Todo escritor, em algum momento de sua vida, escreveu algo e guardou, sem nem ao menos mostrar para alguém. Esta é uma dessas histórias, criada em 2006, inspirada na minha época de colegial e nas influências que tive na época. Uma delas foi um amigo que, mesmo não nos vendo durante anos, fez questão de visitar a minha casa (e de ser o primeiro a fazê-lo) e me dar um presente muito especial, literalmente sagrado! Em agradecimento e também pelo seu aniversário, editei e trouxe de volta a vida esta história, a única que ficou completa. Ela pode não fazer muito sentido, uma vez que muito do conteúdo é baseado nas minhas outras histórias em que participo e explicar tudo poderia carregar o texto que já é por demasiado longo, mas espero que gostem e aproveitem com prazer. Tenham uma ótima leitura!
ANJO CIBERNÉTICO
Dedicado ao grande amigo
Lincoln Berlick
Cyber Angel é a marca registrada
dos softwares da empresa Impérios criados para coordenar os terminais pessoais,
seu principal aparelho eletrônico portátil de uso cotidiano. Mas, quem criou
estes complicados programas que, de tão complexos, não conseguem ser lidos por
computadores comuns com processamento considerado super eficiente? Descubra a
seguir como o “imperador” descobriu o Cyber Angel, o anjo cibernético.
...
Capítulo 01 – O Caso
Já sou
formado em mestrado e doutorado em magia e como rei-general coroado preciso
resolver os problemas insurgentes do meu povo. No meio de um deles, entre
vários papéis, havia um que me interessou: o caso dos rebeldes em Goldland, a
terra do ouro e da supremacia da tecnologia. O caso era simples, poderia ser
investigado pelas autoridades locais, mas resolvi investigar eu mesmo, antes
que se prolongasse mais e acabasse numa grande rebelião, atingindo a população.
Para
começar, utilizei a minha carta 11, a Força, transmutada no manto de
transformação para alterar o meu rosto e seguir para a torre principal do
pequeno continente, a cidade-estado Torre de Cristal com suas centenas de andares,
investigar o caso mais a fundo. O que descobri no começo era realmente bem
simples: ninguém viu ou conheceu pessoalmente o líder dos rebeldes.
Desapontado por não conseguir
mais pistas, estava retornando ao hotel quando passei por um beco no andar central,
estranhamente limpo, devo dizer; e vi dois garotos, possivelmente colegiais,
pichando de preto as paredes do local.
Diante
daquilo, tomei uma atitude. Como pichar é crime, tratei de capturar os
criminosos. Ao me aproximar, notei que eles já haviam terminado a pichação que
parecia um desenho estilizado de asas com uma auréola. Teria aquilo algo haver
com um anjo?
Assim que
os entreguei a delegacia mais próxima, pedi para que entregassem suas fichas de
informações no meu quarto de hotel e saí para pesquisar na melhor biblioteca
pública da cidade de cristal, que compartilha de grandes conhecimentos da mesma
forma que as bibliotecas da escola militar e da universidade máxima de
tecnologia, o significado daquela imagem. Se bem que não é uma simples biblioteca,
aliás, o local é conhecido como centro de informações da matriz, uma instalação
gigantesca por onde o fluxo de informações do NEXUS – rede informações de cabos
condutores que conectam diversos aparelhos – passa.
Ainda
inexperiente com os hábitos do continente, não sabia como entrar no local ou
adquirir as informações e me informei devidamente sobre o assunto. Como todos
os seres naturais de Goldland são ciborgues, todos eles, num determinado
momento de suas vidas até então orgânicas, recebem uma entrada de informações
chamada PRAGA, ligadas diretamente ao córtex cerebral e que, por meio de um
indutor de informações – uma agulha bem afiada – tem suas mentes ligadas ao
NEXUS. Seres normais como eu poderiam receber o conector também e logo marquei
a cirurgia, em poucas horas a abertura circular metálica foi instalada na minha
nuca, pronta para uso. Era tarde, retornei ao hotel para descansar, indo à
biblioteca no dia seguinte.
