segunda-feira, 18 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Comedor de Sonhos



            Kullat estava morto, não havia como voltar atrás... Thagir nunca sentiu tamanha angustia e tamanho desespero, coisas ruins e terríveis lhe passavam pela cabeça. A Espada do Infinito reagiu ao desejo de seu mestre e uniu-se a ele, penetrando em sua carne, corroendo o seu ser e sua alma. O Senhor de Castelo se contorcia em dor, lamuriando palavras inaudíveis. O artefato místico não deveria ser usado por seres simples como os humanos, seu poder é incalculável e qualquer um seria corrompido pelas próprias emoções. Laryssa via incrédula a transformação do amigo que perdia as feições humanas que borbulhavam e se desfaziam no chão. Era luminoso, quente e se podia ver através dele, um ser de energia pura estava nascendo. Definitivamente, aquilo não era mais Thagir... Aquilo passara para um novo nível de consciência... Thagir era agora um deus!
            Laryssa parou de chorar pela perda que teve, seus sentimentos pareciam estar sendo controlados, pois, aquilo que era dor e lamento, foi transformado em medo e pavor. Sentia algo aterrador tomando sua alma, esmagando-a feito uma diminuta formiga que é subitamente destroçada por algo imenso. A consciência dela havia se apagado, desmaiando sobre o corpo de Kullat. O embate começaria: um deus contra um comedor de sonhos!
            A coisa que se debatia para fora da fenda espacial começava a tomar forma e caiu próxima ao novo deus. A sua frente ele surgia com feições diabólicas e humanas, tomado por chamas escuras, três olhos vermelhos, chifres e garras afiadas:
            –Finalmente! Depois de milhões de bilhões de anos, assumi uma forma!!! – A criatura gritava, a luz parecia se distorcer ao seu redor. – O Mestre Caçador nasce!!!
            –Não esteja certo disso! – O novo deus apontava a espada do infinito na direção do comedor de sonhos. Ela simplesmente surgiu em seu braço, entrelaçando-se até mostrar o duplo fio agudo.
            –Hihihi... – O riso dele dava alguns estalos. – Estou com fome! Muita fome!!!
            –Volte para o lugar de onde veio, criatura das trevas! – A voz divina era muito forte.
            Os dois começaram a se movimentar com grande velocidade, golpeando freneticamente onde podiam. Os poderes eram opostos e se anulavam, onde o novo deus golpeava surgiam fendas que lembravam a criação de um novo universo e o comedor de sonhos, que devora o que existe, fazia sumir a matéria que tocava. O embate poderia durar para sempre...
            Micah, que viu tudo de perto, correu com sua moto elétrica e chamou alguns Senhores de Castelo para tirar os corpos de Laryssa e Kullat do local da batalha. “Eles não devem ficar ali”, pensou ele. A Senhora de Castelo continuava desacordada.
            Os Senhores de Castelo, que sempre se preocuparam com a paz, assistiam de perto a batalha titânica. Eles olhavam aquilo muito tristes, sentindo um grande pesar em seus corações, chegando a derramar algumas lágrimas, pois era possível ouvir os seus corações lhes dizendo que universos inteiros estavam sumindo no vazio e que, a cada segundo que passava, um número incontável de mortes acontecia. Um criador só pode criar e um destruído só pode destruir.
            –Porque não desiste?! Minha força é muito maior que a sua! – Disse a criatura.
            –Desista você de me fazer desistir! Nunca vou deixar de lutar! – Respondeu o ser divino.
            –Tem certeza? Tem certeza de que quer abrir mão daquilo que ama?! Você pode ressuscitar o seu amigo Kullat!!! – O comedor de sonhos jogava sujo.
            –...! – Quando aquilo lhe passou pela mente, o novo deus hesitou por um simples segundo, sendo o suficiente para ser golpeado pelas garras da inexistência no peito, que o ferira profundamente.
            –Agora você é meu! Passei todo esse tempo com aquela minúscula brecha para o seu mundo sorvendo conhecimento, aprendendo como vocês são, o que fazem e o que deixam de fazer... Patéticos! Essa palavra que vocês criaram é perfeita para vocês. Patéticos! Hahahahahahahahahaha.... – A entidade cósmica gargalhava sem tirar os olhos famintos de sua presa.
            –Pode ir parando por aí mesmo!!! – Uma voz transmitida pelos alto-falantes da ilha de Ev’ve, começava a se pronunciar.
            –Quem ousa me interromper! – A entidade cósmica se irritou. – Eu sou Ébano! Ser mais antigo que o multiverso! Vi tudo o que foi criado, ninguém pode evitar a minha vontade! Mostre se para que eu possa consumi-lo e fazê-lo deixar de existir!
            –Olha, que medo! – Seu ar era de zombaria. – Ele vai consumir a existência! Estou pouco me lixando pro que você quer! Você nunca derrotará os Senhores de Castelo!
            –É você arauto?! Não aprendeste a lição?! Somente eu devo existir!
            –Não, desculpe, se esperava pelo arauto, esta foi a ligação errada. Aqui quem fala é Fentáziz e estou prestes a conseguir a sua derrota!
            –O que no multiverso inteiro poderia me derrotar?! Mostre-me e eu a farei sumir definitivamente junto com você!
            –Lembra-se da Sinfonia do Caos? Aquele cântico que Alvora e Lux usaram para desmanchar Oririn?
            – Hahahaha! – Ele ria histericamente. – Aquilo é poderoso, mas não funciona comigo!
            –Eu não estava me referindo àquilo, seu idiota!
            –E o que seria então?
            –A Canção Celestial!
            –Você sozinho nunca teria poder para invocar este poder ancestral que criou o multiverso!
            –E quem disse que eu estou sozinho?!
            –Como?!
            –Não sou apenas eu que invocará a Canção Celestial... Eu tenho o coro de anjos perfeito ao meu alcance!
            –Qual, seu verme patético?! Mostre-me logo para que eu o devore! – Sua inquietação era visível.
            –Eu tenho o multiverso! Todos vocês que estão nos escutando pelo Informe do Multiverso que alcança as mais longínquas distancias que nenhum feixe de luz seria rápido o bastante para chegar, ouçam meu pedido! Concentrem-se no Mestre Thagir, ele precisa de vocês! Invoquem das profundezas do multiverso o seu mais sincero e grandioso apelo em nome do ser que está se sacrificando para salvar nossa existência! Façam o multiverso vibrar com o coro dos anjos! Invoquem a Canção Celestial!!! – Fentáziz ligou o som no máximo. – Bota pra quebrar Azio!!!
            E assim se fez, todos os transmissores estavam vibrando e replicando a grande quantidade de maru que era mandada por todas as sedes da Ordem dos Senhores de Castelo do multiverso que chegavam à torre do farol e recebiam carga máxima extraída da última fonte de energia da ilha, a chama de Nopporn. E não eram apenas Senhores de Castelo ou aprendizes que se juntaram a grande força, populações inteiras que também estavam ouvindo mandavam suas preces para o novo deus que recobrava suas forças. E haviam mais, criaturas, monstros, plantas... Seres de todos os tipos, cores, formas e tamanhos; elementais, naturais, espirituais ou espaciais, todos suplicavam em nome de Thagir. Os reféns que estavam dentro das Estrelas Escuras e os castelares que se libertaram junto com Fentáziz, também escutavam e imploravam por sua volta. Dânima, que sentia como ninguém aquela força ao lado de suas filhas, viu os Caçadores Sombrios derramando lágrimas e se esforçando para romper com o controle do Mestre Caçador, juntando-se àquela imensa oração.
            –Vamos lá minha gente! Derrotem todos juntos o comedor de sonhos! – O novo deus estava repleto de poder e luz, muito mais do que antes.
            –Não... Não... Não!!! Vocês são insignificantes! Vocês não podem ir contra a minha fome!
            –Então fique saciado de uma vez por todas! – O deus Thagir penetrou o fio duplo da espada do infinito no peito da entidade que se torcera, abrindo um buraco maior. – Agora compreendo o que eu preciso fazer!
            Com a outra mão, Thagir tirou do ferimento prestes a se fechar no peito o coração de Thandur que carregava dentro de si e o pôs na abertura que fez com a espada do infinito. O comedor de sonhos tentou devorar aquilo como tudo que fazia, buscando dissolver aquela grande quantidade de maru, mas havia algo errado, quanto mais ele tentava destruir aquela jóia, mais a energia dela se ampliava:
            –O que é isso?!!! O que você fez comigo?!!! – O comedor de sonhos estava contendo os seus movimentos, ficando paralisado.
            –Isso é algo que você nunca conheceu... ISSO É AMOR!!!
            Quase estática, a criatura parecia ter uma indigestão com a jóia que pulsava como um coração após ter absorvido tanta maru vital, se contorcendo vagarosamente. A criatura começou a chorar, sentindo dentro de si sentimentos ternos e emoções do qual não entedia, não era possível dissolver algo que é verdadeiro e sincero. Suas chamas diminuíram, sua fome estava sendo saciada e seus olhos começaram a se fechar. Por fim, não havia mais nada...
            O deus Thagir olhou para cima e viu o buraco espacial que continuava aberto, podendo se ouvir lamentos lá dentro, apontou a espada do infinito para lá e voou na direção da fenda. Juntou energia entre as mãos formando uma esfera que brilhava mais que uma estrela, que reconstruiu o tecido espacial corrompido. Provavelmente aquele não era o único comedor de sonhos...
            Fentáziz olhou pelos telões e não teve dúvida do que fazer:
            –NÓS VENCEMOS!!! NÓS VENCEMOS!!! – O sentimento era incontrolável.
            O multiverso era grande, mas naquele momento, ele era um só e estremeceu ao som do grito dos que assistiam a épica batalha dos Senhores de Castelo.
...

