimentos e poderes são superiores aos de qualquer castelar. Eles dominam planetas do primeiro quadrante e os tomam para si de acordo com as leis da Aliança. O que fazem ou deixam de fazer é sempre encoberto. Se agirmos nos planetas que pertencem a eles sem a permissão, a Ordem dos Senhores de Castelo pode ser prejudicada e perder o direito ao livre acesso dos mares boreais em alguns universos. Nunca foi fácil manter um complexo como o conselho e a academia. Os relacionamentos políticos com planetas que pertencem ao território de outras organizações não são fáceis, principalmente com uma que considera os Senhores de Castelo uma ameaça. Não podemos si quer mencionar que somos Senhores de Castelo, pois há o risco da Aliança achar que é plausível que sejam feitas as retaliações e uma nova guerra contra os Senhores de Castelo estourar... Todos entenderam?
            – Ahn? – Ferus olhou ao redor e percebeu que todos já haviam chegado.
            – Entendido! – disseram Pilares e Nerítico. O primeiro estava camuflado no chão, misturando-se perfeitamente ao ambiente e o segundo estava dependurado na estrutura da escada, com as pernas no ar.
            – Afirmativo! – falaram Westem e Iksio. Um estava no topo da nave, sem saber por onde descer e o outro havia se metamorfoseado numa poça de água, voltando ao formato original.
            – Só falta você... – Dimios lançou seu olhar gélido sobre Ferus.
            – Eu vou... – o olhar dele denunciava a raiva que tentava conter.
            Todos eles se dirigiram para o topo da escadaria, Dimios foi na frente e abriu a escotilha. Dentro da nave estelar havia seis lugares, era um pouco apertado, mas todos couberam perfeitamente. Na frente de cada assento havia painéis de controle e em cima deles, um colar com uma jóia amarela contendo as suits de sobrevivência. Ao comando de Dimios, todos ativaram os colares e as roupas se projetaram em seus corpos se ajustando perfeitamente, inclusive os capacetes globulares de vidro, que mesmo numa cabeça tão grande quanto a de Westem, tinha servido como uma luva. O sistema de respiração foi inserido posteriormente pelo banco, dando um pouco de angustia por alguns segundos. Junto ao oxigênio, havia um pouco de gás do sono que fez com que os Senhores de Castelo dormissem, entrando em estado de hibernação. A nave deu ignição sozinha e partiu.
            A viagem seguiria calmamente até o planeta sem nome... Não fosse o sistema de defesa do planeta estar ativo. Todos os sistemas se desligaram e os Senhores de Castelo acordaram no susto, presos somente pelo sinto enquanto o choque com o planeta era inevitável. Eles sentiam a falta de ar e tentaram se libertar. Ferus ativou o sistema automático de seu cilindro de armeiro que entrou no sistema da nave e conseguiu reativá-lo e liberar os tripulantes dos assentos. Dimios usou a garra de Sartel e fez um buraco na estrutura, aumentando ainda mais a pressão, ainda assim saltando para fora. Westem, Iksio, Pilares e Nerítico seguiram ele, Ferus ficou para trás soltando o seu cilindro do sistema. Pouco antes da nave cair, Ferus conseguiu sair, no entanto, foi afetado pela explosão...

...

            – Aaah! – Ferus voltou a si gritando. – Onde estou? Que lugar é esse? – o Senhor de Castelo sentia o frio lhe incomodando.
            – Você está na minha casa, criança...
            Ferus olhava para uma senhora velha, enrugada, corcunda, com um nariz aquilino que se sobressaía no rosto deformado que permanecia debaixo da penumbra do lugar. Então o jovem castelar se deu conta de que estava sozinho com uma estranha, desarmado e somente com as roupas debaixo...

...