Voltando ao
Centro de Informações, fui encaminhado para um terminal – uma cadeira
acolchoada em que se pode relaxar. O indutor da NEXUS foi introduzido e senti a
injeção de informações preenchendo a minha mente que parecia deixar o meu
corpo. Navegando pela NEXUS, agora sim a biblioteca parecia comum, cheia de livros
e estantes. A noção de realidade era meio dúbia, sendo possível perceber que
tudo era virtual.
Procurei pela seção de símbolos e
uma enorme estante se posicionou a minha frente, como um trem que chega
repentinamente a estação. Lendo a minha mente, um programa reconheceu a imagem
que eu havia visto e abriu um dos livros que veio voando até a minha mão.
Folheando a informação virtual, encontrei o significado do símbolo que se
tratava ser a marca de um anjo do Senhor, o Arcangelus. Somente um mensageiro
do senhor poderia ter esta marca revelada e somente aqueles que se corromperam
estão na terra com este símbolo, ou seja, o líder do revoltosos era, na verdade,
um anjo caído. Além disso, a quantidade de pontas que as asas apresentam indica
a classe hierárquica a qual o anjo pertence. A pichação tinha cinco pontas,
quinta classe angelical – Virtude.
...
Capítulo 02 –
Conclusão
Ao termino
da pesquisa, retornei ao hotel. Na recepção me entregaram os documentos que
requeri no dia anterior. Entrei no meu quarto e fiquei lendo o conteúdo. O que
mais chamou a minha atenção era o fato de terem sido presos diversas vezes em
rebeliões tanto na vida real quanto na cibernética. Com tal histórico, cheguei
ao conclusão de que eles devem ser próximos do líder o suficiente para que eu
consiga alguma pista.
Liguei para o chefe de polícia,
avisei-lhe que queria ouvir o interrogatório dos dois meliantes e ele me disse
que ocorreria um novo em algumas horas. Novamente na delegacia, após exaustiva
conversa investigativa sem nenhuma resposta, pedi aos policiais encarregados
que me deixassem sozinho na sala atrás do espelho e que os adolescente ficassem
também sozinhos onde estavam. Saquei algumas cartas do meu baralho mágico e
manipulei a carta 9, o Eremita, desativando a carta 11, a Força, e transmutando
a carta 12, o Enforcado, no machado de controle da mente. Com o artefato
mágico, me concentrei e vasculhei suas mentes.
Durante a introspecção, procurei
insistentemente nas memórias deles alguma informação. Consegui descobrir
somente que eles recebiam um e-mail antecedido pelo símbolo Arcangelus. Nada
mais. Então manipulei novamente minhas cartas antes de sair. Primeiro usei a
carta do Louco para apagar a memória dos dois, em seguida usei a carta 9, o
Eremita, para desativar a carta 12, o Enforcado, e reativar o manto de
transformação ao transmutar a carta 11, a Força, me disfarçando novamente.
Mais uma vez em meu hotel sem
nenhuma pista nova, fiquei pensando e percebi que só havia uma única coisa a
fazer: me infiltrar no grupo rebelde.
...
Capítulo 03 –
Infiltração
Decidido a
entrar no grupo, ativei os poderes do manto de transformação e assumi a
aparência de um adolescente. Com documentos falsos cedidos pelo conjunto
policial da Cidade de Cristal, entrei para a mesma escola militar de
informática em que os dois jovens estavam cadastrados como alunos do primeiro
ano.
No primeiro
intervalo, e em todos os horários seguintes sem aula, subi discretamente ao
topo da escola para observar os alunos. Sob minhas ordens, os jovens retornaram
normalmente às aulas como se tivessem sido soltos completamente impunes por
falta de provas e seguiriam normalmente com suas vidas. Em alguns momentos,
quando eles se reuniam com outros possíveis rebeldes, eu me arriscava tirando o
disfarce e usava o machado do controle da mente e vasculhava seus pensamentos
discretamente. Com alguns dias sem resultados, uma semana depois finalmente
consegui uma pista: um grupo do terceiro ano recebeu uma mensagem do líder,
chamando-o de anjo. A mensagem mandava que eles entrassem no NEXUS e invadissem
e deletassem os arquivos da biblioteca pública: “Estarei lá esperando as 9:00
PM”. Pelo que pude entender, o líder estaria presente na biblioteca virtual.
