terça-feira, 7 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 07


Chuva Ácida



            O sinal da próxima região desafortunada soava alto, bem alto. Todos correram para se esconder onde podiam, lutando contra os ventos de gases tóxicos que se intensificavam. Nerítico estava próximo a essa área acompanhando Darla e perguntou a moça o que significava o alarme:
            – Corra... – ela respondeu, fazendo os dois acelerarem o passo.
            A moça não lhe deu maiores detalhes, mas Nerítico sabia que algo estava acontecendo no meio das nuvens. O identificador digital em seu pulso começou a apitar e ele verificou-o: ‘Grande quantidade de ácido, perigo!’, dizia o mostrador. “Como isso é possível?”, pensou ele. Darla percebeu a dúvida do ultraquímico e lhe falou sobre o que estava acontecendo:
            – É a chuva ácida. Se não corrermos, seremos derretidos... – a moça não parava nem por um segundo, mesmo usando aquela máscara de gás que parecia ser extremamente incomoda e pesada.
            – Entendo que este lugar esteja cheio de gases prejudiciais, mas meu mostrador indica um nível de ácida superior a qualquer produto químico que eu já tenha visto. Nem a água régia consegue disparar tanto o meu analisador!
            – Moço, compreenda uma coisa, estamos num planeta morto, há séculos que essas chuvas se formam e a cada dia mais elas se tornam corrosivas. Depois que entrarmos na minha vila não poderemos sair por pelo menos duas semanas... – a moça finalmente parou por um instante.
            – Chegamos? – Nerítico perguntou, ainda olhando para ela, sem perceber que foram recepcionados por pessoas mal encaradas que também usavam máscaras de gás.
            – Darla, gracinha! Chegou pro papai aqui? – o mais alto e forte estava à frente dos outros. Segurava um pedaço comprido e metálico de alguma máquina, grande o bastante para esmagar uma pessoa com facilidade. Ele apontava para o meio das pernas indicando o que ela deveria fazer se o obedecesse.
            – Karvak, saia da frente, a chuva ácida está vindo!
            – Vejam pessoal, eu estou sendo tão gentil e olhem como ela me retribui! – os outros riam junto do líder. – Ou você dá ou você não entra!
            – ...! – Nerítico percebia a raiva que vinha dos olhos sob a máscara.
            – Deixo nos passar, ou... – o ultraquímico se pôs a frente da moça para protegê-la.
            – Moço, por favor... – Darla não queria que ele interviesse.
            – Ou o quê, tampinha?! – Karvak apontava o bastão na direção do Senhor de Castelo.
            – ...ou a chuva ácida vai ser o menor dos seus problemas! – Nerítico estava decido a proteger Darla.
            – Moço, por favor, não faça isso! – Darla tocava nas costas do castelar para lhe chamar a atenção. – Vamos para outro lugar, antes que a chuva chegue...
            – Hahahah!!! – Karvak gargalhava alto. – Você?! Rapazes, ensinem a ele uma lição!
            Os outros dois que estavam junto de Karvak começaram a correr e foram para cima de Nerítico. Eles carregavam correntes com maças repletas de pontas que eram giradas freneticamente e foram lançadas em Nerítico, prendendo-o. O castelar estava imobilizado e Karvak se aproximou, batendo com a arma levemente na mão algumas vezes. Nerítico ouviu-o dizer algo, sem entender o que disse, enquanto mexia o maxilar como se estivesse mascando. Quando o bandido ia dar-lhe um golpe certeiro, o castelar tirou o capacete através da jóia da roupa e soprou um gás azulado que derrubou Karvak no chão, fazendo os outros dois se assustarem. O ultraquímico tirou os óculos de proteção que lhe apertavam os olhos e repôs rapidamente o capacete de seu traje, respirando profundamente depois de prender a respiração por tanto tempo:
            – Assim está melhor! – disse, com alguma alegria no tom de voz.
            – Como você fez isso?! – disse a moça, desconcertada.
            – Não sou do tipo que gosta de lutar... – disse sorrindo. – Eu só o coloquei pra dormir com um sonífero forte que penetra diretamente na pele.
