O segundo
neko que trabalha na Toca dos Gatos se chama Gurei. Ele foi um dos nekos que
mais teve problemas com seres humanos. Maltratado ao extremo, tornou se um neko
frio e antipático, sempre pensando no pior. Ele odeia os seres humanos, pois
foram eles que arrancaram o seu olho direito...
...
–Tem
certeza disso? Eu preciso... Os nekos precisam de alguém que fique aqui para
protegê-los caso a vila dos gatos seja invadida. – Perguntou o dono do bar.
–Eu já me
decidi... Eu sou apenas um estudante de Arquitetura. Eu não sei cuidar de
gatos... – En’hain estava dando papinha para Akai que naquela altura já estava
todo lambuzado.
–Eu não vou
forçar você a decidir nada. Mas fique certo de que no momento em que você
atravessar de volta pela barreira do silêncio para o mundo humano, você vai esquecer-se
de tudo que viu aqui...
–... –
En’hain queria voltar, mas também queria ficar e cuidar de Akai.
–Eu preciso
sair... Quando eu voltar quero que todas as suas coisas estejam arrumadas e
você esteja pronto para partir. Você vai essa noite. – O dono do bar abriu a
porta e já ia sair. – Eu já volto.
A porta
fechou. En’hain foi invadido por um grande pesar. Não queria pensar naquilo,
mas era inevitável, queria chorar, se segurava apenas para não preocupar o
baixinho que poderia perceber e tornar aquilo muito mais difícil. Alguém bateu
na porta:
–Será que o
dono do bar esqueceu alguma coisa? Vou lá ver. – En’hain levantou-se e abriu
porta. – Meu Deus!
–Gunshin?!
Preciso de sua ajuda... – Era um neko completamente sujo, diversos arranhões, machucados
e um tapa-olho no lado direito do rosto.
Seu estado era deplorável. Não deu
muito tempo, gemeu alto e desmaiou, caindo em cima de En’hain:
–E agora? O que eu faço?! –
En’hain sentiu que não tinha muita escolha e o levou para o palco, pegou
algumas cobertas para confortá-lo e trouxe alguns remédios para seus
machucados. Abriu o algo etílico, virou o vidro para umedecer um pouco de
algodão e tentou passar nas feridas do neko. Aquilo lhe parecia estranho, era
como machucar ainda mais o coitado que gemia toda vez que lhe era passado o
álcool na pele aberta.
Subitamente,
o neko segurou fortemente seu braço:
–Por favor,
Gunshin, mate-os... mate-os humanos! – En’hain se assustou e assim que o neko
amoleceu a mão por causa das dores, rapidamente ele se afastou do enfermo. –
Por favor, você precisa matar todos eles. Sei que você tem poder para isso...
–Eu não sou
Gunshin... – En’hain olhou de lado.
–Você não é
o dono deste bar?
–... –
En’hain não sabia como colocar aquilo em palavras. – Não, o dono saiu agora a
pouco.
–Nyaaa! –
Akai se soltou de sua cadeirinha e veio ver o que En’hain estava fazendo,
trazendo consigo um biscoito.
–Akai, você
devia ficar na sua cadeirinha! – Akai subiu em En’hain e foi até seu ombro para
comer o biscoito. Achava que ali era um bom lugar para ver o que estava
acontecendo.
–Você tem
um neko? – Perguntou o estranho.
–Meu nome é
En’hain... É, acho que eu tenho sim, ele não me larga de jeito nenhum...
–Se você
der seu sangue a ele, ele nunca mais vai querer te ver na vida...
–QUÊ?! –
En’hain não sabia que isso podia acontecer. – NUNCA QUE EU FARIA ISSO!
–Nossa. Não
grita. Agora até meus ouvidos estão doendo.
–Me
desculpe... Você ainda não disse seu nome.
–Meu nome
é... – O neko se sentou na beira do palco. – Meu nome é Gurei.
–Bem...
Gurei?
–Sim...
–Deixe-me
terminar os curativos, sim?
–Não
precisa, deixa que eu mesmo os faço. – Seu tom era frio e ríspido.
En’hain
pegou os remédios e os deu para Gurei.
–Me diga,
En’hain, se você não é o dono do bar, você também não é humano, é?
–Eu era...
