segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Devil’s Drink 34 – Eleito...

Leia a Devil's Drink 33 primeiro!

Devil’s Drink 34 – Eleito...

 

            – Você não pode fazer isso! – gritei para o líder do clã de lobisomens da cidade de São Paulo.
            – Por favor, entenda, ele agora é o membro mais precioso de nossa matilha...
            – Ele ainda não está pronto! – fumaça saía de minha cabeça. – Ele ainda é muito jovem! Eu cuido dele praticamente desde o nascimento, deixe que ele fique até ter idade suficiente.
            Olhei para Cris, ele estava olhando o fogo da lareira. Respirei fundo, tentando me conter para não criar problemas.
            – Se for o caso, eu cuidarei dele o tempo todo que ele estiver com vocês...
            – Victório...
            – O Cris é importante pra mim e ele não se desenvolveu como uma criança capaz. Ele poderia ser morto por qualquer um que consiga ultrapassar seus poderes gélidos.
            – Se assim deseja...
            Conversamos mais um pouco. Ficara decido que Cris deveria ser levado à Europa e ser mostrado aos outros líderes dos lobisomens para demonstrar que o DNA original da matriarca Minerva ainda estava seguro. Fui até Cristian, ele me olhou e eu me agachei para ficar na altura de seus olhos:
            – Cris, nós vamos viajar! – sorrir para ele, apesar de me sentir incrivelmente triste, sentindo que algo poderia dar errado.

...

            Dentro de um avião pilotado por um lobisomem, estávamos nós três – Cris, o chefe do clã e eu – além do piloto. Atravessamos o atlântico em segurança. Porém, quando entramos em território aéreo português, tudo começou a dar errado. As turbinas que ficavam uma de cada lada do avião, simplesmente começaram a pegar fogo. Em seguida, os motores simplesmente pararam e entramos em queda livre. Cris, que estava abraçado a mim, me olhava, eu tinha de fazer alguma coisa. Bati fortemente as palmas das mãos e invoquei as sílfides que geraram uma grande ventania que ajudou o avião a planar. Direcionei os silfos para que o pouso fosse suave numa área aberta já no interior de Portugal.
            – Seus poderes são incríveis! – disse o chefe do clã, feliz por ter sido salvo.
            – Fique de olho Rodrigo... – esse era o seu nome. – Isso foi planejado!
            – Eu mesmo chequei se tudo estava certo antes de voarmos!
            – E pelo visto não adiantou nada! – depois de alguns segundos senti um calafrio. – Se abaixa!
            Em seguida o avião explodiu, levando o piloto que ainda estava dentro junto com ele. Depois que tudo estava mais calmo, Rodrigo e eu nos levantamos.
            – Cristian está bem? – me perguntou.
            – Não graças a você! – olhei-o com puro desgosto. – Ele está dormindo... Acho que sei onde estamos... Se corrermos podemos chegar a um lugar seguro antes de anoitecer.
            – Tudo bem... Lá poderemos decidir como prosseguir até o concílio...
            – Vai ficar aí parado?! – eu já estava a cem metros de distância.
            Rodrigo começou a correr com força, era difícil me acompanhar. Sinceramente, não sei por que ninguém além dos demônios usam a supervelocidade. Ela é tão prática para atravessar grandes distâncias e aparecer onde se quer!
            Quando o sol se pôs, Cris começou a tremer. Felizmente já estávamos em Bragança no norte de Portugal, próximo a Espanha. A região em que nos escondemos era rural, cheia de fazendas produtoras de vinho. Uma das casas do lugar estava vazia. Poderia dizer ao Rodrigo que induzi os moradores a saírem de férias antes de chegarmos. Mas acho que ele se assustaria em saber como eu fizera aquilo.
            Nos acomodamos bem, Rodrigo atacou a geladeira e a dispensa e eu consegui madeira para fazer um fogueira e fazer o Cris parar de tremer. Com algumas garrafas de vinho do porto na mão, o lobisomem se juntou a nós. Ele chegou a me oferecer uma e eu recusei:
            – Não bebo...
            – Você?! Sempre me disseram que você era o dono do famoso bar Toca dos Gatos, onde se bebe a bebida alucinógena mais viciante do planeta, a Devil’s Drink!
            – Agradeço o elogio, mas o bar não é exatamente meu. O dono original que produzia uma bebida mais poderosa ainda, eu apenas fiz uma cópia mal feita que consegue surtir algum efeito. O bar era um lugar abandonado antes de mim, sem contar que nem eu sei onde ele fica...
            – Como assim? Você nunca foi lá?
            – Não é isso! O lugar fica no meio da Floresta do Silêncio, que é tomada por uma magia ancestral que age diretamente na memória. Você pode entrar, mas sairá de lá sem saber o que fez naquele lugar. Normalmente os seres sobrenaturais conseguem se lembrar que estiveram no bar e o que beberam. O local é que é realmente difícil de lembrar onde fica, apesar de que chegar lá é fácil. Quando o bar abre é só pensar e você será levado até lá... – fiz uma pausa. – Deixemos isso de lado, precisamos chegar ao concílio e apresentar o Cris para os principais clãs de lobisomens do mundo.
            – Certo... Precisamos ir para Liechtenstein, um país neutro para os lobisomens entre a Suíça e a Áustria. Você deve gostar de lá, é um país muito simples que não tem ideia de que os clãs fazem o seu concílio bem ali! Aaauuuuu! – Rodrigo já estava bêbado com o consumo dos vinhos.
            Uma garrafa rolou para perto de mim:
            – Vinho do porto... – balancei a cabeça negativamente. – Amanhã nos conversamos.
            Rodrigo nem respondeu, já estava dormindo.

