quarta-feira, 18 de abril de 2012
Imagem monstro
Eu gostei muito dessa imagem, eu tinha que postar ela em algum lugar!
Site original da imagem: http://www.edrodrigues.com.br/blog/item/interessantes-gifs-em-3d
Drugs - Capítulo #3
Fala
sério!
“Eu não tinha ideia do que seria. Francamente, minha
vida nunca foi tão especial quanto agora que faço parte da Drugs. Antes dela,
minha vida era uma banalidade… Durante a escola eu não era nem o gênio que
sentava na frente, nem o bagunceiro do fundão. O fantasma que perambulava por
aí agora se tornou alguém!”
Codinome: SLASH
Ano 2010. 17 anos. SLASH vive sozinho, no fundo da casa de uma tia que atualmente saiu para viajar. Logo ele faria 18, então ela não se importou muito se algo acontecesse com SLASH enquanto ela estivesse fora. Pai? Nunca conheceu. Mãe? Uma prostituta que o abandonou assim que nasceu para voltar a sua labuta. Amigos? Não tem…
Trabalha
em uma lojinha de conveniência. Da mesma forma que em casa, ele sempre passa
despercebido. Quase sempre ouve um “não te vi aí” ou “você já tinha chegado?”.
Se sente triste e solitário, mas se sente confortável, a solidão é sua
“companhia”. Tem um estilo punk, cabelo sempre para o alto, mudando sempre que
pode, piercing na boca, na orelha e na sobrancelha. Às vezes passa um lápis
preto quando está na moda ou usa aquelas calças super apertadas, não muito,
incomoda andar na rua desse jeito. Sempre que está frio, ele põe um sobretudo
preto que comprara na Galeria do Rock no centro, assim como seus coturnos ou
botões. Na camisa preta estão estampados os mais diversos logos de bandas de
rock, punk, alternativo e o que for “do momento” que lhe esteja agradando.
SLASH tem uma paixão secreta, ele adora mangás, os quadrinhos japoneses.
Desde
que começou a trabalhar aos 12 anos, descobriu esse mundo alternativo na banca
de jornal. Comprou simplesmente porque a capa era interessante, não parou mais
depois disso. A maioria dos garotos que leem mangá se apaixonam pelos seus
traços e tenta imitá-los, com ele não foi diferente, SLASH, também desenha.
Por
trás do garoto de poucas palavras, existe um artista que clama para sair. Com
lápis e papel são criados os mais diversos aspectos da realidade “alternativa”
que ele desenvolveu para si.
Conforme
o tempo passou, seu quartinho foi ficando cheio de imagens esquisitas e
transversas, roubadas de algum lugar e misturadas com algum sonho que deu
errado. Por vezes era medonho, por vezes era simplesmente incrível! No entanto,
para sua tia amarga, era apenas lixo que o filho daquela mulher trazia pra
casa.
Uma
noite, aquela “velha”, como ele a chamava, cheia de raiva que tinha levado um
calote de uma cliente, resolveu limpar a casa, TODA a casa. Deveria ser uma
maneira de se acalmar, talvez. Ao chegar do trabalho, SLASH sentiu um cheiro de
queimado vindo do quintal dos fundos. Correu e viu aquela cena que, para ele,
era extremamente diabólica: sua tia pegara tudo, os papéis, os mangás… todo o
trabalho e esforço dele e estava queimando tudo. O que se sucedeu a seguir é quase
impronunciável. Deixar-se-á para o leitor pensar no que acontecera da melhor
maneira que lhe vier à cabeça. Mas deixa-se claro o desfecho:
—Moleque
maluco, você me paga! Eu deveria tê-lo deixado na rua desde o dia em que aquela
vagabunda te deixou aqui! — SLASH recolhe os últimos papéis que sobraram,
abraçando-os fortemente e entra no seu quartinho, fechando bruscamente a porta,
passando dias lá dentro, chorando…
Depois
daquele dia triste em sua via, as lágrimas secaram, ficara rude e mais quieto que
antes. Não mais falava com a tia, que também não se importou com a indiferença.
Não desenhava mais, de vez em quando tentava algum esboço quando tinha papel e
caneta na mão, algo inconsciente, deva se dizer, parando assim que se lembrava
do que havia acontecido. Continuava comprando mangá, apenas deixando os
infantis e comprando qualquer título impróprio para menores. Pode não parecer,
mas ele aparentava ser mais velho do que realmente era.
O ano
2010 havia chegado, sua tia tinha saído de viagem sem se importar com o que
aconteceria com ele, pois logo ele faria 18 anos. É aqui que realmente começa
nossa história, no dia em que o mangá de capa preta foi comprado.
Levantou-se
cedo, queria sair o mais rápido possível daquele lugar. Iria sumir, procurar
uma casa para alugar e se mandar da casa da tia. Tudo planejado há semanas!
Arrumou sua trouxinha de coisas na mochila, não era muito mesmo. Saiu de casa e
foi andando. Pegou um ônibus e foi ao centro, passaria pela Galeria do Rock,
depois numa livraria para comprar um jornal e iria lanchar qualquer besteira.
Foi o que fez. Na livraria, olhou por diversos títulos antes de pegar o jornal,
era um costume bobo, só para ter a sensação de que os livros não estão tão
distantes de seu alcance financeiro. Então ele viu uma seção especial atrás de
uma cortina, achou interessante e passou para o outro lado. Deu alguns passos
adentro e a abertura por onde havia passado desapareceu…
Não
havia notado de início e olhando distraidamente foi entrando cada vez mais. Ali
havia títulos sem nome, de capa preta; o ambiente era sombrio e empoeirado, a
luz se mostrava fraca, mas dava para enxergar tudo muito bem. O corredor dava
para um balcão com uns três metros de altura e com um atendente enorme que
estava de costas e agachado fazendo alguma coisa. A sensação era de que o
corredor estava crescendo, talvez fosse alguma vertigem, talvez. SLASH tentou
voltar e percebeu que a entrada não estava mais lá:
– Que
merda é essa! — SLASH tapou rapidamente a boca, voltando-se lentamente para o
balcão.
O
atendente ouviu e parou com o que estava fazendo, levantando-se. SLASH viu o
que parecia um enorme gafanhoto de olhos amarelos, um louva-deus na verdade,
vestido como um funcionário da livraria em que estava agora a pouco:
—
Vejo que o senhor veio buscar o seu livro?