Transmissão continua...

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Dia de Bravura



            “De todos os treze dias de desafios que um aprendiz deve enfrentar para se tornar um Senhor de Castelo, nenhum é mais simbólico do que o Dia de Bravura. Este dia foi feito para separar pessoas comuns dos verdadeiros heróis, pois é neste dia que você tem que escolher entre uma vida livre ou a responsabilidade de arcar com todas as suas promessas, levando-as até o fim. Nem que você tenha que morrer para isso...”

...

            Dentro dos tubos continentais das estrelas escuras, as pessoas que haviam sido sequestradas acordavam do seu estado hipnótico. Laryssa, Azio e todos os outros Senhores de Castelo e aprendizes estavam lá, sem saber exatamente o que estava acontecendo. De repente, um burburinho que já estava se tornando uma algazarra lhes chamou a atenção. Laryssa e Azio correram para ver o que estava acontecendo e viram Fentáziz tentando abrir a porta do cilindro à força. A Senhora de Castelo perguntou:
            –O que você está fazendo Fentáziz?
            –Temos que sair daqui! Thagir e Kullat estão lá sozinhos! – Juntando a sua maru mágica, o repórter continuava atacando insistentemente a porta que não se abria.
            –Como você sabe que eles não estão aqui, este lugar é grande, eles devem...
            –Não! O sistema de transmissão específica ainda está funcionando, eu os vi lá fora... O comedor de sonhos está livre!
            Percebendo a gravidade do caso, Laryssa e Azio se puseram a ajudar, assim como outros Senhores de Castelo. A porta era hermeticamente fechada, mas não era duas e logo veio abaixo. O grito de guerra pode ser ouvido mesmo do lado de fora do colosso espacial.
            O simples repórter tinha certeza do que deveria fazer e começou a gritar do lugar mais alto que havia encontrado:
            –Escutem todos, precisamos dos castelares engenheiros aqui! – Laryssa apoiava o repórter, gritando o mesmo.
            –Do que precisamos Fentáziz? – Perguntou Azio.
            –Precisamos ligar os corredores infinitos diretamente na ilha de Ev’ve... Só assim conseguiremos chegar até lá...
            Então, os maiores gênios dentro da Ordem dos Senhores de Castelo se apresentaram e começaram a fazer o seu trabalho. Discutindo aqui e ali, fazendo soldas e mais soldas, ligando fios, usando seus teclados aéreos para fazer cálculos e mais cálculos. Dentro de alguns minutos o sistema estava ligado e funcionando perfeitamente, levando a multidão para as docas boreais. Laryssa olhava para os lados, procurava por Fentáziz:
            –Onde eles estão? Diga-me! – A Senhora de Castelo sentia algo ruim em seu coração.
            –Segundo os receptores... – Fentáziz sentia os sinais emitidos dentro de sua cabeça. – Kullat está no pátio secundário, atrás do conselho, e Thagir está indo atrás dele. Kullat está segurando algo em suas mãos... Desculpe, a recepção está ficando difícil, o comedor de sonhos deve estar devorando o sinal.
–Certo... Obrigada! – Laryssa começou a correr a pé, o mais rápido que podia.
–A Senhora de Castelo gostaria de uma carona? – Um motoqueiro de preto parou ao lado de Laryssa.
–Você de novo!
–Surpresa em me ver?! Que amor... – Laryssa não quis saber e subiu na moto elétrica.
–Vamos para o pátio secundário Micah! Pode exagerar o quanto quiser na velocidade!
–Deixe comigo! – E Micah acelerou com tudo, saindo em disparada.
–Mestra Laryssa! – Azio havia ficado para trás.
–Você vem comigo latinha... – Azio olhou para os lados e viu o repórter. – Preciso de você para concluir o meu plano.
–E do se trata?
–Preciso ampliar as ondas do transmissor específico que estão no farol de Nopporn...
–E o que você pretende com isso?
–Fazer um verdadeiro milagre!
–...?! – Azio não computava tal informação, o que fazia seus olhos piscarem.
Mesmo assim, o autômato acompanhou o repórter do informe do multiverso aonde ele queria.
...

