PRIMEIRA VIAGEM
Na nave
boreal, os cinco Senhores de Castelo e o Caçador Sombrio estavam reunidos,
viajando para Teslar:
— Tem certeza que eles são os
melhores para nos acompanhar Dant...
— Elians! —
interrompeu Dantir, ríspido.
— Elians...
Certo, vou tentar não esquecer... Tem certeza que eles são os melhores para nos
acompanhar? — perguntou Lacroh.
— Tenho...
Mundergrand tem tamanho e força excepcionais... — Dantir apontava para o
primeiro na fila.
— Não era
aquele cara com sei lá quantos metros de altura que a Nina derrotou?
— É ele
sim... O tamanho dele é inadequado para o transporte em mares boreais, por
isso, com a ajuda do planeta Jigus, foi desenvolvido um aparato de megafísica
que encolhe ele nas proporções certas e o mantém assim.
— Não era
melhor uma poção de encolhimento? Era assim que os antigos faziam, não era?
— Era sim,
mas alguns problemas sempre ocorriam com dosagens erradas. Alguns magos
experientes encontravam a medida certa para cada giganto, infelizmente, este era
um trabalho custoso e a tecnologia de Jigus ajudou muito a poupar todo esse
trabalho. Praticidade é tudo!
— É o mesmo
com o pequenino ali? O Sêminus? — o pequeno humanóide virou a cabeça para traz,
ouvindo perfeitamente a conversa.
— O que querem
comigo?! — perguntou ele, irritado (ou seria impressão por sua voz ser tão
aguda?).
— Nada, só
estamos conversando... — respondeu Lacroh. — E então? — voltando-se novamente
para Elians.
— Afirmativo...
Os jigunianos são naturalmente muito inteligentes e adotam a tecnologia como
meio de vida. Você viu os fones de ouvido?
— Vi... —
Lacroh se lembrou de ter visto algo parecido com antenas na cabeça do
jiguniano.
— Então,
eles captam as ondas sonoras e as adéquam aos seus ouvidos sensíveis. Mesmo que
estivéssemos cochichando baixinho ele continuaria ouvindo.
—
Entendi... E o terceiro?
— Pelo
mesmo motivo que chamei os outros dois...
— Não vai
me dizer que...
— Sim,
companheiro, submissão. — Elians sorriu de forma otimista. — Esta é nossa
primeira missão e precisamos nos manter unidos e seguir, antes de tudo, o
objetivo que nos foi dado.
— Pobre
garoto...
Nas poltronas centrais que
separavam Mundergrand e Sêminus de Elians e Lacroh, estavam Nina e o assustado
Corinto, metamorfo capaz de alterar a sua estrutura em forma de animal que, com
muito custo, tentou superar o seu medo do escuro para se tornar um Senhor de
Castelo, como seu pai um dia fora.
Nina
observava o espaço sideral passar pelas janelas da cabine e, entediada, olhou
ao redor, encontrando o olhar de Corinto que rapidamente o desviou, tentando
disfarçar a apreensão por estar próximo daquela que o jogou na zona das
sombras. A Senhora de Castelo ignorou aquela reação e voltou a olhar pela
janela.
— Ni...
A Senhora de Castelo virou-se
bruscamente, estava entediada e poderia matar alguém naquele momento.
— O que é?!
— ... —
Corinto não conseguiu falar. — O que eu faço agora? — disse para si mesmo.
— Fale de
uma vez! Você não é homem?!
— É que...
É que...
— Fale
criatura! — gritou a moça.
— Pense em
algo, pense em algo... Pense em pássaros... O quê? Porque eu pensaria em
pássaros? — Nina já estava ficando irritada. — Crack! Droga! Crack!
Na cabeça
de Corinto surgiram algumas penas brancas que enfeitaram seu cabelo loiro. Seus
olhos negros ficaram amendoados, crescendo para dentro e deixando de ser
visível a parte branca típica dos humanos. As unhas cresceram como garras de
águia e por fim a transformação parou no meio, deixando a aparência do jovem
castelar muito esquisita. Nina não tinha ouvido falar mais sobre ele desde o
incidente e não havia como ela ter conhecimento sobre as habilidades especiais
dele:
—
Hahahahahahahah... — gargalhou Nina bem alto.
— O que
foi? — Elians e Lacroh se levantaram de seus lugares.
— Senhorita
Nina! — reclamou Sêminus, desta vez realmente irritado.
—
Hahahah... A culpa não é minha... Hahaha... É esse palhaço que não se
controla... Hahaha...
— Crack!
Crack! Socorro... — uma lágrima escorreu pelo canto dos olhos de Corinto que já
começava a forma um bico no lugar dos lábios.
Mundergrand
ouviu a algazarra e, ao ver a cara de Corinto, exclamou:
— Hun...
Frango assado...
