quinta-feira, 24 de maio de 2012

Devil's Drink 17 - Sasha 2ª parte


            Não teve jeito... Sasha só arranjou problemas no bar, a começar pelo seu mau hábito:
            –Eu querer vodka! – Exigia o russo com cara cachorro.
            –Nem pensar! – Disseram Gurei e En’hain.
            –Você não tem idade pra isso! – Falou Gurei.
            –Se quiser trabalhar aqui terá de trabalhar sóbrio! – Completou En’hain.
            –Au! – Sasha não conhecia muito bem outras culturas e estranhava aquele jeito de ser tratado. – Meu avô sempre me dar um trago...
            –Fique sabendo que ele é um velho tapado! – Se irritou Gurei. – Ele não tinha nada que ficar levando você pra cima e pra baixo no inverno russo!
            –... – Sasha fez cara de cão sem dono, literalmente.
            –Pega um osso... – Disse Gurei.
            –Gurei?! – En’hain olhou para ele.
            –O quê? – Sasha ficava com olhos fixos no pedaço de osso. – Ele adora isso.
            –(Nhac) – Sasha mordeu o pedaço de osso e foi para fora, provavelmente para roer.
            –Não disse? – Gurei olhou de volta para En’hain, chacoalhando a mão por ter sido quase mordido.
            –Isso não é motivo pra você tratar ele assim... – En’hain cerrou os olhos e sua típica fumaça voava pela cabeça. – Você não tem nada melhor pra fazer não?
            –Não te interessa... – Gurei deu as costas pra En’hain.
            Era difícil dizer que você se importa com alguém. Quando os seres humanos só pensam em extrair os poderes mágicos de um ser sobrenatural, eles costumam ser exageradamente cruéis, tal qual foi o caso de Gurei. No meio da desgraça, passando fome e sede, receber um prato de comida e um pouco de água de uma pequena criança te faz repensar a vida, ou mesmo seu ódio...
            Naquele dia, Lady Neko já estava melhor e finalmente voltaria ao Bar Toca dos Gatos:
            –Oi amores, voltei! – A gata trajava um vestido fino, babado, provocante no colo, justo na cintura. – Mas o que é isso?!
            Naquele momento de relapso, Gurei e En’hain se lembraram que Lady Neko poderia voltar a qualquer momento e, se depender daquele momento vergonhoso em que ela derrubou o Senhor Gunshin, algo muito ruim poderia ocorrer ao Sasha. Foram ver como o cachorro estava e viram algo muito estranho:
            –Não acredito! – Disse En’hain.
            –Esse cachorro só me envergonha! – Falou Gurei levantando as mãos e olhando para cima.
            –Socorro! O que esse cachorro tem?! Ele não larga da minha perna! – Lady Neko balançava o cachorro no ar com sua tremenda força e mesmo assim o cachorrinho continuava grudado nela.
            –Só tem um jeito de resolver isso... – Gurei entrou no bar e voltou com uma garrafa de vodka. – Sasha? Olha a vodka aqui...
            –Gurei!!! – En’hain olhava para o gato de cabelo cinza azulado com indignação.
            Sasha então pulou da perna de Lady Neko direto na garrafa. Gurei não pensou duas vezes e deu uma garrafada na cabeça dele:
            –Você tem um jeito muito estranho de fazer as coisas... – E lá vem a fumaça de En’hain...
...
            Depois de algum tempo, tudo foi explicado à Lady Neko que, pobrezinha, estava com os nervos em frangalhos de tão frágil que ela é:
            –Não quero saber! Tirem esse vira-lata daqui! – Berrava a moça. – Ele destruiu a minha meia favorita!
            –Se acalme Lady Neko. – En’hain pedia por compaixão.
            –Se depender de mim, ele pode é ir embora... – Disse Gurei com o rosto virado para o outro lado.
            –Você também? Não creio! Até tu, Brutos, meu filho! – En’hain fazia um encenação dramática.
            –Vai ser melhor pra todo mundo... – Gurei tinha um tom sério.
            –...! – En’hain se calou por um instante. – Quer conversar?
            –Não. Quero que ele vá embora... – Gurei saiu do quarto de Lady Neko, desceu as escadas e saiu do bar, deixando En’hain pensativo.
            No quarto destinado a Sasha, o mesmo de Gurei – a casa já estava ficando apertada pra tanta gente – En’hain foi falar com o cão sem dono que estava com a cabeça completamente enfaixada:
            –Sasha? – En’hain dava alguns toques para acordar o russo.
            –Estar dormindo, voltar mais tarde... – Disse, descaradamente.
            –Gurei disse que prefere que você vá embora... – En’hain sentou e ficou de cabeça baixa.
            –Ser melhor eu ir...
            –Mas... Quando eu vi vocês dois rindo juntos, pela primeira vez eu vi Gurei sorrir sem ser por sarcasmo ou por tirar sarro de mim. Ele sorriu de verdade... Você precisa falar com ele. – En’hain se levantou e ia sair do quarto.
            –Por favor, esperar... Precisar que veja uma coisa. – En’hain parou na porta e Sasha começou a tirar as bandagens.
            –Você... – En’hain olhou para o russo que não estava mais como antes.
            –O efeito da lua finalmente passar... Alexander odiar humanos. Melhor eu ir.
            –Não. Não e nunca vai ser. Ficar adiando o dia em que você vai entender o quanto está errado só vai te tornar alguém vazio, inútil e descartável. Acredite. Isso não dá certo... – Ele saiu da sala e Sasha ficou pensando naquilo.
Saindo para se encontrar com Gurei, En’hain sentiu uma coisa ruim nele, uma sensação infeliz e triste que queria fazê-lo chorar. En’hain limpou o canto do olho e ouviu uma piadinha infame:
            –Você está chorando, tubarão? – En’hain olhou para Gurei que estava de novo com aquele sorriso falso, de gente mesquinha e fútil.
            En’hain cerrou os olhos, em sinal de indignação. Não deu muita importância e seguiu andando. Parou um pouco e disse:
            –Você precisa falar com ele... Se ele for embora, a parede de silêncio vai fazer com que ele se esqueça completamente de você. – E continuou andando.
            Sasha desceu as escadas e ficou atrás da porta para falar com Alexander que estava do lado de fora:
            –Você realmente querer que eu vá?
            –... – Gurei não falou nada.
            –Me responda, você querer que eu vá? – Sasha insistiu.
            –... – Gurei continuou em silêncio.
            –Pela Grande Mãe Rússia, me dizer, por favor... – Sasha saiu detrás da porta e virou Gurei para que ele respondesse, Gurei estava chorando...
            Os dois conversaram melhor depois daquilo. E também porque tomaram uma bela garrafa de vodka:
            –Seus desgraçados! Porque foram beber!
            –E... qual o probleminha moço... ou serão... moços? – Disse Gurei, mais mole que gato escaldado se esparramando pela mesa. – Hihihi...
            –Vocês estão completamente bêbados! – En’hain estava vermelho de raiva, soltando mais fumaça que um trem a pleno vapor na ferrovia.
            –Viva a vodka! – Disse Sasha sem nenhum senso de noção, vindo a dormir em seguida, com o copo ainda na mão.
            –Boa... ideia... – Gurei dormiu também.
            –Cacete... Eu dou uma saidinha pra ver se os dois se acertam e quando volto encontro isso?! – Lady Neko aparece andando de fininho por trás de En’hain levando uma garrafa na mão. – Lady Neko!!!
            –Miau?!
            Foi isso...

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