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 02


Desembarque



            A nave boreal atravessou o portão dos mares boreais e chegou a um planeta que os Senhores de Castelo que estavam a bordo não conheciam. O céu era azulado, as matas eram verdes e os ecossistemas estavam todos harmônicos. Depois de meia hora, todos já estavam do lado de fora. Ferus descarregou sua bagagem, alguns suprimentos e ração de emergência que colocou num cinto de utilidades, e um tubo telescópico cheio de bugigangas que saiam por todos os lados quando ele apertava seus botões. O bárbaro Westem achou o aparato engraçado e foi conversar com o jovem castelar que apertou um botão para retrair os dispositivos e recolher a parte estendida do cilindro:
            – O que é isso garoto? – o sorriso do velho continuava amigável.
            – É um cilindro de armeiro. Um laboratório portátil que me possibilita fazer pesquisas, me conectar com outras máquinas e, é claro, produzir armas.
            – Legal o seu brinquedinho... – Ferus ficou um pouco envergonhado. Como ele poderia pensar que aquilo era um brinquedo?
            – Heh, fui eu que montei... Não tem muita tecnologia em Newho e como eu adoro esses apetrechos, os novos laboratórios da Ordem vieram a calhar perfeitamente. – Ferus retribuiu a atenção sorrindo de volta, o que deixou Westem muito feliz.
            – Quando a gente terminar esta missão, eu vou te levar pra conhecer um bar muito interessante no universo sessenta e nove... – Westem começou a cochichar. – Não conta pro Iksio, ele não gosta de promiscuidades ou seja lá como ele fala sobre sair com garotas bonitas e... Bem, aproveitar! Sabe do que eu estou falando, não?
            –... – Ferus ficou enrubescido com a proposta. – Cl... Claro!
            – Ótimo, você paga!
            – O quê?! – Ferus se assustou com a barganha repentina.
            – Você não espera que eu te mostre um lugar proibido no multiverso e ainda tenha que pagar, não é? – Westem cutucava o jovem castelar com o cotovelo.
            – Certo... Eu acho... – o armeiro ficou confuso. – Hun... Quem vai ler os objetivos da missão? De acordo com o regulamento das missões em grupo, alguém deve liderar e passar as informações para o resto do pessoal, estou certo?
            – É o Capitão que está com os pergaminhos secretos... Veja! Ele está vindo.
            Descendo a comporta, um Capitão baixinho curvado de pele verde com sinais de velhice avançada vinha acompanhado de sua comissária, a mapeadora boreal Elítia – uma moça humanóide de corpo muito esguio, pernas e braços muito longos, pele leitosa, rosto pouco expressivo de olhos miúdos, que andava lentamente ao seu lado, quase flutuando. O velho senhor tossia e resmungava muito, provavelmente por estar com alguma doença crônica. Elítia se abaixou e entregou ao Capitão um pergaminho que trazia numa caixa de vidro que se desmaterializou com o toque, liberando o conteúdo. Ele olhou o papel de um lado, olhou de outro, revirou e tresvirou. Com um pouco de impaciência e cuidado, Elítia sugeriu ao velho Capitão que usasse os óculos. O velho senhor recusou, não precisava deles:
            – O que está escrito, Capitão Sores? – Dimios, com seu ar de poucos amigos, se colocou a frente de todos.
            – Tome! – ele estendeu o pergaminho para o Senhor de Castelo. – Você é o líder!
            Ele virou-se de volta para a nave e subiu. Os outros cinco estranharam a atitude abrupta e queriam respostas:
            – O que está escrito? – indagou Nerítico, o ultraquímico.
            – Vamos, leia para nós! – exigiu Pilares, o assaltante.
            – ...! – Dimios olhou para eles com desprezo, o que aparentemente foi percebido por todos, acalmando os ânimos. – Nada...
            – Como nada?! – o bárbaro já estava perdendo a paciência. – Fomos mandados aqui para uma missão!
            – Sigam-me, ou voltem para a ilha... – Dimios enrolou o pergaminho e se pôs a correr, entrando na floresta densa sem mais explicações.
            – Esse daí não foi com a nossa cara... – Westem reclamava da atitude de Dimios, até reparar que Ferus estava se alongando. – O que você está fazendo?
            – Vamos apostar corrida? – o jovem estava animado.
            – Não sabemos aonde devemos ir... Ei! – Ferus não tardou em ir atrás de Dimios.
            – Eu é que não vou ficar aqui! – Pilares lançou uma bomba de fumaça no chão e desapareceu.
            – Você não vai ganhar de mim, seu canalha! – Nerítico apertou o bracelete que tinha no braço e duas pílulas caíram na sua mão. Ele as molhou com um pouco de água e uma substância amarela pastosa se expandiu. Ela foi colocada em suas botas e permitiu ao ultraquímico sair pulando dez metros de altura floresta adentro.
            – Só ficamos nós... Dois?! – o bárbaro tentava encontrar o parceiro de pele azul, sem encontrá-lo. – Que droga! Vocês não respeitam mais os mais velhos!
            Westem olhou para a floresta, tirou da cintura uma corda mágica que se expandiu e laçou um árvore alta de madeira bem flexível, envergando-a completamente. Saltou para cima dela e soltou a ponta que a prendia no chão, sendo lançado a uma grande distância:
            –Yahoo! Não esperem por mim, eu esperarei por vocês!

