sexta-feira, 25 de maio de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Os Caçadores Sombrios


Kullat contra Alvora, a Musa da Guerra – 1ª parte
Informe do Multiverso



            “Os Caçadores Sombrios atacaram novamente. Os líderes do grupo de repressão Kullat e Thagir partiram para seus planetas natais para averiguar os códices antigos que podem conter mais informações sobre o que os Caçadores querem. O que eles encontraram não os deixou nada felizes. Kullat e seu amigo Azio, o autômato, partiram para Oririn e Thagir e Laryssa partiram para Curanaã, ambos seguidos de três duplas de Senhores de Castelo experientes. Esta é a transmissão do encontro de Kullat e Alvora, a terrível musa da guerra. Aqui foi Fentáziz, do Informe do Multiverso.”
...

Começando transmissão...

            Kullat estava no deque do navio boreal, observando o passar do tempo, sentindo a brisa leve provocada pela travessia. Azio vinha a seu encontro verificar o que se passava, estava viajando por novos mundos quando recebeu a mensagem de convite para a luta contra os Caçadores Sombrios. Ele ainda não havia entendido o que se passava:
            –Estamos numa guerra, creio eu. – Disse Kullat, ainda indeciso sobre o que estava acontecendo.
            –Porque os Caçadores têm como alvos os Senhores de Castelo? – Perguntou Azio com sua voz robótica.
            –Pelo que Thagir e os anciões especulam, é pelo motivo óbvio... – Kullat se interrompeu.
            –E qual seria? – O autômato piscou os olhos tentando processar a questão, sem sucesso aparente.
            –Porque, além da Ordem dos Senhores de Castelo ser uma grande potência no multiverso, cada um que é admito na academia se torna o melhor daquele planeta, é uma seleção natural dos melhores. Eles estão experimentando, tentando saber quais são os mais fortes. O motivo real ainda é desconhecido, Thagir espera que reunindo os códices místicos de Curanaã e Oririn, a questão se torne mais lúcida.
            –E o que são esses códices?
            –São relíquias de culturas muito primitivas que absorveram o conhecimento transmitido pelo poder de um artefato antigo que geraram os dois planetas... – A informação deixava o processador de Azio um pouco lento para entender.
            –Estamos indo atrás dos códices para saber o que há neles?
            –Sim, latinha. Thagir espera ir além do jogo doentio dos Caçadores e virar ele completamente.
            Nesse momento o capitão do navio avisou que Oririn já estava visível e que logo chegariam à entrada dos mares naturais do planeta. Kullat estava um pouco apreensivo, já fazia algum tempo que não voltava ao seu planeta de origem. Ele e Azio ficaram observando a chegada impassíveis, esperando que aquela fosse mais uma chegada qualquer. O que exatamente não ocorrera:
            –Este é seu planeta? – Azio fez uma observação.
            –... – Kullat estava abismado, a figura de seu planeta que lhe era mostrada estava completamente diferente.
Ele foi falar com o capitão:
            –Tem certeza que este é o planeta Oririn? – Ele estava preocupado, mas seu tom era sério e decido.
            –Pelos registros... Sim. – O capitão observava os computadores que estavam disponíveis na cabine. – Esta são fotos dele há 24 horas e as horas seguintes...
            Na tela, o computador mostrava fotos conseguintes de um planeta normal se deformando. De um lado do planeta as matas verdes e os mares vivos iam dando lugar a tórridos desertos e a lugares poluídos e mortos. Do outro a situação era pior, era como se alguém tivesse ascendido um lança-chamas e queimado metade do planeta, que se mostrava incandescente ainda em algumas partes. Kullat apertava as mãos e cerrava os dentes, tentava se concentrar e pensar normalmente. Em uma batalha, o que o inimigo mais quer é que você se renda aos seus esforços para te abalar, conseguindo assim uma vitória fácil. Ele tomou uma decisão e foi em frente:
            –Vamos direto para o castelo sede da Ordem... – Isso significava que usariam naves voadoras para chegar mais rápido e não perderiam tempo aportando em algum porto.
            Kullat e Azio partiram numa nave onde só cabiam os dois, como também as outras duplas de Senhores de Castelo que os acompanhavam. As naves eram leves e extremamente rápidas, se tivessem rodas poderiam ser consideradas como motos. Aquele era um método incomum para Kullat viajar, mas o tempo urgia, não havia tempo para vôos livres. Eles se dirigiram diretamente para a sede no centro da maior da capital de Oririn, do lado do planeta que parecia morto. A capital antes viva tinha ares de desgraça, a paz que os Senhores de Castelo haviam trazido àquele simples planeta havia dado lugar a um cenário por onde a guerra com certeza teria passado. Nos belos rios de água límpida e potável, havia um tom muito peculiar, o de que havia sido derramado sangue inocente naquelas águas. Porém foi quando eles chegaram à sede da Ordem que souberam que quem fizera aquilo havia passado dos limites. O lugar estava repleto de empalações, os cadáveres do povo de Oririn jaziam ao redor do castelo atravessados por agudas estacas que os erguiam em pleno ar. O mais inexplicável daquela cena horrorosa era o fato dos mortos já estarem putrefatos, quando os registros afirmam que há um dia tudo estava completamente normal. Com a permissão de N’quamor, eles já sabiam onde os códices estavam e seguiriam direto para lá.
            Já dentro do castelo, no torreão principal, os Senhores de Castelo e o autômato se viram de frente com o inimigo. Naquele lugar aberto, havia uma mulher pairando no ar. Ela tinha a aparência de uma moça delicada, cabelos fartos, pele sedosa e roupas esvoaçantes em tons de vermelho. Suas mãos estavam vermelhas, sujas de sangue, levando-as frequentemente a boca. Tinha emanações de maru carregada, detectada com tons rubros, uma rara maru sombria notada apenas nos deuses da chacina. Pela experiência do multibiólogo do grupo, aquela deveria ser a mais bela deusa do panteão da chacina: Alvora, a musa da guerra. Seus poderes são catastróficos, não obstante, fora ela que causara a degradação do planeta em tão pouco tempo. No momento não havia perigo, comentou o especialista, poderiam perguntar qualquer coisa que ela responderia, pois ela estava em estado de êxtase, devorando as energias de desespero que ela mesma criara. Por isso os constantes gemidos:
            –Quatro de vocês procurem pelo códice e saiam por onde der, não tentem voltar por aqui. – Ordenou Kullat. – O multibiólogo e seu parceiro fiquem comigo. Vamos tentar obter informações. Todos os comunicadores funcionando?
            –Sim. – Disseram os outros que imediatamente partiram para os andares superiores.
            –Azio, desculpe ter que envolver você nisso... – Kullat estava preocupado com o autômato.
            –Compartilho de sua dor, amigo. Eu também vi meu planeta morrer em pouco tempo. Vamos conseguir reverter a situação. – Azio pensava mecanicamente e entrou em modo de batalha.
            Todos estavam prontos para o quer der e vier...

