quarta-feira, 13 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Um ser de Ébano renasce



“A única coisa de que me arrependo, é de nunca ter sido amado...”

...
            Thagir e Kullat saíram do Labirinto Virtual e logo foram transportados repentinamente para a Estrela Escura onde o arauto do Mestre Caçador estava. De volta ao salão do centro de energia do colosso espacial, os castelares observavam os doze Caçadores Sombrios, seis de um lado, seis do outro, todos com as mãos para trás e o rosto baixo. O mago estava no chão, não se movera, estava com um ar estranho, estático e imóvel. Ao se aproximarem, notaram que no chão estava uma imensa poça de sangue e um fluido negro que gotejava constantemente do Ilusionista, o grande observador atrás do arauto. Isso preocupava os Senhores de Castelo, o que eles fariam agora que o arauto estava morto? Uma voz que trovejava por todo o salão quebrou o silêncio:
            –Me entreguem a espada!!!
            –Quem disse isso?! – Indagou Kullat
            –Creio que este seja o Mestre Caçador... – Thagir continuava com o olhar fixo na direção do mago.
            –Huuunnnhuuunnnhuuunnnnhuuunnn... Huuunnnhuuunnnhuuunnnnhuuunnn... – Os Senhores de Castelo reconheceram o som daquele dia em que haviam chegado à ilha de Ev’ve.
            –Quem é você, mostre-se! – Exigiu o pistoleiro de Newho.
            –Eu... Sou... Ébano!!! – O grande grimório usado pelo arauto flutuava no ar ainda aberto e se fechou, na capa um grande olho observava os dois castelares.
            –Então era aí que você estava esse tempo todo! Realmente, eu ainda não havia desconfiado de um objeto... – Thagir parecia despreocupado.
            –O que é isso? – Perguntou Kullat.
            –Este... Esta coisa é... Um comedor de sonhos...
            –Mas, eles não estão presos na dimensão do meio? Para que serve a espada e toda essa movimentação de corpos e estrelas?
            –Huuunnn... Como pode ver, estou preso e com a espada do infinito poderei finalmente sair!!! – Aquilo ecoava estrondosamente.
            A vibração da espada estava no máximo e foi puxada para fora da estrela junto com o livro. Todos os Caçadores Sombrios recitavam as mesmas palavras antigas compelidos por uma força externa anormal que Kullat e Thagir também sentiam. Os antigos chamam essa energia de “O coro de anjos”, dezenas, centenas, milhares, milhões de seres recitando o mesmo cântico. Os reféns deviam estar sobre a influência do livro. Quando essa melodia começou a tocar, as Estrelas Escuras finalmente se iluminaram, vibravam em uníssono, junto à ilha de Ev’ve. Era agora, o tempo e o espaço estavam se rasgando e a dimensão do meio se abriu. De dentro da fenda, uma massa disforme e escura tentava se por para fora aos poucos. O que fazer? As armas haviam acabado, o canhão de potência estava com a bateria gasta depois de tantos tiros, o novo cajado de Jord não poderia ir contra um ser capaz de comer a realidade. Algo horrível estava saindo e iria começar a devorar o multiverso! Thagir se concentrava e tentava lembrar-se daquele dia em Newho, ele estava esquecendo-se de algo e sentia que sua memória estava voltando. Olhou para todos os caçadores e reconheceu algo familiar:
            –Dânima! – Thagir estava livre do feitiço. – Meu amor, acorde!
            O Senhor de Castelo estava parado diante da grande arqueira dos Caçadores Sombrio, que não se movimentava:
            –Thagir, você tem certeza, ela não se parece com a sua esposa...
            –Eu sei que é ela... Naquele dia, ela era o segundo Caçador!
            Kullat estava incrédulo:
–Como poderia ser? Dânima nunca faria uma coisa dessas! Ela nem é guerreira!
–Meu amigo, ela é de Newho! Veja isso... – Thagir tirou a parte da roupa de couro que cobria o rosto, mostrando algo incomum.
–Isto é... – Kullat se aproximou para ver. – Uma tatuagem fantasma!
–Sim, tudo está fazendo sentido agora! É assim que o comedor de sonhos controla os Caçadores Sombrios. Deixe me ver... – Thagir sussurrou algo no ouvido da esposa e a tatuagem desapareceu, fazendo a rainha de Newho desmaiar, caindo nos braços de seu marido.
–O que você fez?
–Durante a luta que tivemos no alto da torre do castelo de Newho, fomos surpreendidos por uma pequena boneca de cachinhos dourados...
–Aquela usada por Inok, certo?
–Certíssimo! Dânima não se mexia diante dela e eu aproveitei para derrubá-la sem maiores esforços. Para meu espanto, aquela boneca medonha começou a falar uma única palavra repetidas vezes: “Dentro, dentro, dentro”...
–Dentro da boneca?
–Isso mesmo! Dentro dela havia um papel e uma jóia. Quando tentei ler o que estava escrito, as letras passaram para a minha mão e subiram, direto para a minha mente! É isso! Os Caçadores Sombrios estavam mandando uma mensagem, nela dizia sobre N’quamor, o contra-feitiço para a tatuagem fantasma e...
–E o que mais homem?! Não podemos perder tempo, o multiverso está sendo desintegrado lá fora!
–Dânima sabe o que precisamos fazer, ela precisa acordar! Acorde meu bem! Acorde! – A rainha não respondia. – Eu te amo...
Como um sopro de vida, as palavras de Thagir ecoaram nos ouvidos de Dânima, despertando-a de seu sono:
–Ahn? O quê? Onde estou? Thagir? Você está chorando? – A esposa passou carinhosamente a mão na barba de seu marido que a apertava fortemente, e ele segurou em sua mão em sinal de resposta.
–Dânima, meu amor, nós precisamos agir! – Thagir ajudava sua bela esposa a se levantar enquanto ela ia retomando a figura serena que o povo de Newho tanto amava.
–Sim, estou me lembrando... Precisamos dar corda nas engrenagens do arauto!
–Fruto da magia e da tecnologia... – Thagir olhava para Kullat, tentando diminuir seu espanto.
Os três se aproximaram do arauto e lhe tiraram a capa que cobria o corpo, mostrando um peito feito de vidro, completamente preenchido por rodas dentadas da mais fina espécie, delicadas e frágeis como flocos de neve. No lugar do coração havia um relógio, havia marcações de ano, mês, dia, hora, minutos e segundos; com uma inscrição por debaixo dos ponteiros: “A única coisa de que me arrependo, é de nunca ter sido amado...”. Dânima olhava para o mecanismo tentando se lembrar do que devia fazer e começou a contar ao marido o que havia acontecido quando fora sequestrada:
–Me lembro de estar com nossas filhas, eu estava bordando e elas lendo alguns livros. De uma hora para outra estávamos num lugar diferente, que parecia um grande cilindro onde cabia quilômetros de chão, florestas e rios... – Thagir prestava atenção na esposa. – Todos que conheço em Newho estavam lá, como éramos prisioneiras importantes, fomos levadas para outro lugar, onde conheci o arauto...
–Continue querida, você está indo muito bem... – Thagir tentava animar a esposa.
–Ele era gentil, nunca nos obrigou a nada... Mas um dia o livro disse que me queria, e o arauto se revoltou contra ele. O livro desregulou seu suporte de vida como retaliação e o deixou sofrendo no meio do chão, quase sem respirar. Ele disse que não queria ser visto naquele estado, eu insisti e me aproximei; e pude ouvir algumas notas musicais que me lembraram aquela velha canção que sua mãe cantava para nossas filhas. – Dânima começou a sussurrar a velha canção, tentando se lembrar, Thagir então pegou em sua mão suavemente e começou a acompanhá-la...
Aquela bela canção parecia surtir efeito, as engrenagens reagiam, se movimentando aos poucos. O arauto abriu os olhos:
–Sistemas em baixa... Tempo de funcionamento acabando... A espada do infinito não serve para destruir, apenas para criar... Ébano possui inteligência... Ébano não possui coração... Vão atrás de Kullat...
Os reis de Newho perceberam que o Senhor de Castelo de Oririn não estava mais com eles:
–Kullat!!! – Thagir gritou furioso.
–Meu amor, vá atrás dele... Eu vou ficar bem.
Thagir olhou para Dânima no fundo dos olhos e tirou um pedaço de papel do bolso, o mesmo que estava dentro da boneca, e entregou a ela:
–Cuide de nossas filhas... – Thagir ia sair e se lembrou de mais uma coisa. – Nunca mais vou me esquecer disso.
E os dois se beijaram, com a mais bela das ternuras, um amor verdadeiro, cuidado com requintes do destino, onde as duas almas, em qualquer lugar do multiverso em que estivessem, se encontrariam novamente para serem, de novo, uma...
...

