quarta-feira, 20 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Sonho e Realidade
Informe do Multiverso



Começando transmissão...

            “Rhu’ia! Saudações, Senhores de Castelo! Agora que tudo está nos conformes, podemos voltar a transmitir a nossa programação do Informe do Multiverso normalmente! Hoje venho lhes contar sobre o estado da nossa querida Senhora de Castelo, Laryssa de Agabier, que permaneceu desacordada por mais de uma semana! Ela já acordou e passa bem, está extremamente feliz e nos contou com exclusividade o sonho que teve durante o seu período de coma. Confira! Aqui é Fentáziz, do seu Informe do Multiverso.”

...
            “No sonho tudo era bom, eu estava em Agabier, andando a cavalo por uma manhã meio nublada com meu pai, Larys, rei Agas’B. Os animais estavam recolhidos por ainda ser meio cedo e a natureza estava contente por reunir os elementais do ar, da água e da terra na dança da chuva do dia anterior. O cheiro da umidade estava melhor do que nunca, a vida estava transbordando naquele momento. Eu olhava para o meu pai e ele olhava para mim, sorriamos um para o outro. Eu nem me lembrava do que estava acontecendo, simplesmente eu o seguia lado a lado, sentindo a leve brisa de Agas’B no meu rosto, não haveria momento melhor que aquele.”
            “Ao chegarmos próximo ao castelo, avistei alguém que acenava para mim, eu não conseguia ver seu rosto, então perguntei para meu pai quem era aquele. Ele virou se para mim e disse: ‘Ainda está com sono minha filha? Não consegue ver direito? Aquele é o seu noivo!’ Eu me assustei muito, eu nunca fui prometida em casamento a ninguém. Meus pensamentos me diziam que meu pai havia aprontado alguma e que eu acabaria me casando com alguém que nunca amei. Olhando de perto, percebi que era um homem alto, forte... que realmente não tinha rosto! Percebi que deveria estar num pesadelo, desci do cavalo e sai correndo para dentro do castelo, estava apavorada, pensando: ‘Por que meu pai não afasta aquela assombração para longe de mim? Por que os soldados e guardas do castelo não fazem nada?’ Eu tremia atrás da porta do meu quarto, pensando no pior.”
            “Foi então que alguém bateu suavemente na porta: ‘Mestra Laryssa? Por favor, abra a porta, sou eu, seu amigo Azio.’ Me alegrei em ouvir aquela voz que mais ninguém apresentava, tinha certeza que era meu amigo autômato que sempre me acompanhou desde que eu era pequena. Decidi abrir a porta o suficiente para checar se o monstro estava lá e não deixá-lo entrar. Vi Azio e me acalmei um pouco, deixando o entrar:
            –Mestra Laryssa está bem? Meus sensores indicam que seu coração está batendo muito forte... É por causa do casamento?
            –Azio... – Eu queria chorar. – Quem era aquele?! Eu nunca fui prometida em casamento!
            “O meu amigo de lata virou-se e tentou abrir a porta. Quando vi novamente aquele rosto sem feições que me assustava tanto ‘olhar’ pela fresta, subitamente fechei a porta em sua cara. Ouvi algum gemido de dor, me preocupei um pouco com o sujeito, mas meu coração disparado me impedia de abrir aquela porta e olhar.”
            “Azio olhava para mim, piscando os olhos eletrônicos de preocupação. Ele pôs a mão metálica no meu ombro, me fazendo sentir a temperatura natural de seu corpo, e tentou me dizer algumas palavras: ‘Mestra Laryssa, estou muito preocupado, desde que voltamos da grande batalha contra os Caçadores Sombrios, você tem agido muito estranhamente. Você ama o seu noivo, não ama?’ Aquilo me caiu como uma pedra. Como eu poderia ter concordado com aquilo?! Eu só me lembrava de Kullat, meu amado Kullat... Comecei a chorar, molhando meu rosto por inteiro, no meu coração eu sabia, Kullat estava morto e não voltaria mais!”
