segunda-feira, 24 de junho de 2013

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanfiction - A Guerra Cósmica - Capítulo 02


DISCUSSÃO

 

Kalliat socou Dantir com estrema violência:
 
            — Eu não quero saber! — o oririano estava ofegante. — Pensei que você fosse meu amigo! — e saiu, deixando o príncipe de Newho caído no chão, cuspindo sangue e com o nariz quebrado.
 
            — Kalliat...
 
Dantir permaneceu ali, em silêncio, por vários minutos. Sua cabeça estava cheia, ele assumia novos compromissos, novas responsabilidades, um destino que talvez não quisesse para si mesmo.
 
            Ainda sentindo-se culpado, levantou-se e viu o pacote com tinta vermelha para o cabelo em cima de sua mesa de estudos. Entrou no banheiro e fez todos os procedimentos. Seu cabelo, parecido com o do pai, agora assumia o tom vermelho que só aparecia em manchas pelo cabelo. Enxugou a cabeça com uma toalha e se olhou no espelho:
 
            — Porque somos tão parecidos? — perguntou-se, lembrando do irmão e das cenas em que o altariano Rubber tomou o corpo dele para si e fugiu pelas portas do paraíso para sabe se lá onde.
 
            No canto do espelho Dantir viu um vulto e virou-se para ver:
 
            — Você de novo? — era Nina, vestida com sua roupa de batalha e cabelos presos acima da cabeça num rabo de cavalo.
 
            — Pintou o cabelo... — a moça sorria amavelmente. — Gostei.
 
            — O que quer? Veio tentar me sequestrar de novo?
 
            — Alguém já te disse que você é muito irritadinho?
 
            — Já e se isso não é motivo suficiente pra você sair daqui, eu saio...
 
            — Não seja grosseiro com a dama... — disse Lacroh na porta do banheiro, também vestido em sua roupa de batalha nova, óculos de proteção na cabeça com um colete e botas grandes dos Caçadores Sombrios.
 
            — Você também? Vocês não cansam de me perseguir?
 
            — Os primeiros anos aqui na ilha foram os melhores! — lembrou-se Nina.
 
            — Nós três tentávamos fugir da ilha e éramos pegos pelos nossos mestres...
 
            — E pelo seu pai, que eu me lembro bem! — Dantir se referia a Dimios, Senhor de Castelo que assumiu posição de destaque na relação entre os Caçadores Sombrios e os castelares e que adotara Lacroh ainda solteiro. — Aquele Caçador Sombrio não é humano!
 
            — Meu pai é um lutador perfeito... — Lacroh socou o ar demonstrando movimentos ágeis e precisos. — Me ensinou muita coisa na Arena de Batalha Secreta.
 
            — Vem aqui... — disse baixinho. — Os Caçadores Sombrios realmente passam por situações de extremo risco como dizem por aí? — perguntou Dantir, um tanto curioso.
 
            Lacroh riu. Aproximou-se bem perto dele e cochichou em seu ouvido:
 
            — É pior...
 
            — Os dois vão ficar aí se lembrando do passado? Temos que ir nos encontrar com o Daimio. — ponderou Nina que observava a embalagem da tinta. — Você usa essa marca de tinta? Ela é permanente! Mesmo que cresça de novo, ele continuará tendo essa cor!
 
— É assim que eu quero o meu cabelo... — Dantir reparou em Nina. — Ahn! Agora que eu notei, você também pintou os cabelos! O que aconteceu com os cachinhos dourados e o vestido vermelho?
 
— Você notou? — Nina mexeu nos cabelos, sorrindo admirada. — Eu deixei de ser menina, sou uma mulher forte e poderosa agora. Não gostava de como eu me via parecendo uma doce menininha, a força sombria que habita na minha sombra requer poder de decisão, caso contrário...
 
A moça desconversou, ficando quieta.
 
— Porque parou Nina? — perguntou Lacroh, interessado.
 
— Ela tem medo da própria sombra...
 
— Então é isso!
 
— ...! — Nina olhou para Dantir com desgosto.
 
— A sombra dela tem vida própria e dizem que ela já quebrou o espelho do banheiro gritando com ninguém...
 
— Pelo jeito andou interessado em mim. — percebeu a moça. — Diga-me, o que mais você sabe?
 
— Sei sobre o caso com o Mundergrand, sobre o estado em que você deixou um dos seus colegas de classe morrendo de medo e... — Nina sorriu abertamente. — Esqueça, eu não sei de nada...
 
— Hahaha... Bobinho! Adorei te ver assim. Vamos?
 
— Vou por minha roupa de batalha e já vou. Vão na frente...
 
— Ok! — disse Lacroh. Nina e ele saíram.
 
