quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 32


 Besta – 3ª parte

 

            Iksio, em sua forma monstruosa, ficava escondido, só olhando para os amigos castelares. Pilares, curioso, quis saber mais sobre o porquê do arthuano ter se tornado um monstro. Westem, prazeroso em dizer, respondeu alegremente:
            – Ele meteu a mão aonde não foi chamado! Hahahah... – o multibiólogo fez um barulho em protesto.
            – Ele vai ficar assim por quanto tempo? Preciso pedir algo pra ele...
            – Não sei. A transformação depende de vários fatores desconhecidos. Iksio não quis fazer exames pra saber o que realmente acontece com ele... É medo de agulha! – disse baixinho a última frase. – E o que você pretende com ele?
            – O dopelganger copia plenamente a forma de alguém... Eu vi a cópia do Iksio usar alguns poderes mentais... Talvez ele possa ajudar a tirar o Nerítico do estado B.O.B.
            Westem olhou para o parceiro e concluiu:
            – É possível... Iksio conhece alguns truques que podem ampliar suas forças mentais. O que me diz peixinho?! – o multibiólogo mexeu a cabeça para os lados. – Ele disse que talvez...

            Pilares ficou um pouco mais aliviado e olhou para o parceiro. Sentiu sua barriga reclamar, estava com fome e a comida que consumira até agora não o alimentara bem.
            – O que faremos quanto à comida? Se formos enfrentar os altarianos teremos que nos alimentar direito. Ainda estou morrendo de fome...
            – Iksio! Consegue encontrar alguma comida?! – perguntou o bárbaro ao parceiro com gritos.
            – Ele consegue farejar comida?
            – Oh! A sua forma bestial sente o cheiro de qualquer coisa a quilômetros!
            O arthuano entendeu o pedido e começou a farejar o que estava no ar. Sentiu um cheiro diferente e começou a segui-lo, sumindo no meio dos prédios.
            – Bem, o problema é: será que ainda restou alguma coisa para comer nesse planeta? – concluiu Pilares.
...

            A besta procurou durante horas seguindo um cheiro que poderia ser de comida. Enquanto isso, Dimios e Ferus – com o cabelo completamente branco – seguiam na viagem de volta.
            Logo a frente deles, eles encontraram Pilares, Nerítico, Westem e Iksio conversando. Dimios fez menção de falar com eles, mas foi impedido por Ferus:
            – São dopelgangers...
            – Como você sabe?
            – Observe... A cor da bandana de Pilares está errada... A cor da corda mágica de Westem está errada... A cor dos óculos de proteção de Nerítico está errada... O tom da pele de Iksio está errado...
            –Tem certeza? O que vejo está perfeitamente igual...
            – Eles mudaram de cor... Parece que respondem aos pensamentos... Veja! Outro deles se aproxima!
            Uma massa branca de formato humanóide andava por entre os entulhos. Ela começou a mudar de forma e tomou a aparência de Dimios. Ele, vendo que o parceiro estava certo – estranhamente certo é verdade – decidiu que era melhor os dois fugirem.
            – Não temos tempo... – disse Ferus que mirou o canhão de seu cilindro e atirou sem piedade, pulverizando os cinco dopelgangers.
            – Por que fez isso? Eu disse para sairmos daqui! – protestou Dimios por ter sido contrariado.
            – Veja... – Ferus não tirava os olhos do caminho. Novos dopelgangers surgiam no caminho e tomavam a forma dos Senhores de Castelo.
            – Mais essa agora... Pare! – Ferus atirou novamente.
            – Agora podemos ir... Nessa velocidade chegaremos à cidade baixa logo. – o armeiro pôs o cilindro nas costas e apertou um botão que liberou olhos de curumim, sementes que fortalecem o corpo. – Tome, vai nos ajudar até encontrarmos comida...
            – Quem é você? – perguntou Dimios, desconcertado pelas atitudes do parceiro.
            – Ferus... Ferus Envolk... – disse secamente, olhando diretamente nos olhos dele.
            O ziniano sentiu um arrepio, a força que vinha do jovem castelar percorreu todo o seu corpo, como se vasculhasse toda a sua memória. Ele não ficou nada contente com isso.

...

