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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Devil's Drink 17 - Sasha 2ª parte


            Não teve jeito... Sasha só arranjou problemas no bar, a começar pelo seu mau hábito:
            –Eu querer vodka! – Exigia o russo com cara cachorro.
            –Nem pensar! – Disseram Gurei e En’hain.
            –Você não tem idade pra isso! – Falou Gurei.
            –Se quiser trabalhar aqui terá de trabalhar sóbrio! – Completou En’hain.
            –Au! – Sasha não conhecia muito bem outras culturas e estranhava aquele jeito de ser tratado. – Meu avô sempre me dar um trago...
            –Fique sabendo que ele é um velho tapado! – Se irritou Gurei. – Ele não tinha nada que ficar levando você pra cima e pra baixo no inverno russo!
            –... – Sasha fez cara de cão sem dono, literalmente.
            –Pega um osso... – Disse Gurei.
            –Gurei?! – En’hain olhou para ele.
            –O quê? – Sasha ficava com olhos fixos no pedaço de osso. – Ele adora isso.
            –(Nhac) – Sasha mordeu o pedaço de osso e foi para fora, provavelmente para roer.
            –Não disse? – Gurei olhou de volta para En’hain, chacoalhando a mão por ter sido quase mordido.
            –Isso não é motivo pra você tratar ele assim... – En’hain cerrou os olhos e sua típica fumaça voava pela cabeça. – Você não tem nada melhor pra fazer não?
            –Não te interessa... – Gurei deu as costas pra En’hain.
            Era difícil dizer que você se importa com alguém. Quando os seres humanos só pensam em extrair os poderes mágicos de um ser sobrenatural, eles costumam ser exageradamente cruéis, tal qual foi o caso de Gurei. No meio da desgraça, passando fome e sede, receber um prato de comida e um pouco de água de uma pequena criança te faz repensar a vida, ou mesmo seu ódio...
            Naquele dia, Lady Neko já estava melhor e finalmente voltaria ao Bar Toca dos Gatos:
            –Oi amores, voltei! – A gata trajava um vestido fino, babado, provocante no colo, justo na cintura. – Mas o que é isso?!
            Naquele momento de relapso, Gurei e En’hain se lembraram que Lady Neko poderia voltar a qualquer momento e, se depender daquele momento vergonhoso em que ela derrubou o Senhor Gunshin, algo muito ruim poderia ocorrer ao Sasha. Foram ver como o cachorro estava e viram algo muito estranho:
            –Não acredito! – Disse En’hain.
            –Esse cachorro só me envergonha! – Falou Gurei levantando as mãos e olhando para cima.
            –Socorro! O que esse cachorro tem?! Ele não larga da minha perna! – Lady Neko balançava o cachorro no ar com sua tremenda força e mesmo assim o cachorrinho continuava grudado nela.
            –Só tem um jeito de resolver isso... – Gurei entrou no bar e voltou com uma garrafa de vodka. – Sasha? Olha a vodka aqui...
            –Gurei!!! – En’hain olhava para o gato de cabelo cinza azulado com indignação.
            Sasha então pulou da perna de Lady Neko direto na garrafa. Gurei não pensou duas vezes e deu uma garrafada na cabeça dele:
            –Você tem um jeito muito estranho de fazer as coisas... – E lá vem a fumaça de En’hain...
...
            Depois de algum tempo, tudo foi explicado à Lady Neko que, pobrezinha, estava com os nervos em frangalhos de tão frágil que ela é:
            –Não quero saber! Tirem esse vira-lata daqui! – Berrava a moça. – Ele destruiu a minha meia favorita!
            –Se acalme Lady Neko. – En’hain pedia por compaixão.
            –Se depender de mim, ele pode é ir embora... – Disse Gurei com o rosto virado para o outro lado.
            –Você também? Não creio! Até tu, Brutos, meu filho! – En’hain fazia um encenação dramática.
            –Vai ser melhor pra todo mundo... – Gurei tinha um tom sério.
            –...! – En’hain se calou por um instante. – Quer conversar?
            –Não. Quero que ele vá embora... – Gurei saiu do quarto de Lady Neko, desceu as escadas e saiu do bar, deixando En’hain pensativo.
            No quarto destinado a Sasha, o mesmo de Gurei – a casa já estava ficando apertada pra tanta gente – En’hain foi falar com o cão sem dono que estava com a cabeça completamente enfaixada:
            –Sasha? – En’hain dava alguns toques para acordar o russo.
            –Estar dormindo, voltar mais tarde... – Disse, descaradamente.
            –Gurei disse que prefere que você vá embora... – En’hain sentou e ficou de cabeça baixa.
            –Ser melhor eu ir...
            –Mas... Quando eu vi vocês dois rindo juntos, pela primeira vez eu vi Gurei sorrir sem ser por sarcasmo ou por tirar sarro de mim. Ele sorriu de verdade... Você precisa falar com ele. – En’hain se levantou e ia sair do quarto.
            –Por favor, esperar... Precisar que veja uma coisa. – En’hain parou na porta e Sasha começou a tirar as bandagens.
            –Você... – En’hain olhou para o russo que não estava mais como antes.
            –O efeito da lua finalmente passar... Alexander odiar humanos. Melhor eu ir.
            –Não. Não e nunca vai ser. Ficar adiando o dia em que você vai entender o quanto está errado só vai te tornar alguém vazio, inútil e descartável. Acredite. Isso não dá certo... – Ele saiu da sala e Sasha ficou pensando naquilo.
Saindo para se encontrar com Gurei, En’hain sentiu uma coisa ruim nele, uma sensação infeliz e triste que queria fazê-lo chorar. En’hain limpou o canto do olho e ouviu uma piadinha infame:
            –Você está chorando, tubarão? – En’hain olhou para Gurei que estava de novo com aquele sorriso falso, de gente mesquinha e fútil.
            En’hain cerrou os olhos, em sinal de indignação. Não deu muita importância e seguiu andando. Parou um pouco e disse:
            –Você precisa falar com ele... Se ele for embora, a parede de silêncio vai fazer com que ele se esqueça completamente de você. – E continuou andando.
            Sasha desceu as escadas e ficou atrás da porta para falar com Alexander que estava do lado de fora:
            –Você realmente querer que eu vá?
            –... – Gurei não falou nada.
            –Me responda, você querer que eu vá? – Sasha insistiu.
            –... – Gurei continuou em silêncio.
            –Pela Grande Mãe Rússia, me dizer, por favor... – Sasha saiu detrás da porta e virou Gurei para que ele respondesse, Gurei estava chorando...
            Os dois conversaram melhor depois daquilo. E também porque tomaram uma bela garrafa de vodka:
            –Seus desgraçados! Porque foram beber!
            –E... qual o probleminha moço... ou serão... moços? – Disse Gurei, mais mole que gato escaldado se esparramando pela mesa. – Hihihi...
            –Vocês estão completamente bêbados! – En’hain estava vermelho de raiva, soltando mais fumaça que um trem a pleno vapor na ferrovia.
            –Viva a vodka! – Disse Sasha sem nenhum senso de noção, vindo a dormir em seguida, com o copo ainda na mão.
            –Boa... ideia... – Gurei dormiu também.
            –Cacete... Eu dou uma saidinha pra ver se os dois se acertam e quando volto encontro isso?! – Lady Neko aparece andando de fininho por trás de En’hain levando uma garrafa na mão. – Lady Neko!!!
            –Miau?!
            Foi isso...

