As Crianças
O irmão
mais velho começou a falar com o irmão mais novo, eles estavam em uma caverna que
eles mesmos conseguiram camuflar:
– Elians,
como está a nossa comida? – o menino de uns dez anos chegava do monte de lixo e
tirava a suit de sobrevivência através da jóia mística do traje.
– Vaik... –
o outro menino, de uns cinco anos, estava com uma expressão chorosa. – Eu não
quero mais isso! Eu quero comida de verdade...
– Desculpe
irmãozinho. Comida artificial é tudo o que temos e só vai dar para mais alguns
dias... – o mais velho estava pensativo. – Os Senhores de Castelo já estão no
planeta, espero que eles não demorem muito para nos encontrar aqui.
– Hun... –
o garotinho menor fazia beicinho, demonstrando algum desgosto infantil. – Eu queria
ser como você, eu ainda não consigo sentir as pessoas que estão no planeta...
– Heh. –
Vaik sorria para o irmão. – Um dia você vai sentir todo mundo que está no
multiverso!
– Eba! –
Elians pulou de alegria, abrindo os braços para o alto junto com o irmão.
– Mas, por
enquanto, vamos comer a nossa comida...
– Ah! – Elians
fechou a cara tão rápido quanto ficara feliz.
– Vamos
logo, senão eu deixo você sem sobremesa...
– Você
trouxe?!
– Trouxe,
agora vamos comer!
– Irmão...
– O que foi
agora?!
– Eu te
amo...
– ...! –
Vaik ficou vermelho.
...
Dimios,
como os outros, também se perdeu na grande zona de lixo e caminhava por um
lugar com algumas construções antigas. De acordo com o que lhe parecia, aquela
era uma região avançada que posteriormente fora abandonada, mas que mantinha
alguma ligação com o centro de inteligência do planeta. Andando por aquelas
vias, Dimios notava que o lugar estava bem cuidado em comparação com o resto
que havia visto: ‘Deve haver alguém por aqui’, concluiu. Foi então que ele viu
um homem alto, de casaco vermelho e uma barba esverdeada, junto a uma menina de
rosto angelical e vestido também vermelho, cabelos loiros amarrados com fitas
na mesma cor do vertido:
– Veja meu
querido Thagir vermelho, um Senhor de Castelo com quem podemos brincar! – Disse
a menininha à frente do homem alto.
– Cara,
seria melhor você não ter nascido! – disse o homem, com deboche.
– Quem
disse a vocês que eu sou um Senhor de Castelo? – Dimios se mantinha frio apesar
da ameaça.
– Eu sei,
bobinho! – a menina apontou o dedo para Dimios.
De repente,
os prédios ao redor do castelar começaram a cair sobre dele. A garotinha estava
muito feliz e bateu palmas para comemorar.
...
Com Westem
não foi diferente, ele também acabou por cair em um lugar bem distante dos
outros Senhores de Castelo. No meio dos entulhos, uma grande construção
semi-esférica se erguia diante de seus olhos. Muito barulho se fazia lá dentro,
ovações e gritos histéricos davam a ideia de que havia um público se divertindo
com alguma apresentação. Curioso, Westem se aproximou e percebeu que a língua
deles era diferente da língua comum empregada pela Ordem dos Senhores de
Castelo. Chegando mais perto, o castelar viu por uma fresta dois seres se
digladiando um contra o outro, um menor e extremamente magro de aparência quase
cadavérica que mostrava a ponta dos dedos mexendo-os em pleno frenesi, enquanto
o outro era um brutamonte deformado de músculos tão grandes que rasgavam sua
roupa a cada movimento violento que tentava acertar o adversário. Ambos estavam
usando máscaras de ar de modelos diferentes, o baixo usava uma que tampava a
boca e o nariz com uma abertura circular na frente de onde se podia ver o
filtro de ar; o maior usava uma máscara com dois cilindros de ar em seu pescoço,
ligada a eles por dois tubos que se projetavam para frente, um de cada lado.
Westem, como fã de uma boa briga, não teve como deixar de exclamar:
– Eu aposto
no grandão! – disse com entusiasmo.
A luta
seguia, o grande tentava esmurrar o pequeno e só conseguia acertar o ar; o
outro permanecia do mesmo jeito, sem tentar nenhum golpe, apenas mexendo os
dedos. Westem não se continha, queria muito que o lutador parecido com ele
desse um jeito naquele baixinho que não sabia lutar de verdade. Foi então que
ele parou, o menor ficou completamente parado olhando o maior vir em sua
direção com o seu braço descomunal que esmagaria completamente a sua pequena
cabeça. Era o que deveria acontecer... Westem ficou abismado com a força que o
menor desempenhou com a própria mente, fazendo aquele cara gigante parar em
pleno movimento de combate. O menor pareceu ter um tique nervoso, pendendo a
cabeça para o lado em movimentos repetitivos e os cilindros de ar da máscara no
pescoço do adversário explodiram, machucando-o muito. Seu tamanho gigantesco
começou a diminuir e diminuir até ficar aparentemente normal, como os outros
nas arquibancadas, que por sinal começaram a vaiar o vencedor. Seus olhos
fecharam e ele tirou a máscara, cuspindo sangue no chão e tossindo sem parar.
Alguém, que deveria ser o árbitro da disputa, puxou o vencedor pelo braço e o
levou para dentro de algum lugar debaixo das arquibancadas. Westem estava
pensativo:
– Droga!
Essa eu teria perdido! Nunca mais penso em apostar sem conhecer os lutadores...
– os pensamentos de Westem foram interrompidos por um tumulto na entrada do
domo de lutas.
As pessoas estavam revoltosas com
o resultado da luta e queriam quebrar tudo o que viam pela frente. Westem achou
melhor sair dali antes que sobrasse para ele. Isto é, se ele não tivesse
tropeçado em cima de alguma coisa quando se virou:
– Olha por onde anda! – o senhor
de castelo ainda não havia se acostumado com a suit de sobrevivência.
Levantando-se, viu que aquele que
estava debaixo dele era o mesmo cara que estava lutando há pouco. Os revoltosos
perceberam que o lutador estava ali e foram atrás dele. Como ele acabou
desmaiando, Westem pegou o pequeno nos braços e deu o fora dali o mais rápido
que pode.
...