            Enquanto isso, Thagir tinha certeza de onde estava o amigo e simplesmente se dirigiu para lá, ativando a supervelocidade adquirida do verdadeiro coração de Thandur. Este artefato místico, além de aumentar os sentidos ao máximo, desacelerando consideravelmente a percepção do tempo, tem outra habilidade especial: ver o futuro. Como qualquer outra teoria do tempo, o futuro é algo incerto, capaz de ser mudado. No entanto, o que Kullat estava para fazer era algo que não poderia ser mudado...
            O Senhor de Castelo, perdido nas imagens que lhe vinham a mente incessantemente, torcia para que o tempo ainda não tivesse passado:
            –Kullat!!! – O oririano estava de costas para Thagir, segurando a espada do infinito que estava completamente inerte.
            –A energia dela se foi, não tem como combatermos o comedor de sonhos sem ela... – Seu tom era triste, parecia estar se aguentando para não chorar.
            –Kullat, não faça isso!!! – Thagir se detinha para evitar o pior.
            –Amigo, todas as vezes que estivemos juntos, todas as vezes que lutamos contra o mal, eu ainda não pude lhe dizer o quanto sou grato por tudo isso, por ter podido viver ao lado de um grande Senhor de Castelo. Confesso que sempre me senti inferior a você, por não ter tido uma família, mulher e filhos. Eu sei de minha condição como Senhor de Castelo, eu amo o que faço. Mas chegou a hora de retribuir tudo o que você fez por mim, este é o meu dia de bravura...
            –Não!!! Kullat!!!
            O manto branco do Senhor de Castelo, que tantas vezes iluminava no escuro e era um alento para os desesperados, perdera o brilho e começou a ser corrompido pelo vermelho de seu próprio sangue. Thagir correu para perto dele, sentindo a pior das agonias, tomado pelo desespero:
            –Kullat!!! Você não precisava fazer isso... – O sangue do companheiro estava em suas mãos, escorrendo pela espada do infinito.
            Laryssa havia acabado de chegar ao pátio secundário com a carona de Micah e correu para junto dos amigos:
            –Kullat... – A Senhora de Castelo estava sem palavras. – O que você fez seu idiota!
            Num último suspiro, Kullat tentou dizer algumas palavras, a castelar de Agabier se aproximou para ouvir:
            –Laryssa, eu... te...
            –Kullat? Kullat!!! Kullat... – Ela gritava o máximo que conseguia, chorando copiosamente. – Eu também te amo...
            Thagir e Laryssa choravam amargamente, mesmo depois de ter enfrentado Volgo e seus asseclas sanguinários tantas vezes, nada poderia ser mais triste do que aquela angustia. Um amigo é e sempre será mais precioso que qualquer multiverso...
Num último lampejo de esperança, a maru vital fora aceita e a espada do infinito estava novamente viva e brilhando, esperando ser empunhada por seu legítimo senhor...
...

Transmissão continua...

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Um ser de Ébano renasce



“A única coisa de que me arrependo, é de nunca ter sido amado...”