Continua...

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Devil's Drink 17 - Sasha 2ª parte


            Não teve jeito... Sasha só arranjou problemas no bar, a começar pelo seu mau hábito:
            –Eu querer vodka! – Exigia o russo com cara cachorro.
            –Nem pensar! – Disseram Gurei e En’hain.
            –Você não tem idade pra isso! – Falou Gurei.
            –Se quiser trabalhar aqui terá de trabalhar sóbrio! – Completou En’hain.
            –Au! – Sasha não conhecia muito bem outras culturas e estranhava aquele jeito de ser tratado. – Meu avô sempre me dar um trago...
            –Fique sabendo que ele é um velho tapado! – Se irritou Gurei. – Ele não tinha nada que ficar levando você pra cima e pra baixo no inverno russo!
            –... – Sasha fez cara de cão sem dono, literalmente.
            –Pega um osso... – Disse Gurei.
            –Gurei?! – En’hain olhou para ele.
            –O quê? – Sasha ficava com olhos fixos no pedaço de osso. – Ele adora isso.
            –(Nhac) – Sasha mordeu o pedaço de osso e foi para fora, provavelmente para roer.
            –Não disse? – Gurei olhou de volta para En’hain, chacoalhando a mão por ter sido quase mordido.
            –Isso não é motivo pra você tratar ele assim... – En’hain cerrou os olhos e sua típica fumaça voava pela cabeça. – Você não tem nada melhor pra fazer não?
            –Não te interessa... – Gurei deu as costas pra En’hain.
            Era difícil dizer que você se importa com alguém. Quando os seres humanos só pensam em extrair os poderes mágicos de um ser sobrenatural, eles costumam ser exageradamente cruéis, tal qual foi o caso de Gurei. No meio da desgraça, passando fome e sede, receber um prato de comida e um pouco de água de uma pequena criança te faz repensar a vida, ou mesmo seu ódio...
            Naquele dia, Lady Neko já estava melhor e finalmente voltaria ao Bar Toca dos Gatos:
            –Oi amores, voltei! – A gata trajava um vestido fino, babado, provocante no colo, justo na cintura. – Mas o que é isso?!
            Naquele momento de relapso, Gurei e En’hain se lembraram que Lady Neko poderia voltar a qualquer momento e, se depender daquele momento vergonhoso em que ela derrubou o Senhor Gunshin, algo muito ruim poderia ocorrer ao Sasha. Foram ver como o cachorro estava e viram algo muito estranho:
            –Não acredito! – Disse En’hain.
            –Esse cachorro só me envergonha! – Falou Gurei levantando as mãos e olhando para cima.
            –Socorro! O que esse cachorro tem?! Ele não larga da minha perna! – Lady Neko balançava o cachorro no ar com sua tremenda força e mesmo assim o cachorrinho continuava grudado nela.
            –Só tem um jeito de resolver isso... – Gurei entrou no bar e voltou com uma garrafa de vodka. – Sasha? Olha a vodka aqui...
            –Gurei!!! – En’hain olhava para o gato de cabelo cinza azulado com indignação.
            Sasha então pulou da perna de Lady Neko direto na garrafa. Gurei não pensou duas vezes e deu uma garrafada na cabeça dele:
            –Você tem um jeito muito estranho de fazer as coisas... – E lá vem a fumaça de En’hain...
...
            Depois de algum tempo, tudo foi explicado à Lady Neko que, pobrezinha, estava com os nervos em frangalhos de tão frágil que ela é:
            –Não quero saber! Tirem esse vira-lata daqui! – Berrava a moça. – Ele destruiu a minha meia favorita!
            –Se acalme Lady Neko. – En’hain pedia por compaixão.
            –Se depender de mim, ele pode é ir embora... – Disse Gurei com o rosto virado para o outro lado.
            –Você também? Não creio! Até tu, Brutos, meu filho! – En’hain fazia um encenação dramática.
            –Vai ser melhor pra todo mundo... – Gurei tinha um tom sério.
            –...! – En’hain se calou por um instante. – Quer conversar?
            –Não. Quero que ele vá embora... – Gurei saiu do quarto de Lady Neko, desceu as escadas e saiu do bar, deixando En’hain pensativo.
            No quarto destinado a Sasha, o mesmo de Gurei – a casa já estava ficando apertada pra tanta gente – En’hain foi falar com o cão sem dono que estava com a cabeça completamente enfaixada:
            –Sasha? – En’hain dava alguns toques para acordar o russo.
            –Estar dormindo, voltar mais tarde... – Disse, descaradamente.
            –Gurei disse que prefere que você vá embora... – En’hain sentou e ficou de cabeça baixa.
            –Ser melhor eu ir...
            –Mas... Quando eu vi vocês dois rindo juntos, pela primeira vez eu vi Gurei sorrir sem ser por sarcasmo ou por tirar sarro de mim. Ele sorriu de verdade... Você precisa falar com ele. – En’hain se levantou e ia sair do quarto.
            –Por favor, esperar... Precisar que veja uma coisa. – En’hain parou na porta e Sasha começou a tirar as bandagens.
            –Você... – En’hain olhou para o russo que não estava mais como antes.
            –O efeito da lua finalmente passar... Alexander odiar humanos. Melhor eu ir.
            –Não. Não e nunca vai ser. Ficar adiando o dia em que você vai entender o quanto está errado só vai te tornar alguém vazio, inútil e descartável. Acredite. Isso não dá certo... – Ele saiu da sala e Sasha ficou pensando naquilo.
Saindo para se encontrar com Gurei, En’hain sentiu uma coisa ruim nele, uma sensação infeliz e triste que queria fazê-lo chorar. En’hain limpou o canto do olho e ouviu uma piadinha infame:
            –Você está chorando, tubarão? – En’hain olhou para Gurei que estava de novo com aquele sorriso falso, de gente mesquinha e fútil.
            En’hain cerrou os olhos, em sinal de indignação. Não deu muita importância e seguiu andando. Parou um pouco e disse:
            –Você precisa falar com ele... Se ele for embora, a parede de silêncio vai fazer com que ele se esqueça completamente de você. – E continuou andando.
            Sasha desceu as escadas e ficou atrás da porta para falar com Alexander que estava do lado de fora:
            –Você realmente querer que eu vá?
            –... – Gurei não falou nada.
            –Me responda, você querer que eu vá? – Sasha insistiu.
            –... – Gurei continuou em silêncio.
            –Pela Grande Mãe Rússia, me dizer, por favor... – Sasha saiu detrás da porta e virou Gurei para que ele respondesse, Gurei estava chorando...
            Os dois conversaram melhor depois daquilo. E também porque tomaram uma bela garrafa de vodka:
            –Seus desgraçados! Porque foram beber!
            –E... qual o probleminha moço... ou serão... moços? – Disse Gurei, mais mole que gato escaldado se esparramando pela mesa. – Hihihi...
            –Vocês estão completamente bêbados! – En’hain estava vermelho de raiva, soltando mais fumaça que um trem a pleno vapor na ferrovia.
            –Viva a vodka! – Disse Sasha sem nenhum senso de noção, vindo a dormir em seguida, com o copo ainda na mão.
            –Boa... ideia... – Gurei dormiu também.
            –Cacete... Eu dou uma saidinha pra ver se os dois se acertam e quando volto encontro isso?! – Lady Neko aparece andando de fininho por trás de En’hain levando uma garrafa na mão. – Lady Neko!!!
            –Miau?!
            Foi isso...

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Os Caçadores Sombrios


Exclusivo! Encontro com o Senhor de Castelo Thagir!
Informe do Multiverso



Começando transmissão...

            –Gente, vocês não vão acreditar! Lá estava eu, no meu horário de descanso, observando toda a imensidão da ilha de Ev’ve na torre da chama eterna, quando descubro que o mestre Thagir também tira um tempo pra relaxar e esticar as pernas no mesmo lugar que eu! E como ele me permitiu emitir para todas as Ordens de Senhores de Castelo do Multiverso a nossa conversa... Aqui vai!

...

