segunda-feira, 4 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Confronto direto com o Mestre Caçador – 1ª parte
Informe do Multiverso



            “Thagir, Kullat, Azio e Laryssa se dirigem diretamente para a torre do conhecimento montados em Mandíbula e no gavião gigante que foram resgatados das docas no meio das batalhas. A coisa não está fácil, eles enfrentarão o ainda desconhecido Mestre Caçador. Que os deuses os ajudem, eles vão precisar. Aqui foi Fentáziz, do Informe do Multiverso.”

...

            Em meio à queda das torres da ilha de Ev’ve, Mandíbula, o canino gigante treinado na academia, atravessa os escombros com Thagir e Kullat. No alto, Laryssa e Azio tentam se desvencilhar das esferas de energia sombria que caem do céu. No centro da escuridão que toma toda a ilha, as duas feras são iluminadas pelas auras de maru de seus condutores, lembrando estrelas de esperança, que afastam o medo dos castelares e de seus aprendizes que permanecem lutando bravamente para manter a sua morada.
            Thagir e Kullat chegam primeiro à entrada da torre:
            –Thagir, eu entendo que este lugar está longe das batalhas, mas, o que supõe que o Mestre Caçador esteja aqui? – Kullat ainda não tinha entendido o que estava acontecendo.
            –... – Thagir estava parado, no seu estado de transe perceptivo, vasculhando o interior da torre. – Você verá...
            Os dois entraram, sem esperar por Azio e Laryssa, que, aparentemente, arranjaram algum problema no meio do caminho e estavam demorando:
            –Por que não vamos direto para a torre? – Perguntou o autômato.
            –Tem alguém nos perseguindo...
            Um dos caçadores vigiava o gavião e saltou para atacá-lo:
            –Corrente verde! – De seu cilindro no braço, Set desenrolou um chicote de maru que se esticou até o gavião, atingindo uma de suas asas.
            –Laryssa?! – Azio não conseguiu computar perfeitamente a velocidade do ataque.
            –Se segure Azio, este pouso não vai ser como os outros!
            Caindo em queda livre, o Gavião só conseguiu desviar o suficiente do chão para pousar na grande fonte de água da praça dedicada a Monjor V, próximo a região da torre, antes da república dos aprendizes:
            –Você está bem Azio? Seus circuitos estão intactos? – Laryssa se levantava, balançando um pouco os cabelos molhados para tentar secá-los.
            –Alguns dispositivos estão inoperantes, princesa. Força bruta a 75%, eficiência em combate de 55%.
            –E aí gracinha? Pronta para levar um tiro? – Do lado de fora da fonte, Set apontava o outro cilindro para Laryssa, com o cristal vermelho de seu interior despontando para fora, na direção da Senhora de Castelo.
            –Um caçador! – Azio se posicionou na frente de Laryssa sem que ela pudesse evitar.
            –Que ótimo! Vão os dois juntos pro Naveeh!
            –...
            –Ahn? Azio, porque ele não atira? – Laryssa não conseguia ver.
            Quando finalmente pode ver, viu que uma dupla de Senhores de Castelo atacava o caçador, afastando-o da fonte. Os dois castelares eram pistoleiros hábeis, um estava montado numa moto elétrica preta e outro era veloz, usava um capuz branco e uma ave o acompanhava. O da moto acelerou para acertar o caçador e acabou entrando na água da grande fonte, parando perto de Azio e Laryssa:
            –A Senhora de Castelo me permite? – Disse o motoqueiro, estendendo a mão para que ela subisse na moto.
            –Ah... Sim, por favor. – Laryssa não conseguia ver perfeitamente, mas achava que conhecia o castelar de capacete.
            –Depois que tudo isso acabar, que tal um jantarzinho princesa?
            –Micah?! É você seu sem vergonha! Então aquele outro deve ser o cego Dubren.
            –Ah! A princesa se lembra de mim. Sou realmente inesquecível, não sou? – Laryssa tinha certeza que podia vê-lo sorrir dentro do capacete.
            –Cala a boca e dirige isso direito! Precisamos derrotar o caçador enquanto ainda é tempo!
            A moto saiu em disparada. Micah e Dubren, cada um de lados opostos, com o caçador do centro, seguiram rumo ao alvo sempre atirando. O caçador só tinha um disparo com a maru de cristal vermelha e, para poupar seu carregamento lento, decidiu usar a corrente de maru novamente, desta vez, com outra cor:
            –Corrente branca! – Com um salto causado pela força de sua arma, Set voou alto e balançou fortemente o corpo para continuar atacando e causar grande estrago na área abaixo.
            Laryssa, que havia entendido o plano dos Senhores de Castelo, lançou sua espada para o alto depois de saltar da moto em movimento. Como o caçador estava concentrado nos dois castelares se movimentando freneticamente, teve dificuldade em perceber o que vinha em sua direção. Set acabou perdendo o equilíbrio e veio ao chão, encontrando-se acuado, ele apontava o cilindro disparador em quem se aproximasse:
            –Não cheguem perto! Não cheguem perto!
            Dubren fez alguns movimentos rápidos e sacou duas pistolas. Usando-as, deu apenas dois tiros certeiros nos cilindros de Set, danificando-os profundamente:
            –Ah!!! Meus braços! – O caçador urrou com a dor, pois sentia que os ossos haviam sido quebrados.
            O caçador estava acuado, gravemente ferido e sangrando. Ele mostrava os dentes feito um cachorro selvagem querendo proteger seu território, para que ninguém se aproximasse.
            O ataque conjunto dos castelares fora um sucesso e juntos se aproximaram do caçador para observá-lo melhor:
            –Saiam daqui! Miseráveis!
            –Ih! O bichinho está com raiva, deve estar precisando de injeção... – Micah tirou sarro do caçador para tentar impressionar a Senhora de Castelo que nem reparou nele.
            –Atchim! Tirem ela de perto de mim! – O caçador parecia estar doente. – Essa aura maldita!
            –Nossa. Não é que ele precisa de injeção mesmo! – Micah continuava importunando.
            Laryssa olhava para o caçador, ele lhe lembrava alguém, só não sabia quem:
            –Atchim! Atchim! – Set continuava a espirrar muito irritado com a situação. – Essa maldita aura... Será que dava para diminuir esse poder de sedução?! Atchim! Sou alérgico a ele!
            –Esse carinha é estranho, não é Laryssa? – Micah tentava puxar papo com a moça castelar.
            –Ei! Eu sei quem você é! – Laryssa finalmente havia se lembrado de onde conhecia o caçador sombrio.
            –O quê?! – Micah ficou pasmo.
            –...?! – Dubren também estava surpreso, ao seu modo.
            –Vocês não sabem? – A moça ficou curiosa com a reação dos Senhores de Castelo.
            –Não sabemos. –Respondeu Micah por ser mais falante. – De onde ele é?
            O que a moça dissera, deixara os dois boquiabertos com a resposta.

