terça-feira, 22 de maio de 2012

Devil's Drink 16# - Sasha

            Um dia como os outros, En’hain estava cuidando da Toca dos Gatos sozinho, Gurei havia levado Akai para passear pela vila e comprar alguns docinhos que, sem motivo aparente, haviam acabado. En’hain pensava na vida, lembrando de sua velha sina. Desconhecer o futuro, não entender o presente e não querer lembrar-se do passado sempre o atormentava. Mas tinha bom coração, era o que importava. Talvez sim, provavelmente não...
            Ao sair para limpar a entrada, En’hain se deparou com um inunin, um homem cão, um lobisomem se preferirem. Ele estava esfarrapado e parecia com fome. Qual não foi a surpresa de En’hain quando ele disse:
            –Se me der um prato de comida, passo varrer pra você. – O homem cão parecia meio constrangido em dizer aquelas palavras, qualquer um ficaria constrangido em falar algo parecido.
            –Entre... – Disse En’hain, lembrando que seu amigo Gurei um dia também havia chegado à Vila dos Gatos num estado parecido.
            Lá dentro, En’hain não se demorou na cozinha e serviu um prato de sopa bem quentinho que já estava preparando para o almoço. Um prato a mais servido não faria falta. En’hain ficou admirando o novo espécime que conhecera, tinha cara de cachorro, diferente dos nekos que geralmente tem uma forma mais humana e que podem se transformar em completamente em humanos ou completamente em gatos. O ‘cão sem dono’, como En’hain achava lhe parecer melhor o convidado, verteu a sopa com entusiasmo, chegando a pedir mais algumas vezes. Estando satisfeito, levantou se, pegou a vassoura e foi varrer a entrada do bar, como havia prometido. En’hain sorriu:
            –Meu nome é En’hain, qual é o seu? – Perguntou, percebendo o deslize.
            –Meu nome ser Sasha, eu vir do grande mãe Rússia. – O inu abriu as mãos tentando demonstrar o quão grande era o seu país.
            –Então é russo... Não deve conhecer esta região da Europa, eu presumo.
            –Dah! – En’hain não falava russo, mas sabia que aquilo significava sim.
            –E o que te trouxe a essas bandas?
            –Estar procurando amigo...
            En’hain sentiu certa nostalgia, estava achando aquela simples conversa algo incrível:
            –Hun, e sabe onde ele está? – Indagou En’hain.
            –Ele partiu pro Vila dos Gatos, saber onde é?
            –Meu amigo, você está nela! – En’hain pôs a mão no ombro do inu, que começou a abanar a longa cauda freneticamente.
            –Então você conhecer um gato de pelo cinza azul com um olho?
            –Isso até parece de javu! Então você conhecer Gurei? Quero dizer, ele trabalha aqui...
            –(Finalmente!) – O inu falava em russo, mas sua animação era compreensível, aparentemente ele deve ter feito a mesma loucura que Gurei. – Encontrei Alexander!
            –Heheh... – En’hain sorria, mas em seus pensamentos ele pensava algo como “Porque aquele desgraçado não me disse?”.
            Nesse momento Gurei, que trazia Akai nas costas, estava chegando ao bar:
            –En’hain! – Gritou ele sem perceber que Sasha estava ali. – Como é que você agüenta essa pirralho o tempo to... do... Mas que merda é essa?!
            –Me parece que um amigo seu da Rússia veio te visitar... – Disse En’hain, com um sorriso sarcástico no rosto enquanto pensava: “Heheh, se fudeu!”
            –Alexander... – O cara de cachorro estava atônito com a chegada de seu amigo. – Senta! – Disse de repente e entrou dentro do bar.
            –Ora seu! – Gurei xingou muito o inu, falando pela primeira vez em russo ao mesmo tempo em que deixou Akai no chão e ia sentando calmamente, do jeito dele, numa cadeira das mesas externas. – En’hain, seu desgraçado, onde foi que você achou o Sasha?!
            –Nyaaa?! – Akai estava confuso com aquilo.
            –Então ele é o seu dono?! Pensei que tivesse sido criado por humanos...
            –Argh! Eu fui... Pelos pais dele, ele era muito pequeno pra saber da minha existência... Aliás, eu não tinha a menor ideia de que ele era um lobisomem...
            –Heheh... – Akai subiu nas costas de En’hain enquanto isso.
            –Tire esse sorrisinho da cara, senão eu arranco o teu coro de dragão! – Gurei apontava as garras felinas com olhar assassino.
            –Relaxa! – En’hain olhava para Akai que estava com a cabeça em seu ombro.
            –Ahn? – Gurei estranhou, pensava que En’hain iria tirar sarro da cara dele.
            –Ele era diferente, não era? – En’hain deu um pirulito para Akai.
            –...?! – Gurei parou por um instante, desviando o olhar em seguida.
            –Me diga uma coisa, o que os pais dele faziam? – En’hain deu um pirulito pro Gurei também.
            –... – Gurei hesitou por um instante. – Eram da máfia russa...
            –Então tá explicado... Veja, ele está voltando.
            O dialogo estava se desenrolando em russo no começo, mas acabou por terminar na nossa língua:
            –Por que você fugir? – Perguntou Sasha.
            –Porque eu quis... – Gurei desviava o olhar.
            –Ele não aguentava mais os maus-tratos... – Se intrometeu o barman.
            –En’hain não se intrometa na nossa conversa! – Gritou Gurei.
            –Nem pensar... Você é meu amigo e ele precisa saber... – En’hain fazia cafuné em Akai.
            –Saber o quê? – Procurou saber o cão russo.
            –Droga! Ele não precisa saber... – Gurei estava muito exaltado.
            –Saber o quê?! – Insistiu Sasha.
            –Foram os seus pais que deixaram essa cicatriz no rosto dele...
            –Filho da puta! En’hain, você me paga!!! – Gurei estava mais violento que gato com medo com de água que sabe que vai tomar banho.
            –Eu já saber... – Falou Sasha.
            –Ahn?! – Gurei estava confuso.
            –Como é?! – En’hain pensava, “estragou tudo”!
            –Por isso vir atrás de você, você esquecer isso. – Sasha tirou de sua velha sacola o maior tesouro de Gurei.
            –Minha caixinha! – Uma lágrima despontava no canto do olho de Gurei.
            –Você não tinha perdido ela?! – Perguntou En’hain.
            –... – Gurei ficou olhando para ela por um momento. – Podem nos deixar a sós?
            –Claro... – O que En’hain pensava por trás do sorriso forçado era algo como: “Caralho, justo na melhor hora!
            En’hain se retirou com Akai e foram pra dentro do bar. O barman terminou de fazer a sopa – Sasha tinha tomado mais da metade. E ficou pensando no que os dois estavam falando lá fora:
            –Nyaaa?! Você não quer saber o que os dois estão fazendo? – Perguntou Akai.
            –Não, não quero Santiago... – En’hain estava perdido em seus pensamentos.
            –Nyaaa?! – Akai estranhou um pouco ser chamado pelo nome.
            –E você, bichinho levado, trate de escovar mais os dentes. Comendo tanto doce assim você vai acabar ficando com cárie.
            –Nyaaa... – Akai não gostava que mandassem nele, mas estava curioso. – Como você sabe?
            –Eu apenas sei, meu amigo.– E ficou olhando para na direção da porta, pensando no que acontecia do lado de fora. – Eu apenas sei...
            Foi assim que na Vila dos Gatos começou a ter também um cachorro...

Nenhum comentário:

Postar um comentário