terça-feira, 22 de maio de 2012

Gatos, gatos e mais gatos! Nekos, só pra variar...


            Este é um acumulado de imagens de gatinhos que eu compartilhei no facebook, como não poderia deixar de ser, os comentários sobre os meus próprios gatos ficaram super divertidos. Confira!
001 - Gurei... é você? O.O
002 - “Fique quietinho, tô tentando dormir...”


003 - Akai, seu bichinho bobo, onde você se escondeu meu filho! ^^
004 - Chiii... Gurei, para com isso... Tá me assustando... ._.
005 - Neko! \o/
006 - Fica não...
007 - Gurei?! O.O Gatinho mal, olha a liguinha pra você também! :P
008 - Akai, seu gatinho bobo... =3
009 - Gostei dessa Akai! ^^
010 - Akai! O que aconteceu com seu pelo! O.O
011 - Tá certo Gurei, mas precisava ser chato logo comigo?! -_-'
012 - Seus gatinhos maravilhosos! *¬*

013 - Nunca mais deixo o Gurei usar o pc... Até ele ficou viciado! ._.'

014 - Akai, Gurei... Parem com isso... ._.'



 
            Se você adora gatos e tem sugestões pra mim, pode mandar! Ficarei feliz - *sorriso de gato* - em fazer mais posts como este! =3


