sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 17


A Autoridade



            – O que você quer de nós, jovem incauto que vem de outra terra?! – Começou o pai de Darla com raiva, um homem de aparência decaída que não era nem a sombra do que já fora um dia, falando através da telepatia da filha. Mesmo que quisesse, ele não poderia falar de outro jeito, sua mandíbula fora arrancada por uma das grandes máquinas da Irmandade. No meio da luminosidade fraca, a imagem de sua face com a língua pendente era consternadora. – Se vamos morrer, deixe nos ter o nosso destino!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 16


O Mercado Negro

 

            Ferus trabalhou duro, se virou para conseguir concertar as dezenas de máquinas e terminou uma ou outra. A velha senhora estava contente, depois que viu tantas coisas funcionando de uma só vez, esqueceu se de seus problemas, ajudou o castelar incógnito a encontrar algumas peças aqui e ali, e lhe trazia o máximo de comida que podia – o que já não era muito pra ela.
Passado alguns dias, Dinha falou a Ferus que precisavam ir ao mercado negro, trocar algumas sucatas por comida e talvez conseguir mais alguma coisa pelas máquinas concertadas. O lugar não era longe, era escondido como a maioria das residências do planeta sem nome, sob um tipo de monumento discoidal feito de metal maciço, com um centro esférico que refletia luz, evitando que as pessoas que entram e saem daquele lugar sejam vistas durante o dia. O Senhor de Castelo colocou uma máscara de gás que cobriu todo o seu rosto, Dinha fez o mesmo e partiram para o mercado.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 15


A Escolha

 

            Dimios estava sozinho no quarto, os dois meninos foram dormir em outro. Ele queria dormir, porém, os pensamentos o incomodavam, teria que tomar uma decisão difícil. Em sua mente, as instruções que o pergaminho mágico lhe passou diretamente para sua memória o perturbavam...

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Devil's Drink 24 - Juno

Mais uma semana e novos clientes na casa! \o/ Sejam muito BEM VINDOS: Meta, do Metafosfato e Andréia! \o/ Gostariam de pedir alguma história para que lhes seja servida? Topo qualquer coisa! ^^ O cliente sempre tem razão! :D Só queria saber de onde apareceu aquela gata... ¬ ¬'

Devil’s Drink 24 – Juno



Por volta do meio dia, Liori, o prefeito da Vila dos Gatos, voltou de mais uma missão para procurar nekos perdidos pelo mundo e resgatá-los de seus donos humanos. Desta vez ele não foi muito longe e logo voltou para a vila, acompanhado de um intruso:
            – Quem é esse, querido? – perguntou a esposa, Lady Neko, depois de recebê-lo após três dias de sua partida.
            – Esse quem? – Liori olhou ao redor e encontrou um pequeno gatinho que o estava seguindo. – Deixe me ver...
            – E então?
            – Não é neko... E não é gato... É gata... – Lady neko deu-lhe um belo tapa.
– Como assim ‘É gata’? Seu tarado! – a esposa se sentiu envergonhada por causa do marido. – Gatinha... Psiu... Vem aqui amore!
– Você acha que ela vai te ouvir, amorzinho?
– Fica quieto gato mirrado! – Lady Neko estava com muita raiva do marido.
– Tá bom amor...
– Pelos nekomatas! Ahn? Ué? Cadê a gatinha?
– Ela estava aqui há um minuto... Venha, vamos entrar amor. Deixa-a pra lá, ela vai aparecer assim que tiver vontade... – Lady Neko lançou um olhar mortal em Liori. – Eu juro, benzinho!
– ...! – os dois entraram no bar.

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 14


Polímero Copiador



            Pilares e Iksio continuavam a serem perseguidos pelo estranho copiador de formas que insistia em deixá-los constrangidos:
            – Onde que você encontrou essa coisa multibiólogo?! – gritou o assaltante já sem paciência ao colega castelar.
            – Desculpe-me meu caro amigo, eu não o encontrei, ele me encontrou! – desculpou-se o arthuano, com sua educação refinada. – Eu estava pensando em lady Liliana de Tianrr e ele me apareceu exatamente na forma dela!
            – Hun... Lady Liliana...
            – O que disse?! – Iksio percebeu a expressão anormal de Pilares, quase perdendo a compostura.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 13


Na Vila Subterrânea


            Nerítico estava preocupado, mesmo sendo um Senhor de Castelo tomar atitudes como aquelas lhe eram muito incomuns, principalmente sentindo o perigo que conhecia tão bem pingando fortemente sobre o teto da vila:
– Um ultraquímico se escondendo de um produto químico! – disse ele para si mesmo, tentando entender a situação em que se colocara.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 12