...
            Thagir e Kullat saíram do Labirinto Virtual e logo foram transportados repentinamente para a Estrela Escura onde o arauto do Mestre Caçador estava. De volta ao salão do centro de energia do colosso espacial, os castelares observavam os doze Caçadores Sombrios, seis de um lado, seis do outro, todos com as mãos para trás e o rosto baixo. O mago estava no chão, não se movera, estava com um ar estranho, estático e imóvel. Ao se aproximarem, notaram que no chão estava uma imensa poça de sangue e um fluido negro que gotejava constantemente do Ilusionista, o grande observador atrás do arauto. Isso preocupava os Senhores de Castelo, o que eles fariam agora que o arauto estava morto? Uma voz que trovejava por todo o salão quebrou o silêncio:
            –Me entreguem a espada!!!
            –Quem disse isso?! – Indagou Kullat
            –Creio que este seja o Mestre Caçador... – Thagir continuava com o olhar fixo na direção do mago.
            –Huuunnnhuuunnnhuuunnnnhuuunnn... Huuunnnhuuunnnhuuunnnnhuuunnn... – Os Senhores de Castelo reconheceram o som daquele dia em que haviam chegado à ilha de Ev’ve.
            –Quem é você, mostre-se! – Exigiu o pistoleiro de Newho.
            –Eu... Sou... Ébano!!! – O grande grimório usado pelo arauto flutuava no ar ainda aberto e se fechou, na capa um grande olho observava os dois castelares.
            –Então era aí que você estava esse tempo todo! Realmente, eu ainda não havia desconfiado de um objeto... – Thagir parecia despreocupado.
            –O que é isso? – Perguntou Kullat.
            –Este... Esta coisa é... Um comedor de sonhos...
            –Mas, eles não estão presos na dimensão do meio? Para que serve a espada e toda essa movimentação de corpos e estrelas?
            –Huuunnn... Como pode ver, estou preso e com a espada do infinito poderei finalmente sair!!! – Aquilo ecoava estrondosamente.
            A vibração da espada estava no máximo e foi puxada para fora da estrela junto com o livro. Todos os Caçadores Sombrios recitavam as mesmas palavras antigas compelidos por uma força externa anormal que Kullat e Thagir também sentiam. Os antigos chamam essa energia de “O coro de anjos”, dezenas, centenas, milhares, milhões de seres recitando o mesmo cântico. Os reféns deviam estar sobre a influência do livro. Quando essa melodia começou a tocar, as Estrelas Escuras finalmente se iluminaram, vibravam em uníssono, junto à ilha de Ev’ve. Era agora, o tempo e o espaço estavam se rasgando e a dimensão do meio se abriu. De dentro da fenda, uma massa disforme e escura tentava se por para fora aos poucos. O que fazer? As armas haviam acabado, o canhão de potência estava com a bateria gasta depois de tantos tiros, o novo cajado de Jord não poderia ir contra um ser capaz de comer a realidade. Algo horrível estava saindo e iria começar a devorar o multiverso! Thagir se concentrava e tentava lembrar-se daquele dia em Newho, ele estava esquecendo-se de algo e sentia que sua memória estava voltando. Olhou para todos os caçadores e reconheceu algo familiar:
            –Dânima! – Thagir estava livre do feitiço. – Meu amor, acorde!
            O Senhor de Castelo estava parado diante da grande arqueira dos Caçadores Sombrio, que não se movimentava:
            –Thagir, você tem certeza, ela não se parece com a sua esposa...
            –Eu sei que é ela... Naquele dia, ela era o segundo Caçador!
            Kullat estava incrédulo:
–Como poderia ser? Dânima nunca faria uma coisa dessas! Ela nem é guerreira!
–Meu amigo, ela é de Newho! Veja isso... – Thagir tirou a parte da roupa de couro que cobria o rosto, mostrando algo incomum.
–Isto é... – Kullat se aproximou para ver. – Uma tatuagem fantasma!
–Sim, tudo está fazendo sentido agora! É assim que o comedor de sonhos controla os Caçadores Sombrios. Deixe me ver... – Thagir sussurrou algo no ouvido da esposa e a tatuagem desapareceu, fazendo a rainha de Newho desmaiar, caindo nos braços de seu marido.
–O que você fez?
–Durante a luta que tivemos no alto da torre do castelo de Newho, fomos surpreendidos por uma pequena boneca de cachinhos dourados...
–Aquela usada por Inok, certo?
–Certíssimo! Dânima não se mexia diante dela e eu aproveitei para derrubá-la sem maiores esforços. Para meu espanto, aquela boneca medonha começou a falar uma única palavra repetidas vezes: “Dentro, dentro, dentro”...
–Dentro da boneca?
–Isso mesmo! Dentro dela havia um papel e uma jóia. Quando tentei ler o que estava escrito, as letras passaram para a minha mão e subiram, direto para a minha mente! É isso! Os Caçadores Sombrios estavam mandando uma mensagem, nela dizia sobre N’quamor, o contra-feitiço para a tatuagem fantasma e...
–E o que mais homem?! Não podemos perder tempo, o multiverso está sendo desintegrado lá fora!
–Dânima sabe o que precisamos fazer, ela precisa acordar! Acorde meu bem! Acorde! – A rainha não respondia. – Eu te amo...
Como um sopro de vida, as palavras de Thagir ecoaram nos ouvidos de Dânima, despertando-a de seu sono:
–Ahn? O quê? Onde estou? Thagir? Você está chorando? – A esposa passou carinhosamente a mão na barba de seu marido que a apertava fortemente, e ele segurou em sua mão em sinal de resposta.
–Dânima, meu amor, nós precisamos agir! – Thagir ajudava sua bela esposa a se levantar enquanto ela ia retomando a figura serena que o povo de Newho tanto amava.
–Sim, estou me lembrando... Precisamos dar corda nas engrenagens do arauto!
–Fruto da magia e da tecnologia... – Thagir olhava para Kullat, tentando diminuir seu espanto.
Os três se aproximaram do arauto e lhe tiraram a capa que cobria o corpo, mostrando um peito feito de vidro, completamente preenchido por rodas dentadas da mais fina espécie, delicadas e frágeis como flocos de neve. No lugar do coração havia um relógio, havia marcações de ano, mês, dia, hora, minutos e segundos; com uma inscrição por debaixo dos ponteiros: “A única coisa de que me arrependo, é de nunca ter sido amado...”. Dânima olhava para o mecanismo tentando se lembrar do que devia fazer e começou a contar ao marido o que havia acontecido quando fora sequestrada:
–Me lembro de estar com nossas filhas, eu estava bordando e elas lendo alguns livros. De uma hora para outra estávamos num lugar diferente, que parecia um grande cilindro onde cabia quilômetros de chão, florestas e rios... – Thagir prestava atenção na esposa. – Todos que conheço em Newho estavam lá, como éramos prisioneiras importantes, fomos levadas para outro lugar, onde conheci o arauto...
–Continue querida, você está indo muito bem... – Thagir tentava animar a esposa.
–Ele era gentil, nunca nos obrigou a nada... Mas um dia o livro disse que me queria, e o arauto se revoltou contra ele. O livro desregulou seu suporte de vida como retaliação e o deixou sofrendo no meio do chão, quase sem respirar. Ele disse que não queria ser visto naquele estado, eu insisti e me aproximei; e pude ouvir algumas notas musicais que me lembraram aquela velha canção que sua mãe cantava para nossas filhas. – Dânima começou a sussurrar a velha canção, tentando se lembrar, Thagir então pegou em sua mão suavemente e começou a acompanhá-la...
Aquela bela canção parecia surtir efeito, as engrenagens reagiam, se movimentando aos poucos. O arauto abriu os olhos:
–Sistemas em baixa... Tempo de funcionamento acabando... A espada do infinito não serve para destruir, apenas para criar... Ébano possui inteligência... Ébano não possui coração... Vão atrás de Kullat...
Os reis de Newho perceberam que o Senhor de Castelo de Oririn não estava mais com eles:
–Kullat!!! – Thagir gritou furioso.
–Meu amor, vá atrás dele... Eu vou ficar bem.
Thagir olhou para Dânima no fundo dos olhos e tirou um pedaço de papel do bolso, o mesmo que estava dentro da boneca, e entregou a ela:
–Cuide de nossas filhas... – Thagir ia sair e se lembrou de mais uma coisa. – Nunca mais vou me esquecer disso.
E os dois se beijaram, com a mais bela das ternuras, um amor verdadeiro, cuidado com requintes do destino, onde as duas almas, em qualquer lugar do multiverso em que estivessem, se encontrariam novamente para serem, de novo, uma...
...

Transmissão continua...

terça-feira, 12 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Luta e Sobrevivência