...

            Kullat e Thagir andavam dentro da torre do conhecimento e se depararam com uma porta que parecia dar para fora da torre, no meio do nada, talvez um pequeno quartinho. Acima dela havia uma inscrição, a qual Kullat reparou:
            –Não vai me dizer que... – Thagir não percebeu o estranhamento do amigo, entrando sem fazer cerimônia.
Ao contrário do que se poderia pensar a sala não seria uma porta para o vazio ou um cubículo qualquer, ela dava em um lugar diferente, fora da ilha de Ev’ve. O lugar era amplo, talvez maior que o pátio principal que liga o porto à Academia de castelares. Num primeiro momento, ouvia-se um som forte de respiração e um coração batendo bem alto, em seguida, pode-se ouvir uma caixinha de música tocando e abafando o sons corporais tão estranhos. À frente, no centro do lugar, estava o Mestre Caçador meditando no meio do ar com o grande grimório espectral aberto e sendo folheado. Ele vestia uma túnica preta com desenhos em vermelho e um capuz que cobria seu rosto completamente, lembrando o efeito espectral do capuz de Kullat. Atrás dele havia algo grande que fazia sombra, impossibilitando ver o que estava ao redor do Mestre. No entanto, era possível ver longos tubos que estavam ligados a coisa, fluindo algo para ela. O rosto que se podia ver do Mestre, apontava uma possível origem humana:
            –Finalmente! – Disse, rindo da situação como se estivesse se divertindo. – Até que enfim vocês chegaram!
...

Transmissão continua...

sábado, 2 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Guerra declarada!!!
Informe do Multiverso



            “É guerra! Não é necessário dizer muito, apenas: Que vença o melhor... Aqui é Fentáziz, do Informe do Multiverso.”

...

            Os vultos dos Caçadores Sombrios continuavam intocados no alto das torres, quem estava atacando os Senhores de Castelo no solo eram sombras, espécies de clones, formando um exército que se mesclava na escuridão. A ofensiva era alta, mas os bravos castelares não recuavam. Luta após luta, mais luzes se apagavam e mais o exército sombrio avançava. A guerra não seria fácil. No entanto, havia somente uma batalha que precisava ser vencida:
            –Laryssa, Azio... – Disse Kullat amarrando um alforje nas costas.
            –Vamos.  – Falou a moça, decidida.
            –... – Azio ainda não falou, estava mudando para modo de combate. – Pronto!
            –Nós estamos na superfície da ilha, precisamos descer alguns níveis. – Kullat mostrava um mapa numa tela móvel. – Nós vamos nos separar e penetrar as celas juntos.
            –Entendido. – Disse a princesa guerreira.
            –Vamos resgatar Thagir!

...

            Do nível médio até o nível baixo havia uma infestação de sombras disformes. Alguns locais estavam completamente destruídos por causa das primeiras explosões. Os três amigos se separaram e pegaram três vias. Kullat foi pelas tubulações, Azio iria até o centro de máquinas e desativaria as celas, Laryssa seria a distração dos guardas e dos guardiões eletrônicos. Havia apenas um problema no caminho, uma cópia de um caçador espreitava e os perseguia...
            Laryssa conseguia lidar com as sombras insurgentes com sua espada. Azio passava por cima das sombras como se não fosse nada. Rapidamente chegaram à sala de máquinas, que estava vazia:
            –O que aconteceu aqui? – Perguntou a Senhora de Castelo ao amigo.
            –Não consigo detectar nada... – Respondeu o autômato que usava scanners para verificar o local.
            De repente, as luzes do lugar começaram a piscar. Havia algo de errado com os eletrônicos, o que sugeria algo para Laryssa:
            –Elatra! Ela deve estar por aqui! – Percebeu Laryssa seguindo em frente.
            –Não detecto nada...
            –Tem certeza? Meus instintos têm certeza, ela deve estar por aqui... – Insistiu.
            –Não detecto nada...
            –Azio... – Laryssa se virou e viu seu amigo entrando novamente em curto, tento uma tremedeira convulsiva que provavelmente visava seu desmonte. – Azio!!! O que está acontecendo?!!!
            Laryssa não tinha ideia do que fazer, o sistema do autômato era complicado para ela. Ela correu para o painel central, deveria haver algo que indicasse a localização de Elatra. Olhando para o chão ela encontrou um chaveiro. A guerreira o pegou, nele estava escrito restrito:
            –Isso deve ser... Já sei!
            No painel central havia um botão vermelho que só poderia ser acessado se a fechadura de sua tampa fosse aberta. Laryssa colocou a chave e girou:
            –Tomara que tenha dado certo! – A Senhora de Castelo voltou para perto do amigo que estava no chão, esfumaçando.
            –1010% %% 0101... – Isso queria dizer: ‘O que você fez’?
            –Protocolo de segurança... Liberei um vírus que tem como alvo quem estiver invadindo o sistema. – A moça chorou um pouco e a lágrima foi contida pela mão mecânica do autômato que a olhava de baixo para cima.
            Se reerguendo com a ajuda de Laryssa, Azio foi até o painel e usou um disco de informações que reverteu às travas das celas da parte baixa. O caminho estava liberado e Kullat poderia seguir até Thagir.
...