Nina



            A pequena garota estava de volta ao seu balanço, perdida em pensamentos:
            – Vocês todos serão meus... Cada estrela do céu será minha... Vou roubar todas elas de vocês... Como roubaram meus pais de mim... – seu tom era uma mistura de tristeza e raiva.
            O Thagir vermelho abriu a porta e entrou. Ele sentia algo diferente, a menina não estava animada e seu jeito infantil lembrava o rancor de um adulto. Percebendo que o escravo estava esperando para lhe falar, ela desceu do balanço e sorriu para ele, escondendo as emoções:
            – Veja meu Thagir vermelho, o céu não está lindo hoje? – a menina fechou os olhos, como se desse por satisfeita só com os poucos raios de luminosidade que atravessaram o largo buraco no teto.
            – Mestra Nina, consegui penetrar nos arquivos da Ordem dos Senhores de Castelo...
            – E o que encontrou?
            – Eles vieram buscar a população deste planeta...
            – E o Filho do Fim? – a expressão de Nina relatava dúvida.
            – Eles não vieram por esta missão... Acredito que talvez nem saibam que ele está aqui.
            – Mentira! – a garota gritou, bufando e batendo o pé no chão. – Eles sabem que ele está aqui! Alguém mandou uma mensagem para eles pelo sistema de transmissão codificado, o Informe do Multiverso! Não tem como eles ignorarem a maior lenda que os grandes oráculos contam... A não ser...
            – Creio que sim, mestra. – o Thagir vermelho parecia estar ouvindo seus pensamentos. – Eles querem dar prioridade à população. Elas precisam urgentemente de ajuda e o Filho do Fim é um perigo... Mesmo para eles! Tanto poder em um único ser que mal sabe manipulá-los.
            – Não podemos deixar que eles ponham as mãos nele! Eles não devem matá-lo!
            – Fiquei em dúvida...
            – Eu também...
– Eles realmente seriam capazes de matar uma criança para salvar todo o multiverso?
– Se depender da alma viva da ilha, eu creio que não...
– O que eles pretendem fazer com a criança então?
– Por enquanto fiquemos com a possibilidade deles quererem apenas ficar de olho nele e protegê-lo da Irmandade. Em todo caso, se nós não ficarmos com ele, iremos avisar o Grande Irmão da invasão da Ordem dos Senhores de Castelo...
– Voltaremos a nos encontrar com eles?
– Assim que eu estiver bem disposta... Saia. – o Thagir vermelho fez uma referência e voltou pela porta de onde veio.
Em seus pensamentos, a frase inevitável estalou: “Essa menina é perigosa... Até parece adulta! Espero que o Kullat faça alguma coisa, se ele não conseguir nos tirar das garras dessa menina...”
Ele se sentou de frente a um computador e teclava ruidosamente. Os arquivos dos Senhores de Castelo disponíveis estavam sendo baixados um após o outro. O Thagir vermelho estava lendo as fichas dos castelares e reparou em algo curioso:
– Não creio! Um deles não foi admito na academia! Hahah, essa eu pago pra ver!

...

            Nina havia voltado aos seus pensamentos, mas dessa vez ela estava em sua cama, vestida com um pijama de seda branca e macia. Havia colocado vários lençóis por cima dela para evitar o frio constante. Ela tentava dormir, pensando no que poderia fazer para conseguir o que queria. Em seus sonhos, uma música distorcida tocava, ficando normal de vez em quando mostrando ser uma cantiga de ninar sem letra. A garotinha via um berço branco, minimalista, de material sintético no centro de uma sala branca de iluminação indireta forte que a fazia franzir os olhos:
            – O quarto... – ela disse. – Sempre o mesmo quarto, o mesmo lugar.
            Ela se aproximou do berço, sua intenção era ver o bebê e tirá-lo de lá, porém, algo a impedia de prosseguir e recuava. Ficou ali algum tempo, observando. O bebê começou a chorar, ela tapou os ouvidos tentando evitar que eles estourassem com o barulho ensurdecedor. Ele parou por um instante e começou a falar com ela:
            – Nina, é você?
            – Sim, estou aqui...
            – Você vai vir me buscar?
            – Estou tentando...
            – Você vai vir me buscar?
            – Eu vou...
            – Onde está a minha mãe?
            – Não sei...
            – ... – o diálogo parou.
            – Eu vou te buscar... Você me espera?
            – Quem é você?
            – Sou eu, a Nina...
            – Quem é Nina?
            – Você vai saber quando nos encontrarmos...
            – Como vou saber quem é você?
            – Eu uso vestido vermelho, terei a mesma altura que você...
            – Onde está a minha mãe?
            – ... – Nina estava triste e começou a murmurar a mesma canção de ninar que fazia barulho naquele quarto.
            A sombra dela que estava praticamente apagada com tanta luz, começou a escurecer e a luz do quarto diminuiu. O perfil que se formava na parede não era ela, era de algum animal grande e curvado, com garras e uma bocarra que permanecia aberta. Tinha cabelos desgrenhados, mãos esguias com três dedos cada e a cintura mais fina que o tronco. Algum líquido pegajoso pingava de todo o corpo e, apesar de ser apenas uma sombra, o líquido era vertido também no quarto pela parede. A imagem de Nina escureceu e foi tomada pela escuridão, ao mesmo tempo em que a sombra clareava e se tornava nítida, parando antes que se pudesse ver o rosto da criatura. O murmúrio doce e infantil tornou-se um grunhido irreconhecível. Um homem entrou na sala e começou a atirar na criatura com um pistola de projéteis metálicos que feriram gravemente a criatura da parede, sendo que quem começou a sangrar fora Nina, a sombra do monstro. A criatura gemeu de dor e agonia, praticamente chorando, descendo pela parede até o chão. O homem pega a criança e sai correndo com ela nos braços. Nina e o monstro vêem a criança ser levada e esticam, ambas, as mãos na direção da porta que se fecha. Todas as luzes terminam de se apagar, deixando uma inconsolável solidão no peito da menininha...
...

            Nina acorda. Pela janela ela vê que já está de noite e limpa o rosto das lágrimas que escorreram durante o sonho. Sua raiva foi reacendida e tomou uma decisão. Vestiu seu vestido vermelho, colocou as fitas vermelhas no cabelo dourado e foi falar com o Thagir vermelho. Ele estava cochilando na cadeira em que estava sentado, o computador já havia se desligado com a falta de operação:
            – Meu querido Thagir vermelho, acorde... – ele acordou no susto e, esfregando o rosto, bocejou e se espreguiçou.
            – Já... Mestra? – as olheiras estavam bem marcadas no rosto.
            – Sim... Vamos matar aquele maldito intrometido que está com ele.
            – Sim... – o Thagir vermelho recolocou o casaco, desligou o computador e os dois saíram. Nina estava saltitante...

...