            Fentáziz abre uma cartucheira, tira de dentro um cigarro e o acende com uma chama de maru laranja que faz surgir magicamente:
            –Você não deveria fumar nas dependências da ilha de Ev’ve... – Disse Thagir, subindo as escadas.
            –Ahn?! – Fentáziz procurou quem disse aquilo. – Ah, mestre Thagir! Se importa? Este é o único lugar em que eu consigo fumar sem ser interrompido pela guarda castelar.
            –Não... Mas este é um lugar sagrado, insisto que você não deveria fazer isso. – Fentáziz então dá uma grande tragada; a cena era muito melancólica, seu rosto não estava nada feliz.
            –Bem... O que o trás aqui? Há anos que sou o único que se lembra deste lugar numa hora como essa.
            –Venho aqui desde a época da Academia e as coisas não vão exatamente bem no serviço de repressão...
            –Sei. Tudo é bem feito, eles procuram sempre as melhores brechas... Afinal, sou eu quem está transmitindo tudo isso!
            –Me diga uma coisa Fentáziz, se você estivesse no meu lugar, o que você faria?
            –Depende. Todos os fatores devem ser...
            –...muito bem questionados. Aula de Estratégias e Estratagemas. Última aula daquele professor baixinho... Ele ainda dá aulas na Academia?
            –Sim e ainda continua rabugento como sempre!
            Os dois riram, pareciam dois colegas, dois aprendizes que se conheceram no primeiro dia e se tornaram amigos de infância.
            –Então, Fentáziz, muito se fala de você, mas ninguém sabe de nada... Porque isso? – Fentáziz deu outra tragada.
            –Sabe o que é ter mais de cem anos e ainda não ter sido aprovado na Academia?
            –Não brinca! Mas você parece mais jovem do que eu! – Thagir olhava incrédulo.
            –Heheh... Digamos que eu não tenha tanto orgulho de mim. Eu tive a sorte de me concederem à honra de fazer as primeiras transmissões do novo sistema de emissão específica de maru há alguns anos e tenho sustentado elas com todo o meu empenho. Sabe quantas pessoas trabalham no Informe do Multiverso?
            –Verdade... Nunca reparei nisso também. Quantas pessoas trabalham lá?
            –Duas... Eu e o cameraman. Ele também não deu muito certo na prova dos trezes dias e se juntou a mim para fazermos esse bico por aqui. O Informe do Multiverso não vai durar muito, não é? Estão desconfiados que eu ou que as transmissões estejam vazando informações importantes para os Caçadores Sombrios. Estou certo?
            –... – Thagir ficou calado por um instante, era como se Fentáziz adivinhasse que ele queria falar justamente sobre o fechamento do Informe do Multiverso.
            –Não tem problema... – Ele sorriu. – Não tem como haver mais lugar pra mim mesmo aqui.
            –Você tem certeza? Eu posso falar com os anciões...
            –Por favor, não insista. Mesmo que eu continue aqui por algum tempo, alguém por aí ainda vai encontrar um jeito de usar o Informe do Multiverso contra os Senhores de Castelo. Às vezes temos que saber a hora de desistir e encontrar algo novo para fazer... – Por algum tempo, o silêncio pairava no ar, incomodando aos dois, sendo quebrado apenas pela última e profunda tragada de Fentáziz que logo terminou de apagar a bituca e escondê-la na cartucheira.
            –E o que você pensa em fazer depois daqui? – Perguntou Thagir.
            –Bem, como eu sou um mago, vou continuar meus estudos em algum lugar, eu acho... Não tenho muita certeza do que fazer exatamente. Possibilidades demais para se fazer uma única escolha.
            –E o seu planeta natal? Você não disse de onde veio.
            –O planeta onde nasci não existe mais... Foi consumido por uma explosão solar que o desmanchou no espaço. Eu já havia sido mandado para cá alguns anos antes e por um acaso acabei sobrevivendo. Como era um planeta do primeiro quadrante que não tinha muitos recursos naturais, seu comércio com outros planetas era nulo. Apesar de haver um portal marcando a saída para os mares boreais, ninguém saía de lá. No entanto, diversos foragidos espaciais se escondiam e escravizavam a população. Foi o próprio N’quamor que liderou a derrota dos bandidos e libertou meu povo, antes de ser oficialmente eleito o próximo regente da Ordem de Nopporn. Chego a pensar que o que ele fizera fora em vão. De qualquer jeito o planeta seria expurgado do multiverso...