            Kullat seguia pelos tubos que alimentavam os suprimentos de ar das áreas baixas, usando seus poderes de maru para desativar os sensores. Ele parou perto de uma grade laser, bem próximo da entrada das celas e esperou um pouco. Quando o caminho foi liberado, ele continuou:
            –Obrigado latinha! – Disse sorrindo.
            Mais a frente, Kullat provocou uma explosão nos túneis. Os dois guardas que estavam próximos foram verificar. Por detrás deles, Kullat desceu dos tubos e deu um golpe certeiro em suas nucas fazendo-os desmaiar. Ele se dirigiu para as celas e os guardiões eletrônicos foram ativados, repetindo o aviso: “invasor, invasor, invasor”. O Senhor de Castelo puxou sua espada de sua capa e, com aquele ar espectral que o envolvia, andou pelas paredes, cortando os guardiões. Porém, mais deles estavam vindo, então ele continuou e foi para a cela de Thagir. No momento, só havia ele ali, Thagir estava de costas para Kullat e não percebeu a chegada do amigo:
            –Ei, Thagir, vamos!
            –Kullat! Que bom vê-lo! – Thagir se virou e ficou surpreso. – Onde estão os outros?
            –Para trás... – Kullat gerou uma esfera de maru e explodiu a última tranca, liberando as barras de aço. – Eles estão nos esperando na sala de controle dos níveis inferiores.
            –Certo... O que você tem nas costas? – Thagir se referia ao alforje.
            –Ah! Já ia me esquecendo, suas coisas. – Kullat tirou os braceletes com as jóias mágicas que haviam sido confiscadas pelo conselho e o casaco verde de Thagir.
            –Meu casaquinho! Eu estava com saudade você! – O Senhor de Castelo roçou o rosto nele e percebeu algo diferente. – Este não é o meu!
            –Seu pai mandou. Este tem três vezes mais resistência que o antigo, além de endurecer, com um poder de defesa dez vezes maior, praticamente como uma armadura.
            –Esse é meu pai! – Thagir sorriu.
            –Thagir? – Perguntou Kullat enquanto corriam pelo caminho, destruindo um guardião.
            –Sim... – Thagir vestia o casaco, empunhava uma nova pistola da jóia de Landrakar e também atacava.
            –Onde está a outra metade do coração de Thandur? A jóia do seu bracelete permanece a mesma...
            Mais guardiões apareciam e eram rapidamente eliminados por tiros, cortes e ataques de maru sucessivos e perfeitamente sincronizados:
            –O fluxo de maru da outra metade só funciona em contato direto com maru vital... – Respondeu Thagir quando finalmente pode respirar.
            –Thagir! – Kullat se preocupou.
            –Vamos, eles estão nos esperando! – Thagir sorria, sem olhar pra trás.
...

            Chegando a sala de controle:
            –Laryssa, Azio... – Thagir passou direto e foi para os controles do painel.
            –Kullat?! – A cara de Laryssa denunciava o constrangimento.
            –Thagir está sob o efeito do verdadeiro coração de Thandur... – Kullat demonstrava muita preocupação. – Espero que ele aguente...
            –Aha! Achei! – Todos se aproximaram do telão que mostrava avarias por toda a ilha. – Exceto por este lugar!
            O telão se aproximou da região posterior ao porto, do outro lado da ilha. Naquele lugar haviam as repúblicas dos aprendizes e uma pequena torre de conhecimento – espécie de biblioteca. Thagir apontava para ela, isso deixou Kullat curioso:
            –O que tem lá?
            –É lá que o Mestre Caçador está!
            –...?! – Se perguntaram Azio, Kullat e Laryssa se entreolhando.
...

Transmissão continua...

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Devil's Drink 18# - Liori, o leão


            Ninguém no bar sabia, mas Lady Neko tinha um segredo. Não era um grande segredo, era apenas que a nossa linda e poderosa gata era casada! O anel que ela carrega no pescoço é o sinal de matrimônio dela com o neko mais importante da vila, Liori, prefeito eleito da vila. A história caiu como uma pedra para os empregados da Toca dos Gatos. Literalmente...

...

            – Caralho! Como assim você é casada?! – Gurei parecia o mais impressionado.

            – Nossa! Você realmente já se casou? – En’hain ficou menos perplexo como bom amigo.

            – A matriusca já estar casada? – Disse o jovem russo, que naqueles dias estava com cara de cachorro e apelidara Lady Neko daquele jeito desde o dia em que beberam juntos por parecer com a sua mãe.

            Akai, nas costas de En’hain, não ligou muito para o que estava acontecendo e ficou dormindo ali – provavelmente por já saber o que Lady Neko escondia. Ela tentou se explicar mais calmamente e, vendo que seria muito importunada, procurou ser delicada:

            – Saco! Já casei sim! O que é que vocês têm haver com isso?! – A moça bateu na mesa, fazendo-a.

            Os três ficaram quietos até En'hain tentar conversar:

            – Ahn... Com quem você se casou, creio que não seja com o vovô neko, não é?

            – Claro que não! Aquele velho tarado! Imagina se eu ia casar com ele!!! – Lady Neko continuava exaltada.

            – Então quem é o cara, dona peitud... – antes mesmo de terminar a pergunta, Gurei levou uma mesada na cabeça de Lady Neko que estava soltando fogo pelas ventas.

            – Aff... Gato infeliz... – a gata se sentou na cadeira tentando se acalmar.

            – Gurei, você está bem? – Perguntou En’hain, preocupado.

            – Au?! – Fez Sasha, sentindo um calafrio lhe percorrer a espinha.