            –Eu... Só amei o Kullat... Agora vejo meu amigo, não conseguiria me casar com mais ninguém. – Eu tentava fazer Azio entender o que se passava comigo.
            –Laryssa, meu amor, abra a porta! – O sujeito que me prometeram em casamento tinha perdido a paciência.
            –Eu não sei quem é você! Vá embora! Eu não quero me casar!
            –Laryssa! Não faça isso comigo, abra a porta, vamos conversar direito! – Ele insistia em mexer na maçaneta e eu a fechá-la com a minha força.
            –Por favor, não insista... Procure outra pessoa, meu coração é de apenas um e ele não é você... – Os movimentos da maçaneta pararam.
            “Desconsolada, comecei a escorregar pela porta, me sentando no chão, aos prantos e soluços. Acho que acabei adormecendo e Azio me pôs na cama.”
            “No dia seguinte – eu deveria ter dormido uma noite inteira – acordei melhor comigo mesma. O dia estava melhor, o céu era límpido, não havia ninguém no meu quarto, me recostei na cama e contemplei aquele dia maravilhoso através da janela por algum tempo. Alguém bateu na porta e eu disse que podia entrar.”
            –Mamãe, mamãe! Bom dia! – Eu ouvia a voz de uma menininha. Quando olhei para o seu rosto senti meu corpo inteiro ficar gelado.
            –Quem é você?! Eu não sou sua mãe!!! Você não tem rosto!
            “A menina começou a chorar e saiu do quarto. Eu me apertei com as cobertas, sentindo cala-frios terríveis. Como alguém pode me deixar sozinha com aquela assombração por perto? Então aquele sujeito sem rosto entrou pela porta segurando a menina no colo e se aproximou de mim. Eu só conseguia pensar ‘O que está acontecendo aqui? Eu o mandei embora ontem!” Ele se aproximou, sentou-se na cama e tentou por a mão nos meus pés, que lhe estavam mais próximos. Eu recuei, olhando para o outro lado. A menina estava mais calma e começou a falar com ele:
            –Papai... – A menina ainda choramingava. – Por que a mamãe disse que não me conhece?
            –Não sei filha... – Ao ouvir isso, acabei gritando e me escondendo debaixo das cobertas. O sujeito se assustou, e abaixou a cabeça, aparentemente triste comigo.
            –Laryssa... Você não se lembra do dia em que te dei o anel que está no seu dedo? – Somente depois que ele me disse percebi, realmente havia um anel no meu dedo, um lindo anel por sinal. Era cravejado com uma pequena jóia cor-de-rosa e lindas flores entalhadas. Olhei do outro lado e reconheci um símbolo que fez com que eu me acalmasse.
            “Lentamente, fui saindo debaixo das cobertas. Aquilo parecia um sonho, eu estava chorando, mas não de medo, era de imensa alegria... Em seguida, eu acordei. Estava no centro de atendimento médico da ilha de Ev’ve, os Senhores de Castelo haviam derrotado os Caçadores Sombrios e a paz havia retornado ao multiverso. O meu destino já havia sido traçado, aquilo era apenas mais um sonho. Algo impossível... Até que eu notei algo em minha mão... Era o mesmo anel do meu sonho! ‘Mas, quem poderia ter colocado ele? Droga, por que temos dificuldade em lembrarmos os nossos sonhos?!’, eu estava pensando. Uma voz conhecida me disse algo, eu não havia entendido direito, minha cabeça ainda não estava plenamente sã, então ela repetiu:
            –Desculpe ter colocado o anel enquanto você dormia... Eu não aguentava a espera, estava ansioso demais pra você... – Eu me joguei em seus braços, não deixando que terminasse a frase.
            –Sim, eu aceito!
...