...

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 01

Página de Diário


Iniciando gravação...

            Nave de infiltração, mares boreais, cabine dos passageiros:

            “Pelos deuses! Como estou muito ansioso! Esta é a minha primeira missão como Senhor de Castelo! Parece que eu e mais outro cinco seremos mandados para um planeta novo. Mal consigo segurar o meu coração, ele está palpitando tanto que parece que vai sair pela boca!” – alguém manda o novo castelar falar mais baixo. Ele se desculpa e continua a gravação: “Desculpem-me, ainda não conheço os novos companheiros, acho que nunca os vi antes apesar de ser ávido para conhecer os mestres castelares...”
            Um dos cinco aparentando ser o mais velho se levanta e fala com o jovem:
            – Ei, garoto?! Quantos anos você tem?
            – E... Eu?! – ele engoliu a seco ao ver o homem fazê-lo ficar debaixo de sua sombra. – Eu, senhor?
            – Sim... Estou falando com você...
            – De... Dezessete, senhor!
            – Só isso? Bem, meu nome é Westem, tenho 134 anos, sou um guerreiro bárbaro do planeta Gálion. Pode deixar que eu arrebento todo mundo! – o grandão parecia ser de confiança apesar de estar pouco vestido e levar um capacete com chifres na cabeça.
            – Meu nome é Férus... – Ele finalmente conseguiu respirar aliviado. – Sou um Senhor de Castelo armeiro... De Newho...
            – Ei, pessoal, vejam só! Ele é de Newho! – o velho guerreiro chamou a atenção de todos, interrompendo o jovem castelar.
            Outros três se aproximaram para conhecer melhor o novo Senhor de Castelo que era do mesmo planeta que o grande pistoleiro Thagir:
            – É sério?! – Ferus balançou a cabeça positivamente, sem conseguir falar, sentindo-se intimidado pelos outros três veteranos. – Eu sou Pilares, assaltante natural de Teslar. Nasci no deserto e sou especializado em ataques furtivos e certeiros. Acerto qualquer coisa com as minhas facas.
            Este Senhor de Castelo tinha pele morena, cabelos claros e usava uma bandana para cobrir a cabeça.
            – Pilares!!! – irritou-se um ao seu lado. – Deixe o garoto falar! Ficar se gabando desse jeito não vai adiantar nada!
            – Poxa, Nerítico... O moleque é de Newho! Sempre quis saber se eles realmente são tão capazes quanto dizem!
            – Você não toma jeito! Sempre querendo arranjar desafios desmedidos! Fique quieto que a gente ganha mais... Hun... – Nerítico limpou a garganta se ajustando para ser cordial. – Como meu parceiro já disse, meu nome é Nerítico. Como pode perceber pelo meu jaleco branco, sou um ultraquímico, especialista em compostos químicos, além de ter inventado o soro de cura...
            – Sabia! Você também queria se mostrar! – Pilares interrompeu Nerítico bruscamente. – Depois fica falando de mim...
            – E o que você tem pra falar?! Nada! Você fica tagarelando mais do que qualquer um que eu já tenha visto no multiverso!
            – Ora, seu! – Pilares pulou no pescoço de Nerítico.
            – Me solte seu arruaceiro!
            Apesar da briga, o terceiro dos outros três, que vestia uma suit de sobrevivência preta típica de mergulhadores de grandes profundezas se aproximou. Sua pele era azul escamosa, com dois pequenos orifícios na garganta, um de cada lado, não tinha nariz; no alto da cabeça havia barbatanas que se eriçaram levemente, demonstrando deixá-lo atento as coisas ao redor. Logo ele começou a falar:
            – Perdoe nossos amigos, caro Senhor de Castelo, eles nunca sabem se comportar devidamente. Meu nome é Iksio, sou do planeta Arthúa e como pode ver pela minha aparência excêntrica, meu povo adora ficar debaixo d’água e aproveitar os quatro quintos de oceano que cobrem o planeta. Tornei-me Senhor de Castelo para viajar pelo multiverso e conhecer novas espécies de seres vivos, pois sou um multibiólogo, estudo todos os tipos de vida do multiverso.
            – Essa é boa, aparência excêntrica! Hahaha... – Westem ria da maneira muito recatada do outro Senhor de Castelo.