Transmissão continua...

terça-feira, 12 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Luta e Sobrevivência


            Rigaht havia ficado louco, invocou um dos mais terríveis monstros já conhecidos: o Gaiagon. Apesar de aquela ser uma forma infante e incompleta, seu tremendo poder danificou seriamente as estruturas da árvore de aço, abrindo um rombo na construção. Lutar contra aquele devorador estava fora de questão...
            As duplas se separaram durante a fuga, caminhando por caminhos diferentes rumo ao topo. Thagir havia conseguido atirar no Nogaiag, o que surtiu grande efeito, fazendo-o cair, deixando-a ferida e raivosa na base da árvore. Descer não era mais opcional...
            Kullat pode proteger o amigo com seu poder de maru mágica que os envolveu, protegendo-os do ataque iminente. Infelizmente, o castelar branco fora seriamente ferido, perdendo muito sangue. O pistoleiro conseguiu estancar o sangramento com alguma erva mágica que lhe restava e pôs se a levar o amigo nas costas, subindo pela árvore, mesmo estando num estado tão pior quanto aquele – devia ter alguma costela quebrada, várias escoriações, os ouvidos não ouviam bem. Era como se ele fosse apenas uma máquina agora, agindo por impulso, andando apenas para tentar garantir a sobrevivência daqueles que amava. Não havia como pensar no futuro, no passado, ou no presente, sua única necessidade era para com a espada do infinito.
A mais de três mil metros de altura, a vibração da espada do infinito já podia ser sentida, um alento para um guerreiro cansado. Subindo o próximo lance de escadas, Thagir viu uma porta, disparou contra ela sua última munição e atravessou-a. Diante dele, o último andar, o topo da árvore de aço, um imenso chão de mais de um milhão de metros quadrados. Atrás dele um parapeito que dava para uma queda de morte certa, diante dele, no alto, uma esfera de energia quente e suave que brilhava como uma estrela e do lado oposto a porta por onde saíra havia outra porta. Não tinha certeza se conseguia ver direito, mas era o que parecia, ela estava aberta e, fraco como estava, poderia ser alvo fácil para os Caçadores. Thagir sorriu um pouco, lembrou-se do que o inimigo havia dito: “Ordem dos Caçadores Sombrios, imagine isso, uma ordem que não a dos Senhores de Castelo!”, pensava ele consigo. Ele olhou para Kullat que continuava dormindo, inconsciente daquela visão de um céu estrelado – ou que imitasse um – com uma estrela tão perto deles. Thagir levantou outra vez o amigo nos ombros e continuou andando, ainda havia um longo pedaço de chão para chegar ao centro do lugar.
Subitamente ele sentiu o chão tremer, estava atento para qualquer coisa que acontecesse e sentiu se levemente estranho quando o tremor parou. Olhou para cima e percebeu o que tinha acontecido, mais um andar tinha sido integrado à árvore de aço, deixando a espada do infinito mais próxima. Dando mais um passo, finalmente os adversários apareceram:
            –Hunhun... – Fez Rigaht caminhando uns poucos passos na direção dos Senhores de Castelo. – Vocês não têm uma proteção tão eficiente contra o Nogaiag... Provavelmente do seu lado do multiverso, vocês nem sabem onde eles estão!
            Os olhos do caçador estavam diferentes, muito mais distorcidos e loucos que antes. Thagir também havia notado outra coisa, que o caçador havia se apresentado sozinho e indagou:
            –Onde está o seu companheiro? Porque ele não aparece? Estou desarmado... – E pôs Kullat no chão para mostrar o consentimento.
            –Você realmente quer saber? – Seu sorriso malicioso se completava com o olhar demente. – Ele está bem aqui!
            O caçador se virou e Thagir pode ver que aquilo estava passando dos limites:
            –Isso é impossível!!! Como?!
            –Muito simples... Este é o efeito daquela droga! Hahaha... – A sanidade o abandonara completamente.
            Aquela cena era difícil de entender:
–Por que vocês fariam uma coisa dessas, juntar os dois corpos num só? – Perguntou Thagir.
–Somos mais poderosos assim... Veja! – O novo ser usava as manoplas de Droj, os braceletes das jóias de Rakardnal, o olho de Rudaht e trouxe para si o centro gravitacional de Droj que o orbitava, arremessando-o por cima dos outros prédios do labirinto.
A força era descomunal, nenhum dos enormes prédios resistia a toda aquela força combinada. Thagir não sabia o que fazer, deveria esperar pelo pior? Morrer com honra? Perder tudo contra uma aberração daquelas? Ele ficou parado, sem fazer nada, buscando em si alguma força que pudesse fazer sentido:
–Não está surpreso?! Espere para ver o que vou fazer com vocês! – O monstro caçador começou a caminhar na direção dos dois, rachando o chão ao seu redor, retorcendo os metais.
Naquele momento, Thagir só conseguia se lembrar do pai, daquele momento em que fora salvo do monstro do armário, vendo aquela imagem com perfeição. Sentia-se como se o rei Primir estivesse lhe dando algo como presente. A jóia de Landrakar reagiu a esse sentimento e liberou algo que estava travado nela há muito tempo:
–Este é... O canhão de potência! – Thagir estava maravilhado com a imagem daquela bela arma se materializando em seu braço que tinha uma pequena inscrição: Para meu filho. – Obrigado pai...
Com lágrimas nos olhos o pistoleiro levantou o canhão pesado e ativou a mira automática que logo que estava com carga máxima disparou contra o monstro. Seus poderes psíquicos desviaram o raio, evitando o choque, no entanto, ele foi arrastado uns dez metros. O monstro caçador bufava e transpirava indignação, estourando todo o chão ao seu redor que logo seria arremessado contra o Senhor de Castelo:
–Sabe o que eu mais adoro nessa belezinha? Ela recarrega muito rápido! – E disparou o segundo tiro que ultrapassou os pedaços de metal e novamente repelido pelo mutante que foi jogado para trás mais vinte metros.
–Otidlam!!! – O centro de gravidade parou no meio do ar e caiu no chão, o poder do caçador sobre ele havia cessado. – Argh!!! Ah!!! Hugh!!!
O caçador estava se contorcendo em dor, depois de ter usado tanto poder a mutação que unia os dois caçadores estava se tornando instável. Como Rigaht era a consciência dominante, era ele quem sofria mais, os circuitos internos que faziam parte das próteses eletrônicas de Talluk estavam sendo rejeitadas. A criatura vomitava os próprio órgãos. Thagir se preparou e disparou o terceiro tiro que fez a criatura voar uns duzentos metros para trás:
–Você não vai conseguir me derrotar... – O rosto do caçador se contorcia de diversas formas. – Oãrecelaverp serodaçac so!!!
–Você perdeu a luta quando quis tomar aquela droga... – E Thagir disparou o tiro final.
A criatura conseguiu se defender mais uma vez, sendo arrastada até a beirada da árvore, ficando dependurada. Ela tentava se segurando aqui e ali, porém, seus braços perdiam a rigidez e escorregavam. Lá em baixo, tremores repercutiam por toda a árvore, fazendo Thagir sorrir pelo canto da boca:
–Acho que o seu bichinho está com fome...
Mais um tremor e a criatura disforme despencou os mais de três quilômetros de altura direto na boca do faminto Nogaiag. Thagir relaxou, ajoelhando-se sobre as pernas e olhou para a jóia de Landrakar:
–Então era por isso que o limite dessa jóia era tão inferior a minha... – Kullat começou a acordar. – Kullat, você está bem?
–Acho que sim... – O castelar branco se levantava com a mão na cabeça.
–Meu amigo, nós conseguimos... – Thagir sorria aliviado.
Com os dois guerreiros de Curanaã e Oririn juntos, a espada do infinito reconheceu a sua vitória e desceu para perto deles. Ela mantinha grande intensidade luminosa e vibrações revigorantes que trouxeram de volta a força e o vigor dos Senhores de Castelo. Sua forma eram dois longos filetes de metal prateado puro e polido, refletindo a imagem ao seu redor como um espelho, e se entrelaçavam em espirais na empunhadura:
–Agora só nos falta encontrar o verdadeiro Mestre Caçador...

