Planeta Sem Nome
Ferus
estava caído, no meio de vários destroços do que parecia ser uma nave estelar,
vestido com uma suit espacial. Acordando, sentia sua cabeça doendo:
– O que foi
que aconteceu... Ah, é mesmo! Chegamos a algum lugar na floresta e encontramos
essa nave que voa pelo espaço e... – o machucado na cabeça voltou a doer,
fazendo-o por a mão no local. – Dimios! Onde ele está?!
O jovem
procurou pelos outros castelares naquele lugar imenso, cheio de lixo e ferro velho.
Por todos os lados, onde quer que a vista alcançasse, havia entulho. O capacete
de vidro que tinha um formato globular estava quebrado, Ferus sentia o cheiro
de gases tóxicos e ferrugem forte penetrarem as suas narinas e irritar seus
olhos. Sua garganta estava engasgando e sentia ficar cada vez mais ofegante. A
vista estava ficando nublada e finalmente desmaiou uns cinquenta metros depois.
Em suas lembranças, apareciam as imagens da corrida que os Senhores de Castelo
tiveram antes de entrar naquela nave tão incomum...
...
Um jovem
castelar em sua primeira missão, Ferus sentia um calor em seu peito, uma
empolgação tão grande que não se cabia em si. Além de tudo, ele fitava a imagem
do parceiro castelar que ia a sua frente e que por algum motivo, ele queria
provar que poderia ser útil. A possibilidade de voltar para a ilha de Ev’ve,
reclamar com o conselho sobre a atitude de Dimios e deixar a missão para lá
passava insistentemente pela sua cabeça. No entanto, aprendera que decisões
precisam ser tomadas e que mostrar que se é capaz é algo muito importante. Ao
mesmo tempo em que sentia a brisa no rosto que a sua velocidade provocava lhe
vinha a imagem de seu rei, seu ídolo. Assim, disse para consigo:
– Serei
alguém tão bom quanto o meu senhor. – voltou-se de volta para o caminho e
prosseguiu.
A frente,
algo estranho começava a surgir na floresta, lembrava um conjunto de torres
enormes, cobertas por placas que iam de cima abaixo. Ao lado, uma estrutura
armada que formava uma escada até a parte superior daquelas torres. Ferus viu
Dimios parado na base da escada, esperando que os outros chegassem e então ele
perguntou:
– O que é
isso? – seu pescoço mal conseguia se envergar para ver o topo daquela
estrutura.
– Uma nave
estelar... – disse secamente, admirando a coisa ao invés de dar mais atenção ao
parceiro.
– E pra que
serve? Não podemos tomar um navio boreal como se costuma fazer?
– Não
podemos... Para onde vamos, as vias dos mares boreais são politicamente
proibidas aos Senhores de Castelo.
– Um
planeta fora do alcance da Ordem... – Ferus estava pensativo. – Qual deles?
– O planeta
sem nome...
– A
Irmandade Cósmica! Então é verdade... Como eles também fazem parte da aliança
do multiverso, tem total liberdade em vetar a entrada de qualquer um em seus
planetas territoriais.
– Nossa
missão será resgatar o povo que está preso no planeta que a Irmandade dominou
no início da ordem castelar e assegurar que os sobreviventes fiquem a salvo em
outro lugar.
– Mas não
podemos usar os mares boreais... Vamos ter que tirá-los do planeta... Por fora!
– ... –
Dimios ficou em silêncio por algum tempo. – Se os outros não chegarem em alguns
minutos iremos partir sem eles...
– ...! –
Ferus continuava sem entender a atitude arrogante de Dimios. – Qual é o seu
problema?! Essa sua atitude já está me enchendo! Porque não podemos esperar um
pouco? Eles estavam bem atrás de mim e...
– E nada!
Esta é uma missão suicida, com noventa e nove por cento de chance de
morrermos...
– ... –
Ferus ficou gelado.