Esse tal Gun-sei-lá-o-quê que você disse dividiu seu sangue real comigo e
despertou meu lado draconiano adormecido.
–Draconianos!
– Disse com tom irônico. – Vocês sempre prometem ajudar a todo mundo, mas no
fim não ajudam ninguém!
–Como
assim? – En’hain estava confuso.
–Você não
sabe por que não existem outros draconianos neste planeta não é?
–Não... –
En’hain sentiu uma indireta.
–Bem, os
draconianos são famosos por ter um coração grande demais para caber no peito. O
que significou sua extinção por causa dos humanos ambiciosos que arrancavam
seus corações para tentar usufruir de seus poderes mágicos. Apesar disso, os
draconianos não são naturais do planeta. Eles são viajantes estelares que
procuram levar a paz ao universo. Combatendo o mal com seus poderes
terríveis...
–Oh! –
En’hain estava alegre com aquela história.
–Você não
tem a menor ideia dos poderes que realmente tem, não é?
–Nem um
pouco...
Gurei
estendeu a mão e pegou Akai. Admirou-o por um instante... e começou a
apertá-lo!
–Nyaaa! –
Gemia o bichinho.
–SOLTA ELE!
– En’hain estava ficando preocupado. – SOLTA ELE AGORA!!!
–Por quê?
Ele não é só um brinquedinho que te incomoda?
–Nyaaa!!! –
Gurei apertou mais ainda.
–EU JÁ DISSE PARA SOLTAR ELE, PORRA!
–Se eu
matá-lo, vou estar livrando ele de todo mal que a humanidade pode fazer a ele.
–SOLTA
AGORA!!!
–Nyaaa!!!
En’hain não
aguentou a pressão, seu espírito draconiano se agitou, suas escamas e espinhos
rasgaram sua carne mais rápido do que nunca, seus olhos já estavam vermelhos.
Fez crescer um espinho na palma da mão e o apontou para Gurei:
–OUSE-SE
MATÁ-LO E EU TE ESTRAÇALHO AQUI E AGORA!!! – Seu tom de voz era horripilante,
um verdadeiro demônio.
–Resolveu
mostrar sua verdadeira face... – Gurei parou de apertar Akai e uma energia
verde brilhou de suas mãos, curando o pequeno neko. – Elemento VIDA, poder de
cura!
En’hain se
acalmou e pegou Akai nos braços, aos prantos:
–Vai ficar
tudo bem agora... Vai ficar tudo bem agora...
–Que comovente!
– Novamente o tom de ironia e indiferença.
–O que foi
que eles te fizeram? O que foi que ELES TE FIZERAM?!!!
–Eles? –
Gurei tirou o tapa-olho. – Arrancaram meu olho!
–... –
En’hain cerrou os olhos, encarando Gurei. – Isso não é motivo...
–Você nunca
vai entender, não é? Se eu tivesse o poder de um draconiano, não haveria mais
nenhum humano vivo na face da terra! – Gurei fazia gestos doentios, como se
apertasse o planeta inteiro em suas mãos.
–Akai não
merecia isso...
–Nyaaa?! –
Akai havia acordado e estava mais esperto do que nunca.
–Akai, seu gatinho bobo... – O
neko pulo dos braços de En’hain e foi pra cozinha. – Aonde você vai bichinho
safado!
–Agora até ele tem medo de mim...
– En’hain olhou para Gurei com um olhar assassino.
Akai voltou da cozinha com um
biscoitão nas mãozinhas e o ofereceu a Gurei:
–FOME? Nyaaa!
–Mas, hein?! – Se perguntou
En’hain.
–Haha... Que gentileza a sua,
coisinha. – Gurei sorriu.
–Você deveria sorrir mais
vezes... – Disse En’hain.
–Ué? Por quê?
–Você tem um sorriso lindo...
–...!
...
Mais tarde naquele
dia...
–Cheguei!
En’hain, você está pronto?! – En’hain foi receber o dono do bar.
–Bem vindo
de volta!
–En’hain,
você não vai?
–Eu não
vou...
–Tem
certeza? – En’hain olhou para Gurei que acabou dormindo em cima de uma mesa com
Akai dormindo em cima dele.
–Absoluta!
– En’hain sorriu.
–Que bom...
– O dono do bar sorriu.
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