quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 05


As Crianças

            O irmão mais velho começou a falar com o irmão mais novo, eles estavam em uma caverna que eles mesmos conseguiram camuflar:
            – Elians, como está a nossa comida? – o menino de uns dez anos chegava do monte de lixo e tirava a suit de sobrevivência através da jóia mística do traje.
            – Vaik... – o outro menino, de uns cinco anos, estava com uma expressão chorosa. – Eu não quero mais isso! Eu quero comida de verdade...
            – Desculpe irmãozinho. Comida artificial é tudo o que temos e só vai dar para mais alguns dias... – o mais velho estava pensativo. – Os Senhores de Castelo já estão no planeta, espero que eles não demorem muito para nos encontrar aqui.
            – Hun... – o garotinho menor fazia beicinho, demonstrando algum desgosto infantil. – Eu queria ser como você, eu ainda não consigo sentir as pessoas que estão no planeta...
            – Heh. – Vaik sorria para o irmão. – Um dia você vai sentir todo mundo que está no multiverso!
            – Eba! – Elians pulou de alegria, abrindo os braços para o alto junto com o irmão.
            – Mas, por enquanto, vamos comer a nossa comida...
            – Ah! – Elians fechou a cara tão rápido quanto ficara feliz.
            – Vamos logo, senão eu deixo você sem sobremesa...
            – Você trouxe?!
            – Trouxe, agora vamos comer!
            – Irmão...
            – O que foi agora?!
            – Eu te amo...
            – ...! – Vaik ficou vermelho.

...

            Dimios, como os outros, também se perdeu na grande zona de lixo e caminhava por um lugar com algumas construções antigas. De acordo com o que lhe parecia, aquela era uma região avançada que posteriormente fora abandonada, mas que mantinha alguma ligação com o centro de inteligência do planeta. Andando por aquelas vias, Dimios notava que o lugar estava bem cuidado em comparação com o resto que havia visto: ‘Deve haver alguém por aqui’, concluiu. Foi então que ele viu um homem alto, de casaco vermelho e uma barba esverdeada, junto a uma menina de rosto angelical e vestido também vermelho, cabelos loiros amarrados com fitas na mesma cor do vertido:
            – Veja meu querido Thagir vermelho, um Senhor de Castelo com quem podemos brincar! – Disse a menininha à frente do homem alto.
            – Cara, seria melhor você não ter nascido! – disse o homem, com deboche.
            – Quem disse a vocês que eu sou um Senhor de Castelo? – Dimios se mantinha frio apesar da ameaça.
            – Eu sei, bobinho! – a menina apontou o dedo para Dimios.
            De repente, os prédios ao redor do castelar começaram a cair sobre dele. A garotinha estava muito feliz e bateu palmas para comemorar.

...

            Com Westem não foi diferente, ele também acabou por cair em um lugar bem distante dos outros Senhores de Castelo. No meio dos entulhos, uma grande construção semi-esférica se erguia diante de seus olhos. Muito barulho se fazia lá dentro, ovações e gritos histéricos davam a ideia de que havia um público se divertindo com alguma apresentação. Curioso, Westem se aproximou e percebeu que a língua deles era diferente da língua comum empregada pela Ordem dos Senhores de Castelo. Chegando mais perto, o castelar viu por uma fresta dois seres se digladiando um contra o outro, um menor e extremamente magro de aparência quase cadavérica que mostrava a ponta dos dedos mexendo-os em pleno frenesi, enquanto o outro era um brutamonte deformado de músculos tão grandes que rasgavam sua roupa a cada movimento violento que tentava acertar o adversário. Ambos estavam usando máscaras de ar de modelos diferentes, o baixo usava uma que tampava a boca e o nariz com uma abertura circular na frente de onde se podia ver o filtro de ar; o maior usava uma máscara com dois cilindros de ar em seu pescoço, ligada a eles por dois tubos que se projetavam para frente, um de cada lado. Westem, como fã de uma boa briga, não teve como deixar de exclamar:
            – Eu aposto no grandão! – disse com entusiasmo.
            A luta seguia, o grande tentava esmurrar o pequeno e só conseguia acertar o ar; o outro permanecia do mesmo jeito, sem tentar nenhum golpe, apenas mexendo os dedos. Westem não se continha, queria muito que o lutador parecido com ele desse um jeito naquele baixinho que não sabia lutar de verdade. Foi então que ele parou, o menor ficou completamente parado olhando o maior vir em sua direção com o seu braço descomunal que esmagaria completamente a sua pequena cabeça. Era o que deveria acontecer... Westem ficou abismado com a força que o menor desempenhou com a própria mente, fazendo aquele cara gigante parar em pleno movimento de combate. O menor pareceu ter um tique nervoso, pendendo a cabeça para o lado em movimentos repetitivos e os cilindros de ar da máscara no pescoço do adversário explodiram, machucando-o muito. Seu tamanho gigantesco começou a diminuir e diminuir até ficar aparentemente normal, como os outros nas arquibancadas, que por sinal começaram a vaiar o vencedor. Seus olhos fecharam e ele tirou a máscara, cuspindo sangue no chão e tossindo sem parar. Alguém, que deveria ser o árbitro da disputa, puxou o vencedor pelo braço e o levou para dentro de algum lugar debaixo das arquibancadas. Westem estava pensativo:
            – Droga! Essa eu teria perdido! Nunca mais penso em apostar sem conhecer os lutadores... – os pensamentos de Westem foram interrompidos por um tumulto na entrada do domo de lutas.
As pessoas estavam revoltosas com o resultado da luta e queriam quebrar tudo o que viam pela frente. Westem achou melhor sair dali antes que sobrasse para ele. Isto é, se ele não tivesse tropeçado em cima de alguma coisa quando se virou:
– Olha por onde anda! – o senhor de castelo ainda não havia se acostumado com a suit de sobrevivência.
Levantando-se, viu que aquele que estava debaixo dele era o mesmo cara que estava lutando há pouco. Os revoltosos perceberam que o lutador estava ali e foram atrás dele. Como ele acabou desmaiando, Westem pegou o pequeno nos braços e deu o fora dali o mais rápido que pode.
...

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