            O espírito de Gurei estava quase escapando pela boca:

            – Eu... tô... legal!

            – Ele está certo... – En’hain sabia que Gurei ficaria bem e o deixou de lado. – Com que você se casou, afinal?

            – Com Liori... – Lady Neko desviou o olhar, não conseguia encará-lo de frente.

            – Aquele famoso herói da vila? – En’hain pensou mais um pouco. – Aliás, eu ainda não o conheço, onde ele está?

            Mais compassiva, a gata confidenciou:

            – É justamente por isso que não quero falar sobre ele, amore. Ele viaja pelo mundo procurando por nekos perdidos. Ele deveria estar cuidando da prefeitura no lugar daquele ratinho que ele elegeu como secretário. Mas está por aí, sem nem mandar notícia pra mim que sou sua esposa! Aquele gato miserável!!! – A raiva de Lady Neko era de dar medo.

            En’hain sorria, contudo, por trás da expressão calma, havia alguém que estava morrendo de medo. O draconiano ainda era muito novo na Vila dos Gatos e não conhecia todos da vila. Conhecia somente os nekos que conhecia do mercado, da quitanda, da loja de doces, que trabalhavam na praça e os que durante a noite apareciam no bar. Enfim, ele não tinha ideia de que ratinho sua amiga estava falando.

            Lady Neko fez menção de dizer algo, mas preferiu ficar calada. En’hain observou o gesto, notando o mal estar da moça:

            – Ele está voltando? – Sugeriu En’hain.

            – Sim... Ele deve chegar hoje... – Lady Neko demonstrava preocupação.

            – Entendo... Ele é muito ciumento... – En’hain olhou ao redor e percebeu o verdadeiro problema de Lady Neko. – Ele não vai gostar de te ver aqui...

            Algumas lágrimas rolaram pelo seu belo rosto.

...

            Pouco depois, do lado de fora, alguém que não estava na vila há um bom tempo acabava de chegar:

            – Gunshin!!! – Gritou ele. – Eu tô chegando! E vou entrar no bar!!! – Liori estava na entrada do bar, sujo de uma longa viagem, gargalhando com um grupo de cinco nekos. – Pra quem que eu tô avisando? Aquele sumido nunca está lá! Hahaha!

            Os outros cinco também riram muito. Eles estavam mal arrumados, sujos, eram mal educados e indiscretos, aparentando serem arruaceiros.

            En’hain pensou com firmeza, precisava tomar uma atitude frente aquela algazarra, deixou Akai dormindo numa cadeira e foi para a frente do bar:

            – Sinto muito, só abrimos a noite. – falou En'hain passivamente diante do grande leão duas vezes mais alto e truculento a sua frente.

            – Mas o que é isso?! – olhou desconfiado, medindo En'hain de cima a baixo. – Quem é você?!

            – Sou En’hain, barman da Toca dos Gatos e o mais novo draconiano da Terra – "Talvez o título resolva", pensou ele.

            – Hahaha... – Liori riu dele, apontando o dedo enquanto olhava para os novos nekos. – Eu sou o dono desta vila e queremos beber até cair! Se você não sair da minha frente vai sentir o peso da minha patada!

            Liori rugiu com tanto impeto na cara de En’hain que ele ficou todo melecado e meio entorpecido pelo bafo fétido. Mantendo-se firme, ele insistiu para que o leão voltasse mais tarde, porém, o felino gigante ignorou seu pedido e tentou passar pelo draconiano que reagiu instintivamente atiçando os espinhos pontudos de sua longa cauda metálica:

            – Hoh! Está com raiva baixinho?! – Liori encarava En’hain com um olhar fulminante, até sentir um cheiro doce que conhecia muito bem. – Este cheiro... Lady Neko, você está aí?!

            A gatinha se arrepiou toda, como se já não bastasse toda a sua apreensão por ser o motivo da discussão. Vendo a amiga acuada, Sasha percebeu que era o único que podia fazer alguma coisa além de En’hain e decidiu enfrentar o Leão também:

            – Que cheiro de cachorro molhado! – antes mesmo de se revelar, Liori sentiu o cheiro do lobisomem. – Não vai me dizer que você ousou trazer um maldito cachorro para a Vila dos Gatos!

            Liori estava mais exaltado ainda e Lady Neko tremia dentro do bar. En’hain permanecia no mesmo lugar e Sasha rosnou mostrando os caninos para o bando do lado de fora.

            – Devo insistir para que volte no nosso horário de serviço. – En’hain continuava impassível em sua decisão.

            –Como ousa!!! – rugindo forte, Liori deu um golpe certeiro na boca do estômago de En’hain com seu grande punho fazendo-o com voar para dentro do bar.

            Sasha não se conteve e tentou morder o grande leão, que reagiu mais rápido que ele, agarrando-o pelo pescoço. Liori apertou bem forte, quase quebrando os ossos:

            – Cão maldito, se eu estivesse aqui você nunca teria entrado!

            Sasha buscou alguma palavra, mas não conseguia falar direito.

            Lady Neko sentiu que a luta apertara e tomou a frente para falar gentilmente com Liori para que soltasse seu querido amigo:

            – SOLTA ELE GATO MIRRADO!!! – Lady Neko meteu a cabeça de Liori bem fundo no chão.

            – Oi amorzinho... – Mesmo com a cabeça enterrada, Liori sabia que encontrara Lady Neko.

            O lobisomem ficou assustado:

            – Matriusca... Ele já me soltar... – Sasha passava a mão no pescoço para aliviar a dor.

            – Ah... Sim, é mesmo. – Lady Neko tirou a mão do buraco.

            En’hain, no fundo do bar, se levantava lentamente. Estava meio tonto por causa do golpe, mas sua resistência de draconiano era forte e estava bem:

            – Lady Neko?! – En’hain estava surpreso com o que a gata havia feito quando saiu. – Ahn... Acho melhor você levar o seu marido para casa. Eu cuido dos novos nekos da vila por enquanto. Venham, podem entrar.