            –Você é o último de sua raça?
            –Acho que não preciso dizer... Bem, há algo que eu queria dizer, mas não consegui até agora.
            –Pode dizer, estou ouvindo
            –Você conhece a lenda dos planetas Curanaã e Oririn?
            –Que lenda? – Thagir tentava se lembrar, puxando pela sua boa memória, mas nunca tinha ouvido falar que o seu planeta e o planeta de Kullat tinham uma lenda em comum.
            –A lenda dos Deuses Gêmeos... Bem, a história é mais ou menos assim. Quando o multiverso ainda não existia, existiam apenas os seres de Ébano, os seres primordiais que habitavam o vazio e desenvolviam a existência a seu bel-prazer. Em seus devaneios eles brigavam constantemente uns com os outros para descobrir quem possuía a melhor ideia. Dentre essas criações surgiram os Comedores de Sonhos, seres titânicos e maldosos que consomem qualquer ideia. Para poder preservar a suas próprias ideias, a Grande Mãe deu a luz a deuses gêmeos iluminados, Brasman e Norris. Suas ideias eram novas e seu carinho pela criação era tremendo. Os Comedores de Sonhos, porém, são seres famintos e insaciáveis. Quando destroçaram seus próprios criadores, foram atrás das ideias dos jovens deuses que lutaram bravamente para preservar aquilo que a Grande Mãe e eles criaram. Foi então que nasceu a melhor ideia que eles poderiam ter: a Espada do Infinito, um instrumento divino que uniria suas forças opostas e expulsaria os comedores de sonhos de sua morada. Pelo que diz a lenda, a força emitida pela espada foi tão grande que se propaga eternamente formando os dois multiversos...
            –Como assim, dois? A teoria que emenda todos os universos no multiverso não se aplica a tudo? – Interrompeu Thagir, interessado na conversa.
            –Sim, o multiverso é um só... Só que ele é dividido em dois. Um lado positivo e outro negativo. Pelo que se entende ainda existem emissões do outro multiverso sendo propagadas, elas apenas não duram muito, se desintegram rapidamente. Digamos que desse lado, existe a maru em grande quantidade e do outro, a antimaru em grande quantidade. Se quantidades iguais dessas duas energias se juntarem, elas se desintegram. No meio de tudo isso, uma fina camada de vazio ainda continua, equilibrando os dois lados. Os Comedores de Sonhos estão presos lá e o que garante que tudo se mantenha do mesmo jeito são as Estrelas Escuras, as ideias mais bem arquitetadas para a sobrevivência das ideias da Grande Mãe.
            Thagir estava maravilhado com o achado, do lugar que menos se esperava, surgiam respostas para muitas perguntas:
            –E onde os planetas Curanaã e Oririn entram nisso?
            –Eles são os restos dos deuses Brasman e Norris... A Espada do Infinito consumiu toda a maru vital deles e se dividiu em duas, vagando pelo multiverso. Um lado gerou Curanaã e a outra Oririn quando encontraram orbitas de rochas e poeira em seus respectivos sistemas... Bem, é o que o culto a Grande Mãe prega. Ele quase não existe mais, os últimos que adoraram a Grande Mãe eram os espectros e, veja, eles quase foram extintos.
            –Como você sabe de tudo isso? Nem eu nunca ouvi falar disso e provavelmente Kullat também não.
            –Tudo está nos Códices de Oririn e Curanaã... Duas ideias que só são compreensíveis juntas. Quando se tem tempo de sobra pra ler e estudar culturas primitivas e mortas, às vezes você encontra algo quando alguém acidentalmente mistura tudo.
            –E onde estão os Códices agora?
            –Em seus respectivos planetas, guardados como relíquias nas sedes das ordens por Senhores de Castelo sob o comando direto de N’quamor e Lorde Grageon. Isso já faz mais de cinquenta anos...
            Thagir estava felicíssimo com as novidades, sabia que Fentáziz tinha seus motivos para guardar o segredo que somente ele descobriu por acaso e não teve dúvidas, apertou-lhe a mão em sinal de agradecimento:
            –Pode publicar isso, meu caro, quero que todas as sedes saibam da lenda dos Deuses Gêmeos!
            Nesse momento, Kullat, que procurava por Thagir, subia as escadas. Ele ia dizer algo, mas foi abruptamente interrompido por Thagir:
            –Velho amigo, vamos viajar!
            Os dois desceram e Thagir apenas acenou para Fentáziz, sem maiores despedidas.