— … —
Como era de costume, SLASH não falou.
— Ah,
sim, como sou esquecido! O senhor não gosta de falar, não é? — SLASH fez um
sinal de sim bem retraidamente. — Bem, bem… eu estava procurando por ele agora
mesmo. Onde será que eu o deixei? Onde será… Ah, sim! Esta na prateleira 20,
corredor 10, numeração 18! Poderia ir buscá-lo meu caro?
— … —
Novamente o sinal com a cabeça.
— Que
bom, assim terei mais tempo para organizar isso tudo. Não conte pra ninguém,
ouviu, você não viu nada… — O atendente louva-deus retornava para debaixo do
balcão.
“Que
esquisito”, pensou, “esse bicho me conhece”! Não entendendo exatamente o que
estava acontecendo, foi procurar o tal livro. Aquele lugar parecia ser enorme,
se desdobrando cada vez mais. As numerações estavam diminuindo, começando do
corredor 100. Chegando ao 10, viu de um lado as prateleiras ímpares e do outro
as pares. Teve de subir nas escadas. Na prateleira 20, haviam diversos livros,
do 00 ao 99, não eram grossos como a maioria, sua aparência lembrava mais a de
um… mangá!? Sim, tamanho A5, capa simples, completamente preta, com o nome
SLASH na capa. Desceu as escadas e começou a folheá-lo. Estava em branco. “O
que será isso”, indagou-se. Decidiu voltar até o balcão. Andou, andou… Não conseguia
chegar! Os número, antes previsíveis, mudaram de cara, pareciam em outra língua
ou coisa assim. Olhou para um lado, olhou para o outro, sempre a mesma cena,
estantes e mais estantes. Tentou correr… nada! Sentou-se e abriu novamente o
livro. Desta vez havia algo escrito na última página: “Vire-se”. Sentiu um ar
frio soprar em seu pescoço e virou-se. Viu a cortina e, tão logo quanto pode,
levantou-se e saiu daquele lugar. Olhou assustado para as pessoas que estavam
na livraria concentradas, vendo se encontravam alguma coisa para levar.
Virou-se novamente, novamente não havia mais nada lá… Pegou o jornal e saiu
andando depois de pagar. Foi para uma lanchonete, onde se sentou,
psicologicamente exausto, precipitando-se na cadeira. A garçonete foi anotar o
seu pedido:
— O
que vai querer senhor?
— Um
X-burguer , batatas e uma coca na latinha, por favor.
— Já
trago o seu pedido… Vai querer um copo?
—
Ahn?
— Um
copo senhor?
—
Sim…
SLASH
estava ainda muito desnorteado. Resolveu então pegar novamente o livro… na
última página estava escrito outra coisa agora, o que causou um sobressalto em
SLASH, que lia o seguinte: “Bem vindo a Drugs”…
terça-feira, 17 de abril de 2012
Drugs - Capítulo #2
Drogas, nem morto!
“Por que eu aceitei? Eu não sei… acho que queria
experimentar, talvez. Pensei que seria algo novo, uma transcendência espiritual
inovadora. Agora que me lembro, eu odiava a cor amarela, na verdade acho que
tenho ódio de tudo que é amarelo. Eu não enxergo muito bem as cores, às vezes
sou daltônico, confundo amarelo com preto ou preto com amarelo. Bem, é o que me
disseram…”
Codinome:
BLACKOUT
Era
uma manhã nublada de São Paulo, o sol subia em meio aos prédios pingados do
sereno da noite anterior. BLACKOUT acordou em seu apartamento na Avenida
Paulista, sentindo o frio devorando suas pernas, deveria ter colocado outro
cobertor antes de dormir…
Depois
de algum tempo se esquentando, olhou para o relógio ao lado do retrato da sua
falecida esposa. Fitou o quadro ao invés do relógio por alguns segundos, tendo
algum devaneio de pensamentos, olhando então para o relógio. “Por que eu
acordei?”, perguntou-se ele, “eu não preciso acordar”…
Casualmente,
BLACKOUT era um solitário, não gostava de acordar cedo. Sua renda bastava para
suprir o aluguel, o mercado, alguma ou outra regalia suada, isso bastava pra
ele. Tinha 21 anos. Foi então que conheceu Naoko, uma descendente de japoneses
recatados que morava na Aclimação. Conheceram-se naquela mesma Praça da
Aclimação, num dia de evento qualquer, que por um acaso tocava um bolero… ou
era uma polca? Não importava, fez questão de conseguir um CD com aquela música
como simples pretexto para vê-la novamente. Se conheceram melhor, se tornaram
amigos, Naoko conheceu a família de BLACKOUT, BLACKOUT não conheceu a família
de Naoko, achou estranho ela não querer falar nada sobre a família, não se
importou, estava apaixonado! “Viva a Naoko!”, dizia sempre que bebia com os
amigos.
Uma
noite, em mais um encontro de amigos, BLACKOUT pretendia se declarar para
Naoko, mas o destino não foi tão agradável com ele. Naoko estava noiva de um
rapaz nascido no Japão que queria levá-la para morar com ele. Isso não saía da
cabeça dele. Aproveitou que Naoko se distanciou dos amigos por um instante e
foi atrás dela. Perguntou-lhe o que havia acontecido:
—
Naoko, por quê?
—
Como assim? Apenas estou noiva, oras!
— Você
mão me ama?
—
Minha família nunca iria aceitar nossa relação, mesmo sendo amigos, então,
esqueça! — Naoko saiu apressadamente.
BLACKOUT
não se conteve, foi atrás dela sem que ela percebesse. Saiu de carro depois que
ela pegou um táxi. Foi na surdina, sempre fora do alcance do retrovisor do
táxi. O táxi parou em frente a uma casa simples e familiar da região da
Aclimação. Parou o carro lentamente do outro lado da rua, estava escuro,
ninguém percebeu nada. Naoko pagou ao taxista e o despediu. Procurou as chaves
dentro da bolsa, que subitamente caiu no chão… BLACKOUT havia agarrado-a pela
cintura:
— Diz
que não me ama? — Falou em seu ouvido.