            – Meu caro amigo, porque toda essa excitação exagerada? Estou simplesmente relatando ao novo castelar a aparência impar que apresento.
            – Heh... Passam-se anos e você não muda nunca peixinho fora do aquário! – Iksio não aparentava se importar com o deboche.
            – Então, vocês são parceiros castelares, certo? – perguntou Ferus.
            – E como! – disse o grande bárbaro de cabelos ruivos puxando os fios da barba desgrenhada evidenciando estar orgulhoso de si. – Já desafiamos meio multiverso para ajudar planetas e reinos em perigo!
            – Meu caro Westem, mal lutamos em cem missões e você já quer que tenhamos conhecido meio multiverso?
            – O que é isso parceiro? Já passamos por noventa e nove missões bem sucedidas. A centésima está no papo!
            – Desculpe-me interromper-lhe, mas creio que o jovem castelar Ferus tem outra dúvida em mente... Pode continuar, por favor. – seu tom era bem convidativo.
            – Os outros dois que estão no chão também são parceiros, certo? – Ferus estava novamente intimidado.
            – Sim, são. – Respondeu Iksio polidamente. – Qual o interesse em saber se somos parceiros? Todos os castelares só participam de missões em duplas.
            – Heh, bem... Eu ainda não fui apresentado ao meu parceiro...
            – O quê?! – falaram os quatro ao mesmo tempo. Mesmo os dois que estavam brigando pararam para ouvir a resposta do jovem castelar.
            – Eh... Bem... – Ferus estava se sentindo envergonhado por ele parecer desleixado em não saber quem era seu parceiro.
            – Creio que você deve estar falando do guerreiro Dimios de Zínio... – Iksio apontou para o último castelar na cabine de passageiros.
            Ferus olhou para o fundo e reparou no homem que estava ali. Sua aparência era triste e vaga. Deveria ter uns vinte e cinco anos, tinha cabelos castanhos e curtos, olhava para os mares boreais pela janela sem nem ao menos perceber a confusão que se fazia ali. Ele trajava uma grande capa preta que cobria o corpo e uma das mãos, a outra estava sustentando o queixo. Dimios se acomodou um pouco para mudar de posição e a outra mão ficou descoberta, deixando Ferus afoito:
            – Isso é... Isso é.... Isso é a Garra de Sartel! – os Senhores de Castelo não reconheceram a arma  de Dimios.
            – O que é isso baixinho? – perguntou o bárbaro.
            Ferus se aproximou de Dimios com os olhos brilhando, como se tivesse encontrado uma grande maravilha do multiverso:
            – Essa é simplesmente a melhor de todas as armas já produzidas pelo grande armeiro Sartel de Armiger. Ela é feita de uma liga especial que une jóias de maru com metais de hipercondução, chamada de maru metálica pelo seu criador, e que pode gerar maru mágica, elétrica e sônica com mais facilidade que qualquer jóia de maru já produzida. É simplesmente um trabalho artesanal de uma vida! Seu misterioso segredo foi perdido quando Sartel morreu e não existe outra no multiverso! – Ferus estava completamente emocionado.
            Dimios olhou para Ferus e lançou-lhe um olhar de desprezo, escondeu a mão debaixo da capa e voltou a olhar para a janela. O jovem castelar se sentiu acuado:
            – Mas... O que deu nele?
            – Não se preocupe com ele, meu caro Senhor de Castelo. – interveio Iksio. – Dimios carrega consigo uma das mais tristes histórias de um Senhor de Castelo.
– E qual é? – perguntou inocentemente.
– Ele viu seu parceiro morrer na sua frente e ele não pode fazer nada...
            – ...! – Ferus virou-se de volta para o castelar solitário.
            A indagação era longa, Ferus não sabia se tentava se aproximar ou se deixava pra lá, até ser interrompido pelo alto-falante que anunciou a chegada dos guerreiros ao novo planeta:
            – Atenção, chegaremos a qualquer momento, posicionem-se nos seus lugares que logo estaremos saindo dos mares boreais.
            Ferus e os outros quatro voltaram aos seus lugares sem mais conversas. A dúvida permanecia na cabeça do jovem castelar: o que ele deveria fazer? Eles eram parceiros... Ou não eram?