            –Bem, foi isso o que aconteceu, hoje sou a mulher mais feliz do multiverso! – Laryssa apertava as mãos com alguém do lado.
–Eu já morri uma vez... Não quero mais ficar longe dessa mulher incrível! – Os dois se beijaram.

...

            “É meu povo! Todo mundo aqui da ilha está muito surpreso com este inesperado presente dos Caçadores Sombrios. E não apenas isso, todos os Senhores de Castelo que morreram durante as caçadas reapareceram vivos e saudáveis! Queria saber se isso é uma das experiências do Doutor Tóxico... Infelizmente, eu não vou poder contar isso a vocês, esta será a minha última transmissão como repórter e apresentador do Informe do Multiverso. Agora tenho que ir, estão me chamando na sala do conselho...
...

Transmissão encerrada.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Dia de Milagre



            “Este é o dia em que um aprendiz deve testar e abrir sua mente para fazer o impossível, e acreditar que mesmo quando todas as esperanças se vão, sempre há a chance de algo realmente bom acontecer.”

...

            O multiverso se acalmou, toda aquela energia estava começando a diminuir e se dissipar. O farol de Nopporn continuava a brilhar com sua incrível chama azul-esverdeada que se intensificou ainda mais. A Espada do Infinito reagiu ao chamado da anciã e deixou o corpo de Thagir que voltou a ser como era. O artefato místico voou pelos céus da ilha de Ev’ve e parou acima da torre, brilhando como uma estrela, removendo toda a maru sombria que ainda escurecia as estruturas brancas e acolhedoras que os Senhores de Castelo conhecem tão bem. O céu azul retornou, as defesas da ilha voltaram a funcionar e lá, um pouco além do anel defensor, quatro colossos espaciais gigantescos orbitando em uníssono com a ilha e o sol artificial voltava a iluminar aquela terrível noite escura. Senhores de Castelo e aprendizes bradavam mais do que nunca pela vitória que chegava com o amanhecer.
            Dânima e suas filhas vieram ao encontro do pai e marido que tanto amavam, e se abraçaram fortemente com o calor da certeza que tudo ficaria bem dali para frente. Nos alto-falantes, alguns novos sons surgiam e o pronunciamento de Vidara começou:
            –Filhos de Nopporn! O dia amanheceu e as trevas se foram! Mais uma batalha chegou ao fim e temos muito que concertar e reparar, o trabalho e esforço de vocês serão árduos para trazer de volta o que tínhamos antes, mas tenho certeza que a força de trabalho unida de vocês logo terminará com esta simples tarefa! Descanse um pouco e ajudem a quem puderem, teremos um longo dia pela frente! – Os anciões já deveriam ter suas forças renovadas e o estado de petrificação desfeito quando a Espada do Infinito voltou para o seu lugar de descanso.
            Com a ajuda de todos, as populações que estavam aprisionadas nas Estrelas Escuras desceram para a ilha e eram prontamente atendidas por aprendizes e castelares, era um número incontável de pessoas e animais, de Curanaã, Oririn e alguns outros planetas. Alguns Capitães que estavam nas redondezas do centro do multiverso aportaram no porto da ilha e disponibilizaram seus navios para ajudar com a população, trazendo mantimentos e outras provisões.
Estava tudo correndo muito bem, até que se houve um tumulto causado pelos Caçadores Sombrios. Os anciões, como sempre, preferem ponderar no salão de reuniões sobre o próximo passo a ser tomado, enquanto aqueles que estão sendo julgados permaneceriam na prisão provisória da parte baixa da ilha, não fosse um pequeno problema com Histério, o cavaleiro fantasma, e seu filho Xerubim. Thagir, após ouvir o que estava acontecendo, foi em seguida para a Estrela Escura onde os caçadores se escondiam e viu que a coisa não andava muito bem:
            –Eu não vou deixar o meu filho!!! – Depois de se livrar do controle do Comedor de Sonhos, os caçadores perderam a aparência sombria e pareciam mais com humanos agora.
            –Senhor, você será encaminhado para as celas e permanecerá por lá até os anciões chegarem a um veredicto. – Ponderava um dos guardas.
            –Vocês não vão fazer nada com o meu filho!!! – A criança chorava atrás das pernas do pai.
            A armadura que Histério usava não tinha mais o poder fantasmagórico de antes, mas continha muito poder e ele insistia em afastar os guardas castelares. Thagir chegou o mais depressa que pode e tentou ajudar como podia:
            –O que está acontecendo aqui? Por que todo esse alvoroço?
            –Mestre Thagir! – O guarda ficou espantado com a presença do grande Senhor de Castelo. – São esses dois, eles devem ser levados para as celas e insistem em evitar o nosso auxílio.
            –Deixe me ver... – O rei de Newho se aproximou. – Seu nome é Histério, não é?
            –Sim... – O homem ainda estava inquieto. – Eu não quero que levem o meu filho!
            –Se acalme, não vamos fazer nada ao seu filho. Venha conosco, tudo ficará bem.
            –Não, eu não vou voltar para o meu planeta natal, jamais eu farei isso de novo!
            –E qual seria o seu planeta natal? – Thagir se mantinha calmo para ouvir o antigo inimigo.