...

Transmissão continua...

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios

Os Inversos Rigaht e Talluk



            O guerreiro de casaca vermelha continuava a manipular a mente de Kullat, invadindo o seu maior desgosto, o seu maior medo. Thagir, desnorteado, tateava para se aproximar o suficiente do inimigo para conseguir mirar com mais perfeição e não atingir o companheiro por engano:
            –Kullat! Acorda!!! – Thagir gritou e o castelar reagiu, tomando novamente a aura espectral que sempre o cobre nos combates.
            –...! – O cavaleiro branco puxou sua espada do chão e golpeou certeiramente o adversário no braço, afastando-o.
            –Mob... Vocês oãs extraordinários. – Rigaht falava de maneira inversa e na língua dos castelares ao mesmo tempo. – Isso foi apenas o começo!
            Da ferida de Rigaht larvas típicas de carne podre brotavam aos montes, enojando os Senhores de Castelo e curando sua ferida exposta. O paranormal liberou sua fumaça pela boca que logo o envolveu e inibiu a visão de Kullat, evitando que ele prosseguisse com o ataque. Talluk, que havia se escondido nas paredes da árvore de aço, ampliou o campo de alta vibração e tentou prender Thagir ao chão. O pistoleiro sentiu que o solo se desmanchava aos seus pés e deu um salto para evitar que fosse absorvido. Como o adversário estava perto, seu sentido aguçado conseguiu detectá-lo, então ele enfiou um dos bastões de combate com tudo na parede. Um gemido de dor e desprazer pode ser ouvido pelo andar. Thagir já conseguia ver melhor e foi para perto de Kullat:
            –Você está bem? – Perguntou o castelar de Newho.
            –Só meu orgulho foi ferido... E seus olhos, como estão? – Kullat retribuiu a atenção.
            –Melhores, já consigo enxergar, apesar da minha cabeça doer muito. – Thagir esfregava os olhos tentando agilizar a recuperação.
            –Pelo jeito vai ser um pouco difícil passar por eles...
            Os inversos se colocaram lado a lado na outra extremidade do andar da árvore. Talluk pegou duas coisinhas pequenas no bolso e deu uma para Rigaht, os Senhores de Castelo se indignaram com a cena:
            –Drogas?! Vocês usam drogas para lutar?! Lutem por sua própria honra!– Gritou Thagir querendo ter uma batalha mais digna.
            –Calado! – Respondeu Rigaht. – Não temos medo de lutar por nossa sobrevivência, isso ainda vai demorar a fazer efeito... Enquanto isso, por que não discutem com o meu Cão do Inferno!
            O inverso de Thagir finalmente havia usado a jóia de um dos seus braceletes, invocando uma grande fera, parecida com Mandíbula, o canino gigante, porém negra, fétida, de olhos vermelhos fumegantes com feridas por todo o corpo que rosnava raivosamente. O pistoleiro se lembrou que não conseguia converter maru orgânica para colocar na jóia de Landrakar e que ela era muito visada por pistoleiros por ser muito útil na hora de carregar objetos inorgânicos, a habilidade incomum de converter aquele tipo de maru era muito interessante:
            –É assim que você usa a jóia de Landrakar? – Perguntou Thagir.
            –As jóias de Rakardnal são muito raras... Seu poder de guardar seres vivos é muito útil quando se quer acabar com alguém sem deixar rastros, é por isso que tenho todas as cinco! – Seu tom era de gozação, pois sabia que o Senhor de Castelo tinha grande estima por dividir o poder das poucas jóias com o irmão, uma vez que só haviam mais três; pois Thagir destruíra a que era sua voluntariamente e só restaram a que está com ele, que era de seu pai e que fora roubada e reencontrada por ele, e outras duas de paradeiro ainda desconhecido.
            –Miserável! O que você quer dizer com isso?! – Thagir não queria acreditar na possibilidade que lhe passava pela cabeça.
            –Thagir, acalme-se, ele está tentando te desconcentrar...
            –Hahaha... – O inverso gargalhou profundamente. – Ataque Cão do Inferno!!!
            A fera foi para cima dos castelares e Thagir, para se defender, sacou novamente seu rifle e deu um tiro certeiro na cabeça da fera que voou para trás, caindo de costas. Ele estava apreensivo, sabia que aquele monstro não seria fácil de derrotar. E foi o que aconteceu: os mesmos vermes antes vistos em Rigaht brotavam do interior do animal convulsivamente, restaurando sua forma original. Rapidamente ele se pós de pé e foi com lentidão se aproximando novamente dos Senhores de Castelo, se dividindo em dois!
            Kullat temia que aquilo acontecesse, a fera diante dele era muito parecida com o guardião que encontrara na caverna dentro da montanha de Yaa, a mãe de todas as fadas, no planeta natal de Laryssa. Suas faixas se inflamaram em chamas brancas e pôs a suas mãos no chão que começou a se incendiar. As feras perceberam e pulavam de um lado ao outro a caminho dos alvos evitando serem atingidas. A que foi atacar Kullat, recebeu uma grande quantidade de maru de um golpe no dorso, ela caiu e o cavaleiro fincou-lhe a espada nas costelas prendendo-a ao chão, terminando de ser queimada. Thagir também deu um jeito de se livrar da fera que estava em seu encalço, usando uma nova munição da jóia de Landrakar no rifle que ardeu em chamas a fera com um único tiro. Apesar do impacto que as ofensivas tiveram, elas continuaram rosnando no meio de suas fogueiras:
            –Agora quem se irritou fui eu! – Kullat estava emanando maru descontroladamente e invocou o novo cajado de Jord, postando-se para o combate.
            Thagir confiou no amigo e tirou da jóia de Landrakar uma pistola incomum de cano largo, que misturava a carga de uma jóia de maru no tambor com a emissão de ondas continuas de uma arma binaliana:
            –Pelo jeito, você também se divertiu com as novas invenções do laboratório da Academia? – Thagir apenas sorriu em resposta ao amigo, enquanto mirava com atenção; o tiro tinha que ser preciso, pois aquela era apenas uma arma experimental.
            –Zev ahnim! – Talluk ficou a frente e seu peito mecânico se abriu, liberando uma esfera negra, divida pelo meio por uma faixa que brilhava em diversas cores. – Conheçam o centro gravitacional de Droj!
            –Isso está ficando cada vez melhor! – Rigaht estava ensandecido com tanta determinação. – Também quero que conheçam o meu melhor monstro!
            O inverso juntou as duas jóias dos braceletes nos pulsos, que deveriam ser iguais, e uma força sombria começou a dominar o local, um campo de força de maru vermelha e violeta se formava com grande intensidade à frente dele. Aquilo pulsava, se debatia, esperneava... Queria sair a qualquer custo! Os Senhores de Castelo estavam apreensivos, o que poderia ser aquilo? E então surgiu um ser enorme de pele tão branca que as veias azuis transpareciam vivamente o sangue que era bombeado, tinha olhos por todo o corpo, com dois pares de apêndices nas costas que lembravam asas ao se dobrarem para trás. Toda a árvore de aço estava tremendo ao sentir o imenso poder daquele criatura de feições infantis e terríveis! Aquilo era definitivamente intenso e poderoso:
            –Vejam o meu Nogaiag!!! Hahaha...

...

Transmissão continua...

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


A Árvore de Aço



            Um prédio, um edifício, uma mega morada... A Árvore de Aço é um complexo que se autoconstrói, andar após andar, infinitamente. É algo inorgânico, inanimado e gigantesco em pleno movimento de criação, se expandindo para cima, buscando uma saída de sobrevivência, sugando nutrientes do solo... Como uma verdadeira árvore.

...

            Kullat e Thagir entraram pela base e foram subindo por onde podiam. Às vezes era uma escada, outras um elevador e ainda era possível utilizar plataformas voadoras. Nem sempre os andares poderiam ser considerados andares, uma vez que poderiam ter centenas de metros de altura. Na verdade, todo o interior parecia com veias, sulcos e nós de um grande tronco, usar uma seção ou outra sempre levaria para o mesmo lugar, para cima ou para baixo.
            Então, de repente, esferas negras voaram na direção dos castelares, que explodiram, denunciando o novo encontro com os inversos. Os outros seres que também estavam no labirinto começaram a discutir:
            –Atoidi ues! Uorre êcov! – O que reclamava parecia com Thagir, alto, magro, vestia roupas pesadas e uma longa casaca vermelha com algumas placas de proteção localizadas estrategicamente; tinha os cabelos esbranquiçados com uma barba cerrada de tons levemente verdes e olhos diferentes um do outro – um era azul claro e o outro, que tinha uma cicatriz vertical ao redor de cima a baixo, era completamente laranja.
            –Ocitétap é euq êcov! Rednefed es arp éta amra amu rahnupme ed odem snet! – O outro lembrava Kullat, alto, forte, de olhos verdes e cabelos brancos levemente escurecidos nas têmporas; usava um manto negro e manoplas grandes e pesadas em ambas as mãos, além de possuir apetrechos eletrônicos pelo resto do corpo.
            Os Senhores de Castelo aproveitaram para contra atacar, Kullat lançou esferas de maru concentradas e Thagir usou duas pistolas de tiro rápido, esvaziando o tambor que logo fora recarregado pela jóia de Landrakar:
            –Sodaçargsed! Rudnaht ed ohlo od redop o matnis! – O que parecia com Thagir estava controlando o espaço ao seu redor, bloqueando os tiros e as explosões com eficiência e lançou alguns pedaços do andar da árvore de aço contra os Senhores de Castelo.
            Kullat bloqueou o ataque com um escudo de maru azulada e Thagir sacou da jóia de Landrakar um rifle mais potente que explodiu os destroços pelos ares:
            –Sotidlam seraletsac!
            –Rigaht! Onalp um ed somasicerp, es-emlaca... – O outro, parecido com Kullat, levantou as duas mãos e atirou fortes raios-lasers na direção dos oponentes, sem atingi-los, apenas levantando poeira.
            Vendo que os inversos não estavam mais no local, Thagir e Kullat conversaram um pouco:
            –O Thagir inverso me parece mais radical... – Disse Kullat.
            –Também achei o Kullat inverso um pouco ruim de mira... – Thagir estava pesando em algo.
            –Me parece que eles não têm noção do que estão fazendo... – Continuou Kullat.
            –Sim, eles parecem jovens adolescentes... Talvez eles não tenham a mesma idade que nós... – Prosseguiu Thagir, usando a dedução. – Ou a mesma experiência. Precisamos de mais informações...
            –Certo... E como está o coração de Thandur? – Kullat se lembrara de como o artefato deixava o amigo exausto.
            –Está melhor do que antes. Aparentemente não há diferença entre as marus e ele consegue funcionar sem problemas. No entanto, creio que seu poder esteja funcionando pela metade, o alcance da minha percepção está muito limitado, só consigo enxergar uns poucos metros a frente com perfeição. Além disso, fica tudo borrado...
            –Também sinto que a minha maru está estável e enfraquecida. – Kullat invocou uma espada de seu manto branco. – Devemos prosseguir no combate direto, teremos mais chances de passar na frente deles.
            –Concordo... – Thagir guardou as armas na jóia e tirou os bastões de combate de Newho. – Vamos em frente, não temos tempo pra ficar aqui esperando que a espada do infinito venha até nós.