— Me
solta, nossa relação não vai dar certo. — Naoko não queria gritar, poderia ser
muito ruim acordar a família aquela hora.
BLACKOUT
virou-a para si, olhou profundamente em seus olhos… beijou-a com mais paixão do
que um poeta poderia descrever com suas meras palavras. As luzes da casa de
Naoko ascenderam e a porta se abriu, era o pai de Naoko. A moça já estava aos
prantos, mas BLACKOUT não a largava. O senhor Takashi começou a gritar e a
berrar:
— Se
não largar a minha filha seu vagabundo, eu atiro em você! — Um revolver tremia
em suas mãos.
— Tá
vendo o que você fez! — Gritou Naoko.
—
Olha o respeito, meu senhor, sou rapaz digno, trabalhador e eu amo sua filha! —
Naoko sentiu seu rosto enrubescer.
— Larga
a minha filha! — Pegou-a pelo braço e colocou-a dentro de casa. — E você, seu
sujo, fora da minha vizinhança! Não quero ver gentinha como você por aqui de
novo senão eu chamo a polícia!
BLACKOUT
ouviu ao fundo sirene do carro de polícia, provavelmente a mãe de Naoko chamou
a polícia antes que algo ruim acontecesse.
Depois
de algum tempo, perguntando para alguns amigos em comum descobriu que Naoko não
estava noiva quando conheceu BLACKOUT, na verdade sua família não via com bons
olhos… os negros! “Espere aí”, pensou ele, “eu sou negro”? Havia algo de
errado, sua pele era parecida com a de Naoko, o que estava acontecendo?
BLACKOUT
foi ao médico, tentou descobrir porque ele era negro, se ele se via tão
parecido com sua amada. Quando chegou ao oftalmologista, foi diagnosticado com
daltonismo. O médico chegou a pensar que poderia ser uma distorção mental
causado por trauma na infância, pois era um daltonismo extremamente incomum, e
o encaminhou ao psicólogo para tentar resolver o caso. BLACKOUT ficara tão
desnorteado com o caso de sua paixão que nem retrucou se devia ir ou não ao
psicólogo. Ou, no caso, psicóloga…
Durante
toda a sua vida, viveu como um branco, se sentia branco, foi explicando à
médica… “Não entendo, eu sou negro?”, disse, bebendo um copo de água. A
psicóloga, indicada pelo oftalmo, não falava, apenas escrevia. “Você está me
ouvindo?”, perguntou ele para ela…
De
repente, o mundo começou a girar e um buraco no chão engoliu o divã como uma
boca que se delicia com sua refeição. BLACKOUT estava atordoado, caído no chão,
era um lugar escuro, a única luz vinha do buraco acima de sua cabeça, ao redor
parecia haver espelhos, num total de seis, que o refletiam. Ao se levantar, BLACKOUT
se via ali, perdido, olhando para si mesmo. Tentou gritar pela psicóloga, a voz
não saía. O divã, do nada, começou a se dissolver e desapareceu no chão, no
lugar havia um pedaço de terra, assim que começo a receber luz, um pequeno
brotinho começou a sair do chão. Ele crescia, crescia, crescia… surgiu um
botão, enorme! Nenhuma flor normalmente chegaria aquele tamanho. Uma flor
amarela, talvez preta, começou a se abrir, revelando em seu miolo um espelho de
mão redondo de uns vinte e cinco, trinta centímetros:
—
Pegue. — Disse a flor.
— … —
BLACKOUT pegou o espelho e viu, dessa vez, um homem negro. — Sou eu?
—
Sim. — Disse a flor enquanto regredia para o brotinho e desaparecia.
—
Então eu sou assim? — Uma lágrima escorregou pelo canto do rosto. — Por quê?!
Meu Deus, por quê?!
BLACKOUT
retornou a si, estava de volta ao consultório, mas continuava a gritar. A
psicóloga tentou acalmá-lo. BLACKOUT parou, pois havia reparado na blusa da
psicóloga, a mesma flor estava lá, aquela flor amarela:
— Essa
flor, essa flor… foi ela que me deu o espelho! — BLACKOUT caiu do divã se
afastando da doutora.
—
Você se lembra? Como? — “Ninguém normal é capaz de se lembrar das intervenções
psíquicas.” Lembrou-se a médica. — A não ser que… Enfermeira!
Naquele
tumulto, BLACKOUT recebeu uma injeção de calmante. Foi acalmado na mesma hora e
dormiu. Acordou em um lugar branco, no centro de um grupo de pessoas
encapuzadas dispostas uma do lado da outra em círculo:
—
Onde estou? Que lugar é esse?
A
psicóloga, seu codinome era ROSA, retirando seu capuz, disse:
— Bem
vindo à sociedade psicanalítica Drugs.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Drugs - Capítulo #1
Mundos
Paralelos
“Era tarde… Eu não sabia por que era tarde, mas era
tarde, estava atrasado. Precisava ir a algum lugar, em algum lugar, não me lembro
de que lugar era. Acho que era para o meu primeiro dia de trabalho, eu tinha 19
anos, sim, eu estava atrasado para trabalhar. Mas onde? Não me lembro…”
Codinome:
ZERO
O
quarto girava, o despertador tocava insistentemente. Alguém grita de fora do
quarto: “Desliga essa porra! Eu quero dormir!” ZERO desliga o relógio, se põe
de lado na cama, se senta, a dúvida continuava: “O que eu precisava fazer
mesmo?”
ZERO
vê uma muda de roupa em cima de uma cadeira. Era seu primeiro dia de trabalho. Troca-se,
estava desnorteado com sua existência, alguma coisa estava faltando, não sabia
o que era. Olhava e reolhava, estava tudo lá, terno, gravata, sapatos novos…
Sim, estava tudo lá. Era realmente aquilo que ele queria? Aparentemente,
faltava alguma coisa…
Saiu
do quarto, foi ao banheiro, tudo silencioso. Ao sair, depois de escovar os
dentes, fazer aquela barba chata, novamente, o silêncio. Todos estavam
dormindo, mais ninguém na casa precisava levantar naquele horário. Era cedo,
mas estava atrasado, poderia não chegar a tempo no primeiro dia. Queria estar
lá, estava tão entusiasmado dia passado, queria tanto mostrar disposição… Não,
o sentimento mudara. Um vazio se faz presente agora. Sentia-se necessário em
outro lugar, em outro tempo, em outro espaço, não sabia por que, apenas sentia.