            –Eu não vou dizer! Eu não vou voltar pra lá! Se afastem do meu filho! – Uma onde de força derrubou Thagir e os guardas.
            Nesse momento, o grande ancião N’quamor adentrou o lugar com mais guardas castelares:
            –Já chega! Os Caçadores Sombrios já trouxeram problemas demais por um único dia, levem-nos imediatamente.
            –Não, me larguem! Deixem meu filho em paz! – Vários castelares mais bem equipados os estavam rodeando com o que pareciam ser inibidores de força.
            –Grande Ancião? Por que estas medidas tão drásticas, eles só estão com medo...
            –Thagir... – Seu tom era austero. – Estamos tomando apenas medidas provisórias, nada definitivo. Temos urgência em cuidar das milhões de pessoas que abarrotam nossas ruas. Isso se faz necessário...
            –Eu não teria tanta certeza... – Fentáziz acabara de chegar ao salão da Estrela Escura.
            –Você?! O que faz aqui? – Thagir e o ancião acharam estranho a intervenção do repórter.
            –Vim fazer o que preciso fazer... – Fentáziz parou os guardas e chamou a atenção do garotinho, se abaixando e abrindo os braços. – Venha, pode vir Xerubim.
            O garotinho hesitou um pouco, com o rosto molhado e o nariz escorrendo de tanto chorar e se dirigiu para perto de Fentáziz:
            –Isso, bom garoto. – O repórter levantou-se junto com Xerubim num abraço, enquanto esfregava as mãos nas costas do menino que começava a se acalmar.
            –...! – Histério estava surpreso. – Xerubim nunca ficou assim com ninguém!
            Fentáziz olhava para os seus dois superiores com olhar de desaprovação e levantou um pouco a camisa do garoto, mostrando diversas cicatrizes que deveriam ser muito profundas:
            –Seu planeta natal... – Fentáziz virou-se para Histério. – É Adrilin, não é?
            –... – O cavaleiro de armadura apenas mexeu levemente a cabeça dizendo que sim.
            –Como eu suspeitava... Xerubim não era um caçador que obteve seus poderes do comedor de sonhos, ele é mais uma das crianças que acabaram nas mãos dos cientistas loucos daquele planeta...
            –Espere! O governo de Adrilin nunca permitiria isso, os poderes que ele tem são poderosos demais. – Interveio Thagir.
            –Receio que não são esses cientistas. Estive com Alvo e Blanco agora a pouco para confirmar a possibilidade e eles me disseram que alguns dos cientistas gêmeos de Adrilin sequestravam crianças univitelinas para experiências desumanas. Há alguns anos anunciei uma pequena reportagem sobre Adrilin que falava sobre crianças desaparecidas. Reconheci o brasão da armadura de Histério, é uma ordem fundamentalista que prega coisas desse tipo como coisas normais e que aparentemente tem alguma ou pouca ligação com o governo... Estou certo, cavaleiro?
            –... – Histério baixou o olhar, tentando fugir de seu passado. – Eu nasci com um irmão gêmeo, mas por complicações médicas ele veio a falecer e tive uma infância solitária naquele planeta... Quando já tinha idade para sair da casa dos meus pais, pedi a eles que me dessem uma viagem interplanetária. Nesse novo planeta, conheci a mãe de Xerubim. Levei-a para Adrilin e nos casamos. O povo sempre ficava comentando sobre a nossa relação, que a minha esposa lembrava alguns adrilinianos, eu não liguei. Ela estava grávida e foi então que a desgraça começou. Vândalos pintavam a fachada da nossa casa com palavras como: “Solitários”, “Sem irmãos”, “Uni”... Sempre duas vezes. Por causa disso e de outras situações mais constrangedoras, a gravidez dela passou para uma gravidez de risco, e veio a falecer, dando a luz a um filho único. Eu estava feliz, pude ter perdido quem amava, mas ganhei o melhor filho do mundo. Até ele ser sequestrado...
            Histério estava chorando. Os guardas o soltaram e Fentáziz levou o filho de volta ao pai. O repórter perguntou algo no ouvido da criança e ela apontou para o corpo do arauto que estava mais adentro do salão. Thagir e N’quamor olhavam curiosos para saber o que o simples repórter estava fazendo, trocando alguns olhares de vez em quando. Os outros caçadores que se escondiam pelas instalações do centro da estrela, também demonstraram interesse, aparecendo de seus esconderijos. Fentáziz procurou por algo e encontrou, era a esfera amarela que Xerubim usava como arma. Ele sentiu algo diferente ao tocar naquele objeto que começou a brilhar intensamente, sumindo no ar:
            –Ué?! Que esfera louca! Disse-me que tudo iria melhorar... – Fentáziz estava admirado e retornou para junto do caçador e seu filho. – Desculpe, a bola se foi... Tome. – Ele tirou um pequeno docinho caramelado do bolso. – É tudo que eu tenho.
            A criança ficou feliz com o agrado, sorrindo abertamente. De repente, um guarda castelar entrou correndo no recinto:
            –Grande ancião, grande ancião, temos grandes notícias! – O jovem estava esbaforido.
            –O que foi meu filho, o que aconteceu?
            –É o seu planeta natal... Ele reapareceu em sua orbita original!
            –...! – Todos estavam surpresos.