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 11


A Cura



            Westem, o bárbaro de Gálion, continuava carregando o pequeno lutador que acidentalmente sentiu na pele o peso do brutamonte, quando este tentou fugir da revolta que os apostadores tiveram ao perceber que o grande lutador deles perdera para alguém tão esquelético. Aquilo também era estranho para o Senhor de Castelo, que também estava crente que quem venceria era o lutador maior.
            Algum tempo depois, quando já não eram mais perseguidos, uma vez que a vitalidade de Westem deixaria qualquer um para trás, eles pararam, Westem precisava ver se estava tudo bem com o jovem, se ele não havia quebrado algum osso. O lugar onde estavam possuía algumas construções esquecidas pela Irmandade e que já estavam bem desmanchadas pelas chuvas ácidas, mas que poderiam esconder os dois caso ainda fossem encontrados.
            O Castelar estava admirado com o corpo tão debilitado do pequeno lutador, vindo de um planeta onde os corpos esculturais, musculosos e cheios de saúde eram sempre presentes, até mesmo nos bebês, Westem realmente encarava aquilo com muita estranheza. Ele chegou até a ficar com medo de lhe ministrar a água mágica da moringa encantada que ganhara do seu parceiro quando visitaram Arthúa, o planeta natal de Iksio, com medo de que suas grandes mãos lhe fizessem algum mal, mesmo porque ela estava debaixo da suit de sobrevivência e ele sabia que passaria mal se a tirasse. Porém, não seria necessário, os olhos com olheiras profundas logo se abririam:
            – ...? ...! – o lutador estava meio tonto, mas percebeu que alguém bem grande estava ao seu lado e, assustado, jogou-o na parede com seus poderes mentais. Ele tentava fugir, rastejando do jeito que estava sem conseguir se mover muito.
            – Hahahah! – ria Westem com vontade, sem se importar por estar preso a parede. – Você é realmente forte! Agora sei por que conseguiu ganhar do outro lutador!
            – ...? – o pequeno olhou ao redor, percebeu onde estava e liberou vagarosamente o desconhecido no chão.
            Westem estava feliz, agora que sabia que o jovem estava bem e se aproximou:
            – Qual é o seu nome, baixinho? Eu me chamo Westem eu sou de... – o castelar se lembrou que não poderia falar que era um Senhor de Castelo e desconversou. – ...de onde eu sou? Heheh, eu caí do céu... E, bem, acho que me esqueci dessa parte...
            – ...? – a expressão que o menor fazia era de dúvida, não entendia o que Westem dizia.
            Então, ele tentou se levantar e sentiu uma pontada no ombro. Estava deslocado e sentia muita dor, cerrando fortemente os olhos. Westem entendeu que aquilo fora causado por ele e se aproximou, querendo se desculpar:
            – Droga! Peço mil desculpas... – o castelar tentava usar a cordialidade do parceiro Iksio, sem muito sucesso por sinal. – ...acho que eu desloquei o seu ombro. Deixe-me ajudá-lo...
            Sem muito jeito, Westem colocou os fortes dedos no ombro do pequeno lutador e, do mesmo jeito que seus irmãos faziam quando ele deslocava o ombro, simplesmente deu um tranco nos ossos, fazendo o jovem sentir muita dor:
            – ...! – apesar da expressão, não saia um único ruído da boca dele.
            – Estranho... Mesmo eu acabo falando um belo palavrão quando meus irmãos faziam isso comigo. – Westem pensou um pouco e concluiu. – Você é mudo?
            – ... – o pequeno balançou a cabeça positivamente, depois do torpor da dor passar e sentir o alívio pelo ombro estar no lugar, movimentando-o para checar.
            – E agora? Como a gente faz? Se o Iksio estivesse aqui ele poderia ler os seus pensamentos...
            O pequeno lutador pareceu estar pensando um pouco e descobriu algo. Pegou na mão de Westem e fechou os olhos. O Senhor de Castelo sentiu um formigamento e percebeu estar vendo algo em sua mente. Eram conhecimentos novos, transmitidos pelo pequeno que fluíam diretamente para os seus pensamentos:
            – Você consegue me ouvir? – disse uma voz.
            – Hoh! Consigo sim! – Westem estava mais admirado ainda com o pequeno.
            – Eu não tenho muita prática com telepatia, é difícil manter as conexões. Vou tentar ser breve e lhe explicar tudo.
            – Continue... Por favor.
            – Esta é a minha história...
            Os pensamentos de Westem mostravam-lhe o mesmo lugar que eles estavam, em algum tempo em que as construções permaneciam inteiras, com a zona de lixo ainda ao redor. As coisas não eram muito diferentes, a mesma angustia que se sentia no presente continuava no passado. A única diferença era a quantidade de pessoas, a população era muito maior, o suficiente para fazer daquele lugar um mercado de trocas – o ouro não valia nada no meio da necessidade: “Por vezes, as naves de carga que voam acima das nuvens trazem grandes quantidades de comida que iriam ser jogadas fora.” – começou. “Antes, era comida de verdade e com o tempo, os restos de comida foram se tornando cada vez mais artificiais, com porções cada vez menores. Agora, a única comida que cai do céu são pílulas, pequenas quantidades de comida em pó que conseguem manter as pessoas em pé por diversos dias, mesmo morrendo de fome. As doenças nas pessoas eram freqüentes. Pessoas que se machucavam com as ferragens inevitavelmente ficavam gangrenadas, diversas mulheres abortavam espontaneamente e as forças de qualquer um se reduziam a nada, com constantes dores por todo o corpo. Foi então que caiu do céu a caixa marcada com o símbolo da Irmandade Cósmica, a ampulheta em distorção. Que os deuses me perdoem por ter compartilhado daquela caixa...”
            – O que aconteceu? – interessou-se Westem. – Algum problema?
            As imagens que o Senhor de Castelo via ficaram escuras, como se estivesse de noite:
            – As pílulas não deixaram mais ninguém morrer... – continuou o lutador.
            – E isso não é bom?
            – Nenhuma doença foi curada... Estou vivo há tanto tempo que já devo ter passado dos duzentos anos...
            – Então, as outras pessoas? – o castelar sentia seu grande coração se apertar.
            – Estão vivas e sofrendo com as dores que começaram há séculos...
            – E eu pensando que ter cento e trinta e quatro anos era uma boa idade... Você é mais velho que eu!
            – ... – o pequeno sentiu a tristeza de sua vida voltar-lhe e desfez a ligação, virando-se para a parede, com as mãos trêmulas no rosto.
            – Me perdoe baixinho... As coisas vão melhorar, eu prometo! – disse Westem, tentando retomar o entusiasmo natural dele.
            – ... – o lutador virou-se de volta para o castelar, com o rosto triste e cabeça baixa.
            Ele voltou a tocar na mão de Westem, reatando a ligação:
            – Venha comigo... – e pôs se a andar no meio daqueles restos de esqueleto urbano.
            – Espere! Você ainda não disse seu nome! – o Senhor de Castelo quase se esqueceu desse detalhe tão importante.
            O pequeno lutador parou e foi tocar-lhe novamente na mão:
            – Meu nome é Esmal...
            – Espere!
            – ...?
            – Esse nome significa pequeno? – o bárbaro sentia que alguma lembrança do lutador havia vazado para sua mente.
            – ... – ele deu de ombros, e continuou a caminhar. Westem foi atrás dele.