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Prólogo


Eu odeio a guerra



Texto enviado em partes ao Conselho de Nopporn no terceiro milênio do calendário dos Senhores de Castelo, datando de alguns anos depois da grande batalha sombria.

...

Primeiro fragmento: “Já fui rei, já tive nações ao meu comando, já enfrentei inimigos miseráveis, cruéis e perturbados... e vi pessoas morrendo por mim. Eu me odeio por isso, não pude fazer nada para salvá-los...”

“Quando perdi tudo e acordei para a realidade, me vi desejando que um simples pedaço de terra fosse o suficiente para gerar comida para toda uma nação...”

...

Segundo fragmento: “Meu planeta possui uma rota nos mares boreais que qualquer grande império desejaria ter ao seu comando, uma rota de comércio precioso que só gera perturbações e guerra atrás de guerra, batalha atrás de batalha. Não me lembro de um único ano de meu reinado onde os rios vermelhos e a chuva de cadáveres não tenham se feito presente no cotidiano de meu amado povo.”

“Numa batalha derradeira, meu reino foi tomado pela Irmandade Cósmica... Vi meus principais súditos serem queimados nessa maldita luz cósmica que eles dizem purificar o espírito, libertando a alma de todos os pecados que se cometeu. Eu não acredito nisso...”

 “Passados alguns anos perambulando pelas vastas terras, após ter escapado da Irmandade, tentei me estabelecer em um pequeno povoado que fica longe dos portões boreais e que antigamente o meu exército evitava a todo custo que participasse das matanças irracionais que os planetas vizinhos insistiam em ter para com o nosso humilde lar. Eles viviam felizes, me alegrei por algum tempo com isso. Dava até para sentir que a vida valia à pena. Trabalhei no campo, senti o poder vital que a terra tinha. Era como se ela estivesse viva! Os anciões do povoado gostaram de mim e me ensinaram o poder da maru, o poder de estar conectado com a alma de tudo, a energia que faz tudo existir e que sempre usaram para manter as colheitas perfeitas. Não sei se o poder respondeu ao meu sangue real, ou a minha vontade de livrar todo o meu povo das mãos da Irmandade Cósmica, só sei que eles me disseram que eu poderia ser o escolhido e que nunca viram tamanha conexão com o plano transversal. Eu podia ver os elementais com clareza... Foi aí que o vento trouxe aos meus ouvidos a desconcertante notícia de que as minhas crianças estavam sendo objeto de experiências medonhas.”

“Não havia como ficar parado, eu tinha que enfrentar a Irmandade Cósmica de um jeito ou de outro, eles não podiam continuar a abusar da natureza e das pessoas como se tudo o que fizessem estivesse simplesmente certo. Orei para a alma do mundo e pedi-lhe que me ajudasse a livrar o planeta dessa raça de hereges que enganam o multiverso com a sua falsa verdade. Eu tentei...”

“De alguma forma os malditos fizeram o inimaginável, eu estava lá, lutando bravamente para chegar o mais perto que podia do Grande Irmão que lidera a seita e, quando percebi, ele apenas me tocou com um único dedo e pude ver o meu próprio corpo cair no chão, inerte... Eles arrancaram a minha alma do lugar!”

...

Terceiro fragmento: “Eu não sei como ainda posso estar consciente e continuar a escrever esta mensagem... Espero que este novo grupo especial de combate chamado de Senhores de Castelo de que ouvir falar possa um dia salvar o meu pequeno planeta, a minha terra natal.”

...

