Confronto com o Mestre Caçador – 2ª parte
Informe do Multiverso
Uma
caixinha de música tocando, quando sua corda vem ao fim ela é novamente torcida
para que tudo recomece. Kullat estava sem saber o que acontecia e esperava que
Thagir lhe dissesse ou fizesse algo. Nunca dois companheiros de tantas batalhas
estavam tão distantes. Thagir foi até próximo ao ser que se apresentava diante
deles e começou:
–Você é o
Mestre Caçador?
–Ora! Que
grosseiro, não queres ouvir a história primeiro?
–... –
Thagir permaneceu calado.
–Pois bem...
Sabe quem eu sou?
–Sim...
–Minha
história não é essa...
–...?
–Thagir olhava e duvidava do que ouvia.
–Eu não
existo, sou apenas uma mera cópia de um original. Há muito tempo, certo
cientista resolveu brincar de genética e manipulação de mais de um tipo de maru
para criar a cobaia perfeita, um clone dele mesmo. Ele me usou para todos os
tipos de experimentos, chegando a abrir minha cabeça e inserindo eletrodos lá
dentro. Na época, eu ainda não tinha aprendido a falar, minha coordenação
motora era lenta. Eu estava vivo, ali, sentindo minhas vísceras serem expostas
ao bel prazer de um louco que mesmo vendo minhas lágrimas constantes não parava
um momento si quer, passando horas a fio, sem dormir, tudo para ter seus
malditos resultados. Até que um dia a coisa mudou de rumo...
–O que
aconteceu? – Perguntou Kullat, também interessado.
–Ele tentou
me matar... – Sua cabeça estava baixa e algo parecido com lágrimas ou sangue
escorreu pela sua face pingando no chão, sem lhe alterar o sorriso. – No meio
de todas as experiências, o que mais constrange um cientista é a falta de
resultados. Sem conseguir o que queria, ele resolveu desligar o meu suporte de
vida e ficou fora durante um dia inteiro. Foi então que eu ouvi a voz...
–Que voz? –
Perguntou Thagir.
–A voz do
meu senhor a quem dedico todos os meus atos. Ele me ofereceu um contrato e, por
mais que eu já me conformasse com a minha desgraça, não quis morrer e,
desesperado, aceitei. Quando o cientista retornou no dia seguinte, ficou
maravilhado ao me ver em pé fora do suporte. – O mago riu discretamente. – Ele
achou que tinha obtido resultados! Bem, não preciso dizer o quanto eu me
deliciei quando fiz com ele o que ele fizera comigo. Eu não tinha gritado uma
única vez, mas aquele miserável berrava absurdamente. Aquilo só me dava
vergonha!
–Tudo
isso... Não passa de vingança? – Inquiriu Thagir.
–Longe
disso! Os planos de meu senhor são maiores que isso...
–Então,
porque estão atacando os Senhores de Castelo? O que eles têm haver com isso? –
Quis saber Kullat.
–Boa
pergunta... Realmente, os Senhores de Castelo são uma raça a parte, feitos para
superar exércitos estelares inteiros se preciso. O fato é que eles dão ótimas
baterias! – O sorriso dele mudara para algo mais sarcástico.
–Você está
usando os Senhores de Castelo como baterias das Estrelas Escuras, não está? –
Disse Thagir, friamente.
–...?! –
Kullat se surpreendeu com a pergunta do amigo.
–E não
apenas isso, o controle central utiliza seus corpos e suas mentes como processador.
– Nesse momento, o aparato atrás dele, no centro daquele lugar, se iluminou
mostrando diversos tubos de sustentação de vida com pessoas dentro, ligadas a
vários fios que saiam por todos os lados.
–Eles estão
vivos?! – Thagir demonstrava alguma impaciência.
–É claro
que sim! Como poderia usar as quatro Estrelas Escuras usando cadáveres?! Isso é
maru sombria, as estrelas só usam maru natural! – O mago também demonstrava
certa impaciência com o Senhor de Castelo.
–E o que
seu mestre quer com essa guerra? – Thagir se acalmou um pouco, se concentrando
mais na conversa.
–Acho que
isso é um pouco óbvio...
–E o que é
afinal? – Kullat ainda não sabia do que eles estavam falando.
–O que meu
mestre quer é o centro exato do multiverso. Vocês é que tiveram o azar de estar
aqui...
–...! –
Kullat deu um passo para trás.
–Ora seu...
– Thagir não aguentava mais de raiva, já havia aturado tudo aquilo por muito
tempo e apontou uma de suas pistolas.