...

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Devil's Drink 23 - Quem está faltando?

  Mais uma semana, novos clientes, espero que o atendimento esteja sendo do gosto de vocês! \o/ Então, sejam bem vindos DIO e Irineu!
  Aqui o cliente tem razão, se quiserem que eu prepare um drinque para vocês é só dizer! ^^ Vai com dedicatória e tudo, hein! :D
  Agora, aproveitem este drinque que vos ofereço, não custa nada e tem um sabor diferente do que vocês já provaram. o/
  Sirvam-se.


Devil’s Drink 23 – Quem está faltando?



            “Partes de mim?”, se perguntava En’hain, olhando os dois sujeitos que supostamente brotaram de seu corpo etéreo que normalmente se condensa de forma metálica. “Lidi’en me parece ser ouro enquanto Nox’en me lembra o bronze. Então eu devo ser a prata, com estes cabelos prateados...”
            Lidi’en, de cabelo loiro, notou a concentração exacerbada de En’hain nos dois irmãos e tentou ter alguma conversa:
            – Pensando muito em nós? – En’hain, com seu jeito meio tímido, demorou um pouco a falar.
            – Sim... – nenhuma outra frase se formou em seus pensamentos.
            – Muito difícil de entender?
            – Sim...
            – Não querendo chamar-lhe a atenção como Nox’en faria...
            – O que é que tem eu, aí? – Nox’en não notou a conversa dos dois, mas ouviu perfeitamente o seu nome ser chamado.
            – Ignore-o... Continuando. Não querendo chamar-lhe a atenção indevidamente, mas, você só vai ficar me dizendo sim o tempo todo?
            – ... – En’hain ficou pensando, sem dizer nada, ainda com o olhar vago.
            Nox’en, por sua vez, não se importava com o que estava acontecendo, preferia brincar com as garrafas do bar, fazendo malabarismos, do que cuidar dos afazeres. Lidi’en acabou por se irritar novamente com ele:
            – Nox’en... – disse secamente.
            – O quê?
            – Nox’en...
            – Fala!
            – Nox’en! – acabou gritando.
            – Merda! – o novo barman acabou derrubando uma das garrafas que acabou quebrando. – Por que você gritou comigo... De novo?!
            – Você não para de brincar com as garrafas.
            – E daí? Faz parte do show que eu vou fazer hoje à noite... Estou apenas treinando.
            – Infelizmente, meu irmão, temos que organizar tudo para atender a clientela antes do expediente começar. – ponderou Lidi’en.
            – Palhaço... Precisava me assustar? Ei, você?! – Nox’en se dirigiu a En’hain.
            – Eu?
            – Acorda pra vida, seu zumbi, vai lá atrás pegar a pá e a vassoura pra mim!
            – Nox’en! – gritou Lidi’en novamente.
            – O que é?! – bufou o barman atrás do balcão.
            – Ao menos peça, por favor!
            – ...! – Nox’en cerrou os olhos, rancorosamente. Respirou fundo e pediu. – Poderia, por favor, pegar a pá e a vassoura?
            – ... – En’hain olhava para o vazio sem responder nada.
            – Acorda molenga! – gritou ele.
            – Elas estão atrás de você...
            – Mas, hein? – Nox’en olhou para trás e realmente a pá e a vassoura estavam ali, perto dele. – Ué? Eu jurava que eles estavam lá atrás, na cozinha... Bom, que seja. Foi mal, aí...
            – ... – En’hain ficou novamente calado.
            Lidi’en ficou atento com o que aconteceu. Ele também sabia que a vassoura e a pá não estavam ali...
...

