Devil’s Drink 34 – Eleito...
– Você não
pode fazer isso! – gritei para o líder do clã de lobisomens da cidade de São
Paulo.
– Por
favor, entenda, ele agora é o membro mais precioso de nossa matilha...
– Ele ainda
não está pronto! – fumaça saía de minha cabeça. – Ele ainda é muito jovem! Eu
cuido dele praticamente desde o nascimento, deixe que ele fique até ter idade
suficiente.
Olhei para
Cris, ele estava olhando o fogo da lareira. Respirei fundo, tentando me conter
para não criar problemas.
– Se for o
caso, eu cuidarei dele o tempo todo que ele estiver com vocês...
–
Victório...
– O Cris é
importante pra mim e ele não se desenvolveu como uma criança capaz. Ele poderia
ser morto por qualquer um que consiga ultrapassar seus poderes gélidos.
– Se assim
deseja...
Conversamos
mais um pouco. Ficara decido que Cris deveria ser levado à Europa e ser
mostrado aos outros líderes dos lobisomens para demonstrar que o DNA original
da matriarca Minerva ainda estava seguro. Fui até Cristian, ele me olhou e eu
me agachei para ficar na altura de seus olhos:
– Cris, nós
vamos viajar! – sorrir para ele, apesar de me sentir incrivelmente triste,
sentindo que algo poderia dar errado.
...
Dentro de
um avião pilotado por um lobisomem, estávamos nós três – Cris, o chefe do clã e
eu – além do piloto. Atravessamos o atlântico em segurança. Porém, quando
entramos em território aéreo português, tudo começou a dar errado. As turbinas
que ficavam uma de cada lada do avião, simplesmente começaram a pegar fogo. Em
seguida, os motores simplesmente pararam e entramos em queda livre. Cris, que
estava abraçado a mim, me olhava, eu tinha de fazer alguma coisa. Bati
fortemente as palmas das mãos e invoquei as sílfides que geraram uma grande
ventania que ajudou o avião a planar. Direcionei os silfos para que o pouso
fosse suave numa área aberta já no interior de Portugal.
– Seus
poderes são incríveis! – disse o chefe do clã, feliz por ter sido salvo.
– Fique de
olho Rodrigo... – esse era o seu nome. – Isso foi planejado!
– Eu mesmo
chequei se tudo estava certo antes de voarmos!
– E pelo
visto não adiantou nada! – depois de alguns segundos senti um calafrio. – Se
abaixa!
Em seguida
o avião explodiu, levando o piloto que ainda estava dentro junto com ele.
Depois que tudo estava mais calmo, Rodrigo e eu nos levantamos.
– Cristian
está bem? – me perguntou.
– Não
graças a você! – olhei-o com puro desgosto. – Ele está dormindo... Acho que sei
onde estamos... Se corrermos podemos chegar a um lugar seguro antes de
anoitecer.
– Tudo bem...
Lá poderemos decidir como prosseguir até o concílio...
– Vai ficar
aí parado?! – eu já estava a cem metros de distância.
Rodrigo
começou a correr com força, era difícil me acompanhar. Sinceramente, não sei
por que ninguém além dos demônios usam a supervelocidade. Ela é tão prática
para atravessar grandes distâncias e aparecer onde se quer!
Quando o
sol se pôs, Cris começou a tremer. Felizmente já estávamos em Bragança no norte
de Portugal, próximo a Espanha. A região em que nos escondemos era rural, cheia
de fazendas produtoras de vinho. Uma das casas do lugar estava vazia. Poderia
dizer ao Rodrigo que induzi os moradores a saírem de férias antes de chegarmos.
Mas acho que ele se assustaria em saber como eu fizera aquilo.
Nos
acomodamos bem, Rodrigo atacou a geladeira e a dispensa e eu consegui madeira
para fazer um fogueira e fazer o Cris parar de tremer. Com algumas garrafas de
vinho do porto na mão, o lobisomem se juntou a nós. Ele chegou a me oferecer
uma e eu recusei:
– Não
bebo...
– Você?!
Sempre me disseram que você era o dono do famoso bar Toca dos Gatos, onde se
bebe a bebida alucinógena mais viciante do planeta, a Devil’s Drink!
– Agradeço
o elogio, mas o bar não é exatamente meu. O dono original que produzia uma
bebida mais poderosa ainda, eu apenas fiz uma cópia mal feita que consegue
surtir algum efeito. O bar era um lugar abandonado antes de mim, sem contar que
nem eu sei onde ele fica...
– Como
assim? Você nunca foi lá?
– Não é
isso! O lugar fica no meio da Floresta do Silêncio, que é tomada por uma magia
ancestral que age diretamente na memória. Você pode entrar, mas sairá de lá sem
saber o que fez naquele lugar. Normalmente os seres sobrenaturais conseguem se
lembrar que estiveram no bar e o que beberam. O local é que é realmente difícil
de lembrar onde fica, apesar de que chegar lá é fácil. Quando o bar abre é só
pensar e você será levado até lá... – fiz uma pausa. – Deixemos isso de lado,
precisamos chegar ao concílio e apresentar o Cris para os principais clãs de
lobisomens do mundo.