 Quarto fragmento: “Passado alguns anos, eu os vi construírem grandes prédios que subiam até o céu e a formarem zonas infindáveis de lixo que as suas cidades iam produzindo, deixando do lado de fora os classificados como descartáveis. No centro da antiga capital de meu reino, onde ficava meu lindo castelo, eles ergueram três cidades, a de baixo – com prédios pequenos de até trezentos metros; a de cima – que possuía mais de mil e quinhentos metros de altura e no topo dos edifícios uma grande plataforma que os unia, formando uma cidade completamente diferente da inferior; e por fim a indescritível Cidade Aérea – tudo que sei é que ela possui uma coluna como base, ela é tão alta que as nuvens impedem qualquer um de enxergá-la. Com isso, em apenas alguns anos, as construções mirabolantes dominaram tudo e a natureza, antes tão vivaz e que iluminava as minhas manhãs com algum alento, estava completamente morta.”

“Percebi que a Irmandade Cósmica tomara de assalto um planeta próximo que era habitado por robôs, conhecidos como a Legião Parafuso. Originalmente sua programação permitia conviver com qualquer ser vivo e extrair matéria-prima de qualquer lugar sem prejudicar ninguém, esperando o tempo certo das podas. Coletavam minerais sem modificar a paisagem, tudo em perfeita harmonia com o meio ambiente. Agora eles são escravos usados para matar os intrusos e dissecar completamente os recursos naturais do planeta. Só os deuses sabem o quanto a Irmandade Cósmica é ruim...”

...

Quinto fragmento: “Soube que a Ordem dos Senhores de Castelo mapeou parte do multiverso e que definia os planetas conforme a magia, a tecnologia e outros aspectos de desenvolvimento. Creio que o meu planeta era do primeiro quadrante enquanto eu reinava, despontando alguma influência mágica. Sob o poder opressivo da Irmandade, ele com certeza tornou-se uma potência do quarto quadrante. O poder bélico impede que nave alguma entre na orbita do planeta sem ser identificada, pois será sumariamente abatida se prosseguir sem maiores explicações. Meu mundo está fechado para visitas...”

...

Sexto fragmento: “Ouvi dizer que os Senhores de Castelo expulsaram a Irmandade Cósmica de alguns planetas, espero que um dia eles possam vencer a maldita Luz Cósmica que corrompe os corações do meu amado povo.”

“Por favor, se alguém estiver lendo estas mensagens, avise os Senhores de Castelo, meu mundo precisa de ajuda...”

...

A data que o texto indicava de quando fora feito era do ano quarenta e sete do mesmo calendário castelar...

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Em breve! Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim

      É com muito prazer que anuncio que o lançamento da primeira parte da nova fanzine desde autor que vos se apresenta esta confirmada! Contando uma nova história sobre os Senhores de Castelo! Heheh, eu não sei como, mas as histórias sempre tomam o caminho que querem! Diferente do apresentado pelos autores originais do livro de Crônicas dos Senhores de Castelo (que já lançaram o segundo livro da série, uhuh!), esta história é mais cyberpunk, contando a história da missão secreta de seis Senhores de Castelo para salvar a população do planeta sem nome, que é dominado pela Irmandade Cósmica e completamente devastado pela extração de seus recursos naturais, sendo largamente utilizado como depósito de lixo e núcleo industrial. Posso não prometer muito, gostar da história depende sempre dos leitores, mas acredito que vocês não ficarão indiferentes com as preocupações apresentadas na história - nosso mundo esconde, em algum lugar, coisas que vocês meramente imaginam...
      Acompanhem comigo esta história, não deixem de comentar, você poderá mudar o rumo dos acontecimento e ajudar os personagens a sobreviver a inumanidade da Luz Cósmica!
     Em breve, aqui, neste blog: O Filho do Fim. Não percam!


A Cidade Baixa
Um dos cenários do 'Filho do Fim'.
Quem vê esta imagem, não imagina de onde ela vem...

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Gatos, gatos e mais gatos! III

     Continuando mais uma vez com estas imagens maravigatas que encontro nas redes sociais e que acrecento um pouco de humor da Toca dos Gatos para completar o divertimento. Quer mais? Vem pro meu face! :)





025 – WTF! O.O Gurei, te acharam! -_-'





026 – Gurei ou Sasha... eis a questão... -_-'






027 – Viu no que dá ficar bebendo com o Sasha?! -_-'






028 – Akai, o que aconteceu, eu filho? ç.ç





029 – Neko, resumo de beleza e estilo! -_- Sim, sim...
Obs.: Esse é o Dark. :)