            En’hain estava do lado de fora do bar, no jardim posterior a entrada, pensando na vida, isto é, se algum pensamento pleno lhe ocorresse. Ele ouviu a conversa de Gurei, Lady Neko e Sasha que estavam chegando do mercado com as compras do dia:
            – Eu querer osso! – disse Sasha, o lobisomem.
            – Não dou! Heheh... – Gurei estava brincando com seu amigo como sempre fazia, tratando-o como um simples animal.
            – Gurei, pare com isso, você sabe como isso irrita o En’hain. Não trate o Sasha desse jeito. – disse Lady Neko.
            – Ah, mas olha a cara dele. É irresistível fazer isso com ele! – Gurei sorria, por estar se divertindo tanto.
            O draconiano de prata estava em seus pensamentos, finalmente ele conseguiu lembrar-se de alguma coisa, uma imagem. Lá estava ele, feliz por terminar mais um dia de expediente. Estavam lá o Gurei, o Sasha, a Lady Neko e seu marido, o prefeito da vila, Liori. Tinha também o Vovô Neko, do templo xintoísta da vila, que insistia em ficar de olho nos fartos seios da esposa do prefeito. En’hain sorriu e sentiu um peso nas costas. Colocou as mãos lá e não tinha nada, faltava alguma coisa... Entrou correndo no bar:
            – Onde ele está?! – sua voz estava desesperada. – Eu quero saber, onde ele está?!
            Lidi’en e Nox’en não sabiam do que ele estava falando:
            – Opa! Começou a falar? O que foi, o que aconteceu? – perguntou Nox’en.
            – Nox... Ele deve estar falando daquilo que o Gunshin falou.
            – Ih! Então ele vai surtar de novo?
            – Onde ele está?! – gritou En’hain.
            – Não sabemos, está bem?! – gritou Gurei, sem dirigir o olhar.
            – Quem é ele? – a respiração de En’hain estava difícil. – Quem é ele? Por que eu não consigo me lembrar dele?
            – Ele se foi... – Lady Neko também estava triste.
            – Quem é ele?!!! – En’hain gritava desesperado.
            – Não sabemos! – Gurei estava mais exaltado ainda. – Ele deve ter atravessado a parede de silêncio...
            – Não, não, não... – En’hain caiu de joelhos, aos prantos. – Quem é ele?!!!
            – Acalme-se, por favor. – interveio Lidi’en.
            O frágil estado de En’hain piorou e ele acabou desmaiando. Junto com sua queda, algumas garrafas do bar simplesmente explodiram, enquanto as portas e janelas ficaram batendo violentamente:
            – Não disse? – falou Nox’en.
            – Acho que isso vai ser um problema... – disse Gunshin aparecendo de repente.
            – Por que um problema? Nem sabemos por que ele está assim – disse Lidi’en.
            – Perder alguém é uma coisa, lembrar sempre dela sem saber quem é pode te enlouquecer... Esse é um dos piores efeitos da parede de silêncio.
            – Gunshin, não tem como ajudar o En’hain? – pediu Gurei, encarecidamente.
            – Não... É assim que a parede de silêncio protege os nekos da vila há tanto tempo. Os homens gato sempre foram seres humilhados das mais terríveis formas pelos humanos, o mago que fez esse encanto queria garantir que tudo fosse esquecido e sumiu, sem deixar nenhuma pista de como desfazer a parede de silêncio. Sinto muito...
            – Ele vai? – perguntou Lidi’en.
            – Sim... Ele já está fraco demais. Se o neko de ligação dele não voltar, a instabilidade de sua forma etérea irá sucumbir, levando consigo seu corpo de carne...
            – Seu inútil! – gritou Gurei, cheio de raiva. – Você o deixa sozinho nesse lugar cheio de pesadelos para os humanos como se fosse fácil e some sempre que ele precisa de você!
            – Foi ele que foi me buscar...
            – ...! – todos se assustaram com as palavras de Gunshin.
            – E então?! Porque ele não veio com você? – Gurei exigiu uma resposta.
            – Não sei... – Gunshin pegou En’hain nos braços, e o levou para cima. Os outros ficaram calados.

...

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 10


O Ilusionista



            Dentro do circo Pilares, o castelar assaltante (perito em combates corpo a corpo rápidos e ações furtivas) observava o que acontecia escondido aos olhos de todos. Todas as pessoas – se é que se podia dizer isso – estavam todas do mesmo jeito, com as feições do rosto apagadas e no lugar pinturas cômicas ou tristes borradas e envelhecidas. Na frente do circo, havia um grande letreiro luminoso e quebrado difícil de ser lido, junto de imagens de palhaços brincando com crianças alegres, um manticore pulando um aro de fogo com o seu domador estalando o chicote, um mágico tirando pássaros e objetos de uma bolsa pequenina para tanta coisa e o apresentador do circo de chapéu cartola fingindo estar empurrando as outras imagens para dentro. Aquilo deixava Pilares muito curioso, tudo aquilo estava velho, sem cor, completamente depressivo e triste. Não havia nada de circo naquele lugar horroroso...
            Pelo que percebera, o show estava prestes a começar e ficara atento ao que eles faziam. Algumas pessoas mais normais entraram, a contra gosto, sendo empurradas pelo homem comprido e pelo homem bola. Entraram duas crianças, um menino e uma menina, entusiasmados com as cores incomuns que viam do lado de fora e um senhor, já velho e de andar lento, que as acompanhavam tremendo, com sinais de alguma doença debilitante. Os três entraram e se sentaram na arquibancada, grande, vazia e quebrada em algumas partes. O senhor de idade tinha olhos arregalados, olhando de um lado para o outro enquanto tremia e as crianças ficavam brigando, se dando tapas falando alguma coisa que Pilares não entedia, enquanto esperavam a apresentação.
            As luzes se apagaram, um som sinistro começava a aumentar e um holofote se acendeu, brilhando sobre o apresentador de chapéu cartola, o mesmo que aparecia nas imagens do lado de fora. Ele fez alguns gestos de cumprimento, dando alguns passos dançantes e parou em cima de um trapézio. As luzes se apagaram novamente, e um equilibrista apareceu no lugar dando cambalhotas e mais cambalhotas. Pegou alguns objetos de forma engraçada e outros de forma perigosa e os lançou no ar, passando de uma mão para a outra, sem deixar nada cair. Deu mais algumas voltas com aquelas coisas em pleno ar, jogou-as com força para o alto, demonstrando medo quando elas voltassem. As luzes se apagaram novamente e, no lugar do equilibrista, apareceu uma bailarina gorda e barbada que ficava na ponta dos pés como se seu peso não influenciasse em nada a pressão sobre os dedos. A menina aplaudia com entusiasmo aquela visão, se levantando e tentando uns passos ali mesmo na arquibancada. Mais uma vez as luzes se apagaram e no lugar do último artista, apareceu o palhaço, montado numa bicicletinha diminuta, quase impossível de ver sob a sua sombra. Ele apertava uma buzina várias vezes, enquanto um peso acima de sua cabeça era hasteado sobre sua cabeça por alguém escondido e com uma risada estranha. Na hora de soltar a corda para que o peso acertasse a cabeça do palhaço, as luzes se apagaram e o mágico apareceu em seu lugar. Porém, havia algo diferente nele. Pilares olhava atentamente para ele, que mexia uma varinha no ar como se fizesse um feitiço e apontou-a para o senhor que estava sentado ao lado das crianças. Ele se levantou abruptamente, deixando cair a bengala que sustentava o corpo e foi andando, sem mais tremer, na direção do mágico. Tomado por um estado de transe, ele caminhou e ficou parado na frente do homem de cartola que finalmente a tirou. Foi então que o Senhor de Castelo percebeu o que estava errado, debaixo da maquiagem, o mágico tinha rosto! Isso não importava no momento, a cartola que estava na mão do mágico foi posta na cabeça do senhor e simplesmente escorregou por todo o seu corpo, engolindo-o completamente. As duas crianças se assustaram, correram para ver onde estava o avô delas, virando a cartola... Que as engoliu também!
            Pilares estava boquiaberto com a apresentação macabra daquele circo, não sabia o que fazer numa hora como aquela. Suas facas estavam presas debaixo da roupa de sobrevivência que purificava o ar para que respirasse bem e continuou ali, parado. O mágico fez reverência, como se ainda restasse público e um som de aplausos e vivas pode ser ouvido, vindo de algum lugar desconhecido. O homem de cartola parou um instante, mostrando que o show ainda não havia acabado apontando a varinha que estava em sua mão para onde Pilares estava. O castelar ficou gelado e tentou fugir dali, sem conseguir se mover... Devia estar preso em um feitiço do mágico!
            O homem da cartola recolocou seu chapéu e andou na direção do Senhor de Castelo que sentia todo o seu corpo ficar dormente. De frente para a lona do circo, o mágico retirou o pano copiador do castelar e finalmente viu sua face. Mirou a varinha na jóia mágica e a suit foi recolhida para dentro dela. O ar tóxico era pesado, Pilares sentia sua garganta fechar, deixando a respiração lenta ainda mais sufocante. Ele engoliu a seco, enquanto via a parte debaixo da cartola se aproximar do seu rosto...
...