— Quê?
Crack! — os olhos do giganto estavam famintos e sua boca salivando, isso fez
Corinto pular do seu assento e sair correndo para o banheiro na parte de trás
da cabine.
—
Gigantos... — disse Sêminus. — Sempre com fome... Ei grandão, você não trazer
pílulas pra suprir a sua fome?
— Eu não
trazer Semi... Munder ter comido tudo... Você ter mais? — respondeu ele, meio
tímido e com certo sotaque natural dos habitantes de Gigantea quando usam a
língua comum.
— Vocês se
conhecem? — perguntou Elians.
— Munder
conhecer bem Semi... Pequenino construir cinto de Munder! — seu rosto
demonstrava grande alegria.
— É a vida
de todo jiguniano... Sempre que encontram um giganto, cuidam dele...
Sêminus saiu de seu assento e
pulou em cima de uma caixa maior que ele fixara no chão a sua frente. Em cima
dela, apertou alguns botões com os pés e um pacote pulou para cima e foi
segurado com algum esforço extra por seu diminutos braços. Desceu da caixa, foi
andando até Mundergrand e entregou o pacote que parecia mínimo nos grande dedos
do giganto.
— Obrigado
pequenino...
— Sêminus,
vem cá, essas são as pílulas que satisfazem um guerreiro por dias? — perguntou
Nina, curiosa.
— São elas
sim, senhorita. — a voz aguda doeu nos ouvidos da moça. — Pena elas não serem o
suficiente para alimentarem a fome demasiado do nosso amigo. Entrego um... —
Mundergrand pegou todas as pílulas e engoliu tudo — ...pacote inteiro por dia,
o que deveria durar para um mês. Sempre trago a mais comigo, nunca sobra nada.
— Pode me
dar algumas?
— Você tem
prescrição médica?
— Não, só
quero fazer dieta...
— Se eu te
der as pílula erradas é capaz de...
— Argh! —
fez Nina impaciente. — Me dá logo, meu poderes também consomem muita energia!
— Então são
pílulas de alimentação baseadas em energia... — Sêminus escalou a caixa e no
topo apertou com os pés os botões necessários para liberar um novo pacote.
— Não dar!
Nina já ser muito forte! Ela não dever ficar mais forte! — interferiu
Mundergrand, temeroso com a moça que lhe tirou a honra de ser um homem de dez
metros de altura.
— Cala a
boca! — Mundergrand ficou mudo. — Me dá logo isso aí!
— Uma por
dia deve bastar... — recomendou Sêminus. — Não tente tomar duas se sentir fome.
— Eu me
viro... — Nina olhou para trás. — Lacroh, onde está Elians?
— Ele foi
ver como Corinto estava. Pelo visto ele ainda não superou o medo de você...
— Que
nada... São os hormônios dele que não param. Imagina, com essa idade, passou na
academia e continua com medo de mim? Vai ser bom ele aprender com isso... — e
retornou a sua posição no assento, deixando-se cair e ser amparada por ele.
...
Elians
abriu a porta do banheiro devagar. Corinto estava sentado na privada:
— Você está
melhor? — perguntou, vendo que ele voltara a sua forma humana.
— Por que
isso sempre acontece comigo? — ele estava ainda meio choroso e triste. — Quando
chego perto de uma mulher eu fico desse jeito...
— Não é por
causa da Nina?
— Também.
Ela é tão linda... — com as mãos, o metamorfo fez uma escultura do corpo da
moça no ar. — Meu coração bate forte e mistura admiração com medo, tudo de uma
vez. Eu fico tonto! — as penas brancas voltaram a aparecer em sua cabeça.
—
Acalme-se... — Elians adotou um tom de voz compreensivo, assumindo a liderança
que lhe foi concedida. — É normal que isso aconteça, somos jovens e estamos
crescendo. Isso vai passar logo.
— Mas eu não
quero morrer virgem! — suas mãos tremiam e sua respiração estava ofegante. — Eu
vi a morte de perto, não quero morrer sem ter tido os prazeres do sexo!
— É isso
então? Tudo isso, por causa disso?
Corinto
olhou para o lado, sentia vergonha de si mesmo. Pensou em Nina, na missão, no
seu dever como Senhor de Castelo e desabafou:
— Não
conheci meu pai, nem minha mãe. As únicas coisas que sei sobre meu pai é que
ele foi um Senhor de Castelo cientista. Isso é tudo... Eu sei que em uma
batalha é importante estar preparado para tudo, até mesmo para a morte e tem
tanta coisa que eu quero fazer antes de morrer... Porque tínhamos que estar
numa guerra logo agora?! Eu queria começar por missões pequenas, sabe? Ir
crescendo aos poucos, ser um Senhor de Castelo regular. Não tenho pressa em ser
um grande castelar, ser como meu pai. Eu já recebi a tatuagem fantasma, já posso
me dizer que consegui chegar a algum lugar... — Corinto fez uma pequena pausa. —
Alguns amigos mais velhos que fiz na academia foram mortos em suas primeiras
missões nas linhas de frente...