Porém, havia
um problema em prosseguir com o plano. O feitiço do manto de transformação não
funcionava com a forma digital do indivíduo. Felizmente, outra transmutação de
carta funcionaria. A função do machado de controle mental poderia ser útil, ao
invés de ir com o meu corpo, eu iria através do corpo de outra pessoa, desta
forma o NEXUS reconheceria a imagem dele e não a minha para digitalizar. Seria
cansativo, mas poderia dar certo.
Pouco antes
do horário marcado, me concentrei mentalizando a localização de um dos jovens e
minha mente percorreu todo o espaço até ele, sem que eu precisasse sair do
hotel. Ouvi alguém chamando, abri os olhos no mundo virtual e vi que estava
chegando a um grande prédio circular de centenas de andares. Eu estava
infiltrado.
...
Capítulo 04 –
Encontro
No controle
da mente do jovem, eu estava na biblioteca virtual. Por uma entrada secreta,
seguimos por um túnel de manutenção com as defesas previamente desligadas.
Chegando ao núcleo, me deparei com um homem encapuzado com a mesma altura que
eu. Observei ele da maneira que conseguia e sem poder ver seu rosto na
penumbra. Eram 9:00 PM e vários adolescentes compareceram na biblioteca. O
líder então levantou a mão e começou a dar suas ordens:
– Vamos
deletar todos os dados do núcleo e deixar uma mensagem no lugar. Mas antes...
O líder
apontou na minha direção, aliás, na direção do garoto que eu controlava e uma
pena voou na direção da testa dele. Perdi completamente o controle sobre o
jovem, retornando a mim com o feitiço sobre a carta 12 desfeito bruscamente,
soltando fumaça. Espantado, cheguei à conclusão de que aquele era mesmo um ser
puro, um anjo caído do Senhor! De que outra forma um feitiço de alto nível
poderia ser desfeito?
Então vi
algumas penas caírem do teto, me vi sonolento e adormeci...
...
Capítulo 05 – Batalha
Cibernética
Pela manhã
seguinte, acordei desnorteado. O telefone ligou, era o delegado responsável:
“Onde você estava?”, perguntou, “Uma grande quantidade de dados foi apagada da
biblioteca ontem! Por sorte você nos deixou de prontidão e conseguimos fechar a
parte interna do núcleo antes que mais arquivos fossem perdidos. Vocês está
bem?” Não conversei por muito tempo e antes que desligasse ele disse: “Aquele
garoto, ele não sobrev...” Tirei o telefone da linha, não queria ouvir o óbvio.
Minha cabeça latejava um pouco e tive de usar a carta 2, a Sacerdotisa, para
aliviar as dores. Prossegui normalmente com o disfarce com a carta 11, a Força.
Na escola,
o professor de engenharia cibernética passou uma tarefa prática para a classe:
– Hoje será
o grande dia! Vocês serão conectados ao NEXUS e deverão prosseguir até o centro
de pesquisas – fiquei preocupado, meu disfarce poderia ser descoberto! – ...controlando
a armadura de seus avatares pessoais... – me senti aliviado ouvindo aquilo. – ...e
trazer uma das últimas noticias disponíveis.
Como já
havia ido à biblioteca, não me preocupei com aquilo. Contudo, os outros alunos
estavam apavorados:
– Cara,
esse professor é louco! – disse um aluno próximo de mim.
– É... Pelo
que ouvi dizer, nenhum aluno dele conseguiu entrar no NEXUS e terminar a
missão... – concordou outro.
– Vocês aí
atrás! – eles olharam para o professor tremendo de medo. – Prestam atenção na
aula!
– Sim,
professor! – disseram os dois.
– Quem não
conseguir trazer o conteúdo, sairá do semestre com nota baixa. Haverão iscas
para atrair vírus e, para assegurar que suas mentes não sejam devoradas por
eles, vocês terão um botão de LOGOUT
na armadura digital em caso de emergência. Mas, se apertaram o botão, levarão
nota baixa do mesmo jeito! Prontos? Vocês terão apenas quatro horas para
concluir o objetivo!
Pouco
depois, no terminal da escola, fomos conectados e iniciamos a missão com armas
de desfragmentação em punho... Olhava aquilo e estranhava, sei que cada
continente de Geonova possui seu método de ensino particular, apenas não
imaginava que fosse tão radical! O professor deu suas últimas palavras e deu a
largada, abrindo as portas do servidor da escola.