...

Transmissão encerrada.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Comedor de Sonhos



            Kullat estava morto, não havia como voltar atrás... Thagir nunca sentiu tamanha angustia e tamanho desespero, coisas ruins e terríveis lhe passavam pela cabeça. A Espada do Infinito reagiu ao desejo de seu mestre e uniu-se a ele, penetrando em sua carne, corroendo o seu ser e sua alma. O Senhor de Castelo se contorcia em dor, lamuriando palavras inaudíveis. O artefato místico não deveria ser usado por seres simples como os humanos, seu poder é incalculável e qualquer um seria corrompido pelas próprias emoções. Laryssa via incrédula a transformação do amigo que perdia as feições humanas que borbulhavam e se desfaziam no chão. Era luminoso, quente e se podia ver através dele, um ser de energia pura estava nascendo. Definitivamente, aquilo não era mais Thagir... Aquilo passara para um novo nível de consciência... Thagir era agora um deus!
            Laryssa parou de chorar pela perda que teve, seus sentimentos pareciam estar sendo controlados, pois, aquilo que era dor e lamento, foi transformado em medo e pavor. Sentia algo aterrador tomando sua alma, esmagando-a feito uma diminuta formiga que é subitamente destroçada por algo imenso. A consciência dela havia se apagado, desmaiando sobre o corpo de Kullat. O embate começaria: um deus contra um comedor de sonhos!
            A coisa que se debatia para fora da fenda espacial começava a tomar forma e caiu próxima ao novo deus. A sua frente ele surgia com feições diabólicas e humanas, tomado por chamas escuras, três olhos vermelhos, chifres e garras afiadas:
            –Finalmente! Depois de milhões de bilhões de anos, assumi uma forma!!! – A criatura gritava, a luz parecia se distorcer ao seu redor. – O Mestre Caçador nasce!!!
            –Não esteja certo disso! – O novo deus apontava a espada do infinito na direção do comedor de sonhos. Ela simplesmente surgiu em seu braço, entrelaçando-se até mostrar o duplo fio agudo.
            –Hihihi... – O riso dele dava alguns estalos. – Estou com fome! Muita fome!!!
            –Volte para o lugar de onde veio, criatura das trevas! – A voz divina era muito forte.
            Os dois começaram a se movimentar com grande velocidade, golpeando freneticamente onde podiam. Os poderes eram opostos e se anulavam, onde o novo deus golpeava surgiam fendas que lembravam a criação de um novo universo e o comedor de sonhos, que devora o que existe, fazia sumir a matéria que tocava. O embate poderia durar para sempre...
            Micah, que viu tudo de perto, correu com sua moto elétrica e chamou alguns Senhores de Castelo para tirar os corpos de Laryssa e Kullat do local da batalha. “Eles não devem ficar ali”, pensou ele. A Senhora de Castelo continuava desacordada.
            Os Senhores de Castelo, que sempre se preocuparam com a paz, assistiam de perto a batalha titânica. Eles olhavam aquilo muito tristes, sentindo um grande pesar em seus corações, chegando a derramar algumas lágrimas, pois era possível ouvir os seus corações lhes dizendo que universos inteiros estavam sumindo no vazio e que, a cada segundo que passava, um número incontável de mortes acontecia. Um criador só pode criar e um destruído só pode destruir.
            –Porque não desiste?! Minha força é muito maior que a sua! – Disse a criatura.
            –Desista você de me fazer desistir! Nunca vou deixar de lutar! – Respondeu o ser divino.
            –Tem certeza? Tem certeza de que quer abrir mão daquilo que ama?! Você pode ressuscitar o seu amigo Kullat!!! – O comedor de sonhos jogava sujo.
            –...! – Quando aquilo lhe passou pela mente, o novo deus hesitou por um simples segundo, sendo o suficiente para ser golpeado pelas garras da inexistência no peito, que o ferira profundamente.
            –Agora você é meu! Passei todo esse tempo com aquela minúscula brecha para o seu mundo sorvendo conhecimento, aprendendo como vocês são, o que fazem e o que deixam de fazer... Patéticos! Essa palavra que vocês criaram é perfeita para vocês. Patéticos! Hahahahahahahahahaha.... – A entidade cósmica gargalhava sem tirar os olhos famintos de sua presa.
            –Pode ir parando por aí mesmo!!! – Uma voz transmitida pelos alto-falantes da ilha de Ev’ve, começava a se pronunciar.
            –Quem ousa me interromper! – A entidade cósmica se irritou. – Eu sou Ébano! Ser mais antigo que o multiverso! Vi tudo o que foi criado, ninguém pode evitar a minha vontade! Mostre se para que eu possa consumi-lo e fazê-lo deixar de existir!
            –Olha, que medo! – Seu ar era de zombaria. – Ele vai consumir a existência! Estou pouco me lixando pro que você quer! Você nunca derrotará os Senhores de Castelo!
            –É você arauto?! Não aprendeste a lição?! Somente eu devo existir!