...

            –Foi isso o que aconteceu... Acho que os dois vão viajar de volta para casa essa noite.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Gatos, gatos e mais gatos! Nekos, só pra variar...


            Este é um acumulado de imagens de gatinhos que eu compartilhei no facebook, como não poderia deixar de ser, os comentários sobre os meus próprios gatos ficaram super divertidos. Confira!
001 - Gurei... é você? O.O
002 - “Fique quietinho, tô tentando dormir...”


003 - Akai, seu bichinho bobo, onde você se escondeu meu filho! ^^
004 - Chiii... Gurei, para com isso... Tá me assustando... ._.
005 - Neko! \o/
006 - Fica não...
007 - Gurei?! O.O Gatinho mal, olha a liguinha pra você também! :P
008 - Akai, seu gatinho bobo... =3
009 - Gostei dessa Akai! ^^
010 - Akai! O que aconteceu com seu pelo! O.O
011 - Tá certo Gurei, mas precisava ser chato logo comigo?! -_-'
012 - Seus gatinhos maravilhosos! *¬*

013 - Nunca mais deixo o Gurei usar o pc... Até ele ficou viciado! ._.'

014 - Akai, Gurei... Parem com isso... ._.'



 
            Se você adora gatos e tem sugestões pra mim, pode mandar! Ficarei feliz - *sorriso de gato* - em fazer mais posts como este! =3


