segunda-feira, 30 de abril de 2012

Devil's Drink - 6# Shot

            En’hain estava dormindo quando, de repente, alguém veio acordá-lo:
            –Cacete! – Berrou ele. – Que susto que você me deu agora!
            –Café da manhã... Nyaaa! – Um neko de pelo avermelhado havia pulado em cima de En’hain.
            –Já vou Akai. – Esse era o nome dele. – Já vou pegar o seu café da manhã...
A vida no bar Toca dos Gatos era muito movimentada, principalmente porque En’hain precisava cuidar de seus amigos nekos que também trabalhavam no bar. O mais jovem e hiperativo de todos era Akai. Ele não costumava dar problemas, exceto quando não dava grandes problemas. Não fazia muito tempo que ele havia saído de sua caixinha, aliás, foi o próprio En’hain quem abriu sua caixinha. Aquele dia foi muito divertido...

...

            En’hain estava discutindo com o dono do bar:
            –Como assim eu tenho que ficar aqui? Eu não tenho ideia do que você fez comigo!
            –Se acalme En’hain, não precisa se exaltar tanto. Eu só vou sair um pouquinho para trazer o que está faltando no estoque. – Disse calmamente.
            –...! – A cara de En’hain estava completamente fechada, há quem diga que saía fumaça de cabeça. – É bom você voltar logo, eu sou apenas um estudante de arquitetura... Como é que eu vou fazer se um daqueles... daqueles gatos vierem aqui?!
            –Se acalme, você vai saber o que fazer. Arrume a casa e o seu quarto. – O dono do bar fez um cafuné na cabeça de En’hain, desarrumando seu cabelo. – Eu já volto.
            –...! – Mais fumaça estava saindo da cabeça dele, a porta se fechara e En’hain estava sozinho naquela casa/bar enorme, sem saber exatamente o que fazer.
            Aquele lugar era realmente grande, havia um grande balcão onde eram preparadas as bebidas e os aperitivos. Atrás dela havia uma grande estante com diversas garrafas de diferentes formas, cores e tamanhos. Também havia ali um pequeno palco, onde poderia se apresentar uma banda com até seis integrantes. Eram umas dez mesas no centro, quadradas e ligeiramente pequenas, todas com quatro cadeiras. Caso houvesse superlotação, haviam mais mesas no depósito e as quatro portas do bar poderiam ser abertas ampliando bem o espaço principal. Nas paredes haviam pequenas mesas triangulares para dois, deviam ser umas sete, mas uma delas estava guardada por se quebrado recentemente. No momento aquele lugar estava todo desarrumado:
            –Filho da mãe, deixou tudo pra mim! – Se irritou En’hain. – Ele ainda me paga pelo que ele me fez...
            En’hain foi lá para trás, na cozinha, e entrou na dispensa para pegar a pá e a vassoura, como também o latão de lixo, que teve de ser empurrado por ser grande demais para ser carregado. Uma varridinha ali, uma varridinha aqui, um pouco de poeira ali, alguns espirros pra acompanhar... Pronto, tudo no latão! Não estava ainda limpo, mas aquele grande lugar era muito difícil de limpar. Então En’hain pegou o balde e o esfregão, além de algumas flanelas e desengordurante para as mesas, estavam uma nojeira só. En’hain esfregou, esfregou, esfregou... em cima e embaixo até suas mãos ficarem vermelhas. Mas, sim, finalmente estava tudo ajeitado:
            –Agora está com cara de um estabelecimento descente! – Se alegrou o jovem. – Ufa! Ainda preciso ir lá para cima. Bóra!
            En’hain subiu as escadas que ficavam na cozinha para o primeiro andar da casa. O corredor de saída era comprido e envergava para esquerda, ao longo dele haviam diversas portas, as primeiras que ainda davam para se ver da escada eram os banheiros dos empregados:
            –Se ele realmente pensa que eu vou ser empregado dele... – Mais fumaça voando! – Bóra pros quartos! – É claro que ele passou direto pelos banheiros...
            O quarto não precisava de muita organização, apenas que as cobertas e os travesseiros fossem trocados e arrumados:
            –Eu não deveria ter feito aquilo ontem... – Falou, pensando no dia anterior. – Tudo arrumado! Agora posso ir tomar meu café da manhã...
            Ele já ia descendo as escadas quando se deu conta de algo:
            –...! – Sua cara fechou de novo. – Eu tenho que arrumar os banheiros...
            En’hain pegou um balde, sabão em pó, uma vassoura e a escova da privada, do jeito que sua mãe fazia em casa. Esfregou ali, esfregou aqui, deu descarga uma, duas vezes. Colocou o desinfetante na privada e saiu. Respirou fundo, bem fundo:
            –(Cof, cof) Que nojo! Como é que alguém poderia viver num lugar como esse?!