Dantir se trocou e pôs sua roupa de batalha, uma camisa de algodão simples com uma calça cheia de bolsos e um casaco escuro, feito da pele de um híbrido de Gorlak com um animal mágico e noturno, conferindo-lhe propriedades únicas e exclusivas, presente de seu tio Phelir. Quando ia sair do banheiro, se deparou com um conhecido.
 
— Pai?! — o filho correu e o abraçou forte.
 
— Filho, como você está, saudades? — Dantir não conseguiu responder, estava soluçando e chorando copiosamente.
 
...

 

— Que surpresa! Pensei que não iria te ver no dia em que receberia a tatuagem fantasma — com Dantir mais calmo, eles se sentaram na cama. — Me disseram que os mares boreais haviam ficado perigosos e que você não viria...
 
            Thagir demorou a responder, o filho mais novo havia crescido distante da família sendo treinado para ser um Senhor de Castelo e estava admirando o quanto o jovem de dezessete anos havia crescido:
 
            — Estou orgulhoso de você...
 
            — Ahn? O que é isso pai — Dantir estava meio envergonhado. — Já está ficando velho?
 
            Thagir sorriu e passou a mão na cabeça do filho:
 
            — Mas por que seu cabelo está vermelho?
 
— Isso? — o príncipe desviou o olhar do pai, a dor do soco que levara de Kalliat ainda estava ardendo. — Tive uma discussão com Kalliat... Não vou fazer dupla com ele.
 
— Eu soube que você foi requisitado para compor a elite. No entanto, isso não responde a minha pergunta mocinho! — Dantir ficou em silêncio por alguns instantes e respondeu.
 
— Agora que não vou ficar mesmo nas linhas de frente na guerra cósmica, quero continuar me lembrando dele...
 
— Você não vai esquecer mesmo dele, não é?
 
— Nunca! — disse decidido. — Ele é meu irmão!
 
— Mesmo que ele tente te matar?
 
— ... — Dantir não respondeu, permaneceu indiferente.
 
— Desde que ele foi levado pela Irmandade Cósmica, o tal de Rubber deve ter feito algo a mais com o corpo de Vaik...
 
O príncipe se levantou, cerrando os punhos.
 
— Você não entende... Nem você, nem os outros que insistem em me dizer que ele não é meu irmão. Estou cansado de vocês... Se não tiver algo melhor pra dizer, é melhor que vá embora.
 
— Filho...
 
— Não fale mais nada... Vocês não entendem! Vocês não viram o que eu vi naquela nave! Ele sorria, mas não era sorriso, não havia felicidade nele. Era como se ele chorasse, como se estivesse repleto de algo que não pudesse expressar. Eu ouvi perfeitamente quando a alma dele disse várias e várias vezes a mesma frase... — ele sentiu falta de ar e parou.
 
— E qual era?
 
— “Me ajude...” Nada além disso numa imensidão escura e sem vida. Ele fingia o tempo todo para que eu não ficasse irritado ou chateado e quando ele se foi... Ninguém ajudou ele! Eu era uma criança naquela época, pai, e agora que cresci entendo melhor do que nunca, eu preciso e vou ajudá-lo como ele me ajudou naquela nave, naquele planeta sem nome. Eu sou o Filho do Fim, nascido sob esta estrela que me levará aonde ninguém jamais foi...
 
Thagir ouviu tudo pacientemente.
 
— Está certo, acho que você já está pronto...
 
— Como assim? — Dantir olhou desconfiado.
 
— A sua herança... — Thagir tirou dois braceletes novinhos e lustrosos dos bolsos de grande casaco verde.
 
— A jóia de Landrakar e o Coração de Thandur!
 
— Experimente! Foram feitos pra você...
 
— Eu... Eu não sei o que dizer pai...
 
— Apenas dê um abraço nesse seu velho... — e se abraçaram novamente.
 
— E Curanaã? Como você vai defender Newho?
 
— Deixe comigo e com sua mãe...
 
— Desculpe, nem perguntei como estão as nossas meninas... — Dantir sorriu enquanto colocava os braceletes.
 
— Sua mãe está ótima! Alana e Lara se tornaram ótimas arqueiras... — Thagir pareceu nostálgico ao suspirar ao fim da frase. Os últimos dezoito anos lhe vinham repletos de memórias incríveis para ele que era um dos melhores Senhores de Castelo de todos os tempos.
 
— Faz tempo que não as vejo... Trouxe um fotograma?
 
— Sim, claro... — e ele tirou o objeto de outro bolso, que começou a brilhar.
 
— Ah, pai! De novo! Será possível que não tem mais ninguém pra tirar esse fotograma que não seja você?!
 
— Eu não fico bem em fotos... Seu tio Kullat sempre reclamava disso... Aquele horroroso! — Thagir riu, lembrando-se dos velhos tempos com o parceiro castelar que está defendendo Oririn.
 