Devil's Drink 16# - Sasha

            Um dia como os outros, En’hain estava cuidando da Toca dos Gatos sozinho, Gurei havia levado Akai para passear pela vila e comprar alguns docinhos que, sem motivo aparente, haviam acabado. En’hain pensava na vida, lembrando de sua velha sina. Desconhecer o futuro, não entender o presente e não querer lembrar-se do passado sempre o atormentava. Mas tinha bom coração, era o que importava. Talvez sim, provavelmente não...
            Ao sair para limpar a entrada, En’hain se deparou com um inunin, um homem cão, um lobisomem se preferirem. Ele estava esfarrapado e parecia com fome. Qual não foi a surpresa de En’hain quando ele disse:
            –Se me der um prato de comida, passo varrer pra você. – O homem cão parecia meio constrangido em dizer aquelas palavras, qualquer um ficaria constrangido em falar algo parecido.
            –Entre... – Disse En’hain, lembrando que seu amigo Gurei um dia também havia chegado à Vila dos Gatos num estado parecido.
            Lá dentro, En’hain não se demorou na cozinha e serviu um prato de sopa bem quentinho que já estava preparando para o almoço. Um prato a mais servido não faria falta. En’hain ficou admirando o novo espécime que conhecera, tinha cara de cachorro, diferente dos nekos que geralmente tem uma forma mais humana e que podem se transformar em completamente em humanos ou completamente em gatos. O ‘cão sem dono’, como En’hain achava lhe parecer melhor o convidado, verteu a sopa com entusiasmo, chegando a pedir mais algumas vezes. Estando satisfeito, levantou se, pegou a vassoura e foi varrer a entrada do bar, como havia prometido. En’hain sorriu:
            –Meu nome é En’hain, qual é o seu? – Perguntou, percebendo o deslize.
            –Meu nome ser Sasha, eu vir do grande mãe Rússia. – O inu abriu as mãos tentando demonstrar o quão grande era o seu país.
            –Então é russo... Não deve conhecer esta região da Europa, eu presumo.
            –Dah! – En’hain não falava russo, mas sabia que aquilo significava sim.
            –E o que te trouxe a essas bandas?
            –Estar procurando amigo...
            En’hain sentiu certa nostalgia, estava achando aquela simples conversa algo incrível:
            –Hun, e sabe onde ele está? – Indagou En’hain.
            –Ele partiu pro Vila dos Gatos, saber onde é?
            –Meu amigo, você está nela! – En’hain pôs a mão no ombro do inu, que começou a abanar a longa cauda freneticamente.
            –Então você conhecer um gato de pelo cinza azul com um olho?
            –Isso até parece de javu! Então você conhecer Gurei? Quero dizer, ele trabalha aqui...
            –(Finalmente!) – O inu falava em russo, mas sua animação era compreensível, aparentemente ele deve ter feito a mesma loucura que Gurei. – Encontrei Alexander!
            –Heheh... – En’hain sorria, mas em seus pensamentos ele pensava algo como “Porque aquele desgraçado não me disse?”.
            Nesse momento Gurei, que trazia Akai nas costas, estava chegando ao bar:
            –En’hain! – Gritou ele sem perceber que Sasha estava ali. – Como é que você agüenta essa pirralho o tempo to... do... Mas que merda é essa?!
            –Me parece que um amigo seu da Rússia veio te visitar... – Disse En’hain, com um sorriso sarcástico no rosto enquanto pensava: “Heheh, se fudeu!”
            –Alexander... – O cara de cachorro estava atônito com a chegada de seu amigo. – Senta! – Disse de repente e entrou dentro do bar.
            –Ora seu! – Gurei xingou muito o inu, falando pela primeira vez em russo ao mesmo tempo em que deixou Akai no chão e ia sentando calmamente, do jeito dele, numa cadeira das mesas externas. – En’hain, seu desgraçado, onde foi que você achou o Sasha?!
            –Nyaaa?! – Akai estava confuso com aquilo.
            –Então ele é o seu dono?! Pensei que tivesse sido criado por humanos...
            –Argh! Eu fui... Pelos pais dele, ele era muito pequeno pra saber da minha existência... Aliás, eu não tinha a menor ideia de que ele era um lobisomem...
            –Heheh... – Akai subiu nas costas de En’hain enquanto isso.
            –Tire esse sorrisinho da cara, senão eu arranco o teu coro de dragão! – Gurei apontava as garras felinas com olhar assassino.
            –Relaxa! – En’hain olhava para Akai que estava com a cabeça em seu ombro.
            –Ahn? – Gurei estranhou, pensava que En’hain iria tirar sarro da cara dele.
            –Ele era diferente, não era? – En’hain deu um pirulito para Akai.
            –...?! – Gurei parou por um instante, desviando o olhar em seguida.
            –Me diga uma coisa, o que os pais dele faziam? – En’hain deu um pirulito pro Gurei também.
            –... – Gurei hesitou por um instante. – Eram da máfia russa...
            –Então tá explicado... Veja, ele está voltando.
            O dialogo estava se desenrolando em russo no começo, mas acabou por terminar na nossa língua:
            –Por que você fugir? – Perguntou Sasha.
            –Porque eu quis... – Gurei desviava o olhar.
            –Ele não aguentava mais os maus-tratos... – Se intrometeu o barman.
            –En’hain não se intrometa na nossa conversa! – Gritou Gurei.
            –Nem pensar... Você é meu amigo e ele precisa saber... – En’hain fazia cafuné em Akai.
            –Saber o quê? – Procurou saber o cão russo.
            –Droga! Ele não precisa saber... – Gurei estava muito exaltado.
            –Saber o quê?! – Insistiu Sasha.
            –Foram os seus pais que deixaram essa cicatriz no rosto dele...
            –Filho da puta! En’hain, você me paga!!! – Gurei estava mais violento que gato com medo com de água que sabe que vai tomar banho.
            –Eu já saber... – Falou Sasha.
            –Ahn?! – Gurei estava confuso.
            –Como é?! – En’hain pensava, “estragou tudo”!
            –Por isso vir atrás de você, você esquecer isso. – Sasha tirou de sua velha sacola o maior tesouro de Gurei.
            –Minha caixinha! – Uma lágrima despontava no canto do olho de Gurei.
            –Você não tinha perdido ela?! – Perguntou En’hain.
            –... – Gurei ficou olhando para ela por um momento. – Podem nos deixar a sós?
            –Claro... – O que En’hain pensava por trás do sorriso forçado era algo como: “Caralho, justo na melhor hora!
            En’hain se retirou com Akai e foram pra dentro do bar. O barman terminou de fazer a sopa – Sasha tinha tomado mais da metade. E ficou pensando no que os dois estavam falando lá fora:
            –Nyaaa?! Você não quer saber o que os dois estão fazendo? – Perguntou Akai.
            –Não, não quero Santiago... – En’hain estava perdido em seus pensamentos.
            –Nyaaa?! – Akai estranhou um pouco ser chamado pelo nome.
            –E você, bichinho levado, trate de escovar mais os dentes. Comendo tanto doce assim você vai acabar ficando com cárie.
            –Nyaaa... – Akai não gostava que mandassem nele, mas estava curioso. – Como você sabe?
            –Eu apenas sei, meu amigo.– E ficou olhando para na direção da porta, pensando no que acontecia do lado de fora. – Eu apenas sei...
            Foi assim que na Vila dos Gatos começou a ter também um cachorro...