Não
tomou café da manhã, saiu correndo no impulso depois de olhar que horas eram.
Realmente, ele estava muito atrasado. O dia ainda não tinha clareado, era cedo,
o paradoxo persistia em sua cabeça, estava confuso. Pegava o trem que saía… não
lembrava mais o horário, pegaria o primeiro que viesse. O dia já amanhecia e os
primeiros raios de sol já coloriam o céu cinzento de São Paulo. Notou algo
estranho, não havia mais ninguém, nenhuma alma viva naquela plataforma. ZERO
lembrou-se do que seu pai dizia quando também ia para aquela estação de trem, de
que sempre havia muita gente, de que todos se apertavam só para chegar cedo.
Não havia ninguém ali. Achou estranho, mas decidiu não ligar, precisava ir para
o trabalho. Esperou, esperou, esperou. Nada. Decidido a encontrar alguém que
lhe dissesse que horas eram, desceu da plataforma. Olhou para um lado, foi mais
a frente. Nada. Decidiu voltar. Ao chegar lá, havia uma multidão de pessoas
esquisitas: “Nossa!” pensou consigo, “Estou no mesmo lugar?”. Verdadeiramente,
estavam lá seres diferentes e bizarros. ZERO não entendeu o que aconteceu
naquele momento… O trem chegou, não sabia o que fazer, entrava com todas
aquelas coisas ou deixava irem na frente? Estava atrasado, decidiu entrar,
ficaria quieto e nada aconteceria.
O
coração palpitava, estava com muito medo. De um lado um careca de um olho só,
mais alto que ele com um nariz aquilino mais pontudo que o normal ostentando
sua barbicha longa que deixava seu rosto pontudo mais pontudo ainda; do outro
uma espécie de lagartixa gigante, roxa, vestida de sobre tudo marrom cor de
terra, ereta como bípede, encostada na parede. Olhando para os bancos via
vovozinhas com cabeças quadradas e tiozinhos com rostos lisos e redondos, ambos
com peles translúcidas que permitiam ver o interior das cabeças. Tanto as
vovozinhas, quanto os tiozinhos tinham, respectivamente, cérebros quadrados e
redondos. Além desses, havia quatro seres baixinhos, vestidos de menininhas,
cabelos de menininhas, trejeitos de menininhas… com rostos desfigurados! Depois
do susto, notou que aquelas coisas mais pareciam retratos de Picasso, sim,
olhando bem, as cores, os ângulos, todos os rostos compunham obras modernistas
ou cubistas de Pablo Picasso. ZERO pensou na possibilidade de rir, mas engoliu
quando voltou a si, aquilo não era normal! Precisava gritar desesperadamente!
Também engoliu…
O
trem chegou à estação Luz. ZERO desceu sozinho, voltou-se para o trem enquanto
ele partia. Continuou pasmado, agora o que ele temia eram as pessoas acharem
que ele estava louco: “Que trem maluco era aquele?”. Olhou para baixo por um
instante, depois olhou para os lados, respirou fundo e começou a andar. Subiu
as escadas, saiu para a rua e foi andando até o escritório que ficava a uns dez
minutos dali, ou eram quinze? ZERO parou no meio da rua: “Onde estou?”, perguntou-se
ele. Os prédios estavam todos em ruínas, o céu ficado avermelhado e o sol, que
já estava suficientemente alto a esta altura, havia ficado negro, o que era
mais estranho ainda, pois se enxergava tudo como se o sol ainda fosse
brilhante, apesar de que agora ele não esquentava, na verdade, tudo estava
ficando frio, cada ver mais frio. ZERO não sabia mais o que fazer.
Definitivamente aquela não era a realidade dele… já tinha ouvido falar em dimensões
paralelas, em supostas viagens para outras dimensões, mas não acreditava no que
estava acontecendo. O mundo havia virado completamente de ponta cabeça. Foi
então que ele viu algo voando alto no ar. Algo semelhante a um pássaro
recortado que brilhava intensamente estava dando voltas no céu e fazia um barulho
ensurdecedor parecido com o da turbina de um avião gigantesco. A coisa começou
a descer próximo a Praça da Sé. ZERO saiu correndo, podia estar com medo, mas
queria saber o que era aquilo e, especialmente, saber o que era aquilo. Demorou
um pouco, a Sé fica razoavelmente distante da Luz, mas sem os prédios dava para
ir um pouco mais rápido.
Aquilo
era realmente muito assustador de tão gigantesco e incomum, ocupava um espaço
maior do que aquela praça e comia os destroços da catedral da Sé como se fossem
alimento. ZERO não sabia mais distinguir se estava com medo ou maravilhado com
aquela “ave do paraíso”, como ele a apelidou. Ouve-se então um barulho e logo
depois um terremoto, sucedido de outro barulho. O pássaro se assusta e sai
voando. Levantasse então um gigante azul, lembrando aquelas estátuas antigas de
Zeus, do onde aparentemente seria a famosa Avenida 23 de Maio, principal via
que liga o Ibirapuera ao Centro, cuja via recorta continuamente seus dois lados
como um rio profundo. Voltando ao gigante, este parecia estar sonolento, pois
se espreguiçava e bocejava. Era algo muito contrastante, um céu vermelho com
uma “montanha” azul: “Que artista pensaria em algo assim?”, ZERO não sabia mais
se estava pasmado ou maravilhado, as cores pareciam alegrá-lo agora. O gigante,
depois de permanecer parado por um bom tempo, pôs a se movimentar para o sul,
não podendo mais ser visto.
ZERO
sentou-se no chão e suspirou. Acabou deitando ali mesmo, vislumbrando o céu
vermelho. De repente, começou a ouvir barulho: “O que será desta vez?”, pensou.
Levantou-se rapidamente, eram barulhos diferentes, uns tic-tics, uns
flap-flaps, isso o lembrava alguma coisa, sem saber exatamente o que era. Andou
um pouco, ia em direção a Liberdade, os prédios daquela região estavam mais bem
conservados do que os da região anterior, provavelmente porque foram devorados
pelo “pássaro do paraíso”. ZERO correu, chegando até a Praça da Liberdade, o
barulho estava alto, devia estar perto. Começou a descer a Rua Galvão Bueno, chegando
à ponte que passa por cima da Radial Leste. Olhou em direção a 23 de Maio, não
viu nada. Uma brisa sombria soprou em suas costas, sentiu um frio na espinha,
um medo horripilante tomou conta de seu corpo, estava para se virar, quando…
— Desliga
a porra desse despertador moleque!