Elians
pensou bem, se o que Corinto falava acontecesse e ele falhasse em ser um líder,
como então ele resgataria o irmão? Ele não pode errar, ele é o único
responsável pela escolha e precisava manter todos sãos e salvos até o retorno a
ilha de Ev’ve. Ele precisava estar certo do que estava fazendo:
— Não vai
acontecer nada com você, eu prometo... — e pôs a mão no ombro dele.
Corinto se
alegrou, o sorriso cresceu e se levantou gritando, erguendo as mãos para cima:
— Eu não
vou morrer virgem!
— Err...
Corinto? A sua calça...
— Ahn? —
ele olhou-se e se viu com as roupas de baixo. — Aaaah!
Corinto levantou
sua calça, ficando completamente vermelho:
— Me
desculpe eu ia e eu... Pelos deuses, que vergonha!
— Heheh... —
Elians sorriu, sem saber como reagir àquela situação. — Ainda bem que você usa
roupa de batalha...
Na cabine,
Nina olhava sobre o assento em direção a porta:
— O que
diabos esse idiotas estão fazendo lá dentro?
— Nada
demais, creio eu... — Lacroh também ouvira o grito de Corinto.
— Ei,
Lacroh?!
— Sim,
Nina.
— Alguma
previsão para nossa missão?
— Não,
nenhuma... — o caçador sorriu.
“Ele está
escondendo alguma coisa”, concluiu Nina, que voltou à posição normal. A porta
do banheiro se abriu e Elians e Corinto voltaram aos seus lugares. O metamorfo
fitou a moça novamente, sentindo seu coração sair pela boca. Parou de olhar
para ela e tentou se concentrar:
— Nina? —
ela olhou para ele. Porém, o sinal do capitão interrompeu a possível conversa. —
Ah! — suspirou ele, que experimentava alívio e apreensão combinados.
O sinal
tocou novamente e o pronunciamento começou:
— Estamos
chegando a Teslar. Por favor, coloquem os cintos de segurança, logo passaremos
pelas turbulências de reentrada. Câmbio e desligo.
Pela
janela, era possível ver aquele planeta de tons dourados nos pólos e uma faixa
oceânica na região do Equador. O ângulo incomum que o eixo desse astro pode
chegar é de pouco mais de quarenta e três graus, fazendo com que os hemisférios
passem meses mergulhados em noites frias e dias escaldantes continuamente.
Somente na região tropical encontra-se o equilíbrio perfeito entre os desertos
de areia e gelo que se formam durante os tais períodos de grande inclinação, o
que gerou o grande oceano de Teslar. Neste momento, o pólo norte está passando
pelo verão, época ideal para ir ao Templo da Pureza, morada do arquétipo, que
se encontra no oásis máximo, na área central do continente norte.
Era a
primeira vez que Nina via um planeta surgir gradativamente pela janela e estava
deslumbrada:
— Nina,
volte ao seu lugar! — gritou Elians.
— Ah, já
vai! — a moça saiu de cima do metamorfo e foi sentar-se no seu lugar, passando
o cinto.
— Você está
bem Corinto? — perguntou Elians, vendo que o jovem castelar estava visivelmente
sem ar.
— Eu vi...
Eu... Vi... Eu vi!
— Idiota! —
disse Nina, reparando no que havia feito. — Nunca viu peitos na vida?!
— Pelo
deuses... — sussurrou Elians, abaixando cabeça.
— Hahaha...
— riu Lacroh. — Desse jeito você mata o garoto Nina!
— Lacroh! —
gritou a moça.
— Peitos
podem ser comuns, mas os de lady Nina são perfeitos... — gracejou Corinto,
ainda extasiado com o perfume da Senhora de Castelo.
Nina ficou
sem reação, gostou de ouvir o elogio.
—
Obrigada... — ela reparou nas penas que continuavam na cabeça do metamorfo e
decidiu retribuir a admiração. — Gostei dessas penas... Elas te fazem parecer
diferente dos outros.
— Sério?! —
milhares de pensamentos passaram pela mente de Corinto. — A partir de hoje não
tiro mais elas da cabeça!
Elians,
Lacroh e Nina riram, Corinto agora fazia parte do grupo — apesar de parecer
mais com um “chaveirinho”.
E nos
assentos da frente:
— Semi
entender? — perguntou Mundergrand baixinho.
— Não me
pergunte grandão... — respondeu o jiguniano.
— Essa vai
ser a melhor missão de todas! — gritou Corinto.
— ...vai
que é doença. — terminou Sêminus.
...
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