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Diário de um Alquimista - Lição 2


Percepção

            A magia pairava no ar... Um respiro profundo, ele fecha os olhos: “Sim, estou aqui”, disse En’hain para si mesmo, no meio da Vila dos Gatos. Estava um dia lindo e ele havia ido ao mercadinho. As árvores, sempre tão grandes, deixavam um pouco de luz do sol passar, ainda era cedo. Os nekos da Vila estavam fazendo os seus serviços costumeiros, havia barulho, gente falando umas com as outras e apesar disso, a paz reinava absoluta.
“Hoje estou em paz comigo mesmo”, pensou En’hain sentindo aquela sensação de estar ligado ao universo e do universo responder a ele. Na noite passada, o tempo havia orvalhado as plantas e os vidros das janelas. O ar da manhã estava úmido e a brisa leve balançava as árvores com grande sutileza. O farfalhar das folhas parecia falar e dizer: “A vida é boa”...
Cada passo que En’hain dava estava diferente, era como se ele percebesse a singularidade de cada um, lhe parecendo algo simplesmente perfeito. Sentia as coisas ao redor dele penetrando sua mente, deixando-o extasiado. Os passarinhos, que habitam somente a região da vila por causa de seus jardins, estavam cantando festivamente, provavelmente cortejando a paz do mundo que penetrava um lugar tão longínquo e oculto de todo o resto. O que dava para sentir era incrível, a vida parecia preencher o ambiente, vibrando de sua forma tão singular que geralmente nos passa despercebido.
Um flautista tocava seu instrumento, com melodias doces e notas longas enfeitando de maneira impar aquela ocasião. En’hain tinha aberto seus olhos, agora ele percebia o que sempre esteve lá. O barulho da fonte de água que bate de tempos em tempos para anunciar que ficara cheia e derramar todo o fluido que coletara, batendo na pedra quando voltava à posição original não era só mais um enfeite. Seu timbre se conciliava com os outros tantos que também vibravam: “Basta olhar, En’hain”, lembrava o barman do que o dono do bar falava durante sua última lição de alquimia.
Foi o que En’hain fez, olhou atentamente e se deixou sentir a brisa suave soprar, a temperatura do lugar lhe envolver e seus pensamentos caminharem sozinhos. Ele sentiu que eles o levavam a um lugar diferente, onde podia ver mais árvores, numa montanha coberta por vegetação. As nuvens no alto do céu eram sopradas com força, viajando rápido, deixando uma sensação de que se estaria completo, não faltava nada. “Era como se desse para sentir a vida brotar do chão...”, disse ele, continuando seu relato, “Eu sou apenas um... Tudo isso é bem maior que eu”! De fato, o draconiano sentia que estava voando por toda aquela imensidão, de um lado a outro, recolhendo mais e mais sensações:
–Pena que isso não dura muito... É preciso ter pratica, percebendo uma coisa nova todos os dias para que dure. Ter esperança e calma são essenciais para a percepção, cada novidade por ser dividida em diversos pensamentos novos, compondo uma canção, um poema, uma pintura, uma ideia nova... Ter em mente que esses pensamentos não precisam ser perfeitos nos liberta do preconceito e possibilita que sejamos realmente quem somos; admitindo o que queremos e a forma como queremos. Isso é importante, uma vez que isso nos mostra que somos e aonde queremos chegar. Como se iluminasse um pouco mais o caminho que sempre nos é escuro. – En’hain tentava lembrar-se do que aprendia com os livros, desenvolvendo suas próprias percepções. – Tentar coisas novas ou simplesmente deixar que elas apareçam pode salvar vidas!
O sentimento novo que conhecia ajudava-o a perceber o quanto ele era fechado, que não se deixava levar com a brisa, como as folhas:
–Perceber que o mundo lá fora não está tentando te engolir é um dos melhores remédios que há! – Um cidadão da vila, o dono do mercadinho, lhe acenou naquele momento.
–Bom dia, Senhor En’hain.
–Bom dia. – E ele sorriu com aquele simples gesto.

