quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Epílogo


Epílogo: O Julgamento

 

            – Nós somos o âmago da evolução, a ciência por trás de tudo. É o nosso pensamento que produz e delineia as novas formas. Pelo nosso poder, declaramos esta sessão iniciada! – disseram as milhares de vozes daqueles seres quilométricos de pele escura e brilhante que lembrava o espaço infinito, adornados por véus vaporosos de maru pura que se assemelhavam a pétalas ou asas.
            À direita, lutando pelo multiverso, estava o conselho da Ordem dos Senhores de Castelo. À esquerda, defendendo a destruição de tudo pelo conhecimento, estava a suprema corte da Irmandade Cósmica. Cada um apresentaria seus depoimentos e como provas ofereceriam as memórias contidas em suas mentes. Os altarianos falariam primeiro:

            – É caso certo que os Senhores de Castelo não podem adentrar em nossos domínios! Nosso território é de nosso cuidado e isto fere com a Aliança! – o porta voz da irmandade é o rei da corte altariana máxima, a corte Divina. Sua armadura dourada lhe cobre todo o corpo e é cingida por adereços purpúreos. – Eu invoco aqui e agora a sabedoria máxima dos supremos! Acaso haverão vós de deixar isso impune quando todos sabem o quanto sois justos? Que eles paguem o preço justo estipulado pela Aliança! Quem eles nos entreguem metade de seus territórios como pagamento por esta injúria!
            – Mais algum adendo? – disseram as vozes em uníssono.
            – Por hora, não...
            – Senhores de Castelo, defendam-se.
            O supremo daimio se posicionou a frente da grande face diante dele e que averigua fielmente as memórias:
            – Supremos, sabeis, pois, que a Ordem dos Senhores de Castelo luta pela sobrevivência dos seres mais incapazes que permeiam e vivem no multiverso. Creio que já esperavam por nossa atitude mediante um pedido de suplica tão antiga e que ainda assim obtivemos sucesso em salvar uma parcela ínfima que relutava para sobreviver no planeta sem nome e que atualmente já se encontra destruído. Quero atentá-los ao caso mais sério, de certo que fora uma invasão inapropriada uma vez que a Irmandade se recusa a conceder-nos legalmente a entrada em seus territórios restritos em virtude da nossa forma de ver o multiverso; porém, não fomos apenas nós que adentramos em seu território, eles também adentraram o nosso sem a devida permissão. E digo mais! Eles nos roubaram, com absoluta certeza, um planeta e escravizaram sua população! População essa que diz respeito a nós, organização que zela pelos seus indivíduos, e que justamente era neste planeta que eles os escondiam. Se o que fizemos vai de encontro à aliança que tanto prezamos e respeitamos, alego então que tentamos reaver o que há quinhentos anos, segundo o calendário dos Senhores de Castelo, nos foi retirado à força!
            – Mais algum adendo?
            – Sim. Se a Irmandade Cósmica fizera isso de forma desleal e furtivamente, quem dirá se eles não o fizeram antes? – o tribunal ficara em silêncio até a retomada da palavra por parte do rei da corte divina.
            – E digo o mesmo dos Senhores de Castelo!
            A sessão prosseguiu e todos os envolvidos tiveram a chance de dar as suas memórias para os supremos. Apoiando os Senhores de Castelo estavam Dinha, Esmal e Toshi do planeta sem nome e os Senhores de Castelo, Dimios e seus companheiros que foram debilitados pelo Tabuleiro Cósmico, mas ainda vivos, Westem, Iksio, Nerítico e Pilares, assim como o Caçador Sombrio, Cardial – o caçador mascarado – e a menina monstro, Nina. De todas as memórias depositadas no julgamento, as da menina foram as mais surpreendentes:
