–Danou-se! – Disse En’hain
preocupado. – Eu vou ter que estudar alquimia também?!
–Vai... É pro seu próprio bem,
vai te ajudar a entender mais sobre si mesmo e sobre os seus poderes. –
Finalizou Gunshin.
–Eu não tenho a menor idéia do
que seja isso, na verdade.
–Não é muito difícil, vou te
explicar. A alquimia é uma arte que desde tempos imemoriais busca a
transformação de algo em outra coisa, como a utilização de ervas para a cura, a
metalurgia, a escultura, entre outras coisas. Mas o mais essencial que você
deva aprender com a alquimia é sobre o plano transversal, a coexistência que
existe lado a lado com a humanidade e que, no entanto, passa completamente
despercebida. Venha comigo. – Os dois se levantaram da mesa em que estavam e se
dirigiram para o quarto de Gunshin no segundo andar do bar.
–Para onde estamos indo? –
Perguntou En’hain curioso. – O que vamos ver?
–Se você ficar perguntando, vai
acabar assustando elas...
–Elas quem?
–... – O senhor Gunshin encarou
En’hain.
–Entendi, entendi...
Naquela época, era primavera na
Vila dos Gatos e várias plantas que não agüentariam aquele clima nórdico
florescem de maneira esplendorosa. As plantas no quarto do dono do bar não eram
diferentes. Estavam floridas, todas as flores, do caule a ponta, enfeitando
lindamente a bancada da casa. Gunshin fez um sinal de silêncio, puxou levemente
um dos cachos que pendiam de um vaso pendurado no alto e disse sussurrando:
–Ouça...
–...? – En’hain não ouviu nada.
Gunshin colocou a mão no coração
de En’hain e continuou falando baixinho:
–Concentre-se...
–...! – En’hain respirou fundo e
começou a ouvir risadinhas e burburinhos que vinham das plantas.
Ele cerrou um pouco os olhos para
ver melhor e finalmente descobriu o que era:
–Uma fada! – Disse surpreso,
sendo rapidamente repreendido por Gunshin. – Uma fada... – Repetiu bem
baixinho.
A fada, com suas asinhas de
pétalas, voava para lá e para cá, dando um toque muito especial nas flores com
seu pó de fada. Notando que estava sendo observada, a pequena parou de rodear
as flores por um instante e começou a rodear Gunshin e En’hain. O barman meio
que se assustou e ficou paralisado, movendo os olhos a todo lugar que o vôo
frenético da fadinha a levava. Ela então pousou levemente no nariz de En’hain,
se debruçando, enquanto encarava aqueles olhos grandes e arregalados que não
sabiam o que faziam. Como era de se esperar, En’hain acabou por inalar o pó da
fada e inevitavelmente espirrou:
–Atchim! – Fez o espirrou dele
que jogou a fadinha longe.
–Saúde... – Disse Gunshin.
–Obligado. – Falou ele enquanto
fungava o nariz.
–Mas que sem noção! – Disse uma
voz fininha, quase inaudível. – Não sabe colocar o dedo no nariz não é?
–Quem disse isso?
–Ora! Não sabe dizer coisa
melhor? Tipo um “me desculpe”.
–Você fala! – En’hain estava mais
espantado ainda com a aquela cena.
–Senhor Gunshin, eu sei que você
protege a vila e cuida de todo mundo aqui, mas você não poderia ter trazido
alguém mais original não? Que fosse tipo “Nossa, você é linda”...
–Calma Lídia – Esse era o nome da
fadinha. – Este é En’hain, o novo barman. En’hain, esta é Lídia, a flor mais
linda do meu jardim.
–Ah, Gunshin, para! – Disse a
fadinha todo encabulada. – Você não existe!
–Heh, me desculpe. Acho que
fiquei pasmo com tanta beleza... – Disse Gunshin tentando agradar depois do vexame
que tivera.
–Ah! Agora sim! Gostei de ver! –
Disse Lídia toda feliz, fazendo sinal de jóia com as mãozinhas.
–Lídia, posso te pedir um favor?
– Perguntou o dono do bar.
–Claro meu senhor! Com todo
prazer! O que gostaria?
–Poderia ajudar En’hain a encontrar
seu par?
–Hum, deixe me ver... – Lídia
mediu En’hain dos pés a cabeça. – Ahn... Acho que dá pro gasto esse aí!
–...! – “Essa fadinha é que é sem
noção”, pensou En’hain enquanto fazia um sorriso forçado.
Bem, foi assim que começou os
estudos de alquimia de En’hain, um diário sobre um mundo novo! Fantástico e...
–Atchim! – En’hain espirrou de
novo.
–Que nojo, seu mal educado! –
Disse a fadinha melecada.
–Desculpa, acho que meu ‘naliz’
inflamô...
Ou quase isso...
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