sábado, 12 de maio de 2012

Desvil's Drink 15# - Sangue

            Era um dia muito chuvoso naquela pequena vila. En’hain, Gurei e Akai tiveram que sair para ver como estava Lady Neko que estava passando alguns dias no templo completamente gripada. Eles não demoraram muito, aquela chuva era uma invocação das ondinas que iniciavam uma evolução para se tornarem provedoras da chuva. O que aconteceu a seguir, diz respeito ao pequeno Akai, pois ele não é apenas um pequeno Neko, ele é marcado pelo vermelho do sangue...
            – Vamos correr! – gritou Gurei tentando não molhar o pelo.
            – Demorou! – retrucou En’hain carregando o pequeno Akai nas costas se esforçando para correr debaixo de tanta água.
            Quando chegaram, En’hain e Akai entraram, a porta se fechou e Gurei ficou do lado de fora:
            – Ei, o que está acontecendo? Abram a porta!
            – Mas, o quê? – En’hain olhou para trás e viu que Akai trancara a porta e passara a chave, impedindo que Gurei entrasse. – Akai, abra a porta.
            – Não! – Akai estava sério, sentia algo de estranho no ar, estava ouriçado.
            – Está tudo bem Akai?
            – Meu nome não é Akai! – disse ele num grito forte e determinado.
            – ...! – En’hain deu um passo para trás, nunca tinha visto seu pequeno amigo daquele jeito. – Akai, você está me assustando...
            – Gente! O que está acontecendo aí dentro? Abram logo a porta, não estou gostando dessa brincadeira. – dizia Gurei do lado de fora que não parava de puxar insistentemente a maçaneta. – Vocês sabiam que está chovendo aqui fora?!
            – Meu nome não é Akai, meu nome não é Akai, meu nome não é Akai...
            – Está bem, vou tentar entender... – En’hain estava com as mãos abertas e espalmadas. – Akai foi o nome que você recebeu aqui, um apelido, se preferir... Qual é o seu verdadeiro nome?
            – Meu nome é Santiago. – respondeu rispidamente.
            – Está bem... Santiago? O que você quer? Não precisava trancar o Gurei lá fora...
            – Não queria interrupções... Eu quero o seu sangue!
            – ...! – En’hain se lembrou das duras palavras que Gurei lhe dissera no dia em que se conheceram: se um neko beber o seu sangue, ele nunca mais irá querer tiver e estará livre para ir embora. – Por quê? Você não é feliz aqui?
            – Já me cansei de você! Eu odeio que fiquem mandando em mim... Me dê o seu sangue!
            En’hain puxou uma cadeira e se sentou, tentou dizer algumas palavras, mas elas entalaram na garganta. Por fim, começou a chorar normalmente. Não com dragão, como humano:
            – Eu sabia... Um dia isso iria acontecer, não é? Você iria embora e eu voltaria a ficar sozinho...
            – ... – o neko encarava-o silenciosamente.
            – Eu não queria acreditar que o que eu estava fazendo era errado, tentei dar o melhor de mim para que você não ficasse triste. Juro que todas aquelas vezes que eu mandei você fazer algo, era pensando no seu bem-estar, num jeito de você também participar de alguma coisa... Me desculpe...
            Akai não deveria estar escutando, colocou as garras de fora e partiu para cima de En’hain, no pulo de um gato. En’hain era mais forte e ágil, conseguindo se desvencilhar segurando as duas mãos de Akai. Pela primeira vez o draconiano se sentiu feliz por ter se tornado tão diferente:
            – Eu queria... Queria que você fosse livre. Mas também queria que você ficasse aqui comigo. Quem está preso a essa maldição sou eu, Santiago!
            – Me dê a droga do seu sangue! – En’hain passou por debaixo dos braços do neko e o abraçou.
            – Me arranha, estripa a minha carne, libera toda a sua raiva e derrame quanto sangue quiser. Eu já não pertenço mais a mim, sou completamente seu...
            Akai começou a arranhar profundamente as costas de En’hain, deixando suas garras completamente vermelhas, banhadas em seu sangue. En’hain chorava de dor, não da que sentia com seus machucados, mas da dor que sentia em perder aquilo que lhe era mais precioso:
            – Lembra-se daquela história que vários clientes do bar contam, a história de La Estrega, a bruxa? Eu também me esqueci de dizer... Eu te amo. – Akai parou, seus olhos permaneciam cheios de ódio. – Pode arrancar... arranque meu coração...
            – ...? – Santiago estava confuso.
            – Não aguentaria pensar em você sofrendo e não poder estar lá para te proteger...
– O que você quer? Se eu arrancar seu coração humano você vai...
– Ficar mais feliz do que viver uma eternidade sem você...
– Se eu ficar... Vou te odiar... Como odeio meu último mestre... Odeio que mandem em mim!
– Então como você não me obedeceu agora a pouco?
– Hoje é o dia da liberdade, hoje o selo não tem efeito... O mesmo dia em que matei meu último mestre...
– Você queria tanto assim ser livre?
– Eu não suporto ser forçado a fazer qualquer coisa e é inevitável que um neko obedeça a seu mestre...
– Não me obedeça...
– ...?! – o neko não entendia aquelas palavras.
– Faça o que quiser... Eu já não pertenço mais a mim... – En’hain largou Akai e caiu no chão, já havia perdido muito sangue. – Amanhã é o aniversário de um ano que você saiu da caixa... Feliz aniversário... – e desmaiou.
Akai se levantou, abriu a porta e encontrou Gurei que estava totalmente ensopado:
– Miau! Finalmente! Pensei que iam me deixar mesmo lá fora a noite toda e...
– Ajude o En’hain... – Santiago estava de cabeça baixa.
– O que aconteceu aqui?! – Gurei olhou para as mãos de Akai e viu que elas estavam vermelhas, olhou para trás dele em seguida e viu En’hain naquele estado. – Santiago, o que você fez?!
– Ajuda ele... Nyaaa... – Akai escorregou escorado pela porta até se ajoelhar, sentia grande tristeza que transbordou em pranto.
...