Devil's Drink 16# - Sasha

            Um dia como os outros, En’hain estava cuidando da Toca dos Gatos sozinho, Gurei havia levado Akai para passear pela vila e comprar alguns docinhos que, sem motivo aparente, haviam acabado. En’hain pensava na vida, lembrando de sua velha sina. Desconhecer o futuro, não entender o presente e não querer lembrar-se do passado sempre o atormentava. Mas tinha bom coração, era o que importava. Talvez sim, provavelmente não...
            Ao sair para limpar a entrada, En’hain se deparou com um inunin, um homem cão, um lobisomem se preferirem. Ele estava esfarrapado e parecia com fome. Qual não foi a surpresa de En’hain quando ele disse:
            –Se me der um prato de comida, passo varrer pra você. – O homem cão parecia meio constrangido em dizer aquelas palavras, qualquer um ficaria constrangido em falar algo parecido.
            –Entre... – Disse En’hain, lembrando que seu amigo Gurei um dia também havia chegado à Vila dos Gatos num estado parecido.
            Lá dentro, En’hain não se demorou na cozinha e serviu um prato de sopa bem quentinho que já estava preparando para o almoço. Um prato a mais servido não faria falta. En’hain ficou admirando o novo espécime que conhecera, tinha cara de cachorro, diferente dos nekos que geralmente tem uma forma mais humana e que podem se transformar em completamente em humanos ou completamente em gatos. O ‘cão sem dono’, como En’hain achava lhe parecer melhor o convidado, verteu a sopa com entusiasmo, chegando a pedir mais algumas vezes. Estando satisfeito, levantou se, pegou a vassoura e foi varrer a entrada do bar, como havia prometido. En’hain sorriu:
            –Meu nome é En’hain, qual é o seu? – Perguntou, percebendo o deslize.
            –Meu nome ser Sasha, eu vir do grande mãe Rússia. – O inu abriu as mãos tentando demonstrar o quão grande era o seu país.
            –Então é russo... Não deve conhecer esta região da Europa, eu presumo.
            –Dah! – En’hain não falava russo, mas sabia que aquilo significava sim.
            –E o que te trouxe a essas bandas?
            –Estar procurando amigo...
            En’hain sentiu certa nostalgia, estava achando aquela simples conversa algo incrível:
            –Hun, e sabe onde ele está? – Indagou En’hain.
            –Ele partiu pro Vila dos Gatos, saber onde é?
            –Meu amigo, você está nela! – En’hain pôs a mão no ombro do inu, que começou a abanar a longa cauda freneticamente.
            –Então você conhecer um gato de pelo cinza azul com um olho?
            –Isso até parece de javu! Então você conhecer Gurei? Quero dizer, ele trabalha aqui...
            –(Finalmente!) – O inu falava em russo, mas sua animação era compreensível, aparentemente ele deve ter feito a mesma loucura que Gurei. – Encontrei Alexander!
            –Heheh... – En’hain sorria, mas em seus pensamentos ele pensava algo como “Porque aquele desgraçado não me disse?”.
            Nesse momento Gurei, que trazia Akai nas costas, estava chegando ao bar:
            –En’hain! – Gritou ele sem perceber que Sasha estava ali. – Como é que você agüenta essa pirralho o tempo to... do... Mas que merda é essa?!
            –Me parece que um amigo seu da Rússia veio te visitar... – Disse En’hain, com um sorriso sarcástico no rosto enquanto pensava: “Heheh, se fudeu!”
            –Alexander... – O cara de cachorro estava atônito com a chegada de seu amigo. – Senta! – Disse de repente e entrou dentro do bar.
            –Ora seu! – Gurei xingou muito o inu, falando pela primeira vez em russo ao mesmo tempo em que deixou Akai no chão e ia sentando calmamente, do jeito dele, numa cadeira das mesas externas. – En’hain, seu desgraçado, onde foi que você achou o Sasha?!
            –Nyaaa?! – Akai estava confuso com aquilo.
            –Então ele é o seu dono?! Pensei que tivesse sido criado por humanos...
            –Argh! Eu fui... Pelos pais dele, ele era muito pequeno pra saber da minha existência... Aliás, eu não tinha a menor ideia de que ele era um lobisomem...
            –Heheh... – Akai subiu nas costas de En’hain enquanto isso.
            –Tire esse sorrisinho da cara, senão eu arranco o teu coro de dragão! – Gurei apontava as garras felinas com olhar assassino.
            –Relaxa! – En’hain olhava para Akai que estava com a cabeça em seu ombro.
            –Ahn? – Gurei estranhou, pensava que En’hain iria tirar sarro da cara dele.
            –Ele era diferente, não era? – En’hain deu um pirulito para Akai.
            –...?! – Gurei parou por um instante, desviando o olhar em seguida.
            –Me diga uma coisa, o que os pais dele faziam? – En’hain deu um pirulito pro Gurei também.
            –... – Gurei hesitou por um instante. – Eram da máfia russa...
            –Então tá explicado... Veja, ele está voltando.
            O dialogo estava se desenrolando em russo no começo, mas acabou por terminar na nossa língua:
            –Por que você fugir? – Perguntou Sasha.
            –Porque eu quis... – Gurei desviava o olhar.
            –Ele não aguentava mais os maus-tratos... – Se intrometeu o barman.
            –En’hain não se intrometa na nossa conversa! – Gritou Gurei.
            –Nem pensar... Você é meu amigo e ele precisa saber... – En’hain fazia cafuné em Akai.
            –Saber o quê? – Procurou saber o cão russo.
            –Droga! Ele não precisa saber... – Gurei estava muito exaltado.
            –Saber o quê?! – Insistiu Sasha.
            –Foram os seus pais que deixaram essa cicatriz no rosto dele...
            –Filho da puta! En’hain, você me paga!!! – Gurei estava mais violento que gato com medo com de água que sabe que vai tomar banho.
            –Eu já saber... – Falou Sasha.
            –Ahn?! – Gurei estava confuso.
            –Como é?! – En’hain pensava, “estragou tudo”!
            –Por isso vir atrás de você, você esquecer isso. – Sasha tirou de sua velha sacola o maior tesouro de Gurei.
            –Minha caixinha! – Uma lágrima despontava no canto do olho de Gurei.
            –Você não tinha perdido ela?! – Perguntou En’hain.
            –... – Gurei ficou olhando para ela por um momento. – Podem nos deixar a sós?
            –Claro... – O que En’hain pensava por trás do sorriso forçado era algo como: “Caralho, justo na melhor hora!
            En’hain se retirou com Akai e foram pra dentro do bar. O barman terminou de fazer a sopa – Sasha tinha tomado mais da metade. E ficou pensando no que os dois estavam falando lá fora:
            –Nyaaa?! Você não quer saber o que os dois estão fazendo? – Perguntou Akai.
            –Não, não quero Santiago... – En’hain estava perdido em seus pensamentos.
            –Nyaaa?! – Akai estranhou um pouco ser chamado pelo nome.
            –E você, bichinho levado, trate de escovar mais os dentes. Comendo tanto doce assim você vai acabar ficando com cárie.
            –Nyaaa... – Akai não gostava que mandassem nele, mas estava curioso. – Como você sabe?
            –Eu apenas sei, meu amigo.– E ficou olhando para na direção da porta, pensando no que acontecia do lado de fora. – Eu apenas sei...
            Foi assim que na Vila dos Gatos começou a ter também um cachorro...

