En’hain
estava dormindo quando, de repente, alguém veio acordá-lo:
–Cacete! –
Berrou ele. – Que susto que você me deu agora!
–Café da
manhã... Nyaaa! – Um neko de pelo avermelhado havia pulado em cima de En’hain.
–Já vou
Akai. – Esse era o nome dele. – Já vou pegar o seu café da manhã...
A vida no bar Toca dos Gatos era
muito movimentada, principalmente porque En’hain precisava cuidar de seus
amigos nekos que também trabalhavam no bar. O mais jovem e hiperativo de todos
era Akai. Ele não costumava dar problemas, exceto quando não dava grandes
problemas. Não fazia muito tempo que ele havia saído de sua caixinha, aliás,
foi o próprio En’hain quem abriu sua caixinha. Aquele dia foi muito
divertido...
...
En’hain
estava discutindo com o dono do bar:
–Como assim
eu tenho que ficar aqui? Eu não tenho ideia do que você fez comigo!
–Se acalme
En’hain, não precisa se exaltar tanto. Eu só vou sair um pouquinho para trazer
o que está faltando no estoque. – Disse calmamente.
–...! – A
cara de En’hain estava completamente fechada, há quem diga que saía fumaça de
cabeça. – É bom você voltar logo, eu sou apenas um estudante de arquitetura...
Como é que eu vou fazer se um daqueles... daqueles gatos vierem aqui?!
–Se acalme,
você vai saber o que fazer. Arrume a casa e o seu quarto. – O dono do bar fez
um cafuné na cabeça de En’hain, desarrumando seu cabelo. – Eu já volto.
–...! –
Mais fumaça estava saindo da cabeça dele, a porta se fechara e En’hain estava
sozinho naquela casa/bar enorme, sem saber exatamente o que fazer.
Aquele
lugar era realmente grande, havia um grande balcão onde eram preparadas as
bebidas e os aperitivos. Atrás dela havia uma grande estante com diversas
garrafas de diferentes formas, cores e tamanhos. Também havia ali um pequeno
palco, onde poderia se apresentar uma banda com até seis integrantes. Eram umas
dez mesas no centro, quadradas e ligeiramente pequenas, todas com quatro
cadeiras. Caso houvesse superlotação, haviam mais mesas no depósito e as quatro
portas do bar poderiam ser abertas ampliando bem o espaço principal. Nas
paredes haviam pequenas mesas triangulares para dois, deviam ser umas sete, mas
uma delas estava guardada por se quebrado recentemente. No momento aquele lugar
estava todo desarrumado:
–Filho da
mãe, deixou tudo pra mim! – Se irritou En’hain. – Ele ainda me paga pelo que
ele me fez...
En’hain foi
lá para trás, na cozinha, e entrou na dispensa para pegar a pá e a vassoura,
como também o latão de lixo, que teve de ser empurrado por ser grande demais
para ser carregado. Uma varridinha ali, uma varridinha aqui, um pouco de poeira
ali, alguns espirros pra acompanhar... Pronto, tudo no latão! Não estava ainda
limpo, mas aquele grande lugar era muito difícil de limpar. Então En’hain pegou
o balde e o esfregão, além de algumas flanelas e desengordurante para as mesas,
estavam uma nojeira só. En’hain esfregou, esfregou, esfregou... em cima e
embaixo até suas mãos ficarem vermelhas. Mas, sim, finalmente estava tudo
ajeitado:
–Agora está
com cara de um estabelecimento descente! – Se alegrou o jovem. – Ufa! Ainda
preciso ir lá para cima. Bóra!
En’hain
subiu as escadas que ficavam na cozinha para o primeiro andar da casa. O
corredor de saída era comprido e envergava para esquerda, ao longo dele haviam
diversas portas, as primeiras que ainda davam para se ver da escada eram os
banheiros dos empregados:
–Se ele
realmente pensa que eu vou ser empregado dele... – Mais fumaça voando! – Bóra
pros quartos! – É claro que ele passou direto pelos banheiros...
O quarto
não precisava de muita organização, apenas que as cobertas e os travesseiros
fossem trocados e arrumados:
–Eu não
deveria ter feito aquilo ontem... – Falou, pensando no dia anterior. – Tudo
arrumado! Agora posso ir tomar meu café da manhã...
Ele já ia
descendo as escadas quando se deu conta de algo:
–...! – Sua
cara fechou de novo. – Eu tenho que arrumar os banheiros...
En’hain
pegou um balde, sabão em pó, uma vassoura e a escova da privada, do jeito que
sua mãe fazia em casa. Esfregou ali, esfregou aqui, deu descarga uma, duas vezes.
Colocou o desinfetante na privada e saiu. Respirou fundo, bem fundo:
–(Cof, cof)
Que nojo! Como é que alguém poderia viver num lugar como esse?!
Finalmente,
tudo terminado, a Toca dos Gatos estava limpa como nunca esteve antes:
–Agora, o meu café da manhã! –
Disse En’hain todo contente.