            – Eba! Urru!!! – Fizeram os novos gatinhos que estavam animados por finalmente entrarem no bar.

            – SILÊNCIO!!! – En’hain parecia Liori rugindo. – Akai está dormindo...
            O bando de gatos percebeu o pequenino após terem entrado.

            – Este neko está ligado a você? – Perguntou um deles.

            Akai acordou, saiu da cadeira e subiu nas costas de En’hain, voltando a dormir calmamente.

            – Ai! – O barman sentiu um puxão na cauda, despontando uma pequena lágrima no canto dos olhos. – Infelizmente, sim...

            Foi isso...

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Discussão entre Thagir e o Conselho de Nopporn
Informe do Multiverso



            “Como foi visto no último informe, não se soube o que aconteceu com o segundo caçador e ao ser perguntado pelo ocorrido, o Senhor de Castelo Thagir se negou a dar qualquer esclarecimento. Discutindo sobre o ocorrido, o Conselho chegou à conclusão de que Thagir deveria revelar o que escondia. Mas, para a surpresa de todos, Thagir rebateu acusando seriamente N’quamor de estar ajudando os Caçadores Sombrios. A discussão levou o conselho a prender o comandante Thagir, que será julgado em grande audiência, sendo transmitido para todo o multiverso. Os amigos mais próximos relatam não ter ideia do que está acontecendo. Teria o mestre Thagir se revoltado com o conselho? O que o grande ancião teria para esconder? Confiram nesta transmissão especial. Aqui foi Fentáziz, do Informe do Multiverso.”

...

Começando transmissão...

            Kullat foi visitar Thagir na cela. Esperava entender alguma coisa:
            –Porque você não pode dizer nada, nem pra mim que sou se amigo? – Kullat tentava chamar a atenção de Thagir, sem muito sucesso.
            –... – Thagir suspirou. – Há muito mais por trás disso do que você pensa...
            –...! – Kullat olhou para o amigo, praticamente irmão, e percebia um olhar vago, sério, quase com raiva. Deveria estar perdido em algum pensamento.
            –Thagir! Sua hora chegou! Você será levado imediatamente para a presença do conselho... – Uma comitiva de guardas castelares marchou para a frente da cela, anunciando a hora do julgamento e para escoltar Thagir.
            –Me diga qualquer coisa! – Kullat tentou falar uma última vez falar com o amigo...
            –... – Thagir falou algo baixinho, aparentemente Kullat entendeu e deu passagem à escolta.

...

            No tribunal, o bate-boca rolava solto:
            –Como o Senhor se justifica? – Perguntou um dos anciões.
            –Eu? Como vocês se justificam? – Retrucou.
            –Responda as perguntas! – Exigiu outro ancião.
            –Vocês têm noção do que fizeram?! – Thagir estava exaltado.
            –Mantenha se calmo, este é um simples inquérito. – Pronunciou-se uma das anciãs.
            –Então me diga... Vocês têm noção do que fizeram?! – Thagir repetiu.
            –Mantenha a conduta, Senhor de Castelo! Nós é que estamos te interrogando.
            –Se vocês querem mesmo entender o que tenho a dizer, é melhor que digam. Vocês têm noção do que fizeram?! – A última pergunta saiu com um grito.
            –Isso não vem ao caso. – O juiz N’quamor se pronunciou. – Conte de uma vez o que aconteceu ao segundo caçador que atacou Curanaã.
            Thagir deu um pequeno riso e continuou a atacar o conselho:
            –Você, grande ancião, você é o culpado de tudo isso! Não tente esconder!
            Todos que estavam presentes olharam para o atual líder, se perguntando o que acontecia, como um grande Senhor de Castelo havia ficado com um estado tão alterado. A anciã que tinha precedido o oririano, querendo confirmar os fatos, inquiriu diretamente a N’quamor:
            –Grande irmão, ele o acusa com grande interesse. Tens algo para dizer? – A face dos outros demonstravam o mesmo interesse.
            –Para todos os fins, declaro que ele deve estar louco e me caluniando.
            –É mesmo?! – Thagir se liberta das algemas e atira uma jóia de maru na direção do grande regente que, com sua perícia em tiro, não foi difícil acertar a runa que pendia em seu pescoço.
            Um tremendo choque explosivo ocorreu, fazendo N’quamor cair no chão fumegando. Todo mundo estava assustado. Os guardas castelares seguraram Thagir, forçando-o a ficar de cara no chão. Os anciões mais experientes em poder de cura se aproximaram de N’quamor para tentar repor suas energias e verificaram que sua runa havia se desfeito em pó:
            –Grande irmão? – A aparência do ancião ficava cada vez mais verde com folhas que apareciam e começavam a cair de seu corpo e que, por fim, não era mais o mesmo.
            –Vejam!!! Este é o caçador Baran, o acônito!!! – Gritou Thagir em sua posição nada confortável.
            O caçador sombrio estava em estado de choque, tendo convulsões, derramando seiva pela cabeça em forma de flor em botão. Seus apêndices formaram raízes no chão e ele começou a se fundir ao local, desaparecendo. A cena deixou todos boquiabertos. Vidara, que estava em segunda no comando do conselho, achou melhor tomar algumas decisões de última hora:
            –Irmãos! Vamos todos nos retirar para decidirmos o que fazer.
            –E quanto ao castelar Thagir? – Perguntou outro ancião.
            –Deverá continuar em observação, por desacato a nossa autoridade. Quando terminamos de debater o acontecido e tomar novas providências, nós reavaliaremos sua condição. No momento não podemos tirar conclusões precipitadas. É tudo. – Todos se retiram do salão de julgamento e Thagir foi levado de volta à cela.

...