            –Não, desculpe, se esperava pelo arauto, esta foi a ligação errada. Aqui quem fala é Fentáziz e estou prestes a conseguir a sua derrota!
            –O que no multiverso inteiro poderia me derrotar?! Mostre-me e eu a farei sumir definitivamente junto com você!
            –Lembra-se da Sinfonia do Caos? Aquele cântico que Alvora e Lux usaram para desmanchar Oririn?
            – Hahahaha! – Ele ria histericamente. – Aquilo é poderoso, mas não funciona comigo!
            –Eu não estava me referindo àquilo, seu idiota!
            –E o que seria então?
            –A Canção Celestial!
            –Você sozinho nunca teria poder para invocar este poder ancestral que criou o multiverso!
            –E quem disse que eu estou sozinho?!
            –Como?!
            –Não sou apenas eu que invocará a Canção Celestial... Eu tenho o coro de anjos perfeito ao meu alcance!
            –Qual, seu verme patético?! Mostre-me logo para que eu o devore! – Sua inquietação era visível.
            –Eu tenho o multiverso! Todos vocês que estão nos escutando pelo Informe do Multiverso que alcança as mais longínquas distancias que nenhum feixe de luz seria rápido o bastante para chegar, ouçam meu pedido! Concentrem-se no Mestre Thagir, ele precisa de vocês! Invoquem das profundezas do multiverso o seu mais sincero e grandioso apelo em nome do ser que está se sacrificando para salvar nossa existência! Façam o multiverso vibrar com o coro dos anjos! Invoquem a Canção Celestial!!! – Fentáziz ligou o som no máximo. – Bota pra quebrar Azio!!!
            E assim se fez, todos os transmissores estavam vibrando e replicando a grande quantidade de maru que era mandada por todas as sedes da Ordem dos Senhores de Castelo do multiverso que chegavam à torre do farol e recebiam carga máxima extraída da última fonte de energia da ilha, a chama de Nopporn. E não eram apenas Senhores de Castelo ou aprendizes que se juntaram a grande força, populações inteiras que também estavam ouvindo mandavam suas preces para o novo deus que recobrava suas forças. E haviam mais, criaturas, monstros, plantas... Seres de todos os tipos, cores, formas e tamanhos; elementais, naturais, espirituais ou espaciais, todos suplicavam em nome de Thagir. Os reféns que estavam dentro das Estrelas Escuras e os castelares que se libertaram junto com Fentáziz, também escutavam e imploravam por sua volta. Dânima, que sentia como ninguém aquela força ao lado de suas filhas, viu os Caçadores Sombrios derramando lágrimas e se esforçando para romper com o controle do Mestre Caçador, juntando-se àquela imensa oração.
            –Vamos lá minha gente! Derrotem todos juntos o comedor de sonhos! – O novo deus estava repleto de poder e luz, muito mais do que antes.
            –Não... Não... Não!!! Vocês são insignificantes! Vocês não podem ir contra a minha fome!
            –Então fique saciado de uma vez por todas! – O deus Thagir penetrou o fio duplo da espada do infinito no peito da entidade que se torcera, abrindo um buraco maior. – Agora compreendo o que eu preciso fazer!
            Com a outra mão, Thagir tirou do ferimento prestes a se fechar no peito o coração de Thandur que carregava dentro de si e o pôs na abertura que fez com a espada do infinito. O comedor de sonhos tentou devorar aquilo como tudo que fazia, buscando dissolver aquela grande quantidade de maru, mas havia algo errado, quanto mais ele tentava destruir aquela jóia, mais a energia dela se ampliava:
            –O que é isso?!!! O que você fez comigo?!!! – O comedor de sonhos estava contendo os seus movimentos, ficando paralisado.
            –Isso é algo que você nunca conheceu... ISSO É AMOR!!!
            Quase estática, a criatura parecia ter uma indigestão com a jóia que pulsava como um coração após ter absorvido tanta maru vital, se contorcendo vagarosamente. A criatura começou a chorar, sentindo dentro de si sentimentos ternos e emoções do qual não entedia, não era possível dissolver algo que é verdadeiro e sincero. Suas chamas diminuíram, sua fome estava sendo saciada e seus olhos começaram a se fechar. Por fim, não havia mais nada...
            O deus Thagir olhou para cima e viu o buraco espacial que continuava aberto, podendo se ouvir lamentos lá dentro, apontou a espada do infinito para lá e voou na direção da fenda. Juntou energia entre as mãos formando uma esfera que brilhava mais que uma estrela, que reconstruiu o tecido espacial corrompido. Provavelmente aquele não era o único comedor de sonhos...
            Fentáziz olhou pelos telões e não teve dúvida do que fazer:
            –NÓS VENCEMOS!!! NÓS VENCEMOS!!! – O sentimento era incontrolável.
            O multiverso era grande, mas naquele momento, ele era um só e estremeceu ao som do grito dos que assistiam a épica batalha dos Senhores de Castelo.
...