            Rigaht havia ficado louco, invocou um dos mais terríveis monstros já conhecidos: o Gaiagon. Apesar de aquela ser uma forma infante e incompleta, seu tremendo poder danificou seriamente as estruturas da árvore de aço, abrindo um rombo na construção. Lutar contra aquele devorador estava fora de questão...
            As duplas se separaram durante a fuga, caminhando por caminhos diferentes rumo ao topo. Thagir havia conseguido atirar no Nogaiag, o que surtiu grande efeito, fazendo-o cair, deixando-a ferida e raivosa na base da árvore. Descer não era mais opcional...
            Kullat pode proteger o amigo com seu poder de maru mágica que os envolveu, protegendo-os do ataque iminente. Infelizmente, o castelar branco fora seriamente ferido, perdendo muito sangue. O pistoleiro conseguiu estancar o sangramento com alguma erva mágica que lhe restava e pôs se a levar o amigo nas costas, subindo pela árvore, mesmo estando num estado tão pior quanto aquele – devia ter alguma costela quebrada, várias escoriações, os ouvidos não ouviam bem. Era como se ele fosse apenas uma máquina agora, agindo por impulso, andando apenas para tentar garantir a sobrevivência daqueles que amava. Não havia como pensar no futuro, no passado, ou no presente, sua única necessidade era para com a espada do infinito.
A mais de três mil metros de altura, a vibração da espada do infinito já podia ser sentida, um alento para um guerreiro cansado. Subindo o próximo lance de escadas, Thagir viu uma porta, disparou contra ela sua última munição e atravessou-a. Diante dele, o último andar, o topo da árvore de aço, um imenso chão de mais de um milhão de metros quadrados. Atrás dele um parapeito que dava para uma queda de morte certa, diante dele, no alto, uma esfera de energia quente e suave que brilhava como uma estrela e do lado oposto a porta por onde saíra havia outra porta. Não tinha certeza se conseguia ver direito, mas era o que parecia, ela estava aberta e, fraco como estava, poderia ser alvo fácil para os Caçadores. Thagir sorriu um pouco, lembrou-se do que o inimigo havia dito: “Ordem dos Caçadores Sombrios, imagine isso, uma ordem que não a dos Senhores de Castelo!”, pensava ele consigo. Ele olhou para Kullat que continuava dormindo, inconsciente daquela visão de um céu estrelado – ou que imitasse um – com uma estrela tão perto deles. Thagir levantou outra vez o amigo nos ombros e continuou andando, ainda havia um longo pedaço de chão para chegar ao centro do lugar.
Subitamente ele sentiu o chão tremer, estava atento para qualquer coisa que acontecesse e sentiu se levemente estranho quando o tremor parou. Olhou para cima e percebeu o que tinha acontecido, mais um andar tinha sido integrado à árvore de aço, deixando a espada do infinito mais próxima. Dando mais um passo, finalmente os adversários apareceram:
            –Hunhun... – Fez Rigaht caminhando uns poucos passos na direção dos Senhores de Castelo. – Vocês não têm uma proteção tão eficiente contra o Nogaiag... Provavelmente do seu lado do multiverso, vocês nem sabem onde eles estão!
            Os olhos do caçador estavam diferentes, muito mais distorcidos e loucos que antes. Thagir também havia notado outra coisa, que o caçador havia se apresentado sozinho e indagou:
            –Onde está o seu companheiro? Porque ele não aparece? Estou desarmado... – E pôs Kullat no chão para mostrar o consentimento.
            –Você realmente quer saber? – Seu sorriso malicioso se completava com o olhar demente. – Ele está bem aqui!
            O caçador se virou e Thagir pode ver que aquilo estava passando dos limites:
            –Isso é impossível!!! Como?!
            –Muito simples... Este é o efeito daquela droga! Hahaha... – A sanidade o abandonara completamente.
            Aquela cena era difícil de entender:
–Por que vocês fariam uma coisa dessas, juntar os dois corpos num só? – Perguntou Thagir.
–Somos mais poderosos assim... Veja! – O novo ser usava as manoplas de Droj, os braceletes das jóias de Rakardnal, o olho de Rudaht e trouxe para si o centro gravitacional de Droj que o orbitava, arremessando-o por cima dos outros prédios do labirinto.
A força era descomunal, nenhum dos enormes prédios resistia a toda aquela força combinada. Thagir não sabia o que fazer, deveria esperar pelo pior? Morrer com honra? Perder tudo contra uma aberração daquelas? Ele ficou parado, sem fazer nada, buscando em si alguma força que pudesse fazer sentido:
–Não está surpreso?! Espere para ver o que vou fazer com vocês! – O monstro caçador começou a caminhar na direção dos dois, rachando o chão ao seu redor, retorcendo os metais.
Naquele momento, Thagir só conseguia se lembrar do pai, daquele momento em que fora salvo do monstro do armário, vendo aquela imagem com perfeição. Sentia-se como se o rei Primir estivesse lhe dando algo como presente. A jóia de Landrakar reagiu a esse sentimento e liberou algo que estava travado nela há muito tempo:
–Este é... O canhão de potência! – Thagir estava maravilhado com a imagem daquela bela arma se materializando em seu braço que tinha uma pequena inscrição: Para meu filho. – Obrigado pai...
Com lágrimas nos olhos o pistoleiro levantou o canhão pesado e ativou a mira automática que logo que estava com carga máxima disparou contra o monstro. Seus poderes psíquicos desviaram o raio, evitando o choque, no entanto, ele foi arrastado uns dez metros. O monstro caçador bufava e transpirava indignação, estourando todo o chão ao seu redor que logo seria arremessado contra o Senhor de Castelo:
–Sabe o que eu mais adoro nessa belezinha? Ela recarrega muito rápido! – E disparou o segundo tiro que ultrapassou os pedaços de metal e novamente repelido pelo mutante que foi jogado para trás mais vinte metros.
–Otidlam!!! – O centro de gravidade parou no meio do ar e caiu no chão, o poder do caçador sobre ele havia cessado. – Argh!!! Ah!!! Hugh!!!
O caçador estava se contorcendo em dor, depois de ter usado tanto poder a mutação que unia os dois caçadores estava se tornando instável. Como Rigaht era a consciência dominante, era ele quem sofria mais, os circuitos internos que faziam parte das próteses eletrônicas de Talluk estavam sendo rejeitadas. A criatura vomitava os próprio órgãos. Thagir se preparou e disparou o terceiro tiro que fez a criatura voar uns duzentos metros para trás:
–Você não vai conseguir me derrotar... – O rosto do caçador se contorcia de diversas formas. – Oãrecelaverp serodaçac so!!!
–Você perdeu a luta quando quis tomar aquela droga... – E Thagir disparou o tiro final.
A criatura conseguiu se defender mais uma vez, sendo arrastada até a beirada da árvore, ficando dependurada. Ela tentava se segurando aqui e ali, porém, seus braços perdiam a rigidez e escorregavam. Lá em baixo, tremores repercutiam por toda a árvore, fazendo Thagir sorrir pelo canto da boca:
–Acho que o seu bichinho está com fome...
Mais um tremor e a criatura disforme despencou os mais de três quilômetros de altura direto na boca do faminto Nogaiag. Thagir relaxou, ajoelhando-se sobre as pernas e olhou para a jóia de Landrakar:
–Então era por isso que o limite dessa jóia era tão inferior a minha... – Kullat começou a acordar. – Kullat, você está bem?
–Acho que sim... – O castelar branco se levantava com a mão na cabeça.
–Meu amigo, nós conseguimos... – Thagir sorria aliviado.
Com os dois guerreiros de Curanaã e Oririn juntos, a espada do infinito reconheceu a sua vitória e desceu para perto deles. Ela mantinha grande intensidade luminosa e vibrações revigorantes que trouxeram de volta a força e o vigor dos Senhores de Castelo. Sua forma eram dois longos filetes de metal prateado puro e polido, refletindo a imagem ao seu redor como um espelho, e se entrelaçavam em espirais na empunhadura:
–Agora só nos falta encontrar o verdadeiro Mestre Caçador...

...

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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios

Os Inversos Rigaht e Talluk



            O guerreiro de casaca vermelha continuava a manipular a mente de Kullat, invadindo o seu maior desgosto, o seu maior medo. Thagir, desnorteado, tateava para se aproximar o suficiente do inimigo para conseguir mirar com mais perfeição e não atingir o companheiro por engano:
            –Kullat! Acorda!!! – Thagir gritou e o castelar reagiu, tomando novamente a aura espectral que sempre o cobre nos combates.
            –...! – O cavaleiro branco puxou sua espada do chão e golpeou certeiramente o adversário no braço, afastando-o.
            –Mob... Vocês oãs extraordinários. – Rigaht falava de maneira inversa e na língua dos castelares ao mesmo tempo. – Isso foi apenas o começo!
            Da ferida de Rigaht larvas típicas de carne podre brotavam aos montes, enojando os Senhores de Castelo e curando sua ferida exposta. O paranormal liberou sua fumaça pela boca que logo o envolveu e inibiu a visão de Kullat, evitando que ele prosseguisse com o ataque. Talluk, que havia se escondido nas paredes da árvore de aço, ampliou o campo de alta vibração e tentou prender Thagir ao chão. O pistoleiro sentiu que o solo se desmanchava aos seus pés e deu um salto para evitar que fosse absorvido. Como o adversário estava perto, seu sentido aguçado conseguiu detectá-lo, então ele enfiou um dos bastões de combate com tudo na parede. Um gemido de dor e desprazer pode ser ouvido pelo andar. Thagir já conseguia ver melhor e foi para perto de Kullat:
            –Você está bem? – Perguntou o castelar de Newho.
            –Só meu orgulho foi ferido... E seus olhos, como estão? – Kullat retribuiu a atenção.
            –Melhores, já consigo enxergar, apesar da minha cabeça doer muito. – Thagir esfregava os olhos tentando agilizar a recuperação.
            –Pelo jeito vai ser um pouco difícil passar por eles...
            Os inversos se colocaram lado a lado na outra extremidade do andar da árvore. Talluk pegou duas coisinhas pequenas no bolso e deu uma para Rigaht, os Senhores de Castelo se indignaram com a cena:
            –Drogas?! Vocês usam drogas para lutar?! Lutem por sua própria honra!– Gritou Thagir querendo ter uma batalha mais digna.
            –Calado! – Respondeu Rigaht. – Não temos medo de lutar por nossa sobrevivência, isso ainda vai demorar a fazer efeito... Enquanto isso, por que não discutem com o meu Cão do Inferno!
            O inverso de Thagir finalmente havia usado a jóia de um dos seus braceletes, invocando uma grande fera, parecida com Mandíbula, o canino gigante, porém negra, fétida, de olhos vermelhos fumegantes com feridas por todo o corpo que rosnava raivosamente. O pistoleiro se lembrou que não conseguia converter maru orgânica para colocar na jóia de Landrakar e que ela era muito visada por pistoleiros por ser muito útil na hora de carregar objetos inorgânicos, a habilidade incomum de converter aquele tipo de maru era muito interessante:
            –É assim que você usa a jóia de Landrakar? – Perguntou Thagir.
            –As jóias de Rakardnal são muito raras... Seu poder de guardar seres vivos é muito útil quando se quer acabar com alguém sem deixar rastros, é por isso que tenho todas as cinco! – Seu tom era de gozação, pois sabia que o Senhor de Castelo tinha grande estima por dividir o poder das poucas jóias com o irmão, uma vez que só haviam mais três; pois Thagir destruíra a que era sua voluntariamente e só restaram a que está com ele, que era de seu pai e que fora roubada e reencontrada por ele, e outras duas de paradeiro ainda desconhecido.
            –Miserável! O que você quer dizer com isso?! – Thagir não queria acreditar na possibilidade que lhe passava pela cabeça.
            –Thagir, acalme-se, ele está tentando te desconcentrar...
            –Hahaha... – O inverso gargalhou profundamente. – Ataque Cão do Inferno!!!
            A fera foi para cima dos castelares e Thagir, para se defender, sacou novamente seu rifle e deu um tiro certeiro na cabeça da fera que voou para trás, caindo de costas. Ele estava apreensivo, sabia que aquele monstro não seria fácil de derrotar. E foi o que aconteceu: os mesmos vermes antes vistos em Rigaht brotavam do interior do animal convulsivamente, restaurando sua forma original. Rapidamente ele se pós de pé e foi com lentidão se aproximando novamente dos Senhores de Castelo, se dividindo em dois!
            Kullat temia que aquilo acontecesse, a fera diante dele era muito parecida com o guardião que encontrara na caverna dentro da montanha de Yaa, a mãe de todas as fadas, no planeta natal de Laryssa. Suas faixas se inflamaram em chamas brancas e pôs a suas mãos no chão que começou a se incendiar. As feras perceberam e pulavam de um lado ao outro a caminho dos alvos evitando serem atingidas. A que foi atacar Kullat, recebeu uma grande quantidade de maru de um golpe no dorso, ela caiu e o cavaleiro fincou-lhe a espada nas costelas prendendo-a ao chão, terminando de ser queimada. Thagir também deu um jeito de se livrar da fera que estava em seu encalço, usando uma nova munição da jóia de Landrakar no rifle que ardeu em chamas a fera com um único tiro. Apesar do impacto que as ofensivas tiveram, elas continuaram rosnando no meio de suas fogueiras:
            –Agora quem se irritou fui eu! – Kullat estava emanando maru descontroladamente e invocou o novo cajado de Jord, postando-se para o combate.
            Thagir confiou no amigo e tirou da jóia de Landrakar uma pistola incomum de cano largo, que misturava a carga de uma jóia de maru no tambor com a emissão de ondas continuas de uma arma binaliana:
            –Pelo jeito, você também se divertiu com as novas invenções do laboratório da Academia? – Thagir apenas sorriu em resposta ao amigo, enquanto mirava com atenção; o tiro tinha que ser preciso, pois aquela era apenas uma arma experimental.
            –Zev ahnim! – Talluk ficou a frente e seu peito mecânico se abriu, liberando uma esfera negra, divida pelo meio por uma faixa que brilhava em diversas cores. – Conheçam o centro gravitacional de Droj!
            –Isso está ficando cada vez melhor! – Rigaht estava ensandecido com tanta determinação. – Também quero que conheçam o meu melhor monstro!
            O inverso juntou as duas jóias dos braceletes nos pulsos, que deveriam ser iguais, e uma força sombria começou a dominar o local, um campo de força de maru vermelha e violeta se formava com grande intensidade à frente dele. Aquilo pulsava, se debatia, esperneava... Queria sair a qualquer custo! Os Senhores de Castelo estavam apreensivos, o que poderia ser aquilo? E então surgiu um ser enorme de pele tão branca que as veias azuis transpareciam vivamente o sangue que era bombeado, tinha olhos por todo o corpo, com dois pares de apêndices nas costas que lembravam asas ao se dobrarem para trás. Toda a árvore de aço estava tremendo ao sentir o imenso poder daquele criatura de feições infantis e terríveis! Aquilo era definitivamente intenso e poderoso:
            –Vejam o meu Nogaiag!!! Hahaha...

...

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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


A Árvore de Aço



            Um prédio, um edifício, uma mega morada... A Árvore de Aço é um complexo que se autoconstrói, andar após andar, infinitamente. É algo inorgânico, inanimado e gigantesco em pleno movimento de criação, se expandindo para cima, buscando uma saída de sobrevivência, sugando nutrientes do solo... Como uma verdadeira árvore.

...