030 – Nekos... Como não amá-los? ^^






031 – Eu disse pra você que o Sasha podia ajudar Gurei... -_-'




032 – Claro que é, neko do kokoro... ^^'
(Gurei, vc colocou aquilo direitinho? ¬¬ )






033 – É assim mesmo que o Gurei faz quando Lady Neko olha pra ele... -_-'






034 – Menino sai daí! Senão, Akai, eu não deixo mais vc usar o pc! -_-'

terça-feira, 17 de julho de 2012

Devil's Drink 20 - A Caixa


A Caixa



            Um marceneiro. Um homem de vinte e poucos anos que mal sabe manipular as grandes máquinas cortadoras, mas que aprendeu a fazer algumas coisas com a madeira encontrada na rua, que qualquer um acha melhor descartar por não ter mais utilidade e que ele simplesmente as torna útil de novo. Fazer caixas é o que ele mais faz. Não que ele goste, é o que os outros, os familiares pedem que ele faça... de graça. Ele não sabe se eles vão pagar ou não, se um dia ele poderá fazer as caixas de maneira menos tosca, o que ele sabe é que, mesmo sendo um escritor e adorar livros, literatura, fantasia, quadrinhos... Ele faz caixas. O senso de realidade se perdeu.

            Na cabeça do marceneiro, ele tinha a preocupação do que por em uma daquelas caixas que ele havia feito para outra pessoa e que ficara para ele pela caixa ter estrago no meio da confecção. A caixa possui uma tranca de cadeado, mas o que guardar tão bem lá dentro? Seus sentimentos não poderiam ser, não amava ninguém e ninguém o amava, vivia só em um mundo que ele mesmo criara. Pensamentos, então? Talvez, se ele pudesse achar que eles servissem para algum propósito ainda desconhecido por ele e que são irrelevantes agora. ‘Objetos físicos?’ pensou ele, por fim. ‘Não. Não há nada de valor nesse mundo para mim que caiba numa caixa tão pequena’, disse respondendo a si mesmo. A busca continuava...

            Foi então que ele percebeu que só restava uma última coisa a colocar naquela caixa: a esperança. A esperança de algum dia ter algo para colocar numa caixa vazia...

            Ele abriu a caixa, olhou para dentro dela, de olhar fixo no seu fundo escuro diferente do resto da caixa. Deu um último suspiro e procurou se lembrar daquilo que tinha vontade de colocar na caixa. As ideias que lhe viam eram de ter um país melhor, um país de verdade, um país em que pudesse confiar e que no meio de uma guerra, seja política ou da sobrevivência, ele pudesse lutar e se sentir merecedor do título pátrio que recebera ao nascer. Sonhava também que um dia colocasse na caixa o seu coração, preenchido por uma paixão que lhe dissesse que a vida valera à pena. Quem um houvesse de ter sentido no corpo o calor de outro corpo, uma sintonia sem igual que o fazia chorar de puro contentamento. Alguém que ele tinha certeza que nunca apareceria em sua vida. Um sonho quebrado que nunca seria concertado e que ele tinha certeza que se alguém recolhesse os cacos, seria para triturá-los de vez...

            Pensando mais um pouco, colocou lá no fundo da caixa, escondido sobre as outras esperanças, a sua inocência e bondade. Acreditar no mundo? Por mais que seu coração lhe implorasse por piedade, que eles não sabiam o que estavam fazendo, ele era fraco demais para conseguir resistir à força da sociedade que deixa de lado tudo aquilo que você fez certo na sua vida, mas que por um erro, um único erro, te massacra por ser culpado, mesmo quando errar é humano. Para fazer parte da sociedade você não pode errar, você nunca pode errar. Errar é uma facada fria nas costas que te faz subir o sangue pela boca e aos poucos destrói a sua ingenuidade que morre nos seus braços. Viver se tornar algo sério, pesado, impossível de suportar, tudo porque você errou uma única vez. Seu erro, que ele queria esconder dentro da caixa, era ter nascido...

