terça-feira, 25 de setembro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 19


Interseção

 
            “Como tudo isso foi acontecer?”, perguntou-se Ferus, confuso com a cena em que se via. Estavam todos os seis Senhores de Castelo enviados ao planeta sem nome na plataforma aérea. Westem segurava Ferus firmemente, prendendo-o na parede por ter desobedecido Dimios. O jovem castelar olhava para todos e seus olhares não eram nada convidativos, pelo contrário, estavam preenchidos de ódio e desprezo:


            – Você cometeu o erro de deixá-lo vir aqui, agora aguente as consequências! Nós vamos entrar no ecossistema artificial dos altarianos e teremos de enfrentá-los... – disse Nerítico, encarando Ferus, completamente ressentido.
            – Tsc... – fez Pilares. – O moleque deu mancada!
            – Quietos vocês! Preciso me concentrar para que a eletro-erosão seja rápida. – Dimios estava carregando a Garra de Sartel ao máximo para derreter as fechaduras dos portões do paraíso que os separavam da corte cósmica que se escondia ali.
            – Qualquer um comete erros... – ponderou Iksio com sua educação refinada. – Nós enfrentaremos os altarianos com força e sobreviveremos!
            – Belo discurso peixinho de aquário. – disse o bárbaro, parceiro do arthuano. – O que vimos lá embaixo é só uma prévia do que está por vir.
            – Eu já disse para ficarem quietos! – o poder da Garra de Sartel explodiu em fagulhas flamejantes.
            Por um instante eles ficaram quietos. Pilares, com sua curiosidade, ficou mexendo no cilindro de armeiro de Ferus. A jóia púrpura de sua base brilhava aos olhos do ladrão, que logo pensou e concluiu:
            – Onde conseguiu essa jóia? – disse secamente.
            – Ela é minha... – Ferus pensava em algo para dizer, mas a memória lhe falhava. – Alguém me deu ela.
            – E quem daria uma jóia com emanações sombrias para um castelar? Você deve ser mesmo muito ingênuo para usar uma coisa dessas!
            – Ela não tem efeito sobre mim, se é o que você quer saber...
            – Ah! Isso me lembra... Como você sabia daquelas coisas? – Pilares estava afiando suas facas, que pouco lhe foram úteis contra as grandes máquinas da legião parafuso.
            – Eu não sei! – Ferus perdia a paciência, se sentindo incomodado por ter tantas falhas na memória. – Eu juro que eu não sei...
            – Vai chorar agora? Seja homem! Seja um castelar de verdade ao menos uma vez! – disse Westem.
            – Como é que tudo isso foi acontecer? – disse Ferus bem baixinho, se lembrando dos momentos anteriores a difícil ascensão a cidade aérea...
...

            Voltando no tempo, Ferus, Westem, Dinha, Toshi e Esmal conversavam no interior do mercado negro. Toshi era traduzido pela senhora idosa e Esmal usava de sua telepatia para falar através de Westem. Eles conversaram sobre tudo o que havia no planeta, trocando algumas poucas ideias. Ouviram uma barulho do lado de fora da loja e saíram para ver. Encontraram Dimios que surgia de um buraco no chão:
            – Caramba! De onde você está vindo? Foi rejeitado do Naveeh? – Westem, com seu jeito amistoso, ofereceu a mão ao castelar que continuava com seu ar ranzinza.
            – Obrigado... Mas quem precisa de ajuda está aqui embaixo... – Dimios pouco ligou para a mão estendida do castelar e puxou para cima uma criança. – Cuidado com eles...
            – Por quê? São apenas crianças... – Westem estendeu o braço dentro do buraco e puxou a outra. – Não são?
            – Essa crianças enfrentaram máquinas enormes e monstros amorfos aqui embaixo...
            – Como? Isso é possível? – o bárbaro olhou para o amigo Esmal, tentando entender o que ocorria naquele planeta.
            Esmal pegou na mão de Westem e lhe disse algumas palavras: “Eles são perigosos... Posso sentir claramente as energias que são emanadas deles e não são nada boas.”. Westem sentiu um calafrio percorrer a espinha:
            – E qual o nome de vocês?
            – Meu nome é Vaik e este é o meu irmãozinho Elians... – respondeu o irmão mais velho enquanto o mais novo se escondia atrás dele. – Não somos deste planeta.
            Westem ficou sobressaltado, sabia que Esmal lia sua mente ao tocar em sua mão, mas ficou surpreso ao perceber que aquele garoto lera sua mente perfeitamente. E continuou, voltando-se para o colega castelar:
            – Ah, já ia me esquecendo. Vamos entrar ali, Ferus ficou lá dentro. – o bárbaro havia notado que o jovem castelar estava constrangido e resolveu não aparecer quando viu Dimios.
            Na verdade, Ferus sentia outra coisa lhe incomodando. Por mais que Dimios fosse lhe dar uma bronca pelo que aconteceu, sua consciência de castelar ajudava-o a pensar diferente sobre o parceiro que pouco havia sido amigável. Ferus sentia algo ruim sim, mas não era de Dimios, era de Vaik. Desde o momento em que Vaik saíra do buraco, o armeiro sentia que aquela criança olhava diretamente para ele, estranhamente sorrindo. O castelar pensou que pudesse ser coisa de sua cabeça e que deveria colocar a máscara de gás novamente. No entanto, não tinha como aquilo ser causado pelos gases tóxicos, era algo vindo daqueles dois. “Espere! Dois?”, perguntou-se Ferus escondido atrás da porta. Olhou novamente e concluiu que realmente haviam duas crianças ali, principalmente porque elas estavam vindo para dentro da loja. Ferus percebeu algo de familiar naquela criança menor que estava em cima das costas da outra. Não sabia o que era aquilo, tal qual não sabia o que sentia de medo pela outra. Sua cabeça estava confusa. Suava debaixo daquele macacão prateado que pouco lhe aquecia o corpo. O coração estava disparado. Ele ouviu a porta destrancar... Desmaiou, assustando a todos.
...

