Confronto com o
Mestre Caçador – 3ª parte
“Tudun...
Tudun... Tudun...”, o barulho de batimentos cardíacos havia voltado, mais alto
do que antes e a caixa de música tinha parado completamente. Os tubos de
alimentação do Ilusionista estavam sugando algo para dentro e o mesmo acontecia
com os tubos ligados ao mago. Ele estava no chão, fraco, sangue escorria pela
boca, pelos ouvidos, pelo nariz e pelos olhos, arfando de exaustão. Thagir e
Kullat permaneciam em seus lugares para não serem alvos das flechas torcidas
das arqueiras e muito menos causar qualquer dano aos milhares de reféns:
–Thagir, o
que há com ele? – Kullat tentou saber algo pelo estado de transe do amigo.
–Eu não
preciso usar o coração de Thandur para saber o que há com ele... – Thagir reparou
no que Kullat queria. – Ele simplesmente está morrendo...
–...! –
Isso deixou Kullat ainda mais intrigado.
–Só há uma
pergunta que eu ainda preciso fazer arauto do Mestre Caçador. Por que você, com
tanto poder, ainda nos mantém vivos? – Ao ouvir aquilo, Kullat esqueceu-se um
pouco de sua raiva e reparou naquela questão.
–Eu... – O
mago se recompôs no meio do ar, ainda sujo com o sangue. – Preciso dos
descendentes de Curanaã e Oririn para reaver a última chave da dimensão do
meio.
–Ela seria
a espada do infinito, estou certo? – Perguntou Thagir.
–Sim...
Depois de algum tempo, suas energias ancestrais foram drenadas de Curanaã e
Oririn pelos filhos da Grande Mãe e guardados num lugar inalcançável para que
seres que não fossem de nenhum dos dois planetas... – Sua fala tinha um pouco
de dificuldade por causa da dor. – Pudessem por as mãos nelas...
–E onde é
isso? – Continuou Thagir.
–No
Labirinto Virtual... Este aparato foi criado pela inteligência de uma nova deusa,
filha da Grande Mãe... Para entrar no Labirinto virtual, toda a maru seria
convertida numa maru neutra... Capaz de juntar maru positiva e maru negativa
num único lugar... A espada do infinito só irá reagir a vocês dois, filhos de
Curanaã e Oririn... Tragam na antes que vocês morram lá dentro...
–E qual o
desafio deste Labirinto? – Kullat se lembrava de ter sonhado ou possivelmente
estado num lugar parecido com aquele.
–Enfrentar
os inversos...
–O que é
isso? – Thagir não tinha ideia de como seriam os seres do outro lado.
–Eles são seus
alteregos... No lado inacessível do multiverso é comum haverem seres muito
parecidos com os deste lado... Normalmente aqueles que são bons aqui, são maus
do outro lado... A regra não é sempre válida, mas há uma repetição que sempre
ocorre...
–E qual é?
–Eles vão
ser tão poderosos quanto vocês... De acordo com a profecia do meu mestre, o
destino do multiverso estará nas mãos de vocês ou na deles... Aquele que perder
não poderá voltar para o seu lado do multiverso...
–... –
Kullat e Thagir fizeram silêncio esperando saber como chegariam a esse lugar
desconhecido.
–Saiam e falem
com Nopporn, ela abrirá o caminho para vocês...
Os dois
foram impelidos por uma grande força que os levou até a porta, de volta a ilha
de Ev’ve. Kullat tinha quase certeza do que deveria ser feito:
–Vamos até
o farol, certo?
–Sim, mas
vamos precisar do Livro dos Dias...
–Aquele que
está na Academia, certo?
–Não,
precisamos do livro secreto que é mantido com os anciões. – Thagir mostrou uma
runa verde que estava escondida em sua jóia de Landrakar.
–As runas!
– Kullat reparou que aquela relíquia pertencia ao ancião sequestrado. – Dá
última vez que ouvi sobre os anciões eles estavam no farol de Nopporn!
–Então é
para lá que vamos... Ahn, Kullat?
–Sim? Pode
falar.
–Poderia me
dar uma carona até lá?
–...! –
Kullat sorriu. – Claro! Juntos até o final!
Os Senhores
de Castelo saíram voando entre os diversos prédios com a ajuda dos poderes de
levitação de Kullat, atravessando as trevas que haviam dominado a ilha de
Ev’ve.
...
Chegando a
grande torre do farol de Nopporn, a única torre ainda branca em toda a ilha, os
Senhores de Castelo encontraram no salão da chama sagrada algo que não poderiam
crer:
–O que
aconteceu com eles? – Kullat encarava os anciões que estavam completamente
petrificados.
–Presumo
que devam estar em estado de animação suspensa. – Comentou Thagir. – Amplificar
todo o poder do farol de Nopporn para manter a ilha iluminada debaixo de tanta
treva deve ter exaurido sua maru...
As runas
especiais que cada ancião carregava, brilhavam intensamente. Suas estátuas
formavam um círculo ao redor da grande chama, porém, havia um lugar vazio,
faltava o décimo ancião. Thagir pensou um pouco, invocou um bastão comprido de
sua jóia, fincou-o no chão e colocou a runa mística de N’quamor na outra ponta:
–Acha que
isso vai funcionar? – Perguntou Kullat, curioso.
–Talvez
sim... Veja, estão entrando em ressonância!
Os objetos
místicos cintilaram ainda mais. No centro do círculo, a grande chama se
intensificou e formando uma forma humana, ou parecida com uma, dentro dela. Foi
então que eles ouviram a voz magnânima da fundadora da Ordem dos Senhores de
Castelo:
–Aqui é
Nopporn... O grande dia em que os escolhidos do multiverso atravessarão o
Labirinto da Grande Mãe chegou! Meus filhos... – Ela parecia estar ajoelhada
com as mãos postas para uma prece. – Esta batalha ainda não acabou. Mesmo que
derrotem seus adversários mais imponentes vocês devem saber que, para derrotar
o Mestre Caçador, um de vocês deverá sacrificar a própria vida e derramar o
próprio sangue no fio do artefato místico. Só assim a espada do infinito
voltará à vida e será capaz de invocar o poder ancestral que possui. Estão de
acordo? O poder de decisão é de vocês...
Os Senhores
de Castelo se entreolharam. Eles não precisavam pensar muito, sabiam das
consequências que implicavam em ser um Senhor de Castelo, suas vidas sempre
seguiriam na direção da mesma escolha. Kullat, porém, estava mais pensativo, um
dos dois deveria tomar a decisão do dia de bravura, uma decisão que não
voltaria atrás. Thagir respirou fundo, já estava ali, no meio do turbilhão daquela
desgraça, sua decisão fora sincera, iria em frente sem olhar para trás:
–Estou... –
Thagir olhou para Kullat esperando sua resposta que demorou alguns instantes
para chegar.
–Estou... –
O pistoleiro sentiu algo estranho naquela resposta, sentia que seu amigo estava
diferente.
–A escolha
foi feita, prossigam para dentro da chama...
Os dois
subiram no parapeito que circundava o fogo e, juntos, entraram nela. No começo
não havia nada de diferente, a labareda não queimava, até começarem a sentir
que seus corpos estavam sendo desmanchados e distorcidos para entrar no vórtice
que estava entre as palmas da mão de Nopporn:
–Meus
filhos... Encontrem a árvore de aço... No topo estará a espada do infinito...
...
Transmissão continua...
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