            Kullat e Thagir entraram pela base e foram subindo por onde podiam. Às vezes era uma escada, outras um elevador e ainda era possível utilizar plataformas voadoras. Nem sempre os andares poderiam ser considerados andares, uma vez que poderiam ter centenas de metros de altura. Na verdade, todo o interior parecia com veias, sulcos e nós de um grande tronco, usar uma seção ou outra sempre levaria para o mesmo lugar, para cima ou para baixo.
            Então, de repente, esferas negras voaram na direção dos castelares, que explodiram, denunciando o novo encontro com os inversos. Os outros seres que também estavam no labirinto começaram a discutir:
            –Atoidi ues! Uorre êcov! – O que reclamava parecia com Thagir, alto, magro, vestia roupas pesadas e uma longa casaca vermelha com algumas placas de proteção localizadas estrategicamente; tinha os cabelos esbranquiçados com uma barba cerrada de tons levemente verdes e olhos diferentes um do outro – um era azul claro e o outro, que tinha uma cicatriz vertical ao redor de cima a baixo, era completamente laranja.
            –Ocitétap é euq êcov! Rednefed es arp éta amra amu rahnupme ed odem snet! – O outro lembrava Kullat, alto, forte, de olhos verdes e cabelos brancos levemente escurecidos nas têmporas; usava um manto negro e manoplas grandes e pesadas em ambas as mãos, além de possuir apetrechos eletrônicos pelo resto do corpo.
            Os Senhores de Castelo aproveitaram para contra atacar, Kullat lançou esferas de maru concentradas e Thagir usou duas pistolas de tiro rápido, esvaziando o tambor que logo fora recarregado pela jóia de Landrakar:
            –Sodaçargsed! Rudnaht ed ohlo od redop o matnis! – O que parecia com Thagir estava controlando o espaço ao seu redor, bloqueando os tiros e as explosões com eficiência e lançou alguns pedaços do andar da árvore de aço contra os Senhores de Castelo.
            Kullat bloqueou o ataque com um escudo de maru azulada e Thagir sacou da jóia de Landrakar um rifle mais potente que explodiu os destroços pelos ares:
            –Sotidlam seraletsac!
            –Rigaht! Onalp um ed somasicerp, es-emlaca... – O outro, parecido com Kullat, levantou as duas mãos e atirou fortes raios-lasers na direção dos oponentes, sem atingi-los, apenas levantando poeira.
            Vendo que os inversos não estavam mais no local, Thagir e Kullat conversaram um pouco:
            –O Thagir inverso me parece mais radical... – Disse Kullat.
            –Também achei o Kullat inverso um pouco ruim de mira... – Thagir estava pesando em algo.
            –Me parece que eles não têm noção do que estão fazendo... – Continuou Kullat.
            –Sim, eles parecem jovens adolescentes... Talvez eles não tenham a mesma idade que nós... – Prosseguiu Thagir, usando a dedução. – Ou a mesma experiência. Precisamos de mais informações...
            –Certo... E como está o coração de Thandur? – Kullat se lembrara de como o artefato deixava o amigo exausto.
            –Está melhor do que antes. Aparentemente não há diferença entre as marus e ele consegue funcionar sem problemas. No entanto, creio que seu poder esteja funcionando pela metade, o alcance da minha percepção está muito limitado, só consigo enxergar uns poucos metros a frente com perfeição. Além disso, fica tudo borrado...
            –Também sinto que a minha maru está estável e enfraquecida. – Kullat invocou uma espada de seu manto branco. – Devemos prosseguir no combate direto, teremos mais chances de passar na frente deles.
            –Concordo... – Thagir guardou as armas na jóia e tirou os bastões de combate de Newho. – Vamos em frente, não temos tempo pra ficar aqui esperando que a espada do infinito venha até nós.

...

            Os dois inversos discutiam de novo:
            –Sodal so sodot rop sabmob oreuq ue! – Disse Rigaht, o inverso de Thagir.
            –Raregaxe somedop oãn! Oirássecen o etnemos rasu euq somet. – Ponderou seriamente Talluk, o inverso de Kullat.
            –Ossi êd em! – Rigaht tomou a cartucheira cheia de mini bombas das mãos do outro e jogou todas pelo chão.
            –Iuqad rias somav. Ramra es oãv áj sabmob sa.
            –Ogimoc exied. Otser o oçaf ue.

            –Ies...
...

            Os Senhores de Castelo estavam atentos as armadilhas dos inimigos e evitaram as bombas, passando longe delas. Kullat estava pensativo e queria saber o que Thagir tinha em mente:

            –Vamos apenas passar. – Respondeu simplesmente.

            –Sinto algo estranho no ar, eles não estão para brincadeiras.

            Rigaht apareceu e lançou mais pedaços da árvore de aço contra os castelares, no que eles reagiram se desviando com habilidade:

            –Soirbmos Serodaçac sod Medro alep! Maçerapased! – Rigaht levantou vários destroços de uma vez e os comprimiu numa grande esfera, lançando-a contra os Senhores de Castelo. – Ossi memot!

            Kullat teve de se desviar com mais cautela, lançando um golpe de espada que faiscou contra a esfera. Thagir estava desconfiado do outro oponente que não aparecia com frequência e prosseguiu para perto de Rigaht. O castelar sentiu o tempo desacelerar como costuma sentir, sem, no entanto, usar o poder do coração de Thandur. Talluk apareceu e jogou um explosivo luminoso que deixaria seu inimigo parcialmente cego, ele estava dentro da parede, mesclado a ela através de algum aparelho desconhecido que emitia uma grande quantidade de energia. O cavaleiro branco foi para a linha de frente para ajudar o amigo, mas o inverso de poderes psíquicos esperava por isso e lançou seu campo de pesadelos que afetou Kullat, deixando-o semi paralisado no chão, largando a espada:

            –O que vejo! – Rigaht, falava normalmente para que seu poder tivesse mais influência sobre o alvo. – Um garotinho, um pobre garotinho andando por ruas cheias de gente, sem ninguém para ajudá-lo.  Sem os pais por perto, ele estava com fome, pedia a quem passasse que lhe desse um pouco de comida e era amargamente ignorado. Olha só, um ladrão sai correndo da loja que acabara de roubar e tromba com a criança deixando-a com o furto em suas pequenas mãos. Hun... ela foi presa!

            –Kullat! O que está acontecendo?! Do que ele está falando? – Gritou Thagir não sabendo exatamente o que acontecia por eles estarem fora do seu alcance paranormal.

            –Alguém está entrando na cela... Não é um guarda... Alguém alto, muito magro, careca, de roupas vermelhas... Ele está oferecendo algo para a criança... Ela aceitou e os dois saíram da cadeia juntos!

            –Kullat!!!

...