            Finalmente, tudo terminado, a Toca dos Gatos estava limpa como nunca esteve antes:
–Agora, o meu café da manhã! – Disse En’hain todo contente.
De repente, ouviu barulhos. Ele sentiu um grande arrepio: “Será que algum gato está tentando entrar?”, pensou ele. Ouviu atentamente e concluiu que não, o barulho estava vindo de cima. En’hain foi andando pelo corredor tentando encontrar o que provocava os ruídos e deu de cara com a porta do quarto do dono do bar. Como acabou batendo o nariz nela, a porta se abriu. Curioso como um gato, pensou ele, começou a subir as escadas para conhecer o quarto ‘daquele’ sujeito. Ao terminar o novo lance de escada, se deparou com um quarto amplo e aconchegante, uma grande cama, alguns armários em madeira esculpida a mão, uma escrivaninha feita de um grande tronco adaptado para ser mesa, preservando seu formato natural. Tinha grandes janelas, tendo uma grande vista para a vila dos gatos, com uma pequena varanda cheia de plantas que pendiam do alto da casa. En’hain sorriu. Mesmo como um estudante de arquitetura sabia que aquele tipo de lugar era raro e divino. Adentrou mais o quarto e foi para a escrivaninha, tocando com a ponta dos dedos aquele trabalho tão bem feito. En’hain deu um pulo! Novamente aquele barulho de antes, desta vez ele sabia de onde vinha. Em cima da escrivaninha havia uma caixinha de madeira muito bem esculpida, adornada com um rubi vermelho na parte de cima. Era a caixa que estava fazendo aquele barulho, ela estava pulando. En’hain parou com o susto e ficou observando a caixa com os olhos arregalados. A caixa mexeu outra vez, En’hain pôs um pé para trás, novamente a caixa mexia, En’hain colocou o outro pé atrás. De súbito, a caixinha começou a pular freneticamente e estava chegando à beirada da mesa. “Se essa caixinha se quebrar o que eu vou dizer pro dono do bar?”, pensava ele. A caixinha deu mais um pulo e estava preste a cair no chão... “Ufa!”, En’hain conseguiu pegar a caixinha! Foi então que a caixinha começou a abrir. En’hain estava de olhos arregalados, um neko pequeninho saiu de dentro dele apertando o rabinho:
–Nyaaa?! – Fazia o bichinho, enquanto abria os olhinhos para os primeiros raios de luz.
–Quê?! Você veio de uma caixinha? Dá onde saiu isso?! – O pequeno neko roçava no dedão de En’hain, enquanto ele ficava histérico. – E agora?! O que eu vou dizer pro dono do bar?! O que eu vou dizer...
–(Nhac!) – O pequeno bichinho deu uma mordidona no dedão dele.
–AAAAAIIIIII!!! – En’hain gemeu de dor. – Bichinho filha da mã... Aonde você pensa que vai?!
–Nyaaa! – O neko saiu correndo por todos os lados, pulou na cama, desarrumou os lençóis, derrubou os travesseiros e En’hain atrás dele.
–Volta aqui, peste!
O neko parou em cima da escrivaninha, balançou o rabinho e En’hain pulou em cima dele. O gatinho pulou e escapou. En’hain derrubou tudo que estava na mesa. Fazendo um barulhão. O peque neko saiu correndo por toda a casa, como se estivesse curioso pra saber o que era tudo aquilo. Abriu portas, desmanchou a cama do En’hain, entupiu a privada e deu descarga e desceu para o bar. En’hain estava estático ainda no topo da escada impressionado com a velocidade que a casa vinha abaixo:
–Como pode?! Como pode uma coisinha tão diminuta causar tanto desastre. – Disse, completamente atônito enquanto descia as escadas, temeroso de ver o resto do resultado.
Chegando ao bar, totalmente petrificado, virou poeira ao ver que seu esforço tinha ido por água abaixo, literalmente. Ouviu barulho nos fundos:
–Não, a cozinha! Meu café da manhã! Socorram meu café da manhã!
Novamente ficou petrificado, o neko já tinha devorado tudo e ainda por cima estava de babador com garfo e faço na mão!
–Akai... – Falou o dono do bar de trás dele.
–Como? Ah! – O espírito de En’hain estava saindo pela boca. – Você, já... já... chegou?!
–Akai... O pelo dele é avermelhado, Akai, entendeu?
–Escuta aqui! – En’hain deu um belo cascudo no dono do bar.
–O que foi? Ele está com fome! – O dono do bar esfregou a cabeça. – Caramba, essa doeu, magoou!
–...! – En’hain se irritou. – Como é que você deixa esse bichinho fechado numa caixinha?
–Eu não o tranquei lá... Os nekos nascem lá dentro.
–Ahn?! Vixi! Agora que o caldo entornou! Não entendo mais nada! – O dono do bar se levantou e pegou Akai nas mãos.
–Toma, agora você é a mãe dele...
–...! – En’hain desmaiou, segurando Akai, dessa vez o espírito saiu de vez do corpo dele.
Akai ficou olhando o moribundo, deu uma volta inteira, se espreguiçou e dormiu em cima dele e assim ficaram.

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