            – Aaaaah! – gritou Pilares acordando do pesadelo. – Merda! O que foi aquilo?!
            O Senhor de Castelo olhava de um lado para o outro, enquanto passava a mão no capacete globular que o impedia de tocar o rosto. Sua respiração estava ofegante, sua vontade era de tirar a droga do capacete de uma vez. Ao longe, alguma luz do amanhecer despontava nas nuvens espessas acima de sua cabeça, já era de dia e a fome apertava-lhe o estômago:
            – O que eu faço agora?! – gritou irritado.
            – Pilares? – perguntou Iksio, ao longe, com alguém do seu lado. – Pilares!
            – Iksio?! – os dois correram para se encontrar.
            – Que bom rever-lhe nobre castelar! – disse, já diante do companheiro castelar.
            – E quem é... Hahahah! – Pilares começou a rir desvairadamente. A sua frente vinha outro Iksio, de cuecas!
            – Meu caro amigo, sugiro-lhe que mantenha os modos devidos. – Iksio tentava ser calmo, sem perder a compostura. – Esse não sou eu!
            – Hahahaha... – Pilares estava quase chorando de tanto rir. – Quem é... Quem é esse... Quem é esse?! Hahahaha...
            – Creio que seja um objeto inanimado que capta formas de pensamento e se transforma nelas... Veja, ele já mudou outra vez.
            – ...! – Pilares parou completamente de rir. – Assim não vale!
            – Quem tanto acha graça, acaba por ficar sem ela... Heheh...
            Quem o polímero copiador havia imitado agora, em trajes mínimos, era Pilares...

...

            Enquanto o assaltante batia o pé, querendo que o polímero mudasse de novo, em algum lugar da zona de lixo, um homem de cartola observava uma bola de cristal, mostrando Iksio e Pilares conversarem:
            – Não tema minha criança, logo mais você me será útil...
...


sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo 3 - Primeiro spoiler divulgado!

Eu simplesmente não acreditei quando vi! O.O
Eu tinha que colocar isso aqui de qualquer jeito! \o/


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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 9


Cidade Baixa



            Naqueles dias, a chuva ácida estava forte, boa parte do material atingido derretia e era drenado no subsolo por grandes máquinas aparentemente imunes a corrosividade, blindadas por algum material vítreo que brilhava com as poucas luzes que ousavam penetrar a escuridão. O barulho delas durante aqueles tempos sombrios não deixava ninguém dormir, sempre girando algo que lembrava uma broca, perfuravam os canos quando ficavam entupidos para que o fluxo do material derretido continuasse a fluir para a grande indústria que a Irmandade Cósmica instalara no planeta que roubara – a Cidade Baixa. Esse lugar era medonho, cheio de prédios atrás de prédios com mais de trezentos metros de altura sem praticamente nenhum espaço entre eles, um lugar literalmente sufocante. Ele parece ser perfeito para abrigar populações, mas não se engane. O que realmente mora lá costuma devorar pessoas...

...

            Pilares e Iksio não encontraram um bom abrigo, ainda separados do resto do grupo, permaneciam vagando pelas áreas ainda não afetadas pela chuva ácida. Iksio era espreitado pelo monstro de lixo e esperava que ele o deixasse em alguma hora, ou que ele mesmo se lembrasse de algo que pudesse ser feito para afastar o animal descomunal. Já Pilares tramitava por entre os entulhos segundo seus instintos, evitando voltar para onde os seres famintos estavam: ‘Aquilo cheira a carne podre!’, pensava ele, ‘Isso porque estou usando filtros de ar!’. De fato, o lugar tinha um quê de enjoativo que fazia o estômago do Senhor de Castelo se remexer:
            – Droga! Por que eu fui dar tudo o que trouxe pra ele! Agora quem está com fome sou eu! – reparando melhor, Pilares percebeu algo interessante a sua frente. – Será possível? Ou eu estou delirando?
            O castelar se aproximou daquele lugar luminoso, que tinha algumas poucas pessoas rindo, vendendo alguma comida e falando sem parar e constatou que era realmente o que pensava:
            – Um circo! – E reparou na palavra que havia dito a si mesmo. – Um circo?
            Um homem estranho, de altura extremamente baixa e membros curtos que não lhe permitiam andar direito, andava ‘rebolando’ e foi falar com Pilares que não entendeu nenhuma palavra do que ele dissera. Ele parecia estar convidando-o para entrar no circo, o que o Senhor de Castelo recusava veemente. Então, saindo de dentro de um pequeno engradado, outro homem, de aparência muito esguia e comprida – devia ter uns três metros de altura e ser mais fino que o braço forte de Pilares – surgiu na frente do castelar. Da mesma forma que o baixinho em forma de bola, ele parecia chamá-lo para dentro do circo, chegando a tocar levemente em sua mão para guiá-lo. Pilares não entendeu nada e, temendo acontecer algo ruim como da primeira vez, jogou uma bomba de fumaça no chão e sumiu. O entretenimento gratuito fez os dois estranhos baterem palmas, ou quase isso, o alto e magro batia bem devagar e o pequeno e roliço batia as mãos várias vezes, sem que elas se encontrassem.
            Pilares com certeza achava aquilo estranho, no meio do escuro aparecer um lugar bizarro como aquele e, tentando se lembrar do rosto dos esquisitos, percebeu que só havia uma expressão em suas faces: um semblante liso com olhos e boca pintadas com alguma tinta que já ficara desbotada pelo tempo. E concluiu:
– Eles não tem rosto!
Pilares ficou por ali, sem querer ser visto por ninguém, como um assaltante, espreitando e reconhecendo a região.