...

            Os dois inversos discutiam de novo:
            –Sodal so sodot rop sabmob oreuq ue! – Disse Rigaht, o inverso de Thagir.
            –Raregaxe somedop oãn! Oirássecen o etnemos rasu euq somet. – Ponderou seriamente Talluk, o inverso de Kullat.
            –Ossi êd em! – Rigaht tomou a cartucheira cheia de mini bombas das mãos do outro e jogou todas pelo chão.
            –Iuqad rias somav. Ramra es oãv áj sabmob sa.
            –Ogimoc exied. Otser o oçaf ue.

            –Ies...
...

            Os Senhores de Castelo estavam atentos as armadilhas dos inimigos e evitaram as bombas, passando longe delas. Kullat estava pensativo e queria saber o que Thagir tinha em mente:

            –Vamos apenas passar. – Respondeu simplesmente.

            –Sinto algo estranho no ar, eles não estão para brincadeiras.

            Rigaht apareceu e lançou mais pedaços da árvore de aço contra os castelares, no que eles reagiram se desviando com habilidade:

            –Soirbmos Serodaçac sod Medro alep! Maçerapased! – Rigaht levantou vários destroços de uma vez e os comprimiu numa grande esfera, lançando-a contra os Senhores de Castelo. – Ossi memot!

            Kullat teve de se desviar com mais cautela, lançando um golpe de espada que faiscou contra a esfera. Thagir estava desconfiado do outro oponente que não aparecia com frequência e prosseguiu para perto de Rigaht. O castelar sentiu o tempo desacelerar como costuma sentir, sem, no entanto, usar o poder do coração de Thandur. Talluk apareceu e jogou um explosivo luminoso que deixaria seu inimigo parcialmente cego, ele estava dentro da parede, mesclado a ela através de algum aparelho desconhecido que emitia uma grande quantidade de energia. O cavaleiro branco foi para a linha de frente para ajudar o amigo, mas o inverso de poderes psíquicos esperava por isso e lançou seu campo de pesadelos que afetou Kullat, deixando-o semi paralisado no chão, largando a espada:

            –O que vejo! – Rigaht, falava normalmente para que seu poder tivesse mais influência sobre o alvo. – Um garotinho, um pobre garotinho andando por ruas cheias de gente, sem ninguém para ajudá-lo.  Sem os pais por perto, ele estava com fome, pedia a quem passasse que lhe desse um pouco de comida e era amargamente ignorado. Olha só, um ladrão sai correndo da loja que acabara de roubar e tromba com a criança deixando-a com o furto em suas pequenas mãos. Hun... ela foi presa!

            –Kullat! O que está acontecendo?! Do que ele está falando? – Gritou Thagir não sabendo exatamente o que acontecia por eles estarem fora do seu alcance paranormal.

            –Alguém está entrando na cela... Não é um guarda... Alguém alto, muito magro, careca, de roupas vermelhas... Ele está oferecendo algo para a criança... Ela aceitou e os dois saíram da cadeia juntos!

            –Kullat!!!

...

Transmissão continua...