            Naquele dia, aquilo não fora tudo que iria acontecer. Diversas explosões começaram a ocorrer por toda a ilha de Ev’ve. Os alarmes soavam alto:
            –Emergência! Emergência! Ev’ve está sobe ataque! Todos a seus postos! Todos a seus postos!
            Na imensidão do multiverso, grandes sombras começavam a surgir e a se aproximar da ilha. O sol artificial da ilha também estava sendo sobrepujado, escurecendo sob uma grande mancha. Toda a ilha tremia como se estivesse saindo de seu eixo. Depois daquilo, somente o farol de Nopporn e as luzes artificiais iluminavam a ilha de Ev’ve que estava imersa em escuridão.
            Todos os Senhores de Castelo, guardas e aprendizes estavam nas ruas, armados e prontos para o ataque. Eles bradaram anunciando que estavam prontos para a batalha sombria. Foi então que ouve uma saraivada de flechas perfurantes vindas da escuridão matando e ferindo alguns castelares. O escudo orbital continuava girando a plena potência. De repente, os alto-falantes voltaram a anunciar:
            –Atenção, as defesas da ilha estão baixando! Repito, as defesas da ilha estão baixando!
            Os guerreiros mais jovens estavam ficando preocupados, fazendo algazarras desnecessárias. Os mais experientes tentavam conter os aprendizes:
            –Fiquem calmos! – Disse Ydra, Senhor de Castelo e multibiólogo, aos que estavam a seu alcance.
            Átimos, o ultraquímico, além de Kennibo e tantos outros fizeram o mesmo, se preparando para o pior. Até uma voz ensandecida começar a falar pelo alto falante:
            –Eis o dia de bravura, caros Senhores de Castelo! Eu vos apresento uma batalha tão grande quanto às guerras espectrais! E para não os decepcionar, trago-vos aqui Set, o homem-sombra; Baran, o acônito; Inok, o vampiro; Doutor Tóxico, o limo inteligente; Kabeza, o demônio do medo; Xerubim, o anjo da distorção; Histério, o grande Cavaleiro Fantasma; Singo, o domador de feras; Elatra, a autômata; Alvora, a musa da Guerra; Lux, o homem das estrelas; e Ann, minha arqueira, cuja a mira é a mais perfeita! – A frase acabara com uma risada diabólica.
            Lá estavam eles, o vulto dos doze Caçadores Sombrios sobre as torres da ilha de Ev’ve – com mais um para completar?! Todas as luzes das estrelas apagadas por grandes sombras que, ao se aproximarem mais da ilha, revelaram-se nada mais nada menos do que quatro Estrelas Escuras!
            Os anciões, percebendo o alvoroço, se reuniram na torre do farol de Nopporn de imediato e anunciaram em uníssono:
            –Enquanto esta luz iluminar os Senhores de Castelo, sempre haverá esperança no multiverso!

...

Transmissão continua...


quarta-feira, 30 de maio de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine – Os Caçadores Sombrios


Thagir retorna ao reino de Newho – 2ª parte
Informe do multiverso



Começando transmissão...

            Conforme a expressão que Laryssa havia visto nos olhos de Thagir, ela ficara um pouco assustada, ele mudara completamente. Seus poderes naturais lhe diziam que Thagir estava consternado, mas sua intuição feminina lhe dizia que Thagir estava pensando em dizer algo como: “Querida, desculpe por não ter lavados os pratos da última vez...” Sua face estava impassível, não conseguia acreditar no ocorrido. No castelo de Newho fora construído em segredo uma espécie de quarto do pânico, protegido por runas antigas e poderosas que se soube serem utilizadas na guerra espectral para deter o inimigo de forma eficiente. Primir havia chegado há mais de uma semana e chegou a ouvir a voz da nora e das netas por detrás da porta e várias vezes foi ele que recolocou o estoque de comida. Aparentemente, depois de ouvir sobre a Estrela Escura e o que ocorrera na tentativa de resgate, ele foi ver se estava tudo bem com suas netas. Sem conseguir resposta, ele desfez o feitiço e verificou que elas tinham sumido. Não havia como sair, não havia como entrar e muito menos passar ileso pelo feitiço. De alguma forma, a rainha e as princesas de Newho foram raptadas.
            Posteriormente Thagir tentaria um chamado pelos comunicadores, pois soubera que um Caçador Sombrio estava no castelo de Newho e precisaria de reforços para enfrentar o caçador vermelho conhecido como Kabeza, o monstro do medo. Naquele momento, o que mais enlouquecia Thagir era que o ataque que o caçador havia feito ao planeta tinha apenas quatro dias...
            O navio de Kullat recebeu o chamado e contatou de volta o Senhor de Castelo. Por decisão unânime do Conselho de Nopporn a leitura dos códices seria feita em Curanaã. Mas antes:
            –Isso é loucura! – Insistiu Kullat tentando persuadir o amigo.
            –Eu preciso ir lá... Além disso, aquilo também está lá. – Thagir olhava diretamente para o castelo de Newho distante alguns quilômetros.
            –Do que você está falando? – Perguntou Laryssa, confusa.
            –A outra metade do coração de Thandur. – Respondeu Kullat.
            –Que outra metade?
            –Já faz algum tempo, uma teslarniana foi encontrada morta no quarto real com um buraco no peito. Perto dela foi encontrada uma jóia de Landrakar e o pedaço perdido do coração de Thandur...
            –O que pretendem fazer? – Perguntou Azio, calculando o sucesso da investida.
            –Se conheço bem o meu amigo, ele vai tentar usar os poderes do verdadeiro coração de Thandur para lutar contra os Caçadores Sombrios.
            –Sim... Vou! – Disse secamente e com determinação. – Se não quiserem ir, tudo bem, irei sozinho. Mas se forem, digam logo.
            Eles já lutaram tantas batalhas lado a lado e mesmo assim, naquele momento, o silêncio se fez presente:
            –Eu vou na frente... – Thagir montou em Mandíbula que saiu em disparada.
            Decididos a impedirem o Senhor de Castelo de fazer alguma besteira, Azio e Laryssa foram no gavião gigante e Kullat usaria a motonave para poupar suas forças. Os outros ficariam vigiando os códices tentando decifrá-los.
...