—
Ahm? O quê?
—
Você bebeu garoto? Levanta que é hora de você ir trabalhar!
— Que
oras são?
—
Como assim que oras são?! São cinco e meia da manhã… e não me vai perder o seu
segundo dia de trabalho, ouviu!
A
porta se fecha, um silêncio medonho se fez em toda a casa. Ao jovem ZERO,
restava a pergunta: “O que diabos aconteceu… ontem?!”
ZERO
não entendeu nada, era um sonho, realidade, ilusão… Um sentimento muito
esquisito o inquietava. Desta vez, estava tudo claro, sabia que horas eram, não
apenas por que se pai lhe dissera, realmente ele sabia. Estava atrasado,
trocou-se, escovou os dentes, fez a barba. Na cozinha, havia café quentinho na
máquina, tomou um pouco e pós o resto numa garrafa térmica pequena para levar
para o trabalho. Saiu sossegadamente, chegou à estação no horário para pegar o
primeiro trem, haviam muitas pessoas agora, pessoas de verdade. Já dentro do
trem, respirou aliviado. Tudo estava tão, tão… normal! ZERO estava rindo a toa.
Algumas pessoas conhecidas entre si ficavam cochichando: “deve estar louco” ou
“não bate bem da cabeça”. Ele ouvia, mas não se importava, estava seguro de si,
amava aquela paisagem natural da velha São Paulo que conhecia tão bem. Chegando
na estação da Luz, se lembrava para onde tinha que ir, quais esquinas virar,
parecia ter ido lá ontem! Estava feliz.
No
entanto, ao chegar à porta daquele lugar, sentiu um arrepio, uma sensação que
já sentira antes. ZERO ficou pálido. Ouviu então uma voz conhecida:
— E
aí cara? — Era Pedro, um conhecido de ZERO que estudou no ginásio com ele e que
havia lhe falado sobre a vaga naquele escritório. — Vai entrar ou vai ficar aí
olhando?
— Claro
que vou entrar! Não posso desperdiçar o café da minha mãe! — Os dois caíram na
risada.
ZERO
passou o dia pensando naquilo, se havia acontecido, se fora tragado para outro
lugar. O mais estranho é que ele se lembrava de ter estado naquele escritório,
de ter feito aquele caminho, de ter trabalhado perfeitamente e ido embora
calmamente ontem. Ambas as coisas estavam em seu pensamento, a ilusão e a
realidade, ou seria o contrário?
No
horário de almoço, Zero saiu do escritório e foi de metrô até a liberdade,
queria tentar ver o que não pode ver “ontem”. Nada. Estava tudo normal. Já que
estava por lá, resolveu comer sushi, era uma boa ideia, não era? Satisfeito de
“peixe cru”, como costuma chamar a comida japonesa, saiu do restaurante depois
de pagar. Estava um lindo dia!
Voltando
ao escritório, percebeu um pacote em sua mesa. Perguntou a Pedro o que era: — Não sei não, camarada, um cara passou aqui
depois que você saiu e deixou isso aí pra você. Tem um cartão esquisito aí…
Você não andou aproveitando que está aqui pelo centro e fez besteira ontem,
fez?
— Do
que você tá falando Pedro?
—
Olha aí pra você ver! — E virou se para a sua própria mesa.
ZERO
achou estranho, o que poderia ser aquilo? Olhou para o cartão e… ficou pálido!
No cartão dizia: “Eu sei o que você viu ontem”.
terça-feira, 3 de abril de 2012
Devil's Drink - 2# Shot
Tudo estava perdido, tudo estava insólito, a
desgraça se abatera sobre o último império humano. A Terra estava suja de
sangue, o céu há muito já não era azul, o ar era pouco respirável. Não existem
mais seres humanos...
A última esperança de o planeta ser novamente povoado é se um pouco de DNA for colocado na maquina clonadora para que novos seres possam ser criados. Essa é a única chance do planeta voltar a ser fértil...
Procurei em todos os computadores algum resquício que pudesse ser minimamente usado, não encontrei nada. Mas por sorte encontrei algo diferente que talvez pudesse ser usado. Há um pequeno androide perdido por aí que carrega um pouco de DNA em sua composição artificial. Eu saí em sua procura e me perdi na imensidão do deserto de árvores de concreto e aço.
Um dia, caí em um buraco, quando as minhas forças estavam para acabar. Porém, finalmente eu havia encontrado! O androide estava intacto, preservado pela animação suspensa em que fora colocado. Nos computadores verifiquei a data, ele estava ali a mais de vinte mil anos! A criptografia era estranha pra mim, mas pude decifrá-la e iniciar o protocolo “ACORDAR”. Era um alívio para mim, finalmente poderei trazer de volta meus mestres. A cápsula se esvaziou e se abriu. De dentro dela, uma criança acordava:
-O que um cachorro esta fazendo no... laboratório! – Quando finalmente podia enxergar o androide se assustara com o estado do laboratório, velho e destruído. – Pai? Pai?! O que aconteceu aqui?!!!
-Por favor, me escute. Não temos muito tempo, precisamos chegar até o centro da máquina clonadora e usar o seu DNA para recriar a raça humana e...
-Ahhhh!!! – O androide chorava alto.
-Por favor, não chore!
-É só abrir... – Logo a criança tentou abrir de várias maneiras, tentou de um jeito, tentou de outro, batia o cilindro pra lá e pra cá. Não conseguindo, voltou a chorar. – Você só precisa apertar o botão no meio...
-Você não tem nenhuma maçãzinha, cachorrinho?
-Maçã? Maçã... Não, não consta no meu banco de dados. Está extinta a mais de mil anos. – O androide começou a fechar a cara de novo. – Por favor, não chore!
-Há quanto tempo estou aqui? – Seu rosto estava triste.
-Vinte mil anos. Segundo constam as datas do computador, no tempo em que humanos ainda não conheciam vida extraterrestre.