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


O Labirinto Virtual



            Vasto como o infinito, essa era a definição mais precisa do labirinto. Paredes com centenas de metros, quilômetros atrás de quilômetros de vias tortuosas, aquele era o verdadeiro inferno, não havia nada lá além de passagem atrás de passagem. Não havia nada vivo lá, o silêncio é tão grande que qualquer movimento do corpo era um ruído ensurdecedor. Levar a loucura... Esse é o objetivo do labirinto! Pois, quem quer que adentre nele para tentar roubar algo ou mesmo que chegasse lá por engano teria sua sanidade drenada a cada passo. Alguém, em algum lugar uma vez disse: “Só sabemos quem somos, porque não somo os outros com quem convivemos”. Isso queria dizer que se alguém vivesse completamente sozinho, longe de qualquer movimento da existência, se tornaria nada!
            Kullat e Thagir chegaram ao labirinto em pontos distintos, muito longe um do outro. Começaram a andar e andaram durante horas a fio, gritaram para tentar ouvir alguma resposta. Nada. Usaram suas armas e poderes para tentar ter alguma pista do que fazer. Novamente, nada. Kullat estava sem muitas forças, mas Thagir estava pior. Toda vez que tentava tirar um cochilo o poder do coração de Thandur tentava tomar-lhe a consciência, penetrando em seus sonhos. Ele estava cansado, estava há horas sem dormir. “Preferia não ter dado aquele energético para Laryssa”, pensou ele, “seria melhor tomá-lo agora”. A cabeça estava doendo, os olhos tentavam fechar e ficavam reabrindo, o coração palpitava se esforçando redobradamente para levar o sangue para o resto do corpo. Sinais crônicos de fadiga. O próximo sintoma seria:
            –Alucinações... Estou tendo alucinações... – Um vulto que lembrava alguém encapuzado passava diante dele na próxima esquina. – Espere!
            Seus gritos foram em vão, sempre quando chegava bem perto de encontrar o vulto, o corredor inteiro estava vazio. Não dava pra saber exatamente o que acontecia, estava tudo rodando em sua cabeça, perdera completamente a aguçada noção de sentido e já não percebia mais por quais caminhos ele havia passado, quais eram sem saída e não reconhecia a direita da esquerda. Thagir deu mais um passo e desmaiou. Em seu sonho perdido ele via a si mesmo, voltara à infância, era uma criança como qualquer outra, esquecida num castelo velho sem ninguém por perto. “Um dia ruim”, lembrou-se ele, “o dia em que conheci o monstro do meu quarto”. O Senhor de Castelo não tinha ideia do porque estava sozinho naquele momento de sua vida, foi apenas um dia ruim.
            Caminhando pelos jardins, ele começou a ouvir a voz de uma criança chamando-o para brincar. Olhando em volta, percebeu que era alguém do alto do castelo, na mesma janela de seu quarto. Puro e inocente subiu as escadas acinzentadas com aquele relampejo de felicidade infantil que não distingui o perigo das outras coisas. Curioso, foi entrando serelepe, parando somente quando a porta bateu com força atrás dele. Do armário subia uma fumaça de maru escura ao mesmo tempo em que ele tremia. Tomado pelo pavor, o jovem Thagir tentava desesperadamente abrir a porta chamando pela mãe. Subitamente aquilo parou e a porta continuava trancada. A criança se aproximou tomada pela curiosidade de saber se ainda havia algo lá dentro, indo devagar e calmamente por causa do desejo de sair correndo e, ao tentar abrir:
            –Aaaaaaaaaah! – Thagir gritou.
            –Thagir! Thagir! – Kullat balançava insistentemente o parceiro.
            –Ahn? O quê? – Thagir acordava de seu sonho ainda meio sonolento.
            –O que aconteceu? Você estava gritando!
            –Eu... Não me... Lembro direito. – Ele bateu no rosto tentando acordar. – Acho que eu vi algo...
            –E o que era?
            –...! – A dor continuava fazendo-o apertar as mãos contra a cabeça. – Lembrei!
            –Calma, diga com tranquilidade, o que você viu?
            –Um monstro...
            –...? – Kullat estranhou a nova conversa.
            –Era um ser deformado... Não tinha lábios ou pálpebras e o rosto estava cheio de cicatrizes. Ele me segurava pelo braço tentando me morder...
            –E o que aconteceu?
            –Ah... Lembro-me de meu pai entrar batendo com o pé na porta empunhando um canhão de maru de potência enorme que fritou a coisa em segundos! Heh, aquela beleza me fez ter certeza que eu queria ser pistoleiro!
            –Não me lembro de você ter me dito isso antes. – Kullat se sentiu mais calmo com o amigo, ele parecia normal.
            –Acho que eu ainda tenho medo daquela coisa...
            –Você?! Com medo?! Conte outra! Nunca conheci um guerreiro tão corajoso quanto você! – Kullat quase riu no fim da frase.
            –Bem, até um tempo atrás eu nem me lembrava disso. Engraçado, parece que esse lugar faz isso de propósito. – Thagir estava sorrindo. – Quem é você?!
            –Thagir, você está me assustando... – O pistoleiro sacou uma pistola e mirou no rosto de Kullat, a queima roupa.
            –Se tem uma coisa que eu considero abominável é entrar na mente das pessoas para manipulá-las... Eu vou repetir. – Thagir puxou o cão para trás, armando a pistola com um clique. – Quem é você?
            –Uirbocsed em êcov oãtne... – Ele gargalhou ruidosamente, liberando uma fumaça pela boca que inibiu a visão de Thagir. –Agora que entendo como você fala, vai ser muito mais fácil conseguir a espada do infinito!
            O Senhor de Castelo atirou na fumaça tentando acertá-lo, ela se dispersou e mesmo o corredor sendo longo, o inimigo não estava mais lá. Nem o coração de Thandur conseguia detectá-lo, sua velocidade fora realmente impressionante. Thagir guardou a pistola e se sentou no chão, escorado pela parede do labirinto:
            –Ainda bem que eu me conheço muito bem... – Thagir estava rindo de si mesmo. – Pena que não produzem mais daqueles canhões de potência, eu ainda quero um daqueles!
            Thagir ouviu passos ao longe e entrou em estado de alerta. Prosseguiu com a supervelocidade do verdadeiro coração de Thandur, sem exageros, até a próxima esquina do labirinto e tentou surpreender o novo inimigo:
            –Parado! – Thagir foi puxado e jogado contra a parede. – Droga! Essa doeu...
            –Thagir?! – Dessa vez era Kullat, o verdadeiro.
            –Nossa... – Thagir se recompôs. – Ainda bem que eu te conheço muito bem...
            –Como? – Kullat estranhou o que seu companheiro dizia enquanto estendia a mão para ajudá-lo.
            –Amigo, tenho más notícias... –Thagir contou a Kullat o que acontecera com ele, que os inversos já haviam feito contato e que eles poderiam estar em desvantagem.
            Os dois castelares estavam juntos de novo e o Labirinto Virtual reagiu a isso, modificando sua estrutura. As grandes curvas secas se tornaram longos corredores, entre os corredores, prédios surgiam e se formavam nas paredes. Eles eram altos, tão altos que não se podia ver seu fim, o pescoço não alcançava. Nas bases haviam pequenas aberturas retangulares do tamanho certo para um humano passar, todas sempre na mesma distância entre elas, cerca de cem metros. No fim do corredor havia um prédio diferente, gigantesco, metálico e que se erguia aos céus, rodeado de canos virados para lá e para cá, lembrando o caule de uma árvore:
            –Aquela deve ser a árvore de aço...
...

Transmissão continua...

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Confronto com o Mestre Caçador – 3ª parte



            “Tudun... Tudun... Tudun...”, o barulho de batimentos cardíacos havia voltado, mais alto do que antes e a caixa de música tinha parado completamente. Os tubos de alimentação do Ilusionista estavam sugando algo para dentro e o mesmo acontecia com os tubos ligados ao mago. Ele estava no chão, fraco, sangue escorria pela boca, pelos ouvidos, pelo nariz e pelos olhos, arfando de exaustão. Thagir e Kullat permaneciam em seus lugares para não serem alvos das flechas torcidas das arqueiras e muito menos causar qualquer dano aos milhares de reféns:
            –Thagir, o que há com ele? – Kullat tentou saber algo pelo estado de transe do amigo.
            –Eu não preciso usar o coração de Thandur para saber o que há com ele... – Thagir reparou no que Kullat queria. – Ele simplesmente está morrendo...
            –...! – Isso deixou Kullat ainda mais intrigado.
            –Só há uma pergunta que eu ainda preciso fazer arauto do Mestre Caçador. Por que você, com tanto poder, ainda nos mantém vivos? – Ao ouvir aquilo, Kullat esqueceu-se um pouco de sua raiva e reparou naquela questão.
            –Eu... – O mago se recompôs no meio do ar, ainda sujo com o sangue. – Preciso dos descendentes de Curanaã e Oririn para reaver a última chave da dimensão do meio.
            –Ela seria a espada do infinito, estou certo? – Perguntou Thagir.
            –Sim... Depois de algum tempo, suas energias ancestrais foram drenadas de Curanaã e Oririn pelos filhos da Grande Mãe e guardados num lugar inalcançável para que seres que não fossem de nenhum dos dois planetas... – Sua fala tinha um pouco de dificuldade por causa da dor. – Pudessem por as mãos nelas...
            –E onde é isso? – Continuou Thagir.
            –No Labirinto Virtual... Este aparato foi criado pela inteligência de uma nova deusa, filha da Grande Mãe... Para entrar no Labirinto virtual, toda a maru seria convertida numa maru neutra... Capaz de juntar maru positiva e maru negativa num único lugar... A espada do infinito só irá reagir a vocês dois, filhos de Curanaã e Oririn... Tragam na antes que vocês morram lá dentro...
            –E qual o desafio deste Labirinto? – Kullat se lembrava de ter sonhado ou possivelmente estado num lugar parecido com aquele.
            –Enfrentar os inversos...
            –O que é isso? – Thagir não tinha ideia de como seriam os seres do outro lado.
            –Eles são seus alteregos... No lado inacessível do multiverso é comum haverem seres muito parecidos com os deste lado... Normalmente aqueles que são bons aqui, são maus do outro lado... A regra não é sempre válida, mas há uma repetição que sempre ocorre...
            –E qual é?
            –Eles vão ser tão poderosos quanto vocês... De acordo com a profecia do meu mestre, o destino do multiverso estará nas mãos de vocês ou na deles... Aquele que perder não poderá voltar para o seu lado do multiverso...
            –... – Kullat e Thagir fizeram silêncio esperando saber como chegariam a esse lugar desconhecido.
            –Saiam e falem com Nopporn, ela abrirá o caminho para vocês...
            Os dois foram impelidos por uma grande força que os levou até a porta, de volta a ilha de Ev’ve. Kullat tinha quase certeza do que deveria ser feito:
            –Vamos até o farol, certo?
            –Sim, mas vamos precisar do Livro dos Dias...
            –Aquele que está na Academia, certo?
            –Não, precisamos do livro secreto que é mantido com os anciões. – Thagir mostrou uma runa verde que estava escondida em sua jóia de Landrakar.
            –As runas! – Kullat reparou que aquela relíquia pertencia ao ancião sequestrado. – Dá última vez que ouvi sobre os anciões eles estavam no farol de Nopporn!
            –Então é para lá que vamos... Ahn, Kullat?
            –Sim? Pode falar.
            –Poderia me dar uma carona até lá?
            –...! – Kullat sorriu. – Claro! Juntos até o final!
            Os Senhores de Castelo saíram voando entre os diversos prédios com a ajuda dos poderes de levitação de Kullat, atravessando as trevas que haviam dominado a ilha de Ev’ve.

