quarta-feira, 6 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Confronto com o Mestre Caçador – 3ª parte



            “Tudun... Tudun... Tudun...”, o barulho de batimentos cardíacos havia voltado, mais alto do que antes e a caixa de música tinha parado completamente. Os tubos de alimentação do Ilusionista estavam sugando algo para dentro e o mesmo acontecia com os tubos ligados ao mago. Ele estava no chão, fraco, sangue escorria pela boca, pelos ouvidos, pelo nariz e pelos olhos, arfando de exaustão. Thagir e Kullat permaneciam em seus lugares para não serem alvos das flechas torcidas das arqueiras e muito menos causar qualquer dano aos milhares de reféns:
            –Thagir, o que há com ele? – Kullat tentou saber algo pelo estado de transe do amigo.
            –Eu não preciso usar o coração de Thandur para saber o que há com ele... – Thagir reparou no que Kullat queria. – Ele simplesmente está morrendo...
            –...! – Isso deixou Kullat ainda mais intrigado.
            –Só há uma pergunta que eu ainda preciso fazer arauto do Mestre Caçador. Por que você, com tanto poder, ainda nos mantém vivos? – Ao ouvir aquilo, Kullat esqueceu-se um pouco de sua raiva e reparou naquela questão.
            –Eu... – O mago se recompôs no meio do ar, ainda sujo com o sangue. – Preciso dos descendentes de Curanaã e Oririn para reaver a última chave da dimensão do meio.
            –Ela seria a espada do infinito, estou certo? – Perguntou Thagir.
            –Sim... Depois de algum tempo, suas energias ancestrais foram drenadas de Curanaã e Oririn pelos filhos da Grande Mãe e guardados num lugar inalcançável para que seres que não fossem de nenhum dos dois planetas... – Sua fala tinha um pouco de dificuldade por causa da dor. – Pudessem por as mãos nelas...
            –E onde é isso? – Continuou Thagir.
            –No Labirinto Virtual... Este aparato foi criado pela inteligência de uma nova deusa, filha da Grande Mãe... Para entrar no Labirinto virtual, toda a maru seria convertida numa maru neutra... Capaz de juntar maru positiva e maru negativa num único lugar... A espada do infinito só irá reagir a vocês dois, filhos de Curanaã e Oririn... Tragam na antes que vocês morram lá dentro...
            –E qual o desafio deste Labirinto? – Kullat se lembrava de ter sonhado ou possivelmente estado num lugar parecido com aquele.
            –Enfrentar os inversos...
            –O que é isso? – Thagir não tinha ideia de como seriam os seres do outro lado.
            –Eles são seus alteregos... No lado inacessível do multiverso é comum haverem seres muito parecidos com os deste lado... Normalmente aqueles que são bons aqui, são maus do outro lado... A regra não é sempre válida, mas há uma repetição que sempre ocorre...
            –E qual é?
            –Eles vão ser tão poderosos quanto vocês... De acordo com a profecia do meu mestre, o destino do multiverso estará nas mãos de vocês ou na deles... Aquele que perder não poderá voltar para o seu lado do multiverso...
            –... – Kullat e Thagir fizeram silêncio esperando saber como chegariam a esse lugar desconhecido.
            –Saiam e falem com Nopporn, ela abrirá o caminho para vocês...
            Os dois foram impelidos por uma grande força que os levou até a porta, de volta a ilha de Ev’ve. Kullat tinha quase certeza do que deveria ser feito:
            –Vamos até o farol, certo?
            –Sim, mas vamos precisar do Livro dos Dias...
            –Aquele que está na Academia, certo?
            –Não, precisamos do livro secreto que é mantido com os anciões. – Thagir mostrou uma runa verde que estava escondida em sua jóia de Landrakar.
            –As runas! – Kullat reparou que aquela relíquia pertencia ao ancião sequestrado. – Dá última vez que ouvi sobre os anciões eles estavam no farol de Nopporn!
            –Então é para lá que vamos... Ahn, Kullat?
            –Sim? Pode falar.
            –Poderia me dar uma carona até lá?
            –...! – Kullat sorriu. – Claro! Juntos até o final!
            Os Senhores de Castelo saíram voando entre os diversos prédios com a ajuda dos poderes de levitação de Kullat, atravessando as trevas que haviam dominado a ilha de Ev’ve.

...

            Chegando a grande torre do farol de Nopporn, a única torre ainda branca em toda a ilha, os Senhores de Castelo encontraram no salão da chama sagrada algo que não poderiam crer:
            –O que aconteceu com eles? – Kullat encarava os anciões que estavam completamente petrificados.
            –Presumo que devam estar em estado de animação suspensa. – Comentou Thagir. – Amplificar todo o poder do farol de Nopporn para manter a ilha iluminada debaixo de tanta treva deve ter exaurido sua maru...
            As runas especiais que cada ancião carregava, brilhavam intensamente. Suas estátuas formavam um círculo ao redor da grande chama, porém, havia um lugar vazio, faltava o décimo ancião. Thagir pensou um pouco, invocou um bastão comprido de sua jóia, fincou-o no chão e colocou a runa mística de N’quamor na outra ponta:
            –Acha que isso vai funcionar? – Perguntou Kullat, curioso.
            –Talvez sim... Veja, estão entrando em ressonância!
            Os objetos místicos cintilaram ainda mais. No centro do círculo, a grande chama se intensificou e formando uma forma humana, ou parecida com uma, dentro dela. Foi então que eles ouviram a voz magnânima da fundadora da Ordem dos Senhores de Castelo:
            –Aqui é Nopporn... O grande dia em que os escolhidos do multiverso atravessarão o Labirinto da Grande Mãe chegou! Meus filhos... – Ela parecia estar ajoelhada com as mãos postas para uma prece. – Esta batalha ainda não acabou. Mesmo que derrotem seus adversários mais imponentes vocês devem saber que, para derrotar o Mestre Caçador, um de vocês deverá sacrificar a própria vida e derramar o próprio sangue no fio do artefato místico. Só assim a espada do infinito voltará à vida e será capaz de invocar o poder ancestral que possui. Estão de acordo? O poder de decisão é de vocês...
            Os Senhores de Castelo se entreolharam. Eles não precisavam pensar muito, sabiam das consequências que implicavam em ser um Senhor de Castelo, suas vidas sempre seguiriam na direção da mesma escolha. Kullat, porém, estava mais pensativo, um dos dois deveria tomar a decisão do dia de bravura, uma decisão que não voltaria atrás. Thagir respirou fundo, já estava ali, no meio do turbilhão daquela desgraça, sua decisão fora sincera, iria em frente sem olhar para trás:
            –Estou... – Thagir olhou para Kullat esperando sua resposta que demorou alguns instantes para chegar.
            –Estou... – O pistoleiro sentiu algo estranho naquela resposta, sentia que seu amigo estava diferente.
            –A escolha foi feita, prossigam para dentro da chama...
            Os dois subiram no parapeito que circundava o fogo e, juntos, entraram nela. No começo não havia nada de diferente, a labareda não queimava, até começarem a sentir que seus corpos estavam sendo desmanchados e distorcidos para entrar no vórtice que estava entre as palmas da mão de Nopporn:
            –Meus filhos... Encontrem a árvore de aço... No topo estará a espada do infinito...

...

Transmissão continua...

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