            – Eu sou filha de Senhores de Castelo... Eu não nasci nem em Mascar e nem no planeta sem nome. Aliás, não tenho noção de onde nasci, uma vez que meus pais foram levados pela Irmandade Cósmica. Eles deveriam me proteger, mas me tornaram o que sou, um receptáculo de maru sombria... Quando tinha três anos, vivendo em um dos laboratórios da Cidade Alta, vi meus pais sendo condecorados por uma corte diferente daquela que vivia na Cidade Aérea atualmente. Senti tanto ódio que os matei... Eles me pediam para que eu me acalmasse, que era tudo para que escapássemos, mas não pude me conter. Sozinha, eu não podia sair daquele planeta, uma energia poderosa impedia qualquer coisa de que saísse, mas ela deixava entrar e foi isso que eu fiz... Meus pais me contavam histórias sobre os Senhores de Castelo, sobre dois em especial chamados de Kullat e Thagir que eram grandes amigos. Tentei trazê-los até mim, mas sua maru não combinava com a minha. Por sorte os inversos deles tinham a essência perfeita para mim e os levei para o planeta sem nome. Rigaht e Talluk me fizeram companhia por cerca de quatro anos. Eles faziam experiências com o que encontravam tentando escapar de mim, eles achavam que eu não sabia, mas eu sabia e frustrava cada uma das tentativas. Acho que encontraram alguma coisa que poderia ajudá-los... Hahaha... Nem tiveram tempo de usar!
            O depoimento colocava em cheque a posição da Irmandade Cósmica, haviam sim mais sequestros e incursões em territórios da Ordem dos Senhores de Castelo. No entanto, a última cartada foi do único altariano que se apresentou, Rubber, o último altariano da corte dos Ilusionistas.
            – Eu vivia na parte do multiverso que pertencia a Ordem dos Senhores de Castelo... Meu planeta pertence ao primeiro quadrante e agora não passa de algo completamente oco. Com a abertura dos mares boreais e com o comércio multiplanetário estabelecido, a população tinha esperanças de que a miséria fosse solucionada. Isso não aconteceu... Uma doença trazida por um carregamento transportado pelos navios boreais foi mortal para praticamente toda a vida do planeta e uns poucos seres sobreviveram. A Ordem dos Senhores de Castelo deu tudo como perdido e não compareceu para honrar a sua promessa de paz. Esperei, a rota nos mares boreais foi abandonada e continuei esperando por tórridos cinquenta anos... Por questões de abandono e completa esterilidade, a Irmandade fez o que sempre faz: aproveita o inútil. Então, trazido a vida pela luz Cósmica, me tornei Rubber. Depois de seguir fielmente os ensinamentos, tornei-me pajem da corte do Ilusionista e percebi o quanto a Ordem é displicente e ignorante. Age sobre o multiverso, cobra por missões, esquece que o multiverso é tão grande e tão inexplorado que sempre haverá falhas em sua vigia... Peço a vós, supremos, que reavaliem a condição da ordem de permanecer na Aliança, por ser incapaz de cuidar de seus vastos territórios...
            A declaração caiu como um grande pesar. Haviam várias dúvidas, se a administração fosse posta em reavaliação e a Ordem perdesse, os supremos dariam a causa como ganha a Irmandade e todo o território de seu rival seria dada a ela. Os supremos entraram em recesso por algumas horas, ponderando sobre o que seria feito as duas organizações e chegaram a uma conclusão:
            – Nós os supremos decididos, por unanimidade... – todos estavam ansiosos pela resposta. – Declarar guerra entre a Ordem dos Senhores de Castelo e a Irmandade Cósmica! Vocês precisam decidir sozinhos o que farão com esta rixa que nunca termina. Aquele que destronar o outro de sua central será declarado o vencedor! Será a Ilha de Ev’ve, dos Senhores de Castelo contra o exoplaneta da Irmandade Cósmica, Altar! Que vença o melhor!

...
            Uma grande explosão assinou o contrato na maru vital de cada um dos presentes. Agora era pra valer, Castelares contra Altarianos. O multiverso irá tremer!

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