            – Menos mal... – Darla falou, com indiferença. – Precisamos correr, falta pouco para a chuva ácida começar.
            Os outros dois, meio zonzos por causa do gás que os atingiu levemente, acordaram da sonolência e viram o grande líder Karvak caído no chão, se assustando muito e largando as correntes que já haviam se afrouxado e largado Nerítico que estava ao lado de Darla. Ao verem que o homem que derrotou seu líder olhava para eles, correram sem pestanejar:
            – Não fujam... Por favor... – o castelar parecia desapontado. – Agora vou ter que levar ele sozinho!
            – Mas, olha o tamanho dele moço, ele é muito maior que o senhor! – Nerítico tirou outra pílula da pulseira e desta vez a engoliu.
            – Vamos ver... – o castelar se mexia e se alongava. – Acho que já fez efeito...
            Nerítico levantou os braços grandes de Karvak e se meteu debaixo dele, erguendo-o em pleno ar:
            – Darla, vamos? O efeito não dura muito...
            – Sim...
            Andando um pouco, havia uma escotilha aberta por onde todos entraram e foi fechada logo depois deles terem passado. A moça respirou, colocando a mão no peito, como se não estivesse respirando por causa da apreensão em chegar de uma vez a um lugar seguro.
            Nerítico, por outro lado, estava deslumbrado com a imagem da vila de Darla que parecia uma escavação profunda que ia vários metros para baixo e em cada lado, incrustados na pedra, haviam pequenas casas com portas e uma janelinha minúscula que era iluminada por uma luz muito fraca, como de uma lâmpada a óleo ou uma vela. No fundo daquele imenso poço, algo parecido com um rio corria numa cor estranha e prateada saindo de um imenso tubo que estava incompleto. No centro, suspenso pelo teto do lugar, uma célula de energia esférica que brilhava fracamente, dando sinais de um fim próximo. O castelar deixou Karvak de lado e tirou a suit, recolocando-a na jóia mágica, também respirando profundamente. Sentiu que o ar não era tão limpo quanto imaginava quando acabou pigarreando com uma irritação na garganta e disfarçou, para não preocupar a moça. Olhou para Darla e estranhou algo:
            – Não vai tirar a máscara?
            – Sabia que uma hora iria fazer essa pergunta... – a moça continuava parada como antes, como se fosse uma boneca de porcelana, meio dura e sem movimentos.
            – Algum problema? – Nerítico estava ficando preocupado.
            – Vou lhe contar de uma vez, para que não me persiga por eu usar esta máscara o tempo todo... Moço, quando eu era pequena, eu gostava muito de brincar lá fora. Mesmo sabendo que os gases tóxicos poderiam me matar, eu continuava a ir lá para fora escondida, sem nenhuma proteção. Um dia, eu resolvi sair antes do tempo de acidez passar e uma pequena poça da chuva havia se formado em algum lugar... – Darla desabotoou o fecho da máscara e a tirou, como não fazia há muito tempo, deixando Nerítico atônito. – ...e ela espirrou em mim, deformando completamente o meu rosto. Mesmo com dores constantes, sobrevivi à queimação. Passo muito tempo dentro de casa e só resolvi sair hoje, porque sonhei que o senhor viria para ajudar as pessoas que continuam vivendo este inferno. Eu sou uma telepata, só consigo te entender por que entendo seus pensamentos e tento retransmitir os meus através deles, por isso conseguimos nos comunicar... Esta realmente não será uma chuva ácida como as outras, ela irá romper finalmente com a estrutura do teto que tanto aguentou o tempo difícil. Por favor moço, mesmo que eu não possa mais chorar por causa das queimaduras, lhe suplico, ajude-nos!
            Darla, a esta altura, já estava de joelhos, de cabeça baixa, com uma expressão terrivelmente triste. Nerítico ficara sem palavras...

2 comentários:

  1. estou adorando tudo.........esta muito bom......mesmo.......
    vc é unico........

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    1. Que bom que esteja gostando anjinho do roque. :D
      E seja bem vinda a Toca dos Gatos! \o/

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