-E meu pai? Onde está o meu pai, cachorrinho? – Lágrimas começavam a escorrer pelos seus olhinhos castanho-avermelhados.
-Receio que ele se foi junto com os outros. Não há nenhum ser humano no planeta.
-...
-Está tudo bem? Precisamos ir...
-Eu tinha brigado com ele...
-Au?
-Eu não pude pedir desculpas. Eu só causava problemas no laboratório. Todos diziam que eu devia ser desativado. Meu pai insistia para com eles que tivessem paciência. Eu não gostava deles, eles me olhavam estranho. Meu pai disse que eu deveria ir dormir e que tudo ficaria bem no dia seguinte. Agora nunca vou poder dizer o que realmente sentia pelo meu pai...
-Criança, não chore... Temos algo importante pra fazer! Com a sua ajuda, os humanos poderão voltar a habitar o planeta! Venha comigo até a clonadora!
-Eu poderei rever meu pai?
-Claro! Au!
-Por favor, cachorrinho. Me leve até esse lugar, eu quero meu pai de volta...
-Sim, mas nada de choro!
-Sim. – Ele esfregou os olhos. – É muito longe, cachorrinho?
-Por favor, não me chame de cachorrinho, meu nome é Prospero. Aliás, qual é o seu? – O androide virou-se para o tubo em que estava a pouco e olhou para o topo.
-E... R... O... S... Eros. Meu pai me ensinou a ler o meu nome. – Ele sorriu.
-Que bonito nome. Au! Vamos, não temos tempo a perder!
-Ahn, cachorrinho, como foi que você aprendeu a falar?
-Eu não falo, au! A minha coleira está equipado com leitor de pensamentos que reproduz o que penso como voz. Meu mestre me ensinou a usá-lo para que eu pudesse encontrar DNA humano para a clonadora.
-Onde está o seu mestre?
-Ele morreu há cinco anos, era o último humano na Terra. Eu não tenho muito tempo, a vida de um cão dura cerca de treze anos, e eu já tenho dez. Precisamos ir. – Fui para trás de Eros e comecei a empurrá-lo.
-Eros acorde! Temos que seguir em frente!
-Que grande!
A última esperança de o planeta ser novamente povoado é se um pouco de DNA for colocado na maquina clonadora para que novos seres possam ser criados. Essa é a única chance do planeta voltar a ser fértil...
Procurei em todos os computadores algum resquício que pudesse ser minimamente usado, não encontrei nada. Mas por sorte encontrei algo diferente que talvez pudesse ser usado. Há um pequeno androide perdido por aí que carrega um pouco de DNA em sua composição artificial. Eu saí em sua procura e me perdi na imensidão do deserto de árvores de concreto e aço.
Um dia, caí em um buraco, quando as minhas forças estavam para acabar. Porém, finalmente eu havia encontrado! O androide estava intacto, preservado pela animação suspensa em que fora colocado. Nos computadores verifiquei a data, ele estava ali a mais de vinte mil anos! A criptografia era estranha pra mim, mas pude decifrá-la e iniciar o protocolo “ACORDAR”. Era um alívio para mim, finalmente poderei trazer de volta meus mestres. A cápsula se esvaziou e se abriu. De dentro dela, uma criança acordava:
-Arrrrrh...
– O androide bocejou e esfregava os olhos. – Já está na hora de brincar?
-Au!
– Eu disse.-O que um cachorro esta fazendo no... laboratório! – Quando finalmente podia enxergar o androide se assustara com o estado do laboratório, velho e destruído. – Pai? Pai?! O que aconteceu aqui?!!!
-Por favor, me escute. Não temos muito tempo, precisamos chegar até o centro da máquina clonadora e usar o seu DNA para recriar a raça humana e...
-Ahhhh!!! – O androide chorava alto.
-Por favor, não chore!
-Sai
daqui! Eu não quero que me morda! Pai?! Me ajuda! Onde está você?!
-Eu
não vou te morder... – O androide continuava a espernear e a chorar. – Já sei o
que você precisa!
Saí para procurar comida e encontrei alguns
tubos de nutrientes. Levei-os para o androide:
-Coma,
deve estar com fome. – Empurrei os cilindros com o focinho.
-O
que é isso? – A barriga dele roncava.-É só abrir... – Logo a criança tentou abrir de várias maneiras, tentou de um jeito, tentou de outro, batia o cilindro pra lá e pra cá. Não conseguindo, voltou a chorar. – Você só precisa apertar o botão no meio...
O androide finalmente havia conseguido abrir e
virou o liquido verde na boca. Devia estar esfomeado. De repente ele começou a
fazer uma cara feia, esperou um pouco e engoliu a seco:
-Credo!
Que troço nojento é esse!
-É
comida...-Você não tem nenhuma maçãzinha, cachorrinho?
-Maçã? Maçã... Não, não consta no meu banco de dados. Está extinta a mais de mil anos. – O androide começou a fechar a cara de novo. – Por favor, não chore!
-Há quanto tempo estou aqui? – Seu rosto estava triste.
-Vinte mil anos. Segundo constam as datas do computador, no tempo em que humanos ainda não conheciam vida extraterrestre.
-E meu pai? Onde está o meu pai, cachorrinho? – Lágrimas começavam a escorrer pelos seus olhinhos castanho-avermelhados.
-Receio que ele se foi junto com os outros. Não há nenhum ser humano no planeta.
-...
-Está tudo bem? Precisamos ir...
-Eu tinha brigado com ele...
-Au?
-Eu não pude pedir desculpas. Eu só causava problemas no laboratório. Todos diziam que eu devia ser desativado. Meu pai insistia para com eles que tivessem paciência. Eu não gostava deles, eles me olhavam estranho. Meu pai disse que eu deveria ir dormir e que tudo ficaria bem no dia seguinte. Agora nunca vou poder dizer o que realmente sentia pelo meu pai...
-Criança, não chore... Temos algo importante pra fazer! Com a sua ajuda, os humanos poderão voltar a habitar o planeta! Venha comigo até a clonadora!
-Eu poderei rever meu pai?
-Claro! Au!
-Por favor, cachorrinho. Me leve até esse lugar, eu quero meu pai de volta...
-Sim, mas nada de choro!
-Sim. – Ele esfregou os olhos. – É muito longe, cachorrinho?