— Sei... — sem entender bem o que era engraçado, Dantir olhou para o relógio temporal. — Preciso ir, estão me esperando...
 
— Vá, cumpra o seu destino como Senhor de Castelo... Iqueróm wa puma!
 
— Wa puma! — Dantir ia se virar e pensou em algo. — Para sempre Senhor de Castelo...
 
Thagir sorriu novamente e o filho saiu, escondendo uma lágrima por se despedir novamente do pai.
 

...

 

De volta à sala secreta:
 
            — Ah, é aqui! — Dantir atravessou a parede.
 
            — Porque a demora? Não conseguiu achar uma roupa que combinasse? — reclamou Lacroh.
 
            — Não era roupa, era outra coisa...
 
            — Uau! Que braceletes lindos! — disse Nina, admirando o brilho das jóias da família real de Newho.
 
            — Ah! Isso? Meu pai acabou de trazer pra mim... — Dantir estava meio sem graça enquanto se sentava.
 
            — Thagir está na ilha? — Lacroh estava tremendamente interessado, encostando os olhos de coral perto dos olhos do amigo. — Como eu não vi isso?
 
            — Se conheço meu pai, deveria estar acompanhado de um mago com capacidade de bloquear os rastros temporais... Nesses tempos de guerra soube que os Rawkers têm trabalhado sem fim.
 
            — De fato... — ponderou Nina. — Quando cheguei aqui eu conseguia sentir os mares boreais como ondas que vem e vão o tempo todo. Agora é como se estivéssemos boiando em uma lagoa de água parada.
 
            — Pois é. Também sinto isso... — os olhos da moça brilharam, ao reafirmar a conexão natural que há entre eles, a qual Dantir pouco reparou e foi sentar-se em seu lugar completamente insensível. Nina sorriu, não era a hora certa, porém, ela chegaria em breve, também virando-se para frente.
 
            — Todos presentes, mestre... — disse Lacroh, enquanto Dantir olhava para as mesas que estavam vazias.
 
            — Aconteceu alguma coisa? — perguntou Dantir.
 
Um pequeno aparelho no centro da mesa fez um chiado, ouviram-se quatros toques longos e intermitentes de um instrumento de corta (anúncio do início da transmissão do Informe do Multiverso que cifra suas ondas para que um número limitado de seres, especialmente os Senhores de Castelo, possam ouvir.)
 
            — Peço perdão por ter saídos às pressas, fui chamado urgentemente para o planeta Adrilin e me encontro impossibilitado para continuar a guiá-los em sua missão. Vocês estarão sozinhos... — disse o Daimio pelo rádio.
 
            Os novos Senhores de Castelo e o Caçador Sombrio ouviam atentamente, sabiam que no grupo de elite não receberiam tanta atenção em meio à guerra cósmica e teriam de tomar decisões eles mesmos. O daimio continuou:
 
            — A primeira missão de vocês será escoltar o arquétipo de Teslar às linhas de frente. As naves da Irmandade estão chegando ao planeta e possivelmente tentarão se instalar nele como novo ponto de referência para as tropas altarianas continuarem penetrando o multiverso rumo à ilha de Ev’ve...
 
Dantir interrompeu o mestre por causa de uma dúvida:
 
— Qual corte nós enfrentaremos em Teslar?
 
— De acordo com os nossos informantes a nave da irmandade foi reconhecida como Quarentena, pertencente a corte dos Ilusionistas. Algum interesse, jovem Castelar?
 
— Nada em especial, as cortes são medidas por força e saber qual delas enfrentaremos nos ajudará a encontrar melhores estratégias... Por falar nisso, quantos castelares poderemos convocar para nos acompanhar?
 
— Os números de castelares estão em baixo número, a amplitude de ataque dos altarianos requer o máximo possível de agentes em campo...
 
— Quantos...
 
— Dantir! Não interrompa o mestre! — temeu Lacroh por seu amigo.
 
— Três... — o caçador ficou sem reação.
 
— Ótimo, será o suficiente... — Dantir se levantou e fez uma última pergunta. — o transporte está pronto?
 
— Esperando nas docas... Boa sorte, castelares, que Nopporn esteja com vocês!
 
— Iqueróm Wa Puma! — gritou Dantir levantando o braço direito para o alto com o punho fechado.
 
— Wa puma! — disseram os outros dois se posicionando.
 
Do lado de fora da sala, Lacroh estranhou a maneira como o amigo estava agindo:
 
— Dantir, está tudo bem?
 
O jovem castelar olhou secamente:
 
— Me chame de Elians... — e foi na frente.
 
— Mas o quê?
 
— Você não conhece Dantir muito bem, bobinho...
 
— É Elians! E venham logo, partiremos em duas horas!
 
— ...!
 
— Moça, essa não é o Dantir que conhecemos...
 
— Vamos ver Lacroh, vamos ver... — Nina estava indignada.

...

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