            Colocou também dentro da caixa a sua frustração como pessoal. Ele não era a pessoas que queria ser, ele não era o filho que queria ser, ele não era o irmão que queria ser, ele não era o familiar que queria ser, ele não é o amigo que queria ser, ele não era o profissional que queria ser... Em sua mente, ele era inútil e se ele era inútil, ele era desnecessário, dinheiro que seus pais poderiam ter gasto com uma casa própria, com a faculdade dos irmãos, com a felicidade que ele nunca pode ter contribuído. Além disso, colocou por fim as suas lágrimas, o pranto que ninguém ouviu ou se importou em perceber. Ele não estava satisfeito consigo mesmo e não queria se permitir estar, só assim para se sentir justo consigo.

            Olhou para a caixa de madeira e chorou diante dela. Ele a fecharia para sempre e assim o fez. Baixou a tampa e passou o cadeado. Deixava ali uma data, até o final do ano, menos de seis meses, se algo não mudasse em sua vida ele destruiria todos os sonhos que estavam fora da caixa. Abandonaria seus textos e se entregaria à marcenaria, fazendo caixas e mais caixas. Apenas caixas.

            Com um cordão azul, ele amarrou a chave do cadeado no pescoço e decidiu que o levaria para onde fosse. A caixa estava trancada com suas esperanças dentro e ficara com a chave para se lembrar que elas estavam lá. No rosto, levaria um sorriso que não era dele; na cabeça, teria pensamentos que não eram dele e procuraria fazer coisas que ele não queria fazer. Guardou a caixa em um lugar alto e falou para si mesmo:

            – A vida é assim, um dia você cresce e não sabe porque existem sonhos...

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Devil’s Drink 19 – Preciso de ajuda


Devil’s Drink 19 – Preciso de ajuda



            En’hain não estava muito bem, seus sentimentos estavam confusos... Eram aquilo sentimentos de verdade? Essa era a pergunta que ele estava se fazendo naqueles dias tumultuados de sua cabeça. O bar precisava de alguém mais responsável, talvez? Ou seria uma das partes que constituíam o plano etéreo ou material que se digladiavam dentro dele, o dragão da terra e o dragão do céu. Sua personalidade estava sendo consumida a cada vez que ele precisava assumir o corpo metálico – com certeza a batalha travada dentro dele deixava marcas profundas e violentas em seu frágil ser.

            Ele tentava ater-se aos sentimentos que o seu coração lhe dizia, o carinho que tinha por Akai, a amizade com Gurei, Sasha e Lady Neko e a sensação estranha quando se encontrava com o Senhor Gunshin, o dono do bar. Mesmo assim, dia após dia, algum problema lhe virava a cabeça e tirava-o do sério, estressando En’hain tremendamente. Enfim, sua consciência acabou apagando. Os outros mal teriam percebido isso, não fosse a garrafa de Devil’s Drink que se espatifou no chão. O barman cambaleou, tentou se segurar nas prateleiras cheias de garrafas e foi ao chão, derrubando tudo em que se segurara. Naquela noite o bar não iria abrir...

            Lady Neko foi até o templo dos gatos chamar o vovô para que pudesse ajudar En’hain. Enquanto isso, Akai e Gurei ficavam observando o amigo e Sasha limpava a bagunça:

            –Acho que ele vai morrer... – Disse o neko russo com seu típico humor ácido e inconveniente.

            –...! – Akai olhou pra ele com desprezo. – En’hain vai ficar bem, seu babaca!

            –Tem certeza Santiago? – O gato cinza sorria com um ar de cínico.

            –Certeza absoluta, Alexander! – O pequeno neko falava com firmeza.

            –Depois dele tanto ter cuidado de nós e da vila, nós nem notamos que ele estava ficando doente... – Agora seu tom era mais amigável.

            –... – Gurei conseguiu fazer Akai ficar calado e desviar o olhar.

            Indignado consigo mesmo, o gatinho avermelhado saiu do quarto e foi se meter no meio da floresta do silêncio. Gurei assistiu aquilo com muita curiosidade:

            –O que será que o seu amiguinho foi aprontar, En’hain?

            O barman não podia responder com clareza, mas balbuciava algo:

            –Akai... Akai... Akai... – No canto dos olhos, pequenas lágrimas escorriam.

...

            Não dava para saber se En’hain ficaria bem ou se Akai voltaria para o bar. A partir de agora, o destino da Toca dos Gatos se tornou incerto...

...

            “Onde estão, onde se escondem os verdadeiros sentimentos? A noção de realidade foi completamente perdida!” – Alguém chorava no velório.