...

            Chegando a grande torre do farol de Nopporn, a única torre ainda branca em toda a ilha, os Senhores de Castelo encontraram no salão da chama sagrada algo que não poderiam crer:
            –O que aconteceu com eles? – Kullat encarava os anciões que estavam completamente petrificados.
            –Presumo que devam estar em estado de animação suspensa. – Comentou Thagir. – Amplificar todo o poder do farol de Nopporn para manter a ilha iluminada debaixo de tanta treva deve ter exaurido sua maru...
            As runas especiais que cada ancião carregava, brilhavam intensamente. Suas estátuas formavam um círculo ao redor da grande chama, porém, havia um lugar vazio, faltava o décimo ancião. Thagir pensou um pouco, invocou um bastão comprido de sua jóia, fincou-o no chão e colocou a runa mística de N’quamor na outra ponta:
            –Acha que isso vai funcionar? – Perguntou Kullat, curioso.
            –Talvez sim... Veja, estão entrando em ressonância!
            Os objetos místicos cintilaram ainda mais. No centro do círculo, a grande chama se intensificou e formando uma forma humana, ou parecida com uma, dentro dela. Foi então que eles ouviram a voz magnânima da fundadora da Ordem dos Senhores de Castelo:
            –Aqui é Nopporn... O grande dia em que os escolhidos do multiverso atravessarão o Labirinto da Grande Mãe chegou! Meus filhos... – Ela parecia estar ajoelhada com as mãos postas para uma prece. – Esta batalha ainda não acabou. Mesmo que derrotem seus adversários mais imponentes vocês devem saber que, para derrotar o Mestre Caçador, um de vocês deverá sacrificar a própria vida e derramar o próprio sangue no fio do artefato místico. Só assim a espada do infinito voltará à vida e será capaz de invocar o poder ancestral que possui. Estão de acordo? O poder de decisão é de vocês...
            Os Senhores de Castelo se entreolharam. Eles não precisavam pensar muito, sabiam das consequências que implicavam em ser um Senhor de Castelo, suas vidas sempre seguiriam na direção da mesma escolha. Kullat, porém, estava mais pensativo, um dos dois deveria tomar a decisão do dia de bravura, uma decisão que não voltaria atrás. Thagir respirou fundo, já estava ali, no meio do turbilhão daquela desgraça, sua decisão fora sincera, iria em frente sem olhar para trás:
            –Estou... – Thagir olhou para Kullat esperando sua resposta que demorou alguns instantes para chegar.
            –Estou... – O pistoleiro sentiu algo estranho naquela resposta, sentia que seu amigo estava diferente.
            –A escolha foi feita, prossigam para dentro da chama...
            Os dois subiram no parapeito que circundava o fogo e, juntos, entraram nela. No começo não havia nada de diferente, a labareda não queimava, até começarem a sentir que seus corpos estavam sendo desmanchados e distorcidos para entrar no vórtice que estava entre as palmas da mão de Nopporn:
            –Meus filhos... Encontrem a árvore de aço... No topo estará a espada do infinito...

...

Transmissão continua...

terça-feira, 5 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Confronto com o Mestre Caçador – 2ª parte
Informe do Multiverso