– Certo...
Precisamos ir para Liechtenstein, um país neutro para os lobisomens entre a
Suíça e a Áustria. Você deve gostar de lá, é um país muito simples que não tem
ideia de que os clãs fazem o seu concílio bem ali! Aaauuuuu! – Rodrigo já
estava bêbado com o consumo dos vinhos.
Uma garrafa
rolou para perto de mim:
– Vinho do
porto... – balancei a cabeça negativamente. – Amanhã nos conversamos.
Rodrigo nem
respondeu, já estava dormindo.
...
No meio da
noite, ouvi alguns barulhos vindos do lado de fora da casa. Abri meus olhos
imediatamente e vi Rodrigo ser violentamente arrastados para fora sem que eu
pudesse ver quem o puxava. Verifiquei se Cris estava bem, ele continuava
agarrado em mim, ele também sentia a energia negativa no ar. Me levantei e
corri para fora. Rodrigo já estava transformado em lobisomem e rosnava contra o
nada que o segurava no ar. Tive de falar alguma coisa:
– Quem está
aí? Apareça! Seja você quem for, vai se arrepender de nos atacar!
– Quem vai
se arrepender é você! – eu conhecia aquela voz.
– Minerva!
– ela surgiu de trás das videiras. Ela estava muito diferente da última vez que
nos vimos. Seu cabelo castanho dourado estava preto e tinha cicatrizes no
pescoço. Vestia roupas de couro, calça e jaqueta, coladas ao corpo.
– Você vai
pagar pelo que fez comigo! Por sua causa eu perdi meu útero!
– Problema
seu! Deixe o Rodrigo fora disso!
–
Infelizmente, ele está no meu caminho e terei de me livrar dele... – Minerva
estalou os dedos e o lobisomem que estava no ar teve uma das pernas arrancadas.
– Victório!
– gritou ele depois de berrar de dor.
– Sua vaca!
– Gostou?
Por sua causa não tive escolha e fiz o que era preciso para sobreviver! Podem
acabar com ele!
– Não!
Diante de
mim, Rodrigo foi devorado por cães do inferno que o dilaceraram quando caiu no
chão. Pude ver claramente, eram cães do inferno, seres de maldade pura, negros
como a noite e olhos vermelhos brilhantes. Era tarde, nada poderia ser feito
por ele.
– O que
quer que tenha havido no passado, não era motivo para fazer isso com ele!
– Eu não
vim aqui por causa dele, e nem por sua causa!
– Você não
levará o Cristian, Minerva!
– Então
esse pestinha tem nome? Que bom saber! Será mais fácil trazê-lo para a minha
mestra!
– Diga!
Qual é o nome dela sua desgraçada?! Você é tão baixa que teve de vender a alma
ao diabo por nada?!
– Mosca
irritante! Você saberá quem é ela no momento certo... Agora, Cristian, venha
com a mamãe! – diferente de antes, seus olhos amarelos foram tomados pelo
negro. Sua alma emanava a terrível força do inferno.
Seguindo a
sedução de sua mãe, Cris desceu de meus braços. Tentei me mover, mas me senti
paralisado, um poder externo estava agindo sobre mim.
– Você...
Não... Vai... Tocar... NELE! – me libertei da paralisação forçando uma
transformação rápida.
Todo o meu
corpo havia sido tomado pelas escamas e alguns espinhos que despontavam do alto
da minha cabeça seguindo coluna abaixo. A minha primeira máscara também surgiu,
tomando toda a área ao redor dos meus olhos com a cor dourada. Espalmei as mãos
na frente do corpo e mostrei a boca rasgada que se abria largamente, expondo todos
os dentes.
– Eu disse
que tenho poderes que você nem imagina! – dois olhos se abriram em minhas mãos
abertas. A força gerada pelos olhos começou a queimar o foco que olhavam.
– Victório,
Victório... Você não sabe com quem está lidando! – aparentemente o fogo não
surtia efeito. Ele queimava com intensidade, mas Minerva não era consumida!
Cris
finalmente havia chegado perto dela. Ela se abaixou e o tocou no ombro. Os dois
sumiram em pleno ar. Urrei de raiva fazendo os pássaros de toda região de
Bragança voarem e os cães que ouviram latirem assustados no meio da noite. Me
concentrei para localizar os dois, não deveriam estar longe. Percorri
mentalmente toda a Portugal, toda a Espanha, toda a Europa e por fim, todo o
mundo... Nada! Era como se eles tivessem deixado de existir! Arranhei minha
própria carne com força em completo desespero. Urrando mais uma vez.
– Ela vai
pagar por isso... – me balançava para frente e para trás, até que me dei conta
de uma coisa. – O chip! O chip que está com a Morticia! Preciso voltar ao
Brasil o quanto antes!
...
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