            Sob uma grande nuvem escura, o castelo de Newho estava escancarado, de dentro dele uma neblina tomava conta do lugar ao redor. Os caçadores estavam esperando por sua presa.
            Thagir resolveu ir direto para a torre mais alta, onde ficavam seus aposentos. Isso o lembrava da época de criança, mas estava concentrado demais para notar. Como haviam previsto, Kabeza estava naquele lugar e saiu para recepcionar os que vinham ao seu encontro abrindo os grandes olhos azuis de seus ombros. O estado de fobia havia sido liberado, as ondas de medo se propagaram direto para seus alvos fazendo o Gavião de Laryssa despencar do ar, pousando forçadamente e fez a motonave de Kullat travar:
            –Os demônios do Naveeh esperam pelos seus espíritos! Hahaha! – Sua voz era medonha, ressoava como muitas águas.
            Um dos olhos se fechou e Kabeza prosseguiu utilizando apenas um para se aproximar dos guerreiros:
            –Vejamos... Hum... Tem um medo muito saboroso por aqui... – Kabeza passou a língua por entre os lábios. – Você!
            –...! – Ele apontava para Laryssa que estava no chão se contorcendo, e chegou mais perto dela.
            –Você está com medo!
            Laryssa se levantou e fez um corte com sua espada numa das pernas cabeludas do minotauro vermelho que urrou de dor.
            –Como?! Como conseguiram evitar a minha onda de medo?!
            –Fácil... Com a ajuda dos engenheiros da Ordem! – E deu lhe outro corte, desta vez nos braços.
            Laryssa levava no pescoço uma peça eletrônica ligada a uma pequena jóia de maru que restringiu as ondas psíquicas de Kabeza. Recuperados do primeiro choque, Azio e Kullat também se levantaram como se nada tivesse acontecido por causa do aparelho inibidor, lançaram seus ataques que surpreenderam o monstro que recuou completamente ferido:
            –Vocês miseráveis, vocês me pagam!!! – No ímpeto de sua raiva, o corpo de Kabeza foi tomado por linhas negras que aumentaram sua força.
            Mesmo machucado o caçador foi capaz de lançar mais um ataque:
            –Sacrifício do desespero!!! – De seu peito, um enorme olho negro brotou multiplicando as ondas psíquicas em cem vezes sobrepujando o inibidor.
            Os guerreiros tinham seus pensamentos completamente embaralhados, mesmo Azio que é imune a grande parte da magia, sentia sua maru vital sendo arrancada de seu interior:
            –Vou começar por você, pedaço de lata, assim que eu comer o que te mantém vivo nunca mais suas engrenagens iram te reconstruir! Morra...
            Um tiro interrompe Kabeza que faz um rombo no seu peito:
            –Onde está... O outro...  Caçador? – Kabeza mal conseguia falar.
            Um clarão azulado desceu da torre mais alta do castelo de Newho em grande velocidade. Era Thagir, completamente tomado pela força mística do verdadeiro coração de Thandur lhe permitindo agir com grande capacidade de deslocamento e aumentando infinitamente a sua percepção:
            –Para onde levaram a minha esposa e minhas filhas?! – Thagir não estava nada, nada feliz.
            Kabeza não conseguia mais falar, começou a desaparecer espectralmente no ar e sumiu, deixando Thagir irado. Laryssa, meio tonta por causa da última investida do caçador, tentou falar:
            –Thagir... O Azio...
            Voltando ao normal, Thagir percebeu que Azio estava desligado, não havia luz em seus olhos:
            –Não, não, latinha você também não! – O Coração de Thandur reagiu às emoções do pistoleiro e lhe revelou o interior de Azio com suas engrenagens, sendo possível ver o que estava errado.
            Com as duas mãos, Thagir deu uma pancada no peito metálico, que fez o autômato reagir:
            –01% de apoio emergencial %110 101% ativar.
...

            Acordando em um quarto do castelo real de Newho, Laryssa sentiu sua cabeça doer como nunca. Thagir estava lá, lhe disse para repousar. Logo Kullat também estaria bem. Ela relaxou no travesseiro, olhando para o teto. Só lhe restava uma dúvida:
            –O que aconteceu com o outro caçador? – Ao lado da cama, num criado mudo, havia uma boneca de porcelana com cachinhos dourados...
...

Transmissão encerrada...

terça-feira, 29 de maio de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Thagir retorna ao reino de Newho – 1ª parte
Informe do Multiverso



            “Como era de se esperar, Curanaã também não saiu ilesa dos ataques dos Caçadores Sombrios. De forma engenhosa eles atacaram a sede da Ordem e o castelo de Newho, furtando do reino algo muito precioso. Aqui foi Fentáziz, do Informe do Multiverso.”

...

Começando transmissão...

            Laryssa e Thagir estavam se organizando dentro do navio. Ela estava emburrada com a decisão de Thagir de separar os amigos daquele jeito, mas sabia que a resposta que receberia era meio óbvia, por isso se mantinha calada. Thagir estava alimentando um farejador canino gigante dos estábulos da ilha de Ev’ve que trouxera consigo por ser um animal esperto e extremamente rápido, perfeito para viajar por Newho. O Senhor de Castelo tirou duas latas pequenas dos bolsos e entregou uma para Laryssa:
            –O que é isso? – Perguntou a moça.
            –É um tipo de energético, vai te ajudar a ficar atenta contra os Caçadores. Tome na hora que precisar. Nos últimos dias tenho dormido pouco. – Thagir abriu a lata que fez um chiado e liberou algumas bolhas; ele deu alguns goles. – Fresco como cok e ruim como cuspe de dragão!
            Laryssa sorriu um pouco ao ver a cara feia que Thagir fizera. Ela já tinha ouvido falar que em planetas a partir do segundo quadrante poderia haver coisas como aquela, mas ainda não tinha visto uma. Ser princesa de um reino grande reino poderia ser bom, mas tinha lá seus problemas. Lembrando-se que Thagir era um rei que estava num estado parecido, Laryssa perguntou:
            –Vamos ver as princesas de Newho?
            –Sim! – Thagir tinha um sorriso alegre e suspirava de emoção. – Você vai adorar conhecer Dânima, ela é uma mulher sensacional!
            A realeza sempre parece cheia de luxo e poder, no entanto, ainda são seres normais, com sensações comuns, que também sentem daqueles que amam. Os dois castelares pareciam se entender muito bem.
...