            En’hain passou aquela noite dormindo depois de ser tratado pelos poderes de cura de Gurei e já não corria risco de sua parte humana, que veio completamente a tona por causa de toda aquela emoção, corromper seu corpo etéreo de metal. Aquilo era um risco que poderia comprometer toda a sua evolução para se tornar um draconiano de verdade. A única forma de matar um dragão é abusando de seus sentimentos e arrancando seu coração.
            Akai permaneceu o tempo todo com En’hain até ele acordar:
            – Santiago... – disse o barman ao perceber a presença do neko ainda do seu lado.
            – Pode me chamar de Akai, se quiser... – o neko estava sentando numa cadeira abraçando os joelhos, sem olhar diretamente para En’hain.
            – Venha cá... por favor. – e estendeu a mão depois de se acomodar melhor na cama.
            – Não quero... Eu machuquei você...
            – Eu não ligo! – gritou em tom meio choroso. – Estou feliz por você ainda estar aqui, então chega disso e venha logo aqui... por favor...
            Akai se sentou na cama como En’hain havia pedido, ainda sem lhe dirigir o olhar. En’hain o abraçou sem pedir permissão:
            – Feliz aniversário, amigo. – Akai olhou para En’hain e deixou sua cabeça pousar em seu ombro.
            – Nyaaa... Obrigado.

            Sorrindo, En'hain completou:

            – Como você cresceu!
 
            Foi isso...

