segunda-feira, 14 de maio de 2012

Diário de um Alquimista - Lição 2


Percepção

            A magia pairava no ar... Um respiro profundo, ele fecha os olhos: “Sim, estou aqui”, disse En’hain para si mesmo, no meio da Vila dos Gatos. Estava um dia lindo e ele havia ido ao mercadinho. As árvores, sempre tão grandes, deixavam um pouco de luz do sol passar, ainda era cedo. Os nekos da Vila estavam fazendo os seus serviços costumeiros, havia barulho, gente falando umas com as outras e apesar disso, a paz reinava absoluta.
“Hoje estou em paz comigo mesmo”, pensou En’hain sentindo aquela sensação de estar ligado ao universo e do universo responder a ele. Na noite passada, o tempo havia orvalhado as plantas e os vidros das janelas. O ar da manhã estava úmido e a brisa leve balançava as árvores com grande sutileza. O farfalhar das folhas parecia falar e dizer: “A vida é boa”...
Cada passo que En’hain dava estava diferente, era como se ele percebesse a singularidade de cada um, lhe parecendo algo simplesmente perfeito. Sentia as coisas ao redor dele penetrando sua mente, deixando-o extasiado. Os passarinhos, que habitam somente a região da vila por causa de seus jardins, estavam cantando festivamente, provavelmente cortejando a paz do mundo que penetrava um lugar tão longínquo e oculto de todo o resto. O que dava para sentir era incrível, a vida parecia preencher o ambiente, vibrando de sua forma tão singular que geralmente nos passa despercebido.
Um flautista tocava seu instrumento, com melodias doces e notas longas enfeitando de maneira impar aquela ocasião. En’hain tinha aberto seus olhos, agora ele percebia o que sempre esteve lá. O barulho da fonte de água que bate de tempos em tempos para anunciar que ficara cheia e derramar todo o fluido que coletara, batendo na pedra quando voltava à posição original não era só mais um enfeite. Seu timbre se conciliava com os outros tantos que também vibravam: “Basta olhar, En’hain”, lembrava o barman do que o dono do bar falava durante sua última lição de alquimia.
Foi o que En’hain fez, olhou atentamente e se deixou sentir a brisa suave soprar, a temperatura do lugar lhe envolver e seus pensamentos caminharem sozinhos. Ele sentiu que eles o levavam a um lugar diferente, onde podia ver mais árvores, numa montanha coberta por vegetação. As nuvens no alto do céu eram sopradas com força, viajando rápido, deixando uma sensação de que se estaria completo, não faltava nada. “Era como se desse para sentir a vida brotar do chão...”, disse ele, continuando seu relato, “Eu sou apenas um... Tudo isso é bem maior que eu”! De fato, o draconiano sentia que estava voando por toda aquela imensidão, de um lado a outro, recolhendo mais e mais sensações:
–Pena que isso não dura muito... É preciso ter pratica, percebendo uma coisa nova todos os dias para que dure. Ter esperança e calma são essenciais para a percepção, cada novidade por ser dividida em diversos pensamentos novos, compondo uma canção, um poema, uma pintura, uma ideia nova... Ter em mente que esses pensamentos não precisam ser perfeitos nos liberta do preconceito e possibilita que sejamos realmente quem somos; admitindo o que queremos e a forma como queremos. Isso é importante, uma vez que isso nos mostra que somos e aonde queremos chegar. Como se iluminasse um pouco mais o caminho que sempre nos é escuro. – En’hain tentava lembrar-se do que aprendia com os livros, desenvolvendo suas próprias percepções. – Tentar coisas novas ou simplesmente deixar que elas apareçam pode salvar vidas!
O sentimento novo que conhecia ajudava-o a perceber o quanto ele era fechado, que não se deixava levar com a brisa, como as folhas:
–Perceber que o mundo lá fora não está tentando te engolir é um dos melhores remédios que há! – Um cidadão da vila, o dono do mercadinho, lhe acenou naquele momento.
–Bom dia, Senhor En’hain.
–Bom dia. – E ele sorriu com aquele simples gesto.

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