Transmissão continua...

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Dia de Bravura



            “De todos os treze dias de desafios que um aprendiz deve enfrentar para se tornar um Senhor de Castelo, nenhum é mais simbólico do que o Dia de Bravura. Este dia foi feito para separar pessoas comuns dos verdadeiros heróis, pois é neste dia que você tem que escolher entre uma vida livre ou a responsabilidade de arcar com todas as suas promessas, levando-as até o fim. Nem que você tenha que morrer para isso...”

...

            Dentro dos tubos continentais das estrelas escuras, as pessoas que haviam sido sequestradas acordavam do seu estado hipnótico. Laryssa, Azio e todos os outros Senhores de Castelo e aprendizes estavam lá, sem saber exatamente o que estava acontecendo. De repente, um burburinho que já estava se tornando uma algazarra lhes chamou a atenção. Laryssa e Azio correram para ver o que estava acontecendo e viram Fentáziz tentando abrir a porta do cilindro à força. A Senhora de Castelo perguntou:
            –O que você está fazendo Fentáziz?
            –Temos que sair daqui! Thagir e Kullat estão lá sozinhos! – Juntando a sua maru mágica, o repórter continuava atacando insistentemente a porta que não se abria.
            –Como você sabe que eles não estão aqui, este lugar é grande, eles devem...
            –Não! O sistema de transmissão específica ainda está funcionando, eu os vi lá fora... O comedor de sonhos está livre!
            Percebendo a gravidade do caso, Laryssa e Azio se puseram a ajudar, assim como outros Senhores de Castelo. A porta era hermeticamente fechada, mas não era duas e logo veio abaixo. O grito de guerra pode ser ouvido mesmo do lado de fora do colosso espacial.
            O simples repórter tinha certeza do que deveria fazer e começou a gritar do lugar mais alto que havia encontrado:
            –Escutem todos, precisamos dos castelares engenheiros aqui! – Laryssa apoiava o repórter, gritando o mesmo.
            –Do que precisamos Fentáziz? – Perguntou Azio.
            –Precisamos ligar os corredores infinitos diretamente na ilha de Ev’ve... Só assim conseguiremos chegar até lá...
            Então, os maiores gênios dentro da Ordem dos Senhores de Castelo se apresentaram e começaram a fazer o seu trabalho. Discutindo aqui e ali, fazendo soldas e mais soldas, ligando fios, usando seus teclados aéreos para fazer cálculos e mais cálculos. Dentro de alguns minutos o sistema estava ligado e funcionando perfeitamente, levando a multidão para as docas boreais. Laryssa olhava para os lados, procurava por Fentáziz:
            –Onde eles estão? Diga-me! – A Senhora de Castelo sentia algo ruim em seu coração.
            –Segundo os receptores... – Fentáziz sentia os sinais emitidos dentro de sua cabeça. – Kullat está no pátio secundário, atrás do conselho, e Thagir está indo atrás dele. Kullat está segurando algo em suas mãos... Desculpe, a recepção está ficando difícil, o comedor de sonhos deve estar devorando o sinal.
–Certo... Obrigada! – Laryssa começou a correr a pé, o mais rápido que podia.
–A Senhora de Castelo gostaria de uma carona? – Um motoqueiro de preto parou ao lado de Laryssa.
–Você de novo!
–Surpresa em me ver?! Que amor... – Laryssa não quis saber e subiu na moto elétrica.
–Vamos para o pátio secundário Micah! Pode exagerar o quanto quiser na velocidade!
–Deixe comigo! – E Micah acelerou com tudo, saindo em disparada.
–Mestra Laryssa! – Azio havia ficado para trás.
–Você vem comigo latinha... – Azio olhou para os lados e viu o repórter. – Preciso de você para concluir o meu plano.
–E do se trata?
–Preciso ampliar as ondas do transmissor específico que estão no farol de Nopporn...
–E o que você pretende com isso?
–Fazer um verdadeiro milagre!
–...?! – Azio não computava tal informação, o que fazia seus olhos piscarem.
Mesmo assim, o autômato acompanhou o repórter do informe do multiverso aonde ele queria.
...