-Por favor, não me chame de cachorrinho, meu nome é Prospero. Aliás, qual é o seu? – O androide virou-se para o tubo em que estava a pouco e olhou para o topo.
-E... R... O... S... Eros. Meu pai me ensinou a ler o meu nome. – Ele sorriu.
-Que bonito nome. Au! Vamos, não temos tempo a perder!
-Ahn, cachorrinho, como foi que você aprendeu a falar?
-Eu não falo, au! A minha coleira está equipado com leitor de pensamentos que reproduz o que penso como voz. Meu mestre me ensinou a usá-lo para que eu pudesse encontrar DNA humano para a clonadora.
-Onde está o seu mestre?
-Ele morreu há cinco anos, era o último humano na Terra. Eu não tenho muito tempo, a vida de um cão dura cerca de treze anos, e eu já tenho dez. Precisamos ir. – Fui para trás de Eros e comecei a empurrá-lo.
-Vamos
cachorrinho, calma...
Saímos daquele antigo laboratório e fomos para
as ruas da cidade. Quando finalmente viu a luz vermelha do dia, Eros ficou admirado,
se sentia menor do que nunca ao ver os gigantes prédios de quilômetros de
altura que iam até as nuvens. Suas cores escuras se contrastavam com o céu colorido.
Naquela região haviam diversos canos que formavam um imenso labirinto, enquanto
alguma água ainda os percorria, fazendo com que pingos se ouvissem por todos os
lados. Eu já estava acostumado com a paisagem, porém Eros ficou estático por
algum tempo:
-Vamos!
Não temos tempo a perder!
-...-Eros acorde! Temos que seguir em frente!
Acho que nunca vou entender o sentimento
daquele pequeno androide que estava preso por tanto tempo, que tinha memórias
de um mundo desconhecido para o futuro, que estava perdido num mundo devastado
e praticamente sem vida e que ansiava rever um pai que talvez não voltasse:
-Está
tudo bem Eros? – Perguntei-lhe.
Ele, em toda sua infantilidade, não conseguiu
dizer outra coisa senão:
-Que grande!
quinta-feira, 29 de março de 2012
Devil's Drink - 1# Shot
A perseguição era implacável, eu não conseguia
afastá-lo de mim. Corríamos feito loucos, ensandecidos... Confesso, estava me
divertindo!
O caçador era daqueles que nunca perdem uma única presa, deveria ser isso mesmo para trabalhar para a seita. Não tenho nada contra eles, mas eles só pegam no meu pé! Me deixem em paz!
Enfim, depois de tanto correr, chegamos a uma clareira no meio da floresta da neblina, onde ele havia me preparado uma armadilha. Um pouco óbvia até, ele deve ter pensado que eu estaria cansado. Eu sorri, eu nunca me canso por correr, não mais.
Agora sou En’hain, um draconiano que superou as expectativas da raça ao adquirir poderes superiores e desconhecidos quando recebeu o sangue místico dos dragões.
A rede em que ele me prendera era de lasers, contanto que eu destruísse o projetor eu me livraria fácil. Joguei a minha faca, não estava difícil de acertar, não fosse a minha surpresa, o troço explodiu e me levou alto no céu, acima das grandes árvores. Caí pesado no chão e o caçador se aproximou:
-Heheh. Te peguei gracinha...
-Pegou o cacete! – O caçador olhou para trás.
-Mas, argh! Eu te pego desgraçado!!!
-Mas nem fudendo! Não sou urso pra você me fazer de carpete!
-Te peguei sua peste miserável! Quais são suas últimas palavras?
-...
-Ah, é mesmo, não consegue falar. Se é assim... – Creck, ouve se o barulho dos ossos se que quebrando.
-Hihih...
-Ahn?
-I LIKED... – A pele do meu rosto começou a cair. Meu rosto queimava, não como fogo, mas como ferro derretido que brilhava. Meus olhos estavam fundos e vermelhos, não havia lábios para cobrir os dentes serrilhados e algo como vapor saía da minha boca enquanto eu falava. Meus braços se esticaram em torno do braço do caçador que me segurava; espinhos cresceram e perfuraram o caçador que me jogou longe por causa da dor.
-Seu miserável! – Para o caçador só restava uma última bomba, a mais forte que ele tinha. – Tome isso!
-... - Ele olha pra janela e tenta escapar.
-Onde você pensa que vai?! – Seguro ele pelo braço.
-O que você quer de mim! Me largue!
-Que você melhore, oras!
-Não me interessa! – Eu gritei. – Não te considero uma ameaça, muito menos um inimigo. Só quero que fique bem.
-Vou trazer uma sopa, descanse.
O caçador era daqueles que nunca perdem uma única presa, deveria ser isso mesmo para trabalhar para a seita. Não tenho nada contra eles, mas eles só pegam no meu pé! Me deixem em paz!
Enfim, depois de tanto correr, chegamos a uma clareira no meio da floresta da neblina, onde ele havia me preparado uma armadilha. Um pouco óbvia até, ele deve ter pensado que eu estaria cansado. Eu sorri, eu nunca me canso por correr, não mais.
Agora sou En’hain, um draconiano que superou as expectativas da raça ao adquirir poderes superiores e desconhecidos quando recebeu o sangue místico dos dragões.
A rede em que ele me prendera era de lasers, contanto que eu destruísse o projetor eu me livraria fácil. Joguei a minha faca, não estava difícil de acertar, não fosse a minha surpresa, o troço explodiu e me levou alto no céu, acima das grandes árvores. Caí pesado no chão e o caçador se aproximou:
-Heheh. Te peguei gracinha...
-Pegou o cacete! – O caçador olhou para trás.
-Mas, argh! Eu te pego desgraçado!!!
-Mas nem fudendo! Não sou urso pra você me fazer de carpete!
O caçador tirou o charuto da boca e jogou a
bituca no chão. Encheu bem os pulmões, inflando como um balão e deu uma grande
baforada, empesteando a clareira com a fumaça:
-Nossa!
Não sabia que você era uma chaminé! Aceita uma balinha de hortelã pro mau
hálito? – Não dava pra ver mais nada.
De repente, ele vem pra cima de mim
transformado numa fera com músculos estourando de grandes e veias saltando.