            Dando prosseguimento à viagem, tudo ocorreu calmamente. O navio aportou com sucesso no porto mais próximo da sede de Newho. Só havia algo perturbando o Senhor de Castelo:
            –Onde está todo mundo?
            De fato, estava tudo calmo de mais, dava até para ouvir o barulho dos ventos. Thagir ficara preocupado e saltou do navio, ativando o coração de Thandur para verificar as redondezas. Laryssa, com noção do procedimento, penetrou em si para ouvir melhor as vozes da natureza que encontrasse e desceu para juntou de Thagir, usando a ponte que se liga ao cais:
            –Não encontrei ninguém... – Disse Thagir voltando ao normal.
            –Eu consegui ouvir uma voz no meio do silêncio... – Laryssa estava meio constrangida pelo que ia dizer.
            –Vamos, diga, o que você ouviu? – Thagir estava certo do que fazia.
            –A voz dizia: “Fujam”, e apenar isso, repetidas vezes. Senti grande pavor e angustia.
            –Kabeza... Os Caçadores Sombrios já estão aqui! – Thagir se lembrou do dia em que estava para fazer o pronunciamento na ilha de Ev’ve; no ar pairava a mesma sensação, um pouco mais fraca de certo, mas a mesma. – Descarreguem o Mandíbula!
            Thagir fez sinal aos tripulantes para descarregarem aquele animal que usaria como transporte. Laryssa, por sua vez, preferiu mandar trazer um gavião gigante de Agabier, ele era seu conhecido e não hesitaria num momento daquele, com sua pose altiva. Os Senhores de Castelo que estavam dando apoio também trouxeram suas montarias – as naves de transporte disponíveis estavam todas no navio de Kullat e Azio.
Laryssa, que ainda tinha visto pouco dos segredos do multiverso, ficara surpresa com as montarias. Havia uma Wyvern – espécie de dragão que lembra uma galinha; um Frizio – fera albina, quadrúpede, natural de um planeta congelado e que usa a luz como fonte de energia; um Rijadi – mais conhecido como anjo estelar, sua forma lembra uma arraia gigante que flutua no ar, vive em bando no espaço, sendo sua migração muito apreciada pelos astrônomos; e um Golait – considerado um tipo de quimera, por reunir características de plantas, rochas e animais num único ser, além disso, possui quatro patas, cauda longa e rombuda, pescoço comprido, cabeça pequena, garras afiadas, placas extremamente expansíveis e duras por todo o corpo e produz o próprio alimento como uma planta ao colocar a cauda no solo. Eram seres magníficos e raros. Laryssa sentia a confiança deles em seus mestres, isso a fazia se sentir segura.
            Logo partiram, atravessando as estepes que ladeavam o rio Pangodes que os levaria ao centro de Newho e posteriormente ao castelo de Thagir. Um cavalo poderia levar um dia daquele porto, aquelas feras velozes fizeram o trajeto em cerca de uma hora e meia.
            Já no centro da cidade principal, novamente, o silêncio. Thagir tentava detectar alguém com o estado aguçado que o coração de Thandur deixava, novamente nada. Virou-se para Laryssa:
            –Alguma coisa? – A esta altura, todos já estavam com os comunicadores.
            –Não sei ao certo... Não sinto nenhum animal, por menor que seja... Espere! Ouço algo! Está vindo dali! – Mais a frente, na direção em que o gavião voava, havia um prédio grande, com algumas torres e o símbolo dos Senhores de Castelo entalhado numa pedra do arco do portão.
            Thagir usou Mandíbula para saltar a muralha e quanto aos outros, os animais voadores carregaram os que não podiam passar para dentro da sede da Ordem. Thagir retomou a conversa com Laryssa:
            –É aqui dentro? – Perguntou Thagir.
            –Sim... Sinto seres humanos aqui dentro. Estão com medo... – Laryssa demonstrava desconforto ao falar sobre aquilo.
            O Senhor de Castelo de Newho foi até a porta, fez alguns toques de maneira incomum, por um momento houve silêncio até alguém bater de volta da mesma maneira. Thagir repetiu os movimentos incomuns e a porta se abriu. Dentro da sede, havia alguém conhecido:
            –Pai?! – Perguntou Thagir. – O que o senhor está fazendo aqui?!
            Depois de um abraço caloroso Primir, o antigo monarca de Newho, começou a falar:
            –Soubemos da existência dos Caçadores Sombrios e viemos cuidar de Dânima e as crianças. – O velho estava triste, parecia querer esconder algo de Thagir.
            –Onde estão os outros?! Eles não estão cuidando dos códices?! – Thagir olhava para dentro da sede, estava tão preocupado com a missão que deixou escapar a impressão que teria do pai.
            –Pelos deuses filho! Você não soube?!
            –O quê?! – Thagir estava assustado, pois finalmente percebera a seriedade do pai.
            Laryssa tentou ouvir a conversa, mas não conseguiu. Viu Thagir cair de joelhos abraçado ao pai. A Senhora de Castelo se aproximou e tocou em seu ombro:
            –Thagir? – Ele se virou com o rosto cheio de lágrimas.
            –Eles levaram elas... Eles levaram Dânima e minhas filhas!

Continua...