...

            Iksio também acabou por conhecer uma nova parte do planeta. Na última fuga do monstro de lixo, o Senhor de Castelo foi parar nos limites da Cidades Baixa. Não tinha como perceber a imensidão do lugar, pois as nuvens estavam baixas e continuavam espessas. Porém, havia alguma luz para iluminar o breu noturno e decidiu pular a cerca que separava aqueles prédios da zona do lixo:
            – Pelas águas límpidas de Arthúa! Como um senhor distinto como eu, que sempre evita fazer algo errado, está pulando uma cerca?! Iksio, você está me saindo muito arteiro! – o castelar falava consigo mesmo, enquanto continuava andando cidade adentro. – Quando sairmos daqui terei novas aulas de etiqueta com a senhorita Liliana de Tianrr... Ah, Liliana, minha amada e doce donzela Liliana, da alta sociedade urbana de Tianrr, que falta você me faz neste mundo arrepiante! Tu és a luz que ilumina meus esforços! Oh, se olhastes para mim ao menos uma vez! E percebesse que posso ser um homem forte, como um Senhor de Castelo, e ainda assim ser gentil e educado como tanto sonhas. Iksio! Recomponha se! Um homem de etiqueta fina nunca deve ter devaneios como este e demonstrar tamanha fraqueza! Ah... Dane se, não tem ninguém aqui!
            O castelar ouviu algo passar por trás dele, o que o fez sentir seu corpo gelar:
            – É... Bem... – ele tentava recompor-se para demonstrar seus hábitos refinados novamente. – Desculpe-me se pareço rude e louco. Estive correndo e me escondendo de uma fera maligna que me perseguia por onde quer que eu fosse e...
            Iksio levou um susto, quem estava diante dele era sua amada Liliana, vestida da mesma forma com a qual ele se lembrava da última vez em que eles se viram. Um corpete azul lindamente bordado em violeta, uma saia recatada de alta costura com uma renda brilhante, um chapéu diminuto para a cabeça com uma armação metálica que se retorcia delicadamente envolta da cabeça em tons arroxeados; sua face suavemente triangular era branca e aveludada, o nariz e a boca eram menores que as comuns e os olhos, negros como a noite, tinham íris grandes que não deixavam transparecer o branco dos olhos. Seus dois pares de braços, com luvas num tom azul quase branco que iam até o cotovelo completavam a visão do Senhor de Castelo:
            – Desculpe-me, seja lá quem você for, você não pode ser Liliana... – Iksio apontou o dedo na direção da moça e escreveu no ar com a escrita mágica. – “Reconhecimento”!
            Os sentidos do castelar se afloraram novamente e ele pode ver com clareza, a criatura não tinha forma certa, era um construto que mudava de forma e que se movimentou enquanto Iksio o olhava através de outros espectros luminosos. Retornando do estado de transe, o Senhor de Castelo se deparou com algo mais desconcertante, a criatura artificial assumira uma forma um tanto peculiar:
            – Pelas Cascatas da Purificação! Sou eu... de cuecas!
...

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Devil’s Drink 22 – Eles...

Bem vindos os novos clientes Nanda Roque e Sérgio Carmach! Obrigado por integrarem a clientela deste humilde Bar! ^^
Ah, e um obrigado especial ao Ulisses Góes, também cliente do bar, por causa dele, as ondas de rádio estão me deixando sem dormir de noite... ^^'
E aos autores originais de Crônicas dos Senhores de Castelo, G. Brasman e G. Norris, por terem criado o personagem Iki-Dao no segundo livro - Efeito Manticore. Me identifiquei muito com ele, com sua dualidade de pensamento entre os irmãos. Então acabou saindo esse drinque... Divirtam-se! \o/
Devil’s Drink 22 – Eles...



            Dor de cabeça... As dores eram fortes, En’hain as sentia latejando, praticamente explodindo sua cabeça. O barman estava zonzo, talvez por que ele tenha dormido durante três dias. Mas provavelmente era por outro motivo. Ele não sabia o que fazer e foi descendo as escadas lentamente, quem sabe alguém reparasse nele e o ajudasse. Ficou ali, olhando o movimento do bar, poucos degraus abaixo do topo da última escada. Olhava para todos os lados, não conseguia ver direito. Sua miopia havia voltado.

            En’hain tentou escutar e ouviu a voz de Gurei, o neko de pelos cinza-azulados e tapa-olho no rosto que tanto o irritava. O tom de voz parecia diferente, ele estava rindo:

            – Não acredito! É sério?!

            – Seríssimo! – uma voz forte e desconhecida falou.

            “Será que tem alguém novo no bar?”, pensou En’hain, que acabou percebendo outra coisa: “Será que eu fui substit...” A palavra morreu em seus pensamentos diante do choque.

            – Ele não tem a mínima noção do que está fazendo aqui! – continuo a voz estranha.

            – Ele é patético assim mesmo. Se bem que agora ele não está mais parecendo o que era... – Gurei ficou pensativo por alguns instantes. – Não! Que ele se foda! – disse com deboche.

            “De quem eles estão falando? Quem é esse outro?!”, continuava a pensar.

            E a conversa prosseguia:

            – Então Nox’en, me conta mais sobre os podres do dorminhoco... – En’hain sentiu sua espinha gelar e sua garganta travar, engolindo a seco.

            – Vocês dois, calem a boca! Já estão me enchendo! En’hain isso, En’hain aquilo... Vocês não tem nada melhor pra fazer! – disso uma terceira voz, também desconhecida.