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Os Caçadores Sombrios


Senhora de Castelo, Laryssa de Agabier,
é atacada por Caçador!
Informe do Multiverso



Começando transmissão...

            –Sim, foi confirmado que a Senhora de Castelo Laryssa do reino de Agas’B e seu fiel amigo e autômato Azio relatam terem sido abordados enquanto se encaminhavam para a ilha de Ev’ve para dar suporte na caçada aos caçadores. Estamos aqui com ela, a famosa mulher que foi admitida na Academia da Ordem dos Senhores de Castelo especialmente para que ela mesma nos fale sobre o ocorrido. Conte-nos Laryssa, como foi, o que realmente aconteceu? – Iniciou Fentáziz, o repórter.
            –Eh, bem... – Laryssa se sentiu um pouco constrangida em estar falando paras as câmeras, coisa da vaidade, talvez. – Acho que não foi um ataque muito bem sucedido...
            –Por favor, não pare, todos querem saber o que aconteceu! – Disse Fentáziz empolgado.
            –Aconteceu um imprevisto e...
            –E?
            –Bem, foi assim. Eu estava no reino de Agas’B, onde sou princesa, retornando de uma missão que tive no deserto da Solidão, no meu planeta natal, quando recebi uma carta mágica mandada pela Ordem. Na carta dizia: “Querida Laryssa, venho lhe pedir que compareça com urgência ao Conselho de Nopporn, para se juntar ao grupo de repressão aos Caçadores Sombrios. Thagir não está lidando muito bem com a pressão de lidar com tamanha responsabilidade. A presença de uma amiga poderia ajudar muito agora...”
            –E quem mandou a carta? – Disse Fentáziz tentando tirar mais informações da moça.
            –...! – Laryssa ficou vermelha. – Isso não vem ao caso...
            –Por favor, continue...
            –Onde eu estava? Ah! Sim... Prontamente me pus a caminho da ilha de Ev’ve no primeiro navio boreal que partia para cá. Ele tinha uma parada antes de chegar, mas fiquei muito feliz que aquilo tenha ocorrido...
            –O que aconteceu?
            –Para minha surpresa, meu querido amigo Azio embarcou no navio durante aquela parada.
            –Algum motivo em especial?
            –Ele também havia recebido a mesma mensagem. – Laryssa olhava para baixo tentando esconder o olhar. – Depois de recepcioná-lo corretamente... – O autômato, que estava atrás das câmeras, piscava os olhos vermelhos, pensando em algo diferente. – Nos retiramos para nossos aposentos e passaríamos a noite assim, para chegarmos aqui pelo amanhecer da ilha de Nopporn.
            –Foi durante a noite que ocorreu o ataque?
            –Sim... Eu estava sem sono, ansiosa para chegar e reencontrar este lugar tão maravilhoso. Resolvi ir para o convés do navio e observar as estrelas para passar o tempo e encontrei alguém muito estranho.
            –Era um Caçador?
            –Não sei ao certo. Ele era alto, bonito, jovem, vestia roupas de bardo, com um chapéu com pena e tocando uma bela canção em sua lira. – Laryssa tinha ar de desprezo. – Eu não iria falar com ele, mas ele insistiu em falar...
            –O que ele lhe disse?
            –Ele disse o seguinte: “Boa noite, bela donzela”, eu achei estranho, mas já que estava escuro mesmo, não falei nada. E continuou: “Meu nome é Singo, o bardo do luar, um encantador de feras. Gostaria de ouvir uma de minhas músicas? Acabei de compor esta quando vi sua grande beleza atravessar aquela porta”. Eu pensei: “O que esse homem quer comigo? Tentando uma cantada?”, não falei nada, não queria ser indelicada. E ele começou a tocar. A melodia era linda, parecia me fazer ver os melhores sonhos da minha vida, me fazendo suspirar...
            –Era um encantamento?
            –Possivelmente. Havia alguns animais logo abaixo de onde estávamos e eles, antes ouriçados com o estresse da viagem, pararam do nada. Até o brilho das estrelas havia diminuído com aquelas notas, como se adormecessem na mais bela das canções. Aquilo era mágico...
            –E como saiu do transe hipnótico?
            –Que transe?
            –A Senhora de Castelo não caiu no transe do encantamento?
            –Hun... Não. – Laryssa estava pensativa. – A música era bonita e tal... No entanto, creio que não caí no feitiço.
            –Você sabe como?