            Uma caixinha de música tocando, quando sua corda vem ao fim ela é novamente torcida para que tudo recomece. Kullat estava sem saber o que acontecia e esperava que Thagir lhe dissesse ou fizesse algo. Nunca dois companheiros de tantas batalhas estavam tão distantes. Thagir foi até próximo ao ser que se apresentava diante deles e começou:
            –Você é o Mestre Caçador?
            –Ora! Que grosseiro, não queres ouvir a história primeiro?
            –... – Thagir permaneceu calado.
            –Pois bem... Sabe quem eu sou?
            –Sim...
            –Minha história não é essa...
            –...? –Thagir olhava e duvidava do que ouvia.
            –Eu não existo, sou apenas uma mera cópia de um original. Há muito tempo, certo cientista resolveu brincar de genética e manipulação de mais de um tipo de maru para criar a cobaia perfeita, um clone dele mesmo. Ele me usou para todos os tipos de experimentos, chegando a abrir minha cabeça e inserindo eletrodos lá dentro. Na época, eu ainda não tinha aprendido a falar, minha coordenação motora era lenta. Eu estava vivo, ali, sentindo minhas vísceras serem expostas ao bel prazer de um louco que mesmo vendo minhas lágrimas constantes não parava um momento si quer, passando horas a fio, sem dormir, tudo para ter seus malditos resultados. Até que um dia a coisa mudou de rumo...
            –O que aconteceu? – Perguntou Kullat, também interessado.
            –Ele tentou me matar... – Sua cabeça estava baixa e algo parecido com lágrimas ou sangue escorreu pela sua face pingando no chão, sem lhe alterar o sorriso. – No meio de todas as experiências, o que mais constrange um cientista é a falta de resultados. Sem conseguir o que queria, ele resolveu desligar o meu suporte de vida e ficou fora durante um dia inteiro. Foi então que eu ouvi a voz...
            –Que voz? – Perguntou Thagir.
            –A voz do meu senhor a quem dedico todos os meus atos. Ele me ofereceu um contrato e, por mais que eu já me conformasse com a minha desgraça, não quis morrer e, desesperado, aceitei. Quando o cientista retornou no dia seguinte, ficou maravilhado ao me ver em pé fora do suporte. – O mago riu discretamente. – Ele achou que tinha obtido resultados! Bem, não preciso dizer o quanto eu me deliciei quando fiz com ele o que ele fizera comigo. Eu não tinha gritado uma única vez, mas aquele miserável berrava absurdamente. Aquilo só me dava vergonha!
            –Tudo isso... Não passa de vingança? – Inquiriu Thagir.
            –Longe disso! Os planos de meu senhor são maiores que isso...
            –Então, porque estão atacando os Senhores de Castelo? O que eles têm haver com isso? – Quis saber Kullat.
            –Boa pergunta... Realmente, os Senhores de Castelo são uma raça a parte, feitos para superar exércitos estelares inteiros se preciso. O fato é que eles dão ótimas baterias! – O sorriso dele mudara para algo mais sarcástico.
            –Você está usando os Senhores de Castelo como baterias das Estrelas Escuras, não está? – Disse Thagir, friamente.
            –...?! – Kullat se surpreendeu com a pergunta do amigo.
            –E não apenas isso, o controle central utiliza seus corpos e suas mentes como processador. – Nesse momento, o aparato atrás dele, no centro daquele lugar, se iluminou mostrando diversos tubos de sustentação de vida com pessoas dentro, ligadas a vários fios que saiam por todos os lados.
            –Eles estão vivos?! – Thagir demonstrava alguma impaciência.
            –É claro que sim! Como poderia usar as quatro Estrelas Escuras usando cadáveres?! Isso é maru sombria, as estrelas só usam maru natural! – O mago também demonstrava certa impaciência com o Senhor de Castelo.
            –E o que seu mestre quer com essa guerra? – Thagir se acalmou um pouco, se concentrando mais na conversa.
            –Acho que isso é um pouco óbvio...
            –E o que é afinal? – Kullat ainda não sabia do que eles estavam falando.
            –O que meu mestre quer é o centro exato do multiverso. Vocês é que tiveram o azar de estar aqui...
            –...! – Kullat deu um passo para trás.
            –Ora seu... – Thagir não aguentava mais de raiva, já havia aturado tudo aquilo por muito tempo e apontou uma de suas pistolas.
            –Thagir, Thagir... Você me decepciona! – Ele estalou os dedos. – Al, El... Apareçam!
            Duas mulheres, jovens, vestidas com roupas de couro preto que cobriam praticamente todo o corpo, exceto os olhos e os longos cabelos, apareceram ao lado do mago, uma de cada lado. Elas estavam apontando flechas com pontas de cristais de maru vermelha para os Senhores de Castelo:
            –Huhun... Estas são minhas guarda-costas, são arqueiras como Ann, sua mira é extremamente precisa. Conseguem acertar uma pulga a três quilômetros de distância! – Thagir guardou a pistola de volta na jóia, cerrando os punhos, tentando conter-se. – Além disso, meu caro, você vai gostar de saber disso...
            O mago fez alguns movimentos e dois círculos luminosos de maru violeta apareceram entre ele e os castelares. Nos círculos era possível ver multidões de pessoas e até alguns animais vagando perdidos em algum lugar desconhecido. Thagir e Kullat ficaram surpresos ao constatar que algumas daquelas pessoas que estavam ali eram conhecidas:
            –Dânima, Alana, Lara... – Thagir estava atônito com o que via em um dos círculos.
            –Não... É Kylliat e meu mestre Dominus! – Kullat olhava para o outro círculo, tão nervoso quanto seu companheiro. – Aquele outro é...
            –Hahaha... – O mago ria às gargalhadas com a cena que presenciava e de repente ficou sério. – É N’quamor... Praticamente todos os habitantes de Curanaã e Oririn são meus reféns!
            –Quando foi que você sequestrou N’quamor? – Perguntou Kullat apertando os punhos tentando conter a raiva.
            –Não fui eu que o sequestrei... Não foi, Thagir?
            –Mas, como? Ele não poderia?! – Kullat olhava para Thagir que estava um pouco à frente dele.
            –Hahaha... – A gargalhada estava ainda mais alta, tomando os mesmos ares de loucura quando havia pronunciado o ataque aos castelares, sendo finalmente possível ver seus olhos prateados por trás da sombra espectral. – O que você acha que aconteceu com o segundo caçador?
            –Thagir... – Kullat tentava obter alguma resposta. – Por Khrommer! O que você fez?!
            –... – Thagir continuava sem dizer o que acontecera.
            –Huhun... Não pergunte, se ele responder, o feitiço lançado sobre ele o matará...
            –Como isso é possível?!
            –Magia do tempo! – O mago mostrava a palma das mãos. – Inok é um caçador muito hábil, seu relógio é capaz de dilatar o tempo e espaço, fazendo viagens no tempo. O dia de hoje não foi simplesmente preparado em alguns anos. Levamos séculos corrigindo o curso que estava errado.
            –Isso é impossível, vocês é que estão errados em fazer isso!!! – Kullat acabou por gritar.
            –Olha, um discurso sobre certo e errado! Pois fique você sabendo que se nós não estivéssemos fazendo o que era preciso para alinhar o tempo para este dia, nenhum de vocês teria nascido, aliás, todos os Senhores de Castelo também não estariam aqui!
            –Porque tudo isso?!
            –Você verá... – O mago começou a emanar maru violeta de maneira exagerada, preenchendo todo o chão como se fosse névoa, deixando o ambiente frio e gélido.
            Detrás do mago, uma esfera gigante começou a levitar também, erguendo consigo os tubos de alimentação. A coisa abriu seus olhos, diversos olhos, centenas de olhos:
            –Conheça meu bichinho de estimação, o Ilusionista! Um raro tipo de observador encontrado somente em Geonova, um dos planetas secretos do quarto quadrante!
            O ser que pairava no ar ligado aos tubos era poderoso, sua influência era irrestringível e, olhando com mais cuidado, podia se perceber que haviam tubos ligados às costas do mago que estava pronunciando algumas palavras mágicas:
            –Libertação Efêmera! – O mago levantou as mãos para o alto.
            –Pare Mestre Caçador! Não faça isso! – Thagir tentou dissuadir seu inimigo.
            –Cale-se! Eu não sou o Mestre Caçador, sou apenas seu arauto!
            –... – Thagir não queria acreditar, seus poderes paranormais lhe faziam ver a ilha de Ev’ve sendo varrida por uma enchente escura que levou consigo todos que entraram nela...
...

Transmissão continua...