De repente, ouviu barulhos. Ele
sentiu um grande arrepio: “Será que algum gato está tentando entrar?”, pensou
ele. Ouviu atentamente e concluiu que não, o barulho estava vindo de cima.
En’hain foi andando pelo corredor tentando encontrar o que provocava os ruídos
e deu de cara com a porta do quarto do dono do bar. Como acabou batendo o nariz
nela, a porta se abriu. Curioso como um gato, pensou ele, começou a subir as
escadas para conhecer o quarto ‘daquele’ sujeito. Ao terminar o novo lance de
escada, se deparou com um quarto amplo e aconchegante, uma grande cama, alguns
armários em madeira esculpida a mão, uma escrivaninha feita de um grande tronco
adaptado para ser mesa, preservando seu formato natural. Tinha grandes janelas,
tendo uma grande vista para a vila dos gatos, com uma pequena varanda cheia de
plantas que pendiam do alto da casa. En’hain sorriu. Mesmo como um estudante de
arquitetura sabia que aquele tipo de lugar era raro e divino. Adentrou mais o
quarto e foi para a escrivaninha, tocando com a ponta dos dedos aquele trabalho
tão bem feito. En’hain deu um pulo! Novamente aquele barulho de antes, desta
vez ele sabia de onde vinha. Em cima da escrivaninha havia uma caixinha de
madeira muito bem esculpida, adornada com um rubi vermelho na parte de cima.
Era a caixa que estava fazendo aquele barulho, ela estava pulando. En’hain
parou com o susto e ficou observando a caixa com os olhos arregalados. A caixa
mexeu outra vez, En’hain pôs um pé para trás, novamente a caixa mexia, En’hain
colocou o outro pé atrás. De súbito, a caixinha começou a pular freneticamente
e estava chegando à beirada da mesa. “Se essa caixinha se quebrar o que eu vou
dizer pro dono do bar?”, pensava ele. A caixinha deu mais um pulo e estava preste
a cair no chão... “Ufa!”, En’hain conseguiu pegar a caixinha! Foi então que a
caixinha começou a abrir. En’hain estava de olhos arregalados, um neko
pequeninho saiu de dentro dele apertando o rabinho:
–Nyaaa?! – Fazia o bichinho,
enquanto abria os olhinhos para os primeiros raios de luz.
–Quê?! Você veio de uma caixinha?
Dá onde saiu isso?! – O pequeno neko roçava no dedão de En’hain, enquanto ele
ficava histérico. – E agora?! O que eu vou dizer pro dono do bar?! O que eu vou
dizer...
–(Nhac!) – O pequeno bichinho deu
uma mordidona no dedão dele.
–AAAAAIIIIII!!! – En’hain gemeu
de dor. – Bichinho filha da mã... Aonde você pensa que vai?!
–Nyaaa! – O neko saiu correndo
por todos os lados, pulou na cama, desarrumou os lençóis, derrubou os
travesseiros e En’hain atrás dele.
–Volta aqui, peste!
O neko parou
em cima da escrivaninha, balançou o rabinho e En’hain pulou em cima dele. O
gatinho pulou e escapou. En’hain derrubou tudo que estava na mesa. Fazendo um
barulhão. O peque neko saiu correndo por toda a casa, como se estivesse curioso
pra saber o que era tudo aquilo. Abriu portas, desmanchou a cama do En’hain,
entupiu a privada e deu descarga e desceu para o bar. En’hain estava estático
ainda no topo da escada impressionado com a velocidade que a casa vinha abaixo:
–Como pode?!
Como pode uma coisinha tão diminuta causar tanto desastre. – Disse,
completamente atônito enquanto descia as escadas, temeroso de ver o resto do
resultado.
Chegando ao
bar, totalmente petrificado, virou poeira ao ver que seu esforço tinha ido por
água abaixo, literalmente. Ouviu barulho nos fundos:
–Não, a
cozinha! Meu café da manhã! Socorram meu café da manhã!
Novamente
ficou petrificado, o neko já tinha devorado tudo e ainda por cima estava de
babador com garfo e faço na mão!
–Akai... –
Falou o dono do bar de trás dele.
–Como? Ah! – O
espírito de En’hain estava saindo pela boca. – Você, já... já... chegou?!
–Akai... O
pelo dele é avermelhado, Akai, entendeu?
–Escuta aqui!
– En’hain deu um belo cascudo no dono do bar.
–O que foi?
Ele está com fome! – O dono do bar esfregou a cabeça. – Caramba, essa doeu,
magoou!
–...! –
En’hain se irritou. – Como é que você deixa esse bichinho fechado numa
caixinha?
–Eu não o
tranquei lá... Os nekos nascem lá dentro.
–Ahn?! Vixi!
Agora que o caldo entornou! Não entendo mais nada! – O dono do bar se levantou
e pegou Akai nas mãos.
–Toma, agora
você é a mãe dele...
–...! –
En’hain desmaiou, segurando Akai, dessa vez o espírito saiu de vez do corpo
dele.
Akai ficou
olhando o moribundo, deu uma volta inteira, se espreguiçou e dormiu em cima
dele e assim ficaram.