–Thagir,
Thagir... Você me decepciona! – Ele estalou os dedos. – Al, El... Apareçam!
Duas
mulheres, jovens, vestidas com roupas de couro preto que cobriam praticamente
todo o corpo, exceto os olhos e os longos cabelos, apareceram ao lado do mago,
uma de cada lado. Elas estavam apontando flechas com pontas de cristais de maru
vermelha para os Senhores de Castelo:
–Huhun...
Estas são minhas guarda-costas, são arqueiras como Ann, sua mira é extremamente
precisa. Conseguem acertar uma pulga a três quilômetros de distância! – Thagir
guardou a pistola de volta na jóia, cerrando os punhos, tentando conter-se. –
Além disso, meu caro, você vai gostar de saber disso...
O mago fez
alguns movimentos e dois círculos luminosos de maru violeta apareceram entre
ele e os castelares. Nos círculos era possível ver multidões de pessoas e até
alguns animais vagando perdidos em algum lugar desconhecido. Thagir e Kullat
ficaram surpresos ao constatar que algumas daquelas pessoas que estavam ali
eram conhecidas:
–Dânima, Alana,
Lara... – Thagir estava atônito com o que via em um dos círculos.
–Não... É
Kylliat e meu mestre Dominus! – Kullat olhava para o outro círculo, tão nervoso
quanto seu companheiro. – Aquele outro é...
–Hahaha...
– O mago ria às gargalhadas com a cena que presenciava e de repente ficou
sério. – É N’quamor... Praticamente todos os habitantes de Curanaã e Oririn são
meus reféns!
–Quando foi
que você sequestrou N’quamor? – Perguntou Kullat apertando os punhos tentando
conter a raiva.
–Não fui eu
que o sequestrei... Não foi, Thagir?
–Mas, como?
Ele não poderia?! – Kullat olhava para Thagir que estava um pouco à frente
dele.
–Hahaha...
– A gargalhada estava ainda mais alta, tomando os mesmos ares de loucura quando
havia pronunciado o ataque aos castelares, sendo finalmente possível ver seus
olhos prateados por trás da sombra espectral. – O que você acha que aconteceu
com o segundo caçador?
–Thagir...
– Kullat tentava obter alguma resposta. – Por Khrommer! O que você fez?!
–... –
Thagir continuava sem dizer o que acontecera.
–Huhun...
Não pergunte, se ele responder, o feitiço lançado sobre ele o matará...
–Como isso
é possível?!
–Magia do
tempo! – O mago mostrava a palma das mãos. – Inok é um caçador muito hábil, seu
relógio é capaz de dilatar o tempo e espaço, fazendo viagens no tempo. O dia de
hoje não foi simplesmente preparado em alguns anos. Levamos séculos corrigindo
o curso que estava errado.
–Isso é
impossível, vocês é que estão errados em fazer isso!!! – Kullat acabou por
gritar.
–Olha, um
discurso sobre certo e errado! Pois fique você sabendo que se nós não estivéssemos
fazendo o que era preciso para alinhar o tempo para este dia, nenhum de vocês
teria nascido, aliás, todos os Senhores de Castelo também não estariam aqui!
–Porque
tudo isso?!
–Você
verá... – O mago começou a emanar maru violeta de maneira exagerada, preenchendo
todo o chão como se fosse névoa, deixando o ambiente frio e gélido.
Detrás do
mago, uma esfera gigante começou a levitar também, erguendo consigo os tubos de
alimentação. A coisa abriu seus olhos, diversos olhos, centenas de olhos:
–Conheça meu
bichinho de estimação, o Ilusionista! Um raro tipo de observador encontrado
somente em Geonova, um dos planetas secretos do quarto quadrante!
O ser que
pairava no ar ligado aos tubos era poderoso, sua influência era irrestringível e,
olhando com mais cuidado, podia se perceber que haviam tubos ligados às costas
do mago que estava pronunciando algumas palavras mágicas:
–Libertação
Efêmera! – O mago levantou as mãos para o alto.
–Pare
Mestre Caçador! Não faça isso! – Thagir tentou dissuadir seu inimigo.
–Cale-se!
Eu não sou o Mestre Caçador, sou apenas seu arauto!
–... –
Thagir não queria acreditar, seus poderes paranormais lhe faziam ver a ilha de
Ev’ve sendo varrida por uma enchente escura que levou consigo todos que
entraram nela...
...
Transmissão continua...
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