Fiquei sério. Ele era grande, mas era um só. Saltei e alcancei o topo de sua
cabeça, conseguindo passar para o outro lado:
-Que
foi? Bichinho tá com raiva é? – Falei com desdém. – Se é para se transformar,
então vou deixar você ver minha verdadeira forma... Isto é, se você sobreviver!
O monstro deu um urro medonho, e partiu pra
cima de mim novamente, dessa vez mostrando as garras. Meus sentidos estavam
ficando aguçados, sentia me tremer por dentro como se fúria e alegria se
misturassem. Estava agitado. Da minha pele brotavam escamas prateadas que
rasgavam minha carne e deixavam meu sangue pingar. Aquilo nunca deixou de doer.
Aumentei meu punho e dei um soco no caçador, jogando ele de lado. Para minha
surpresa, atrás dele vieram três granadas que explodiram em mim, depois que eu
o tirei da frente. Minha roupa ficou em chamas:
-Droga,
o safado é mais esperto do que aparenta. – Eu ficara meio zonzo com o zumbido.
Em sequência, mais granadas vieram e por fim
suas garras chegam ao meu pescoço:
-Te peguei sua peste miserável! Quais são suas últimas palavras?
-...
-Ah, é mesmo, não consegue falar. Se é assim... – Creck, ouve se o barulho dos ossos se que quebrando.
-Hihih...
-Ahn?
-I LIKED... – A pele do meu rosto começou a cair. Meu rosto queimava, não como fogo, mas como ferro derretido que brilhava. Meus olhos estavam fundos e vermelhos, não havia lábios para cobrir os dentes serrilhados e algo como vapor saía da minha boca enquanto eu falava. Meus braços se esticaram em torno do braço do caçador que me segurava; espinhos cresceram e perfuraram o caçador que me jogou longe por causa da dor.
-Seu miserável! – Para o caçador só restava uma última bomba, a mais forte que ele tinha. – Tome isso!
Ele jogou a granada na direção em que tinha me
jogado. A explosão foi tão grande que até o próprio caçador foi jogado pra
trás.
-Isso
deve ter dado um jeito nesse desgraçado!
-Eu
estou bem aqui! – O caçador olha pra trás, o sangue lhe sobe a boca e ele cai.
...
De repente, ele desperta num lugar
desconhecido:
-Onde
estou?! – Ele se assusta.
-Na
minha casa. – Falei bocejando, enquanto acordava por ter esperado por tanto
tempo ele acordar.-... - Ele olha pra janela e tenta escapar.
-Onde você pensa que vai?! – Seguro ele pelo braço.
-Me
larga!
-Você
está mal! As suas feridas ainda não cicatrizaram!-O que você quer de mim! Me largue!
-Que você melhore, oras!
Ele para por um instante:
-Me
faça um favor, fique e se recupere.
-Você
é meu inimigo, eu te cacei... Como você quer que eu fique? Se eu tiver a chance
EU VOU te matar.-Não me interessa! – Eu gritei. – Não te considero uma ameaça, muito menos um inimigo. Só quero que fique bem.
Ele voltou à cama, meio a contra gosto e se
deitou.
-Vou trazer uma sopa, descanse.
Saí
e fechei a porta.
quarta-feira, 28 de março de 2012
APRENDENDO A AMAR
Quando pensei
Que a única forma de ser feliz
Era chorar,
As lágrimas não correram;
Acabei me consumindo em ódio!
Não entendi o porquê,
Eu queria chorar um pouco,
Apenas um pouco...
A raiva me queimava a alegria,
A raiva me queimava a alegria,
Eu seria tão inútil assim?
Numa inconstância minha,
Na verdade, numa constância...
Saí, andei por aí,
Busquei reposta,
Mesmo não havendo ninguém...
De fato, ainda não me livrei
Das trevas que tanto me atormentam.
Mas pensei em mim,
Porque eu não me permito?
Porque eu não deixo acontecer?
Sei dos planos do Pai,
Sei que ele nunca me abandonou,
Fui eu que me separei,
Me exclui, e, por pouco,
Quase me apaguei...
Tenho sorte,
Uma pequena luz que me habita,
Nunca se apagou,
Apesar de pensamento e palavras,
Desejarem destruir tudo...
Não tenho amigos...
Desculpa-me se falo assim,
Eu não mereço as pessoas que tenho,
Pois ainda não mostrei quem eu sou,
Ainda sou um nada, um inútil...
Revelo apenas que quero mudar...
Não posso deixar de ser quem sou,
Porém, a mente que se abre ao conhecimento,
Não torna a ter o tamanho anterior,
Nem a antiga ignorância de antes!
Hoje, abro meu coração
Para que entre
Meu primeiro amor,
Seja quem for,
Seja onde estiver...
Quero apenas ser feliz,
Quero que tudo dê certo,
Pois, quando te encontrar quero,
De todo coração,
Aprender a amar!
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
SINCRO-Poemas
Das profundezas do enevoado breu,
Busquei a resposta para aquilo que perdi,
Até o mais alto céu, a mais longiqua terra,
Tudo pela felicidade que com alguém dividi...
Lutei com minhas forças e meu coração,
Para ajudar ao amigo querido,
Novas terras desbravei, tudo com minhas mãos,
Evitando pensar que eu já estava ferido...
Desfalecendo agora, suplico te não vá embora,
Uma grande dor em mim irá deixar,
Não precisa falar, saberei quando for a hora...
Por fim, todo meu empenho está a se quebrar,
Tomado por uma raiva retalhadora,
O que tenho é o sorriso que sempre vou amar...
Por Victório Anthony
SINCROFORMA
Busquei a resposta para aquilo que perdi,
Até o mais alto céu, a mais longiqua terra,
Tudo pela felicidade que com alguém dividi...
Lutei com minhas forças e meu coração,
Para ajudar ao amigo querido,
Novas terras desbravei, tudo com minhas mãos,
Evitando pensar que eu já estava ferido...
Desfalecendo agora, suplico te não vá embora,
Uma grande dor em mim irá deixar,
Não precisa falar, saberei quando for a hora...
Por fim, todo meu empenho está a se quebrar,
Tomado por uma raiva retalhadora,
O que tenho é o sorriso que sempre vou amar...
Por Victório Anthony
SINCROFORMA
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