Era um dia
muito chuvoso naquela pequena vila. En’hain, Gurei e Akai tiveram que sair para
ver como estava Lady Neko que estava passando alguns dias no templo
completamente gripada. Eles não demoraram muito, aquela chuva era uma invocação
das ondinas que iniciavam uma evolução para se tornarem provedoras da chuva. O
que aconteceu a seguir, diz respeito ao pequeno Akai, pois ele não é apenas um
pequeno Neko, ele é marcado pelo vermelho do sangue...
– Vamos
correr! – gritou Gurei tentando não molhar o pelo.
– Demorou! –
retrucou En’hain carregando o pequeno Akai nas costas se esforçando para correr
debaixo de tanta água.
Quando
chegaram, En’hain e Akai entraram, a porta se fechou e Gurei ficou do lado de
fora:
– Ei, o que
está acontecendo? Abram a porta!
– Mas, o
quê? – En’hain olhou para trás e viu que Akai trancara a porta e passara a
chave, impedindo que Gurei entrasse. – Akai, abra a porta.
– Não! –
Akai estava sério, sentia algo de estranho no ar, estava ouriçado.
– Está tudo
bem Akai?
– Meu nome
não é Akai! – disse ele num grito forte e determinado.
– ...! –
En’hain deu um passo para trás, nunca tinha visto seu pequeno amigo daquele
jeito. – Akai, você está me assustando...
– Gente! O que
está acontecendo aí dentro? Abram logo a porta, não estou gostando dessa
brincadeira. – dizia Gurei do lado de fora que não parava de puxar
insistentemente a maçaneta. – Vocês sabiam que está chovendo aqui fora?!
– Meu nome
não é Akai, meu nome não é Akai, meu nome não é Akai...
– Está bem,
vou tentar entender... – En’hain estava com as mãos abertas e espalmadas. –
Akai foi o nome que você recebeu aqui, um apelido, se preferir... Qual é o seu verdadeiro
nome?
– Meu nome é
Santiago. – respondeu rispidamente.
– Está
bem... Santiago? O que você quer? Não precisava trancar o Gurei lá fora...
– Não queria
interrupções... Eu quero o seu sangue!
– ...! –
En’hain se lembrou das duras palavras que Gurei lhe dissera no dia em que se
conheceram: se um neko beber o seu sangue, ele nunca mais irá querer tiver e
estará livre para ir embora. – Por quê? Você não é feliz aqui?
– Já me
cansei de você! Eu odeio que fiquem mandando em mim... Me dê o seu sangue!
En’hain
puxou uma cadeira e se sentou, tentou dizer algumas palavras, mas elas
entalaram na garganta. Por fim, começou a chorar normalmente. Não com dragão, como humano:
– Eu
sabia... Um dia isso iria acontecer, não é? Você iria embora e eu voltaria a
ficar sozinho...
– ... – o neko encarava-o silenciosamente.
– Eu não
queria acreditar que o que eu estava fazendo era errado, tentei dar o melhor de
mim para que você não ficasse triste. Juro que todas aquelas vezes que eu
mandei você fazer algo, era pensando no seu bem-estar, num jeito de você também
participar de alguma coisa... Me desculpe...
Akai não
deveria estar escutando, colocou as garras de fora e partiu para cima de
En’hain, no pulo de um gato. En’hain era mais forte e ágil, conseguindo se
desvencilhar segurando as duas mãos de Akai. Pela primeira vez o draconiano
se sentiu feliz por ter se tornado tão diferente:
– Eu
queria... Queria que você fosse livre. Mas também queria que você ficasse aqui
comigo. Quem está preso a essa maldição sou eu, Santiago!
– Me dê a
droga do seu sangue! – En’hain passou por debaixo dos braços do neko e o
abraçou.
– Me
arranha, estripa a minha carne, libera toda a sua raiva e derrame quanto sangue
quiser. Eu já não pertenço mais a mim, sou completamente seu...
Akai
começou a arranhar profundamente as costas de En’hain, deixando suas garras
completamente vermelhas, banhadas em seu sangue. En’hain chorava de dor, não da
que sentia com seus machucados, mas da dor que sentia em perder aquilo que lhe era
mais precioso:
– Lembra-se
daquela história que vários clientes do bar contam, a história de La Estrega, a
bruxa? Eu também me esqueci de dizer... Eu te amo. – Akai parou, seus olhos
permaneciam cheios de ódio. – Pode arrancar... arranque meu coração...
– ...? – Santiago estava confuso.
– Não
aguentaria pensar em você sofrendo e não poder estar lá para te proteger...
– O que você quer? Se eu arrancar seu
coração humano você vai...
– Ficar mais feliz do que viver
uma eternidade sem você...
– Se eu ficar... Vou te odiar...
Como odeio meu último mestre... Odeio que mandem em mim!
– Então como você não me obedeceu
agora a pouco?
– Hoje é o dia da liberdade,
hoje o selo não tem efeito... O mesmo dia em que matei meu último mestre...
– Você queria tanto assim ser
livre?
– Eu não suporto ser forçado a
fazer qualquer coisa e é inevitável que um neko obedeça a seu mestre...
– Não me obedeça...
– ...?! – o neko não entendia aquelas palavras.
– Faça o que quiser... Eu já não
pertenço mais a mim... – En’hain largou Akai e caiu no chão, já havia perdido
muito sangue. – Amanhã é o aniversário de um ano que você saiu da caixa...
Feliz aniversário... – e desmaiou.
Akai se levantou, abriu a
porta e encontrou Gurei que estava totalmente ensopado:
– Miau! Finalmente! Pensei que iam
me deixar mesmo lá fora a noite toda e...
– Ajude o En’hain... – Santiago estava de cabeça baixa.
– O que aconteceu aqui?! – Gurei
olhou para as mãos de Akai e viu que elas estavam vermelhas, olhou para trás
dele em seguida e viu En’hain naquele estado. – Santiago, o que você fez?!
– Ajuda ele... Nyaaa... – Akai
escorregou escorado pela porta até se ajoelhar, sentia grande tristeza que transbordou em
pranto.
...
En’hain
passou aquela noite dormindo depois de ser tratado pelos poderes de cura de
Gurei e já não corria risco de sua parte humana, que veio completamente a tona
por causa de toda aquela emoção, corromper seu corpo etéreo de metal. Aquilo
era um risco que poderia comprometer toda a sua evolução para se tornar um
draconiano de verdade. A única forma de matar um dragão é abusando de seus
sentimentos e arrancando seu coração.
Akai permaneceu o tempo todo com En’hain até ele acordar:
Akai permaneceu o tempo todo com En’hain até ele acordar:
– Santiago...
– disse o barman ao perceber a presença do neko ainda do seu lado.
– Pode me
chamar de Akai, se quiser... – o neko estava sentando numa cadeira abraçando os
joelhos, sem olhar diretamente para En’hain.
– Venha
cá... por favor. – e estendeu a mão depois de se acomodar melhor na cama.
– Não
quero... Eu machuquei você...
– Eu não
ligo! – gritou em tom meio choroso. – Estou feliz por você ainda estar aqui, então chega disso e venha logo aqui...
por favor...
Akai se
sentou na cama como En’hain havia pedido, ainda sem lhe dirigir o olhar.
En’hain o abraçou sem pedir permissão:
– Feliz
aniversário, amigo. – Akai olhou para En’hain e deixou sua cabeça pousar em seu
ombro.
– Nyaaa...
Obrigado.
Sorrindo, En'hain completou:
– Como você cresceu!
Sorrindo, En'hain completou:
– Como você cresceu!
Foi isso...
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