            –Não sei ao certo, acho que sou imune a ele. Minha aura natural que me possibilita falar com os animais tem atrativos poderosos que herdei de minha mãe...
            –... – Fentáziz fez um momento de silêncio, pensando na próxima pergunta. – E o que aconteceu com o bardo?
            –Eu fiquei parada, ouvindo. Do nada ele se virou para mim, segurou levemente o meu queixo e tentou me beijar...
            –Ele conseguiu beijá-la?
            –Ah! Nem me fale nisso! Dei lhe um chute bem dado e voltei aos meus aposentos.
            –E o que aconteceu a ele?
            –Lembro-me de deixá-lo gemendo. Quando perguntei ao Capitão do navio se o bardo que estava abordo estava bem, ele disse-me que não havia bardo algum como passageiro ou tripulante.
            –Foi daí que lhe veio a suspeita?
            –Não... Foi quando fui ao encontro de Azio para lhe contar sobre o ocorrido. – Os olhos de Azio piscaram. – Quando entrei no corredor, as máquinas que haviam no lugar ficaram loucas. Procurei por Azio e o vi abraçado à...
            –O quê? – Fentáziz aproximou o corpo, demonstrando interesse.
            –Outro autômato!
            –Sério?!
            –Sério...
            –Não acredito! Ainda existem outros autômatos além de Azio?
            –Eu não sei dizer... O multiverso é grande, ainda temos muito que explorar.
            –E como saber se o autômato não era uma simples máquina? – Indagou o repórter.
            –De acordo com o Azio... – Ela acenou para ele, que correspondeu ao sinal levantando a palma da mão, sem erguer o braço. – ...ela se apresentou formalmente a ele, como faziam os binalianos.
            –Ela? Existe autômato fêmea? – Perguntou o repórter mais surpreso ainda.
            –Como disse, eu não sei ao certo, não entendo de robótica ou automação. Ele me disse que ela o escaneou a laser transmitindo lhe todas as informações. Seu nome era Elatra. – Azio piscou novamente os olhos, abaixando levemente a cabeça para frente, em sinal de consentimento. – Suas formas eram delgadas como de uma mulher, o corpo metálico era prateado, tinha uma faixa metálica na altura dos olhos e duas antenas no lugar das orelhas. Acho que era isso...
            –E o que os dois estavam fazendo ali?
            –Pelo que percebi, ela estava emitindo um sinal supersônico que reagiu aos controles internos de Azio que estava parado, completamente estático contra a parede e seus olhos não paravam de piscar. Além disso, algumas faíscas estavam saltando de suas ligações internas, sugerindo um curto-circuito.
            –Aconteceu tudo isso?!
            –Foi o que ele me disse depois que eu gritei o nome dele... Elatra se assustou comigo e desapareceu, como um fantasma, o que sugeriu interação direta de poderes espectrais. O resto é história...
            –Muito bem... Obrigado por essa participação extraordinária Senhora de Castelo Laryssa, seus fãs do multiverso vão adorar revê-la!
            –Que é isso! – Laryssa sorriu com a lisonja. – Obrigado você por manter todas as sedes da Ordem a par de todos os acontecimentos no multiverso!
            –Estivemos aqui com esta fantástica mulher, guerreira, Senhora de Castelo e acreditem ou não, ela ainda é princesa! Esperamos que logo, logo possamos anunciar com exclusividade o seu casamento! – Laryssa voltou a ficar vermelha. – Até o próximo Informe do Multiverso!

...

Gravação continua...

...

            –Gravou tudo diretinho? – Perguntou Fentáziz ao cameraman.
            –Sim, senhor.
            –A entrevista ficou perfeita. – Voltou se para Laryssa. – Você deveria pensar em apresentar um programa para o quarto quadrante, sua simpatia ilumina o lugar!
            –Obrigada... – Laryssa foi em direção de Azio, para segurar lhe a mão.
            Nesse momento, alguém de branco chama a atenção de Laryssa, que vai alegre ao seu encontro. Aparentemente a moça foi surpreendida com uma bronca:
            –O que você está fazendo?! – Disse baixinho.
            –Mas eu só... – Tentou responder.
            –Não fique andando por aí falando com qualquer um... Temos suspeitas de que alguém pode estar traindo a Ordem!
...

Transmissão encerrada...

Elatra: Até entendo porque o Azio caiu na armadilha...