            Pilares procurou por Iksio o quanto pode, sem tentar chamar a atenção da criatura que provavelmente o havia devorado de uma maneira tão estranha... Bem, era apenas um pensamento fértil de sua mente leviana, mas que lhe parecia bem plausível no momento:
            – O que é isso Pilares? Sentindo medo numa hora dessas? O que há com você Senhor de Castelo? – os sibilos estalados ainda eram ouvidos ao longe. – É melhor eu não ficar aqui!
            Ele subiu num dos montes de entulho e de lá avistou uma orbe brilhante que refletia as luzes pálidas do céu do planeta sem nome. Como bom ladrão, a visão de algo brilhando lhe instigava e correu de pulo em pulo para chegar mais perto. A coisa que o perseguia estava perto, sentiu seu cheiro, ouviu os barulhos que ele fizera e voltou a ficar em seu encalço. Pilares via aquela imagem gigante se formar na neblina e apertou o passo o máximo que podia. Seus reflexos eram rápidos e certeiros, desviar de algo em pleno movimento é que estava sendo difícil. Chegou a orbe e tentou se esconder debaixo dela, caindo em um buraco. O barulho de um focinho espreitou pela pequena abertura fazendo um pouco de poeira voar e foi embora. O cheiro ali dentro não era agradável.
 
 
 

...

            Pilares estava atordoado com a queda, sentia que sua suit de sobrevivência fora removida. Temia estar no lugar errado e não quis abrir os olhos. Ouviu uma voz amiga e finalmente olhou para o lugar em que estava:
            – Pilares! Que bom que esteja bem! – disse Westem. – Com você, Dimios, Ferus e eu somos quatro! Agora só faltam dois.
            O castelar assaltante se sentiu mal, a possibilidade de Iksio estar morto lhe assombrava:
            – Não se preocupe. Ele está bem... – disse Vaik. Pilares olhou para a criança encarando-a. – Hahah... Calma, este é o meu dom. Eu leio mentes, sinto as pessoas que estão no planeta... Entre outras coisas.
            – E quem é você garoto?
            – Meu nome é Vaik... – a criança apresentou as novas pessoas ao Senhor de Castelo.
            – Da onde você saiu? – indagou Pilares, sendo direto.
            – Eu não sou daqui. Eu e o meu irmãozinho estávamos viajando em uma nave estelar e ela caiu neste planeta...
            – Era você?!
            – Você está falando da transmissão fantasma? Vi Dimios pensando nisso. Aparentemente alguém estava nos filmando naquele momento... Não tenho a mínima ideia do que tenha sido, pois tenho certeza de que não foi alguém. – o ar de Vaik era de um intelectual experiente pensando em suas conclusões.
            – Você é muito louco moleque! Gostei de você! – Pilares se animou, sentiu que podia confiar naquela criança, ao menos na possibilidade de Iksio estar vivo. – Falando nisso, porque tiraram a minha suit?
            – Isso eu posso explicar. – Dimios acabara de entrar no pequeno quarto. – Não podemos morrer de causas naturais neste planeta.
            – Como assim? – perguntaram Westem e Pilares ao mesmo tempo.
            – Eu já havia sentido esse cheiro purgante que empesteia este planeta no laboratório de um alquimista negro.
            – E o que é homem? Diga! – apressou-se Westem, ansioso.
            – Panacéia... Todo o planeta esta imerso em panacéia.
            – Aquela mistura sagrada que poderia curar todas as doenças? – indagou Pilares.
            – Acredito que sim. Não tenho certeza, as misturas que podem gerar a panacéia perfeita são muito específicas, podendo levar a loucura ou a morte. Mas já enfrentei uma criatura amorfa que me atacou e ela não parou de se mexer mesmo tendo sido mortalmente perfurada. – Dimios retesou as junções da Garra de Sartel, produzindo alguns barulhos enquanto se sentava. – Os gases podem ser tóxicos, mas não vamos precisar nos preocupar com eles agora. Nosso objetivo é outro...
            – E onde está Ferus? – o teslarniano olhou para Westem, reparando que ele não estava junto deles.
            – Ele saiu... Precisava respirar. – respondeu Vaik, sorrindo, lembram-se de como ele estava assustado ao vê-lo. – Vou ver como ele está...
            O garoto saiu. Dimios estava distante, pensou em falar com o parceiro, mas percebeu que pensava nele lembrando-se de Cardial e se retraiu. Sentia que deveriam conversar o quanto antes e estipular uma relação de parceria. Ou será que não? Aquele cabelo azul lhe chamou a atenção, o que poderia significar aquela mudança de cor?
...

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