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quinta-feira, 7 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


O Labirinto Virtual



            Vasto como o infinito, essa era a definição mais precisa do labirinto. Paredes com centenas de metros, quilômetros atrás de quilômetros de vias tortuosas, aquele era o verdadeiro inferno, não havia nada lá além de passagem atrás de passagem. Não havia nada vivo lá, o silêncio é tão grande que qualquer movimento do corpo era um ruído ensurdecedor. Levar a loucura... Esse é o objetivo do labirinto! Pois, quem quer que adentre nele para tentar roubar algo ou mesmo que chegasse lá por engano teria sua sanidade drenada a cada passo. Alguém, em algum lugar uma vez disse: “Só sabemos quem somos, porque não somo os outros com quem convivemos”. Isso queria dizer que se alguém vivesse completamente sozinho, longe de qualquer movimento da existência, se tornaria nada!
            Kullat e Thagir chegaram ao labirinto em pontos distintos, muito longe um do outro. Começaram a andar e andaram durante horas a fio, gritaram para tentar ouvir alguma resposta. Nada. Usaram suas armas e poderes para tentar ter alguma pista do que fazer. Novamente, nada. Kullat estava sem muitas forças, mas Thagir estava pior. Toda vez que tentava tirar um cochilo o poder do coração de Thandur tentava tomar-lhe a consciência, penetrando em seus sonhos. Ele estava cansado, estava há horas sem dormir. “Preferia não ter dado aquele energético para Laryssa”, pensou ele, “seria melhor tomá-lo agora”. A cabeça estava doendo, os olhos tentavam fechar e ficavam reabrindo, o coração palpitava se esforçando redobradamente para levar o sangue para o resto do corpo. Sinais crônicos de fadiga. O próximo sintoma seria:
            –Alucinações... Estou tendo alucinações... – Um vulto que lembrava alguém encapuzado passava diante dele na próxima esquina. – Espere!
            Seus gritos foram em vão, sempre quando chegava bem perto de encontrar o vulto, o corredor inteiro estava vazio. Não dava pra saber exatamente o que acontecia, estava tudo rodando em sua cabeça, perdera completamente a aguçada noção de sentido e já não percebia mais por quais caminhos ele havia passado, quais eram sem saída e não reconhecia a direita da esquerda. Thagir deu mais um passo e desmaiou. Em seu sonho perdido ele via a si mesmo, voltara à infância, era uma criança como qualquer outra, esquecida num castelo velho sem ninguém por perto. “Um dia ruim”, lembrou-se ele, “o dia em que conheci o monstro do meu quarto”. O Senhor de Castelo não tinha ideia do porque estava sozinho naquele momento de sua vida, foi apenas um dia ruim.
            Caminhando pelos jardins, ele começou a ouvir a voz de uma criança chamando-o para brincar. Olhando em volta, percebeu que era alguém do alto do castelo, na mesma janela de seu quarto. Puro e inocente subiu as escadas acinzentadas com aquele relampejo de felicidade infantil que não distingui o perigo das outras coisas. Curioso, foi entrando serelepe, parando somente quando a porta bateu com força atrás dele. Do armário subia uma fumaça de maru escura ao mesmo tempo em que ele tremia. Tomado pelo pavor, o jovem Thagir tentava desesperadamente abrir a porta chamando pela mãe. Subitamente aquilo parou e a porta continuava trancada. A criança se aproximou tomada pela curiosidade de saber se ainda havia algo lá dentro, indo devagar e calmamente por causa do desejo de sair correndo e, ao tentar abrir:
            –Aaaaaaaaaah! – Thagir gritou.
            –Thagir! Thagir! – Kullat balançava insistentemente o parceiro.
            –Ahn? O quê? – Thagir acordava de seu sonho ainda meio sonolento.
            –O que aconteceu? Você estava gritando!
            –Eu... Não me... Lembro direito. – Ele bateu no rosto tentando acordar. – Acho que eu vi algo...
            –E o que era?
            –...! – A dor continuava fazendo-o apertar as mãos contra a cabeça. – Lembrei!
            –Calma, diga com tranquilidade, o que você viu?
            –Um monstro...
            –...? – Kullat estranhou a nova conversa.
            –Era um ser deformado... Não tinha lábios ou pálpebras e o rosto estava cheio de cicatrizes. Ele me segurava pelo braço tentando me morder...
            –E o que aconteceu?
            –Ah... Lembro-me de meu pai entrar batendo com o pé na porta empunhando um canhão de maru de potência enorme que fritou a coisa em segundos! Heh, aquela beleza me fez ter certeza que eu queria ser pistoleiro!
            –Não me lembro de você ter me dito isso antes. – Kullat se sentiu mais calmo com o amigo, ele parecia normal.
            –Acho que eu ainda tenho medo daquela coisa...
            –Você?! Com medo?! Conte outra! Nunca conheci um guerreiro tão corajoso quanto você! – Kullat quase riu no fim da frase.
            –Bem, até um tempo atrás eu nem me lembrava disso. Engraçado, parece que esse lugar faz isso de propósito. – Thagir estava sorrindo. – Quem é você?!
            –Thagir, você está me assustando... – O pistoleiro sacou uma pistola e mirou no rosto de Kullat, a queima roupa.
            –Se tem uma coisa que eu considero abominável é entrar na mente das pessoas para manipulá-las... Eu vou repetir. – Thagir puxou o cão para trás, armando a pistola com um clique. – Quem é você?
            –Uirbocsed em êcov oãtne... – Ele gargalhou ruidosamente, liberando uma fumaça pela boca que inibiu a visão de Thagir. –Agora que entendo como você fala, vai ser muito mais fácil conseguir a espada do infinito!
            O Senhor de Castelo atirou na fumaça tentando acertá-lo, ela se dispersou e mesmo o corredor sendo longo, o inimigo não estava mais lá. Nem o coração de Thandur conseguia detectá-lo, sua velocidade fora realmente impressionante. Thagir guardou a pistola e se sentou no chão, escorado pela parede do labirinto:
            –Ainda bem que eu me conheço muito bem... – Thagir estava rindo de si mesmo. – Pena que não produzem mais daqueles canhões de potência, eu ainda quero um daqueles!
            Thagir ouviu passos ao longe e entrou em estado de alerta. Prosseguiu com a supervelocidade do verdadeiro coração de Thandur, sem exageros, até a próxima esquina do labirinto e tentou surpreender o novo inimigo:
            –Parado! – Thagir foi puxado e jogado contra a parede. – Droga! Essa doeu...
            –Thagir?! – Dessa vez era Kullat, o verdadeiro.
            –Nossa... – Thagir se recompôs. – Ainda bem que eu te conheço muito bem...
            –Como? – Kullat estranhou o que seu companheiro dizia enquanto estendia a mão para ajudá-lo.
            –Amigo, tenho más notícias... –Thagir contou a Kullat o que acontecera com ele, que os inversos já haviam feito contato e que eles poderiam estar em desvantagem.
            Os dois castelares estavam juntos de novo e o Labirinto Virtual reagiu a isso, modificando sua estrutura. As grandes curvas secas se tornaram longos corredores, entre os corredores, prédios surgiam e se formavam nas paredes. Eles eram altos, tão altos que não se podia ver seu fim, o pescoço não alcançava. Nas bases haviam pequenas aberturas retangulares do tamanho certo para um humano passar, todas sempre na mesma distância entre elas, cerca de cem metros. No fim do corredor havia um prédio diferente, gigantesco, metálico e que se erguia aos céus, rodeado de canos virados para lá e para cá, lembrando o caule de uma árvore:
            –Aquela deve ser a árvore de aço...
...

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