            – Tinha mais isso aí... – falou o tal Nox’en.

            – É mesmo! Hahah... Ele sempre faz desse jeito quando está com raiva.

            – Por que vocês estar falando assim de En’hain? – disse Sasha, o lobisomem da casa.

            – Esses dois estão se divertindo à custa dele que ainda está dormindo... – disse o segundo desconhecido.

            – Medíocres...  Eles são medíocres!– retornou a falar o primeiro em tom de discurso.

            – Hahaha... Se eu soubesse que você tinha um lado desses, eu teria te levado pra beber mais cedo. – Gurei ria tanto que não se aguentava. – Hahahah...

            – ...! – o segundo sujeito fez alguma coisa que tilintou um barulho metálico.

            – Ei! Larga essa faca! Me deixa em paz Lidi’en! – o primeiro estranho devia estar fugindo do outro.

            – Não fale mais assim dele! – En’hain ouviu o barulho da faca sendo cravada na parede.

            “Quem é esse que quer me defender desse jeito?”, no seu canto, os pensamentos de En’hain fluíam confusamente. Afinal, eles estavam falando mal ou bem dele? Ele ficou ali, ouvindo mais da conversa:

            – Rapazes! – era Lady Neko que falava agora. – Não briguem, vocês mal chegaram e já querem causar problemas?

            – Foi ele que me irritou, Lady Neko! Esse imbecil sem cérebro que não sabe o que faz e fica ridicularizando os outros... – seu tom era áspero e rancoroso.

            – E eu tenho culpa dele ser tão ridículo?

            – Aiai... Será possível que vocês não conseguem chegar a um acordo?

            – NÃO! – disseram os dois ao mesmo tempo.

            – Nossa... – Lady Neko, com toda a sua delicadeza, se sentiu acuada pela agressividade dos desconhecidos... E deu um belo tapa nos dois.

            – Brutamonte! – gritou Nox’en, enraivecido.

            – Por quanto tempo isso vai continuar? – disse Lidi’en, se acalmando.

            – Até você! Essa eu não esperava... – Nox’en estava contrariado.

            En’hain também se fez essa mesma pergunta e, em seguida, sua cabeça voltou a latejar. As dores foram fortes e ele desmaiou, caindo escada abaixo, assustando todo mundo:

            – En’hain?!

...

            Era de dia, pela manhã. En’hain sabia disso por que nesse horário os raios de sol batem diretamente na cabeceira da cama do senhor Gunshin:

            – Ele devia mandar fazer uma persiana...

            – Depois eu faço... Você está melhor?

            – ... – En’hain franziu os olhos tentando enxergar, fazendo cara feia por saber que era o sumido que estava ali. – Acho que estou...

            – Tome, aqui estão os seus óculos.

            – Obrigado... – finalmente ele conseguiu voltar a enxergar, ficando calado encarando o dono do bar.

            – Você já sabe?

            – Que fui substituído? Eu fiquei ouvindo os dois sujeitos ontem conversando com o pessoal como se eu já estivesse morto. – suas palavras eram pesadas por causa do ressentimento. – Eu pensei que finalmente tivesse encontrado um lugar onde eu deixasse de ser inútil. E tão logo eu passo mal já sou substituído...

            – En’hain?!

            – O que foi? Você já fez as minhas malas, não foi?! Estou ficando de saco cheio de tudo isso aqui, de não fazer parte disso... – ele encostou a cabeça em cima dos joelhos que estavam próximos ao corpo e virou-a para o outro lado, chorando.

            – Rapazes, entrem logo, antes que ele piore! – gritou Gunshin para os outros que estavam do lado de fora.

            En’hain estava curioso, quem eram aqueles que o substituíram? Ele virou o rosto para olhar e viu dois homens, de estatura mediana como a sua e que tinham exatamente a mesma altura. Pareciam gêmeos, porém, eram diferentes. Um tinha cabelo amarelo loiro perfeitamente penteado, olhos vermelhos, usava um avental do bar sobre uma roupa simples, uma camiseta e uma calça jeans azul que En’hain reconheceu como suas, do dia em que ele chegou ao bar. Sua expressão era como se quisesse pedir desculpas, sem coragem para dizer nada. O outro estava irrequieto, como se estivesse com raiva. Ele tinha cabelo castanho alaranjado, lembrando a cor do cobre polido, espetados para cima; usava um casacão de frio, o mesmo que Gunshin usara na noite de inverno do seu encontro com En’hain; por debaixo ele tinha o uniforme de barman da Toca dos Gatos – camisa branca, calça e colete pretos com uma gravata borboleta na cor vermelha. O primeiro decidiu quebrar o silêncio e começou a falar:

            – Eu sou Lidi’en... E esse é o Nox’en... – enquanto ele tentava encontrar as palavras certas, o outro simplesmente levantou a mão para dar um oi, sem dirigir a atenção. – Nós somos... O que nós somos mesmo Gunshin?

            – Personas interiores...

            – Sim, isso mesmo... Eu e Nox’en...

            – O burro vai na frente... – interrompeu o irmão.

            – Vai começar de novo?! Nem na frente dele você vai ser mais educado?

            – Não é você que gosta de ser educado? Então, eu quis dizer que o certo é você falar sobre você por último...

            – Eu só me complico... – Lidi’en colocou a mãos na frente do rosto, apertando as têmporas. – Então... Nox’en e eu...

            – Agora sim!

            – Pare de me interromper, caramba!

            – Eu não sou caramba! – os dois não paravam de discutir.

            – O que é uma persona interior, Gunshin? – perguntou En’hain, mais confuso do que nunca.

            – São partes de você...

            – Como assim?

            – Eles saíram de você...

            Gurei gritou do lado de fora do quarto:

            – Parabéns... Mamãe! – ele ria descontroladamente, chegando a chorar.

            – ...! – En’hain ficou sem palavras...

            – Você não é mais o último draconiano da Terra... – completou Gunshin, que batia levemente em seu ombro.

            – Por que comigo?! – ele não sabia o que fazer e começou a rir e chorar ao mesmo tempo... – Por quê?!!!

...