...

            No meio da noite, ouvi alguns barulhos vindos do lado de fora da casa. Abri meus olhos imediatamente e vi Rodrigo ser violentamente arrastados para fora sem que eu pudesse ver quem o puxava. Verifiquei se Cris estava bem, ele continuava agarrado em mim, ele também sentia a energia negativa no ar. Me levantei e corri para fora. Rodrigo já estava transformado em lobisomem e rosnava contra o nada que o segurava no ar. Tive de falar alguma coisa:
            – Quem está aí? Apareça! Seja você quem for, vai se arrepender de nos atacar!
            – Quem vai se arrepender é você! – eu conhecia aquela voz.
            – Minerva! – ela surgiu de trás das videiras. Ela estava muito diferente da última vez que nos vimos. Seu cabelo castanho dourado estava preto e tinha cicatrizes no pescoço. Vestia roupas de couro, calça e jaqueta, coladas ao corpo.
            – Você vai pagar pelo que fez comigo! Por sua causa eu perdi meu útero!
            – Problema seu! Deixe o Rodrigo fora disso!
            – Infelizmente, ele está no meu caminho e terei de me livrar dele... – Minerva estalou os dedos e o lobisomem que estava no ar teve uma das pernas arrancadas.
            – Victório! – gritou ele depois de berrar de dor.
            – Sua vaca!
            – Gostou? Por sua causa não tive escolha e fiz o que era preciso para sobreviver! Podem acabar com ele!
            – Não!
            Diante de mim, Rodrigo foi devorado por cães do inferno que o dilaceraram quando caiu no chão. Pude ver claramente, eram cães do inferno, seres de maldade pura, negros como a noite e olhos vermelhos brilhantes. Era tarde, nada poderia ser feito por ele.
            – O que quer que tenha havido no passado, não era motivo para fazer isso com ele!
            – Eu não vim aqui por causa dele, e nem por sua causa!
            – Você não levará o Cristian, Minerva!
            – Então esse pestinha tem nome? Que bom saber! Será mais fácil trazê-lo para a minha mestra!
            – Diga! Qual é o nome dela sua desgraçada?! Você é tão baixa que teve de vender a alma ao diabo por nada?!
            – Mosca irritante! Você saberá quem é ela no momento certo... Agora, Cristian, venha com a mamãe! – diferente de antes, seus olhos amarelos foram tomados pelo negro. Sua alma emanava a terrível força do inferno.
            Seguindo a sedução de sua mãe, Cris desceu de meus braços. Tentei me mover, mas me senti paralisado, um poder externo estava agindo sobre mim.
            – Você... Não... Vai... Tocar... NELE! – me libertei da paralisação forçando uma transformação rápida.
            Todo o meu corpo havia sido tomado pelas escamas e alguns espinhos que despontavam do alto da minha cabeça seguindo coluna abaixo. A minha primeira máscara também surgiu, tomando toda a área ao redor dos meus olhos com a cor dourada. Espalmei as mãos na frente do corpo e mostrei a boca rasgada que se abria largamente, expondo todos os dentes.
            – Eu disse que tenho poderes que você nem imagina! – dois olhos se abriram em minhas mãos abertas. A força gerada pelos olhos começou a queimar o foco que olhavam.
            – Victório, Victório... Você não sabe com quem está lidando! – aparentemente o fogo não surtia efeito. Ele queimava com intensidade, mas Minerva não era consumida!
            Cris finalmente havia chegado perto dela. Ela se abaixou e o tocou no ombro. Os dois sumiram em pleno ar. Urrei de raiva fazendo os pássaros de toda região de Bragança voarem e os cães que ouviram latirem assustados no meio da noite. Me concentrei para localizar os dois, não deveriam estar longe. Percorri mentalmente toda a Portugal, toda a Espanha, toda a Europa e por fim, todo o mundo... Nada! Era como se eles tivessem deixado de existir! Arranhei minha própria carne com força em completo desespero. Urrando mais uma vez.
            – Ela vai pagar por isso... – me balançava para frente e para trás, até que me dei conta de uma coisa. – O chip! O chip que está com a Morticia! Preciso voltar ao Brasil o quanto antes!
...

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