Naquele
ambiente novo percebi que tudo era diferente de antes. Ali era uma zona livre
do NEXUS que praticamente imita o mundo real a sua maneira digital, com
montanhas de dados, florestas de programas, rios de conexão e, por consequente,
os animais do mundo virtual eram os vírus. Prosseguindo, cada um foi pelo
caminho que considerava melhor. Uns permaneceram e grupos de dois ou três, e
outros, como eu, seguiram sozinhos. As armaduras dispõe de mapas interativos e
tracei a rota mais curto para o objetivo.
O caminho
era longo, infestado de vírus de todas as formas e tamanhos – uma verdadeira
fauna e flora virtual! Sou militar experiente com prática em campo de batalha,
o que me dava vantagem sobre os outros alunos e sobre os vírus que não eram
nenhum desafio, pois deletava-os facilmente. Mais a frente, no meio da floresta
de programas, por um acaso, encontrei uma isca com um vírus gigantesco próximo
a ela. Os livros sobre a descrição de vírus denominavam aquela espécie como
troll, da classe gigas. Decidi deletá-lo para que não causasse mais problemas,
porém, antes que eu pudesse reagir alguém quis atacá-lo na minha frente. O
aluno que se aproximou do troll era o melhor da sala e pensei que não seria
necessário que eu interferisse, permanecendo escondido, apenas observando.
Ele estava
agindo habilmente, seus tiros eram certeiros, mas a carapaça do vírus era
resistente e, percebendo que ele o estava atacando, prendeu-o com seus braços
vinha. Torci para que o aluno ativasse o botão de emergência e fizesse o
LOGOUT. Ao contrário do esperado, ele gritou bem alto:
– Eu não
vou perder! – e respondendo a sua determinação a arma em sua mão evoluiu para
um canhão.
Com um único tiro, o gigas foi deletado.
Contudo, o confronto ainda não havia terminado, novos vírus trolls apareceram,
encurralando-o ali. Ele atirou mais três vezes, acertando dois trolls de raspão
que ficaram enfurecidos e o derrubaram com força, fazendo-o largar o canhão que
rolou para longe. O vírus o apertou com tanta força que ele ficou inconsciente.
Sem hesitar entrei na briga e dei um super soco naquele vírus, arrancando sua
cabeça. Com o jovem a salvo, lutei contra os vírus que surgiam mais e mais.
Mirei rapidamente na isca e tratei de escapar com o garoto durante a explosão
que cegou os gigas tempo suficiente.
Dali em
diante correu tudo normalmente, consegui chegar ao seção de notícias do centro
de pesquisas a salvo e tornei o caminho todo com aquele aluno nas costas.
Surpreso, o professor nos deu os parabéns, éramos os primeiros que conseguiram
voltar do NEXUS na primeira incursão... na história da academia! Não entendi o
entusiasmo e pesquisei posteriormente: menores de idade não tem permissão para
sair de áreas seguras e só utilizam o servidor da escola militar para treino. O
certo deveria ser avaliarmos bem a situação, escaparmos sem duvidar e abandonar
o objetivo diante do perigo. Afinal, eram alunos jovens e inexperientes...
...
Capítulo 06 –
Revelações
No dia
seguinte, me apresentei com pequenos (e falsos) curativos e puder ter aula
normalmente. Não me importo de estudar de novo, é um ótimo entretenimento. Com
o termino do horário letivo, na saída, encontrei com aquele aluno da missão.
Ele se apresentou, seu nome era Lítion, nickname UNDERDARK – esta é a forma
como você se apresenta cordialmente numa cultura tão arraigada no mundo
virtual. Pensei que ele queria me agradecer ou me parabenizar, entretanto, seu
tom de voz se tornou áspero:
– Saia do
meu caminho... Vou acabar com qualquer um que entre na frente dos meus
objetivos!
Sorri
abertamente para ele:
– “No dia
23 do quinto mês, ocorreu um terrível atentado à família Cyber World, deixando
vivo apenas o filho mais novo do casal Jack e Lilian Cyber World, dos então
presidentes da companhia Cyber World de programas avançados, Lítion Cyber World.
As únicas evidências do crime são: o fato deles terem sido eletrocutados e de
misteriosas penas brancas deixadas no local. Fará dez anos desde este
acontecimento que abalou as indústrias de programação da Cidade de Cristal...