– A
Irmandade Cósmica é mais antiga que a Ordem dos Senhores de Castelo. Seus
conhecimentos e poderes são superiores aos de qualquer castelar. Eles dominam
planetas do primeiro quadrante e os tomam para si de acordo com as leis da
Aliança. O que fazem ou deixam de fazer é sempre encoberto. Se agirmos nos
planetas que pertencem a eles sem a permissão, a Ordem dos Senhores de Castelo
pode ser prejudicada e perder o direito ao livre acesso dos mares boreais em
alguns universos. Nunca foi fácil manter um complexo como o conselho e a academia.
Os relacionamentos políticos com planetas que pertencem ao território de outras
organizações não são fáceis, principalmente com uma que considera os Senhores
de Castelo uma ameaça. Não podemos si quer mencionar que somos Senhores de
Castelo, pois há o risco da Aliança achar que é plausível que sejam feitas as
retaliações e uma nova guerra contra os Senhores de Castelo estourar... Todos
entenderam?
– Ahn? –
Ferus olhou ao redor e percebeu que todos já haviam chegado.
– Entendido!
– disseram Pilares e Nerítico. O primeiro estava camuflado no chão,
misturando-se perfeitamente ao ambiente e o segundo estava dependurado na
estrutura da escada, com as pernas no ar.
–
Afirmativo! – falaram Westem e Iksio. Um estava no topo da nave, sem saber por
onde descer e o outro havia se metamorfoseado numa poça de água, voltando ao
formato original.
– Só falta
você... – Dimios lançou seu olhar gélido sobre Ferus.
– Eu vou...
– o olhar dele denunciava a raiva que tentava conter.
Todos eles
se dirigiram para o topo da escadaria, Dimios foi na frente e abriu a escotilha.
Dentro da nave estelar havia seis lugares, era um pouco apertado, mas todos
couberam perfeitamente. Na frente de cada assento havia painéis de controle e
em cima deles, um colar com uma jóia amarela contendo as suits de sobrevivência.
Ao comando de Dimios, todos ativaram os colares e as roupas se projetaram em
seus corpos se ajustando perfeitamente, inclusive os capacetes globulares de
vidro, que mesmo numa cabeça tão grande quanto a de Westem, tinha servido como
uma luva. O sistema de respiração foi inserido posteriormente pelo banco, dando
um pouco de angustia por alguns segundos. Junto ao oxigênio, havia um pouco de
gás do sono que fez com que os Senhores de Castelo dormissem, entrando em
estado de hibernação. A nave deu ignição sozinha e partiu.
A viagem
seguiria calmamente até o planeta sem nome... Não fosse o sistema de defesa do
planeta estar ativo. Todos os sistemas se desligaram e os Senhores de Castelo
acordaram no susto, presos somente pelo sinto enquanto o choque com o planeta
era inevitável. Eles sentiam a falta de ar e tentaram se libertar. Ferus ativou
o sistema automático de seu cilindro de armeiro que entrou no sistema da nave e
conseguiu reativá-lo e liberar os tripulantes dos assentos. Dimios usou a garra
de Sartel e fez um buraco na estrutura, aumentando ainda mais a pressão, ainda
assim saltando para fora. Westem, Iksio, Pilares e Nerítico seguiram ele, Ferus
ficou para trás soltando o seu cilindro do sistema. Pouco antes da nave cair,
Ferus conseguiu sair, no entanto, foi afetado pela explosão...
...
– Aaah! –
Ferus voltou a si gritando. – Onde estou? Que lugar é esse? – o Senhor de
Castelo sentia o frio lhe incomodando.
– Você está
na minha casa, criança...
Ferus
olhava para uma senhora velha, enrugada, corcunda, com um nariz aquilino que se
sobressaía no rosto deformado que permanecia debaixo da penumbra do lugar.
Então o jovem castelar se deu conta de que estava sozinho com uma estranha,
desarmado e somente com as roupas debaixo...
...
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