terça-feira, 31 de julho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 03


Planeta Sem Nome


            Ferus estava caído, no meio de vários destroços do que parecia ser uma nave estelar, vestido com uma suit espacial. Acordando, sentia sua cabeça doendo:
            – O que foi que aconteceu... Ah, é mesmo! Chegamos a algum lugar na floresta e encontramos essa nave que voa pelo espaço e... – o machucado na cabeça voltou a doer, fazendo-o por a mão no local. – Dimios! Onde ele está?!
            O jovem procurou pelos outros castelares naquele lugar imenso, cheio de lixo e ferro velho. Por todos os lados, onde quer que a vista alcançasse, havia entulho. O capacete de vidro que tinha um formato globular estava quebrado, Ferus sentia o cheiro de gases tóxicos e ferrugem forte penetrarem as suas narinas e irritar seus olhos. Sua garganta estava engasgando e sentia ficar cada vez mais ofegante. A vista estava ficando nublada e finalmente desmaiou uns cinquenta metros depois. Em suas lembranças, apareciam as imagens da corrida que os Senhores de Castelo tiveram antes de entrar naquela nave tão incomum...
...

            Um jovem castelar em sua primeira missão, Ferus sentia um calor em seu peito, uma empolgação tão grande que não se cabia em si. Além de tudo, ele fitava a imagem do parceiro castelar que ia a sua frente e que por algum motivo, ele queria provar que poderia ser útil. A possibilidade de voltar para a ilha de Ev’ve, reclamar com o conselho sobre a atitude de Dimios e deixar a missão para lá passava insistentemente pela sua cabeça. No entanto, aprendera que decisões precisam ser tomadas e que mostrar que se é capaz é algo muito importante. Ao mesmo tempo em que sentia a brisa no rosto que a sua velocidade provocava lhe vinha a imagem de seu rei, seu ídolo. Assim, disse para consigo:
            – Serei alguém tão bom quanto o meu senhor. – voltou-se de volta para o caminho e prosseguiu.
            A frente, algo estranho começava a surgir na floresta, lembrava um conjunto de torres enormes, cobertas por placas que iam de cima abaixo. Ao lado, uma estrutura armada que formava uma escada até a parte superior daquelas torres. Ferus viu Dimios parado na base da escada, esperando que os outros chegassem e então ele perguntou:
            – O que é isso? – seu pescoço mal conseguia se envergar para ver o topo daquela estrutura.
            – Uma nave estelar... – disse secamente, admirando a coisa ao invés de dar mais atenção ao parceiro.
            – E pra que serve? Não podemos tomar um navio boreal como se costuma fazer?
            – Não podemos... Para onde vamos, as vias dos mares boreais são politicamente proibidas aos Senhores de Castelo.
            – Um planeta fora do alcance da Ordem... – Ferus estava pensativo. – Qual deles?
            – O planeta sem nome...
            – A Irmandade Cósmica! Então é verdade... Como eles também fazem parte da aliança do multiverso, tem total liberdade em vetar a entrada de qualquer um em seus planetas territoriais.
            – Nossa missão será resgatar o povo que está preso no planeta que a Irmandade dominou no início da ordem castelar e assegurar que os sobreviventes fiquem a salvo em outro lugar.
            – Mas não podemos usar os mares boreais... Vamos ter que tirá-los do planeta... Por fora!
            – ... – Dimios ficou em silêncio por algum tempo. – Se os outros não chegarem em alguns minutos iremos partir sem eles...
            – ...! – Ferus continuava sem entender a atitude arrogante de Dimios. – Qual é o seu problema?! Essa sua atitude já está me enchendo! Porque não podemos esperar um pouco? Eles estavam bem atrás de mim e...
            – E nada! Esta é uma missão suicida, com noventa e nove por cento de chance de morrermos...
            – ... – Ferus ficou gelado.
            – A Irmandade Cósmica é mais antiga que a Ordem dos Senhores de Castelo. Seus conhecimentos e poderes são superiores aos de qualquer castelar. Eles dominam planetas do primeiro quadrante e os tomam para si de acordo com as leis da Aliança. O que fazem ou deixam de fazer é sempre encoberto. Se agirmos nos planetas que pertencem a eles sem a permissão, a Ordem dos Senhores de Castelo pode ser prejudicada e perder o direito ao livre acesso dos mares boreais em alguns universos. Nunca foi fácil manter um complexo como o conselho e a academia. Os relacionamentos políticos com planetas que pertencem ao território de outras organizações não são fáceis, principalmente com uma que considera os Senhores de Castelo uma ameaça. Não podemos si quer mencionar que somos Senhores de Castelo, pois há o risco da Aliança achar que é plausível que sejam feitas as retaliações e uma nova guerra contra os Senhores de Castelo estourar... Todos entenderam?
            – Ahn? – Ferus olhou ao redor e percebeu que todos já haviam chegado.
            – Entendido! – disseram Pilares e Nerítico. O primeiro estava camuflado no chão, misturando-se perfeitamente ao ambiente e o segundo estava dependurado na estrutura da escada, com as pernas no ar.
            – Afirmativo! – falaram Westem e Iksio. Um estava no topo da nave, sem saber por onde descer e o outro havia se metamorfoseado numa poça de água, voltando ao formato original.
            – Só falta você... – Dimios lançou seu olhar gélido sobre Ferus.
            – Eu vou... – o olhar dele denunciava a raiva que tentava conter.
            Todos eles se dirigiram para o topo da escadaria, Dimios foi na frente e abriu a escotilha. Dentro da nave estelar havia seis lugares, era um pouco apertado, mas todos couberam perfeitamente. Na frente de cada assento havia painéis de controle e em cima deles, um colar com uma jóia amarela contendo as suits de sobrevivência. Ao comando de Dimios, todos ativaram os colares e as roupas se projetaram em seus corpos se ajustando perfeitamente, inclusive os capacetes globulares de vidro, que mesmo numa cabeça tão grande quanto a de Westem, tinha servido como uma luva. O sistema de respiração foi inserido posteriormente pelo banco, dando um pouco de angustia por alguns segundos. Junto ao oxigênio, havia um pouco de gás do sono que fez com que os Senhores de Castelo dormissem, entrando em estado de hibernação. A nave deu ignição sozinha e partiu.
            A viagem seguiria calmamente até o planeta sem nome... Não fosse o sistema de defesa do planeta estar ativo. Todos os sistemas se desligaram e os Senhores de Castelo acordaram no susto, presos somente pelo sinto enquanto o choque com o planeta era inevitável. Eles sentiam a falta de ar e tentaram se libertar. Ferus ativou o sistema automático de seu cilindro de armeiro que entrou no sistema da nave e conseguiu reativá-lo e liberar os tripulantes dos assentos. Dimios usou a garra de Sartel e fez um buraco na estrutura, aumentando ainda mais a pressão, ainda assim saltando para fora. Westem, Iksio, Pilares e Nerítico seguiram ele, Ferus ficou para trás soltando o seu cilindro do sistema. Pouco antes da nave cair, Ferus conseguiu sair, no entanto, foi afetado pela explosão...

...

            – Aaah! – Ferus voltou a si gritando. – Onde estou? Que lugar é esse? – o Senhor de Castelo sentia o frio lhe incomodando.
            – Você está na minha casa, criança...
            Ferus olhava para uma senhora velha, enrugada, corcunda, com um nariz aquilino que se sobressaía no rosto deformado que permanecia debaixo da penumbra do lugar. Então o jovem castelar se deu conta de que estava sozinho com uma estranha, desarmado e somente com as roupas debaixo...

...

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