Blá, blá, blá...” E pensar que esta fora a primeira notícia que encontrei
ontem... Lítion Cyber World!
– Seu
desgraçado! E o que você entenderia?
E respondi
simplesmente:
– Meu nome é Victório Anthony,
nickname NIKKE. Rei-general coroado pelos supremos sacerdotes de Geonova. Estou
investigando o caso dos rebeldes que tem criado problemas ao NEXUS e a
sociedade de Goldland. Vim aqui para deter o líder deles e, realmente, não devo
entender nada.
– E o que isso tem haver comigo?
– Isso... – e tirei uma pena do
meu bolso. – A pena que encontrei recentemente depois de ter sido atacado pelo anjo
cibernético, é a mesma encontrado há dez anos no assassinato dos seus pais.
– Impossível! Isso não é verdade!
Não pode ser, não pode ser... – ele se virou de costas para mim. – O líder dos
rebeldes me criou esses anos todos!
Surpreso com sua resposta, só me
restava perguntar:
– Onde ele está agora?
Atordoado, ele falou baixinho:
– Na escola, ele é o nosso
professor de engenharia cibernética...
De súbito, os aparelhos elétricos
ao nosso redor começaram a piscar, perdendo o controle, e uma nova pena veio ao
chão. Olhamos para cima ao mesmo tempo. Ele estava lá...
...
Capítulo 07 –
Perseguição
Vestido da
mesma forma que no ataque ao núcleo da biblioteca, logo ele retirou o capuz
preto:
– Agora que
sabe de tudo Lítion, você deve saber de mim mesmo. Sim, eu matei sua família...
– Por quê?!
– gritou o jovem. – Por que você fez isso?!!!
– Por quê?
– riu-se ele. – Porque vários foram mortos por eles em nome do antigo
governante. Tudo para que a população de Goldland não descobrisse as
experiências demoníacas do primeiro ministro com os clones, os fullenergys e as
próteses mecânicas usadas nas guerras...
– Mentira!
Meus pais eram muito carinhosos comigo, eles nunca matariam ninguém!!!
– De fato,
até aquele momento seus pais não matariam, foram obrigados a matar... – o anjo
então retirou sua máscara revelando sua verdadeira forma, pele branca, cabelos
loiros e olhar triste, misturados numa beleza quase divina. O poder que emanava
entorpecia meus sentidos, quase me fazendo dormir como em nosso último encontro
virtual. – Agora que sabem quem realmente sou, não poderei deixá-los viver. Se
vocês realmente têm fé, tentem me impedir!
Ele tirou
sua capa preta e a deixou cair. O anjo vestia roupas simples de linho branco e
reluzente, imagem pertencente exclusivamente aos santos mais puros. Num
movimento assombroso, abriu sua única asa. Isso mesmo, UMA asa, não havia outra
para fazer o par. Com um rápido bater de asa, lançou em nossa direção duas
penas, uma para cada um. O primeiro efeito do ataque não agiu sobre mim, em vez
disso, desfez o manto de transformação que retornou a sua forma de carta
fumegando. Lítion, porém, não conseguiu se desviar e adormeceu. Antes que ele
chegasse ao chão, enquanto eu estava atordoado, o anjo caído voou e o pegou nos
braços, levando-o para a sala do terminal escolar da NEXUS. Pensando rápido,
coloquei meu bracelete zodiac signae e corri atrás deles.
Ao entrar
naquela sala, os dois estavam se desmaterializando e sendo transportados por
completo para o NEXUS, sem necessitar de magia ou tecnologia. Decidido a
acompanhá-los, saquei a minha carta 13, a morte, e a transmutei na foice
dimensional, seccionando o tempo e espaço, abrindo um portal para o mundo
virtual tendo por base a última transposição. Assim, eu não teria desvantagens,
lutando de igual para igual. Ativei minha carta 4 de ouros aumentando minha
velocidade em quatro vezes, acompanhando-os de perto dentro do NEXUS.
Atravessamos as florestas de programas, passamos por várias montanhas de dados
e seguimos pelos rios de informações até chegarmos a um lugar que parecia um
grande templo, erguido com altíssima segurança de criptografia, a página
pessoal do anjo cibernético. Entrando em seu território particular, a segurança
foi ativada e a conexão com o mundo virtual foi cortada, por muita sorte
consegui atravessar, passando para o terminal.