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Devil's Drink 14# - O porão


            –Como é que é?! –Indagou En’hain.
            –Vamos ao porão... – Disse Gunshin procurando por algo no meio do chão atrás do balcão.
            –Que porão?! Essa casa, esse bar... tem um porão?!
            –Sim... Achei! – Não dava para ver o que o dono do bar fazia, mas deu para ouvir o barulho de uma chave virando.
            En’hain estava estranhando tudo aquilo e foi para trás do balcão lentamente:
            –Que merda é essa?! – En’hain se deparou com um buraco no chão, não havia porta nenhuma, nem fechadura e muito menos um dispositivo que pudesse esconder uma parede falsa.
            –É uma escada, por quê?
            –...! – Tinha fumaça saindo da cabeça de En’hain que estava com a cara fechada. – Nada não... Você sempre me escondendo alguma coisa. Vai me dizer que aqui também tem um sótão, não é?
            –Não, não tem... Você queria um?
            –Deixa pra lá... O que a gente vai fazer lá embaixo mesmo? – Gunshin pulou dentro do buraco que possuía um desnível e continuo descendo pela escada. – Ei, me espere!
            O porão do bar, se é que se podia dizer isso, era um lugar amplo, cheio de prateleiras com garrafas velhas e esquecidas, provavelmente uma adega. No entanto, haviam mais coisas, haviam caixas, baús, entulho jogado em cima de entulho, “Um verdadeiro ferro velho”, pensou En’hain.
            –En’hain! – Chamou Gunshin. – Venha aqui, tem algumas caixas para você levar lá para cima!
            –Sim! Onde você está? Não estou te vendo! – De repente, um estalo de dedos e algumas lamparinas espalhadas pelas colunas de sustentação acenderam, iluminando aquele vasto local que parecia não ter fim, talvez por nem todas terem acendido. En’hain pegou uma delas e se pôs a andar na direção da voz de Gunshin.
            –Vamos logo! – Gritou Gunshin. – Eu já vou levar metade lá pra cima.
–Dá um tempo, caramba! Não dá pra ver nada direito aqui.
–Pare de ficar com medo! E venha logo pegar essas garrafas de Devil’s Drink! – A voz estava distante e a cabeça de En’hain soltava fumaça...
–Velho desgraçado, nunca me diz o que está realmente fazendo... – Resmungava En’hain baixinho, tentando não ser ouvido pelo dono do bar.
–Pegue as caixas de Devil’s Drink! – Falou alto mais uma vez.
–Que caixas?! – En’hain bateu o pé em alguma coisa. – Ai! Cacete! Ahn... Heheh, achei!
En’hain havia batido justamente nas caixas de garrafas que Gunshin havia mandado procurar. Notou que ao lado estavam marcas de algo que foi movido recentemente:
–Filho da mãe! Que raiva! Já me deixou largado aqui! – En’hain ficou vermelho. – Bom, é o jeito.
Pegou as duas caixas que haviam ali com uma das mãos e com a outro foi apoiando, enquanto segurava a lamparina para não se perder, e foi votando em direção a escada... “Que escada?”, se perguntou, pois não conseguia saber onde aquela escada estava no meio daquela imensidão.
–Fudeu! – Disse preocupado. – Gunshin, onde está você?!
–... – Ninguém respondeu.
–Só me faltava essa! – E continuou andando. – Como é que eu vou fazer pra sair dessa imensidão? Opa! O que é aquilo ali?
En’hain se distraiu com algo grande com um lençol branco por cima, deixou as caixas de lado e foi olhar. Puxou o pano e descobriu um espelho, um pouco maior que ele na qual começou a se ver. Ele se sentiu estranho, num primeiro momento sabia que era ele, mas não se reconhecia. O que ele via era alguém de cabelo prateado, olhos de pupila rasgada verticalmente com fundo vermelho. Os dentes eram apenas caninos, muito salientes, como um tubarão, só que metálicos. Suas unhas, também metálicas, mais pareciam como as garras dos nekos.
–Que porra é essa...
–Nossa que demais! – Disse Gurei admirando o espelho.
–CACETE! Que susto você me deu agora!
–Do que você está falando? Eu acenei pra você pelo espelho.
–Espere aí... – En’hain se virou de volta para o espelho e tomou outro susto. – Eu só consigo me ver!
–Verdade... Eu também só consigo me ver. Nossa! Como eu estou bonito! Caramba! Posso ver meu outro olho! – Gurei admirava uma imagem diferente dele, alguém muito parecido e que não usava tapa-olho.
–Para tudo! – Disse Lady Neko que apareceu do nada. – Gente! Como eu estou magra, linda, maravilhosa e magra, miau!
–Lady Neko, você também?! – Indagou En’hain. – Você disse magra duas vezes? Vê se te enxerga mulher!
