Os Brinquedos
Malditos
Dimios
continuava pelo corredor escuro, os barulhos se intensificavam a cada passo. O
chão tremeu, deslocando partes do teto de terra que caiu sobre o castelar que
começou a correr, desviando-se habilmente. A inclinação deixava claro que
aquilo era profundo e a umidade ia aumentando. Não tardou, Dimios teve que se
segurar para não descer de uma vez. O escuro deixava tudo mais difícil, usando
somente a Garra de Sartel para iluminar o caminho prejudicava a atenção dele
que não sabia exatamente para onde estava indo. Mais a frente se deparou com
uma bifurcação. Notou alguns rosnados do lado direito e foi para lá,
continuando a descer gradativamente.
No final
daquele novo corredor, o Senhor de Castelo notou algumas luzes. Não eram
mágicas. Seus conhecimentos do multiverso lhe indicavam que eram artificiais.
Por fim, ao chegar lá, viu uma grande máquina cair próximo aos seus pés,
revelando a imagem grotesca de seu destruidor. Um ser humanóide, com as
extremidades dos membros substituídos por laminas agudas que tilintaram,
fazendo doer os ouvidos do castelar que se preparou para ser atacado. A face
daquele ser era horrível, dando enjôos só de olhar. Seus olhos eram saltados
para fora do lugar e não tinha nariz, a boca e a cavidade nasal eram uma só,
derramando um líquido espumoso que corroia o metal da carcaça do maquinário
derrubado. Aquilo, seja lá o que fosse, conseguia olhar para Dimios como se os
olhos fossem de caracol e fitava o intruso, movendo a cabeça para frente. No
peito, havia algum trapo de roupa marcado com dois quadrados, um com três
pontos e o segundo com dois. A Garra de Sartel reagiu à tensão de seu usuário e
estalou, fazendo a coisa ir para cima de Dimios. Teque, teque, teque... Faziam
os membros da criatura enquanto subia pelas paredes com agilidade. O Senhor de
Castelo, pronto para o combate, foi pelo outro lado. Quando os dois voltaram a
ficar de frente, um de cada lado da máquina, Dimios disparou uma rajada de
força. Errou, a velocidade e destreza da criatura deformada eram incríveis. O
castelar tentou se distanciar um pouco mais, mas foi perseguido pela criatura
que tentava golpeá-lo. Por sorte, a Garra de Sartel não era apenas uma arma de
ataque, servindo muito bem para bloquear os cortes mortais que lhe eram
lançados.
A luta prosseguia.
O Senhor de Castelo não conseguia se concentrar para lançar uma rajada
elétrica. Resolveu então usar um encantamento. Como ele estava no subterrâneo,
nada melhor que um feitiço do tipo terra:
–
“Exterminare volence”! – a energia do solo respondeu ao seu chamado e
pontiagudas lanças de rocha sólida brotaram do chão, perfurando a criatura que
ficou presa nelas.
A coisa,
mesmo sendo gravemente ferida, se debatia constantemente. Seus membros
metálicos de nada ajudavam, uma vez que havia sido transpassada bem no meio da
barriga. Dimios olhava aquilo com ar sério, havia algo errado ali. Um ser de
carne normal já teria parado se mover. Mas não, o monstro – como preferia pensar
– continuava a se agitar, tentando escapar.
O Senhor de Castelo preferiu
continuar o caminho, que dava numa abertura feita por perfuratriz, grande o
bastante para aquela primeira máquina passar. No chão, havia a escotilha
destruída que deveria fechar o local e que fora arrancada há pouco. No salão
seguinte, mais luzes artificiais. Desta vez, melhor colocadas, devendo aquele
lugar ser outra construção existente no planeta. Talvez até estivesse conectada
a parte superior, pensava o Senhor de Castelo, enquanto reparava na maneira
como tudo fora construído.
No caminho, um forte cheiro de
sangue pairava no ar. Logo ele se depararia com imensas manchas de sangue e o
que lhe parecia órgãos humanos espelhados pelo chão. Algum ser vivo foi
claramente estourado naquele salão. Dimios olhou para trás e percebeu que quem
fizera aquilo foi o grande maquinário:
– A força bruta de uma máquina é
sempre surpreendente! – concluiu o Senhor de Castelo, que imediatamente
continuou seu caminho, pois o barulho de uma broca lhe chamara a atenção e
estava próxima.