Finalmente de frente com ele, utilizei
os poderes da carta 4 de espadas para tentar acertá-lo. Ele se protegeu usando
sua asa, bloqueando meu soco. O anjo deu um rodopio para trás no ar, se
afastando um pouco, deixando Lítion a salvo no chão. Voltando ao ataque, ele
empunhou uma espada elétrica de raios e voou para cima de mim. Invoquei o poder
dos signos do bracelete e formei uma barrei circular. O impacto foi tão grande
que fui jogado para trás, em um bloco concreto de dados. Sentindo os efeitos da
eletricidade, não conseguia me levantar. O anjo caído guardou a espada e, com
as mãos no rosto, retirou as lentes de contato. Prostrando-se, ergueu as mão
para o céu, pronunciando uma oração:
– Oh, poder da natureza! Vinde a
mim e me ajude a derrotar meus inimigos. Dê ao anjo Likael o teu poder! Venha
raio divino! Amém!
A estrutura do mundo virtual
mudou rapidamente, nuvens se formaram no céu e a estrutura elétrica se irrompeu
numa grande descarga de energia. Inexplicavelmente, alguém se interpôs entre
mim e o raio, criando uma barreira de dados com as próprias mãos. Aquilo não
foi o suficiente para barrar tamanha força e a explosão ultrapassou o
obstáculo, acertando o garoto. Depois que a visão clareou, Likael correu em
socorro dele, era Lítion que salvara minha vida. Com um aperto no peito e
lágrimas no rosto, a situação era extrema e o anjo não podia fazer nada:
– Desgraçado! – vociferou. – A
culpa é sua! Eu vou te matar!
Me levantando lentamente, apoiando-me
na foice dimensional, fiquei observando-o:
– Você vai me pagar! – e apertou
uma última vez o corpo do filho adotivo que cuidara com tanto zelo.
Deixando Lítion de lado, foi de
encontro a mim, focalizando grande quantidade de centelhas elétricas entre as
mãos.
– Explosão elétrica!
Com todos os sentido recobrados,
desviei do ataque com precisão. Segurei-lhe pelo braço usando a manopla da
minha armadura e o joguei no alto da mesma parede de blocos que me segurou no
outro ataque. Vários dados se desintegraram com a explosão do bloco de
criptografia rígida.
...
Capítulo 08 – Fim das
lágrimas
Likael
começou a cair e conteve a queda com a asa. Me afastei dele e ele empunhou
novamente a espada de raios. Segurando-a firmemente, fincou a espada no chão,
proferindo nova oração:
–
Decadência! Amém...
A realidade virtual se alterou
mais uma vez, tornando-se escura e tenebrosa, e um raio escuro desceu em minha
direção. Levantei a cabeça e o raio me acertou em cheio.
– Desapareça desgraçado!
Da nuvem de poeira, surgi inteiro
de armadura completa e a máscara dourada no rosto, com as asas negras de dragão
abertas. Podia sentir o vermelho tomando conta dos meus olhos e o poder de
dragão me tomar por completo:
– Quem é você criatura?! –
gritava Likael. – Que mostro és tu?!
– Não sou nenhum monstro. Sou
Victório Anthony, cavaleiro do dragão demônio e vim aqui para te deter.
Levantando a mão, conjurei um
feitiço com a carta 14, a Temperança, invocando uma forte e densa neblina.
Confuso, Likael me perguntou o que eu pretendia, ao que eu respondi:
– Cessar as tuas loucuras, porque
não é desta forma que você deve proteger os outros.
Erguendo a outra mão, conjurei
meu segundo feitiço utilizando a carta 16, a Torre, formando meu próprio raio.
Likael riu do que eu estava fazendo:
– Não adiantará! Sou imune a
ataques elétricos! Minha asa deletará tudo que tocar... – e abriu a asa, que
estava úmida.
Notando que as penas estavam
encharcadas, Likael percebeu o que eu planejava. Preenchido de raiva e
indignação, lançou mão de seu último recurso, rasgando a roupa de linho:
– Senhor, protegei teu servo! E
me usa como arma divina para deletar tudo!