            Iksio tinha todas as suas capacidades musculares ampliadas naquela forma bestial. Quanto mais chegava perto do cheiro, mais rápido ele corria, ultrapassando os cem quilômetros por hora. As ruas, curvas e sinuosas, não eram empecilho, visto que o arthuano conseguia manobrar perfeitamente. Já haviam se passado umas seis horas desde que ele adentrava a cidade baixa e chegou bem próximo ao centro, perto da base da cidade alta.
            O multibiólogo ouviu vários barulhos de maquinários pesados trabalhando. Foi se aproximando e quase deu de cara com um deles. Seu tamanho era maior que o das máquinas, mas preferiu não entrar em combate. O que ele via ali era uma espécie de fábrica, onde peças mecânicas eram produzidas a todo o momento. Observando direito, ele tentou contar quantas daquelas máquinas enormes estavam lá. Desistiu de contar quando chegou a duzentos e não havia contado nem a metade. Ficou ali por mais algum tempo e reparou em uma esteira extremamente longa que ele não conseguia ver o fim. Ela parecia atravessar a cidade de uma lado ao outro e sempre havia algum objeto que seria transportado para algum lugar. Para sua surpresa, uma caixa com o mesmo símbolo da nave estelar que os trouxera ao planeta sem nome ia sendo levada pela esteira. Talvez a caixa tivesse o que eles precisassem. Mas havia um problema, como tirar aquela caixa dali sem chamar a atenção daquela legião de máquinas? Iksio se afastou e tentou dar a volta.
            Realmente, quanto mais ele corria, mais a esteira se estendia ao longo do caminho e a caixa estava ali, rivalizando com ele quem chegaria primeiro ao destino final de todo aquele movimento mecânico. Ele se apressou o máximo que pode e quase se esqueceu de verificar se havia algum maquinário a sua frente. Pois havia um, e ele detectou o intruso, soando fortemente um alarme estridente embutido em suas peças. Iksio, medroso, sem se lembrar que poderia ter derrubado a máquina facilmente, correu de volta pelo caminho, assustado com o descuido. Lembrou-se da caixa e fez a volta. Aumentou a velocidade e pode subir uns poucos metros pela parede evitando contato direto com os detectores dos outros maquinários que não paravam de rastrear o local. O multibiólogo deu um salto e atravessou para o outro lado da esteira. Investiu no mesmo sentido da esteira e pulou de volta, segurando a caixa. Ele caiu em cima de um maquinário que o desequilibrou. A máquina ficou destruída. Iksio se levantou e pegou a caixa novamente, finalmente saindo de perto daquela fábrica.
            Depois de longas horas retornando ao local de onde saíra, Iksio chegou, completamente cansado. Fez um barulho animalesco para avisar Westem que havia chegado e o amigo foi recepcioná-lo:
            – Por que demorou peixinho? Já estava preocupado... – o bárbaro interrompeu a frase, ajoelhou-se com fortes dores nas costas e Iksio pode ver a causa, uma das facas de Pilares o atingira exatamente no pescoço.
            O arthuano rugiu de raiva pelo amigo e tentou localizar o assaltante com seu faro hiperdesenvolvido. O cheiro de Pilares estava no ar, mas algo confundia a besta, os cheiros vinham de vários lugares, como se uma multidão de Pilares estivesse reunida. Iksio percebeu que o dopelganger havia encontrado um novo truque e resolveu tentar algo. Deixando a caixa de lado, usou os fortes braços para jogar Westem contra a parede e o que pretendia deu certo. A massa polimérica branca voltou ao seu estado pastoso original.
            Nerítico apareceu no beco:
            – Iksio! Venha por aqui... – o arthuano urrou em fúria e estourou a cabeça do ultraquímico ao jogá-lo no chão. Novamente a massa branca escorreu.
            “Isso está me preocupando”, pensou o multibiólogo, “Agora eles estão assumindo a forma de meus companheiros!” O Senhor de Castelo tentou se concentrar, procurando focalizar os sentidos e encontrar os outros castelares. “Pense Iksio, pense! Você consegue encontrá-los!”
            Pilares apareceu, saltando pelos prédios, fazendo manobras incríveis e em alta velocidade:
            – Iksio! Que bom que voltou! Vários dopelgangers apareceram e nós tivemos que sair daqui... Iksio? Iksio! Me solte! Você está me apertando! Precisamos ajudar o Nerítico... – o arthuano bestial segurou Pilares, olhou diretamente nos olhos dele tomado pela raiva e o apertou brutalmente. Dessa vez a massa não escorreu...
            “O que foi que eu fiz?! Eu matei Pilares!”, seu braço enorme estava sujo de sangue, assim como o seu rosto. O pobre castelar tinha horror à violência e repudiava aquilo com todas as forças. Sentia-se envergonhado, sujo, indigno, corrompido pelo pior de seus pesadelos. Em sua mente vinha a lembrança de sua amada Liliana, lhe dizendo o quanto ele era horrível, o quanto os Senhores de Castelo são brutos e selvagens. Por fim ele urrou e saiu correndo sem direção pensando: “Talvez ela tenha razão...”
 
...

 

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