En’hain disse aquilo e outras coisas, mas nenhum dos dois ligou para ele. Mas o que mais o preocupava era sua própria imagem: “Porque eles estão gostando do que estão vendo e eu nem consigo me reconhecer?”, pensava ele.
Do lado de fora, Gunshin esperava pacientemente que En’hain e os outros saíssem:
–Ele está demorando demais...
–Nyaaa! – Fez Akai se debruçando por cima do balcão para ver o buraco.
–Vá lá ver o que eles estão fazendo. – Mandou, sem mais nem menos.
–Nyaaa?! – Akai desceu do balcão e se escondeu.
–Quer me perguntar alguma coisa, Akai? – O pequeno voltou a parecer pela frente do balcão, tentando evitar o olhar de Gunshin.
–O Espelho de Narciso está lá embaixo, não é? – Perguntou Akai sem problemas.
–Você já conheceu esse espelho, pequeno? – “Akai parece saber mais do que demonstra”, pensou Gunshin.
–Esse espelho maldito já trouxe muitos problemas à Vila dos Gatos. Por que ele ainda está aqui?
–Você verá... – Disse sorrindo.
–AAAAAAAAAAH! – Alguém gritou lá embaixo.
Akai ficou muito assustado, indo para frente do balcão de novo, Gunshin nem ligou:
–Está feito! – O dono do bar se alegrou.
Lá embaixo, o espelho estava quebrado e En’hain estava agachado em posição fetal, se lamuriando:
–Porque comigo? Porque comigo? – Ele escondia a cabeça atrás dos joelhos enquanto se balançava pra frente e pra trás.
Os dois nekos pareciam estar acordando do transe e perceberem que En’hain havia gritado. Gurei levantou a lamparina para iluminar En’hain melhor e deparou se com aquela cena inusitada:
–Mas o quê? En’hain, você está bem?
–Amore, tudo bem? – Perguntou Lady Neko.
–Minha vida terminou... – Disse En’hain, ainda escondendo o rosto.
–O que aconteceu com o seu cabelo? – Continuou Gurei. – Vamos, levante o rosto para que eu possa ouvir melhor...
En’hain levantou, ainda com muito medo, para que os outros pudessem vê-lo, temendo o que pudessem dizer. Gurei viu e não conseguiu segurar:
–Hahaha... – Gurei dava risadas altas.
–En’hain... Você está tão... diferente!
–Acho que foi aquele maldito espelho...
–Vocês três, venham logo! – Disse Gunshin.
–Sim... – “Velho maldito desgraçado que só me mete em mais encrenca...”, pensava En’hain emburrado.
Os três se dirigiram para fora do porão logo que viram a escada, que aparentemente apareceu assim que Gunshin os chamou. Gurei saiu primeiro, depois Lady Neko e por fim En’hain, que não queria sair de trás do balcão:
–O que você ainda está fazendo aí? – Perguntou Gunshin.
–Eu não vou sair daqui...
–Saia logo, eles precisam ver como você está... – Insistiu Gunshin.
En’hain estava envergonhado e não conseguia tirar as mãos das costas. Gunshin o puxou pelo braço e finalmente todos firam o que estava atormentando En’hain. Conforme ele vira no espelho, ele estava daquele jeito, cabelos prateados, olhos de pupila rasgada com fundo vermelho, seus dentes e garras estavam afiados e eram feitas de metal. Só havia um detalhe que faltava:
–Hahaha... Uma calda?! – Gurei ria muito alto.
–Para de rir seu palhaço!
–Ui! Cuidada com essa boca... tubarão!
–Ninguém merece... – Saia muita fumaça da cabeça de En’hain, uma veia na sua testa estava saltada e mostrava um sorriso forçado com seus novos dentes afiados. – Gunshin, por favor, tem como reverter isso?
–Na verdade... Não. Não foi o espelho que fez isso com você...
–Mas, então... O que significa isso?
–É a sua transformação que continuou. Acho que já deve estar estável agora.
–Fudeu... – Lágrimas metálicas despontavam no canto do olho dele.
Akai ouviu a conversa e finalmente saiu de onde estava escondido, indo subir nas costas de En’hain:
–Nyaaa! – Fez ele feliz, usando a nova cauda de En’hain para subir.
–Ai, cacete! – O draconiano gemeu de dor. – Akai, é você, é?
–Nyaaa! – O pequeno neko estava muito feliz com En’hain, não demonstrando estranhar as novas condições de seu mestre, já que havia ficado muito mais fácil subir em cima dele. O dono do bar ficou olhando para Akai enquanto ele brincava na cabeça de seu barman: “Esse neko”, pensou Gunshin, “é bom que eu tome cuidado com ele”...
–En’hain? – Lembrou Gunshin. – Onde estão as caixas?
–Putz... Sabia que tinha esquecido alguma coisa...
–Hahaha... – Gurei continuo a rir de En’hain, que apontou sua nova cauda pra ele e que abriu em vários espinhos de metal, enquanto olhava para Gurei com olhar assassino. – Vixi!
E todo mundo riu daquela situação...