Dimios correu e virou para a
direita, saindo num salão maior que o anterior, se deparando com duas grandes
máquinas em pleno funcionamento. Os robôs diante dele tinham mais de dois
metros de altura, equipados com batedores de estaca do lado esquerdo, furadeiras
do lado direito, atiradeiras nas costas e moedores na base. Eram verdadeiras
máquinas de combate, não fosse pelo antigo símbolo em forma de parafuso que
ilustravam no peito – a marca da legião parafuso. Estas máquinas foram criadas
para extrair matéria prima sem danificar os ecossistemas, tirando apenas o
necessário. Eventualmente sob o comando da Irmandade Cósmica sua utilidade
seria deturpada, transformando-os em máquinas mortíferas.
O scanner de laser vermelho
estava fazendo a volta, procurando por ameaças. O Senhor de Castelo se
aproveitou e passou a frente da primeira máquina parafuso antes que sua
presença fosse detectada. A segunda máquina, porém, estava equipada com um
scanner diferente, sua luz era azul e, ao invés de verificar o ambiente
lentamente, vez isso de uma só vez. Dimios foi detectado. A primeira máquina
recebeu o sinal da segunda: “Intruso detectado”, repetindo o sinal. Os
lançadores foram ativados e o castelar estava entre as duas máquinas:
– Pulso elétrico! – uma forte
onda lançada da Garra de Sartel percorreu as máquinas que entraram em curto,
errando o alvo.
O Senhor de Castelo saltou e
golpeou os scanners das duas máquinas e prosseguiu, deixando-as para trás,
passando por mais uma escotilha arrombada. Ele não esperou mais, começou a
correr e saiu num grande salão que tinha saída para três caminhos. No chão,
caídas, haviam mais máquinas parafuso destruídas. Seus fluídos hidráulicos
pretos e viscosos estavam espalhado pelo chão, diferente de antes, a batalha
aqui sugeria que os robôs haviam sofrido grande dano, algo realmente forte as
havia derrubado. Num dos caminhos, pegadas de crianças feitas no fluído levavam
pelo caminho da direita, aparentemente mais comprido que os outros dois que
logo faziam curvas. As paredes estavam riscadas, fazendo Dimios pensar que uma
das máquinas fora arrancada do corredor a força. Ele entrou por aquele caminho
meio escuro, com as luzes artificiais falhando e não se demorou em voltar a
correr.
Em seus pensamentos a ideia de
que algo poderia ocorrer às crianças vinha-lhe constantemente:
– Se os poderes do filho do fim
forem despertados... O que poderia acontecer com esse planeta? – Dimios corria
com todas as forças, o longo corredor parecia não ter fim.
Finalmente, encontrando nova luz,
Dimios saiu no que parecia ser uma caverna, com estalagmites e estalactites,
formações rochosas formadas pela erosão e depósito dos minerais através do
tempo. Ao contrário de uma formação natural, o local estava seco, a água havia
acabado e as belas figuras haviam ficado para trás. O local descia por um lado
e abria um vão, preenchido anteriormente por algum lago subterrâneo que deveria
ter ali. Ali embaixo estava Elians, o irmão mais novo. Ao lado dele... Outra
criatura grotesca sem feições! Sua forma, diferente da primeira, parecia mais
humana. Apesar disso, ela abriu uma grande boca, como se fosse uma serpente,
esticando o pescoço anormalmente. A criança estava diante da coisa, não podia
ver Dimios, nem ele a luz que estava nas mãos do pequeno:
– Não se mexa... – o castelar se
mexia lentamente.
– Eu estou com fome... – a luz
que iluminava a caverna se apagou.
– Elians! – Dimios fez a Garra de
Sartel brilhar para iluminar novamente a caverna.
O que ele viu o deixou confuso,
não havia mais monstro perto de Elians, que estava são e salvo.
– Elians! – gritou Vaik, que
vinha pela caverna com uma lanterna acessa. – Achei o caminho!
– Porque você o deixou sozinho? –
disse Dimios, preocupado, quando o irmão maior se aproximou.
– Ele estava com fome. Só por
isso. – Vaik sorria.
– Estou satisfeito irmãozão! –
Elians levantou as mãos.
– Você não teve medo daquilo? –
perguntou o castelar. – Você poderia estar morto agora...
– ...! – Elians mostrou a língua.
– Eu não sou medroso! Meu irmão não ia deixar nada acontecer comigo!
– Vamos, eu encontrei o caminho
pra sair daqui em segurança... – as crianças saíram na frente. Dimios só as
acompanhou, notando que Vaik levava um boneco no bolso...
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