De repente, meus feitiços foram
facilmente anulados, fazendo a neblina e o relâmpago desaparecerem. Likael me
fitava com aqueles olhos brancos, numa espécie de transe. Com a espada em riste,
ele apareceu atrás de mim:
– Me atacar é perda de tempo... –
exclamei. – Tudo de que preciso é de alguns segundos antes que seja tarde!
Usando as habilidades telecinéticas
da carta 6, os Enamorados, bloqueei seus movimentos e o arremessei para bem
longe do outro lado do campo de batalha, perto o suficiente para que pudesse
ver o que eu estava fazendo. Empunhei a foice e caminhei até o corpo de Lítion.
Likael gritava, perdendo o controle sobre os poderes elétricos:
– Pare! Não se aproxime dele!
Levantei a foice e iniciei a
leitura dos seus fios de vida. Naquele estado crítico, faltava-lhe apenas um
fio para que estivesse completamente morto: o fio da coragem. Tomei as minhas
cartas 10, a Roda da Fortuna; 7, o Carro; 2, a Sacerdotisa; e 21, o Mundo,
revivendo o poder antigo da ressurreição. Uma forte luz brilhou, se propagando
por todo o lugar. Likael, admirado, simplesmente desmaiou...
...
Capítulo 09 – A
Decisão de Likael
No
hospital, Likael acordou meio assustado. Eu estava do lado dele:
– O que
foi, teve pesadelos? – perguntei sorrindo.
Ele me
olhava perplexo e constrangido:
– Você?
Onde estou? Que lugar é esse? – tratei de acalmá-lo antes que perdesse o senso
e viesse a me atacar.
– Calma,
não há nada com que precise se preocupar. Você está no hospital do Palácio de Cristal
– e ele tornou a fazer mais perguntas.
– E Lítion?
Onde está Lítion? O que vão fazer comigo?
– Eu já não
disse para se acalmar? – retruquei. – Bem, esqueça o que ocorreu. Sobre Lítion,
ele está lá fora. O que irá acontecer com você depende somente da sua
decisão...
Me levantei
e fui chamar o jovem, que entrou no quarto com um buquê de flores, acompanhado
do primeiro ministro da Goldland. Sem saber o que dizer, Lítion se abriu com
seu pai adotivo:
– Likael...
Pai... Você me criou e me ajudou a crescer mesmo sabendo que seus crimes são
imperdoáveis... – por um momento, sua voz ficou embargada por causa do choro. –
Eu te perdôo...
Num abraço
apertado, o anjo também começou a chorar. Dado o tempo certo para os dois, o
primeiro ministro fez seu pronunciamento:
– Eu,
Virgo, com os poderes a mim atribuídos como primeiro ministro de Goldland,
declaro que os crimes cometidos por Likael, o anjo cibernético, serão
absolvidos em virtude de poderes superiores, devendo este ficar em observação e
trabalhar para a reconstrução dos bens que foram perdidos...
Sem
entender direito o que estava acontecendo, Likael se recosta no travesseiro:
– Senhor,
obrigado por tudo que me deste, pode me levar agora... – e, emanando uma aura
branca e límpida, começou a desaparecer.
Dei-lhe um
murro na cara:
– Quem
disse que é pra você ir? – perguntei-lhe rispidamente.
– Mas,
mas... Eu tenho que ir!
– Não tem
nada! Você vai é me ajudar com os problemas que me causou e cuidar da empresa
Cyber World como deve!
Colocando a
mão no rosto, ele pensou bem e sorriu:
– Aceito...
– Assim é
melhor! – e todos riram alegremente.
...
E foi assim
que tudo começou... FIM!
Interessante, apesar de ser um pouco confuso pra mim XD
ResponderExcluirEssa história é particular e faz menção ao final dos vários anos que passei em Geonova. Como é a única que realmente ficou pronto e não passou de especulação, além de ser um presente a um amigo, resolvi colocá-la aqui.
ExcluirFora isso, seria difícil explicar a complexidade das teorias sobre o meu armamento mágico escolar, meu artefato de batalha e meus poderes adquiridos do dragão demônio - que me deu o título de Gunshin, deus da guerra, além das minhas próprias heranças - sou o nono rei de Geonova.
Contudo, agradeço pela leitura Joe! E volte sempre! o/
Amei \õ/ Principalmente Likael !!!
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