            Enquanto isso, Thagir tinha certeza de onde estava o amigo e simplesmente se dirigiu para lá, ativando a supervelocidade adquirida do verdadeiro coração de Thandur. Este artefato místico, além de aumentar os sentidos ao máximo, desacelerando consideravelmente a percepção do tempo, tem outra habilidade especial: ver o futuro. Como qualquer outra teoria do tempo, o futuro é algo incerto, capaz de ser mudado. No entanto, o que Kullat estava para fazer era algo que não poderia ser mudado...
            O Senhor de Castelo, perdido nas imagens que lhe vinham a mente incessantemente, torcia para que o tempo ainda não tivesse passado:
            –Kullat!!! – O oririano estava de costas para Thagir, segurando a espada do infinito que estava completamente inerte.
            –A energia dela se foi, não tem como combatermos o comedor de sonhos sem ela... – Seu tom era triste, parecia estar se aguentando para não chorar.
            –Kullat, não faça isso!!! – Thagir se detinha para evitar o pior.
            –Amigo, todas as vezes que estivemos juntos, todas as vezes que lutamos contra o mal, eu ainda não pude lhe dizer o quanto sou grato por tudo isso, por ter podido viver ao lado de um grande Senhor de Castelo. Confesso que sempre me senti inferior a você, por não ter tido uma família, mulher e filhos. Eu sei de minha condição como Senhor de Castelo, eu amo o que faço. Mas chegou a hora de retribuir tudo o que você fez por mim, este é o meu dia de bravura...
            –Não!!! Kullat!!!
            O manto branco do Senhor de Castelo, que tantas vezes iluminava no escuro e era um alento para os desesperados, perdera o brilho e começou a ser corrompido pelo vermelho de seu próprio sangue. Thagir correu para perto dele, sentindo a pior das agonias, tomado pelo desespero:
            –Kullat!!! Você não precisava fazer isso... – O sangue do companheiro estava em suas mãos, escorrendo pela espada do infinito.
            Laryssa havia acabado de chegar ao pátio secundário com a carona de Micah e correu para junto dos amigos:
            –Kullat... – A Senhora de Castelo estava sem palavras. – O que você fez seu idiota!
            Num último suspiro, Kullat tentou dizer algumas palavras, a castelar de Agabier se aproximou para ouvir:
            –Laryssa, eu... te...
            –Kullat? Kullat!!! Kullat... – Ela gritava o máximo que conseguia, chorando copiosamente. – Eu também te amo...
            Thagir e Laryssa choravam amargamente, mesmo depois de ter enfrentado Volgo e seus asseclas sanguinários tantas vezes, nada poderia ser mais triste do que aquela angustia. Um amigo é e sempre será mais precioso que qualquer multiverso...
Num último lampejo de esperança, a maru vital fora aceita e a espada do infinito estava novamente viva e brilhando, esperando ser empunhada por seu legítimo senhor...
...

Transmissão continua...

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Um ser de Ébano renasce



“A única coisa de que me arrependo, é de nunca ter sido amado...”

...
            Thagir e Kullat saíram do Labirinto Virtual e logo foram transportados repentinamente para a Estrela Escura onde o arauto do Mestre Caçador estava. De volta ao salão do centro de energia do colosso espacial, os castelares observavam os doze Caçadores Sombrios, seis de um lado, seis do outro, todos com as mãos para trás e o rosto baixo. O mago estava no chão, não se movera, estava com um ar estranho, estático e imóvel. Ao se aproximarem, notaram que no chão estava uma imensa poça de sangue e um fluido negro que gotejava constantemente do Ilusionista, o grande observador atrás do arauto. Isso preocupava os Senhores de Castelo, o que eles fariam agora que o arauto estava morto? Uma voz que trovejava por todo o salão quebrou o silêncio:
            –Me entreguem a espada!!!
            –Quem disse isso?! – Indagou Kullat
            –Creio que este seja o Mestre Caçador... – Thagir continuava com o olhar fixo na direção do mago.
            –Huuunnnhuuunnnhuuunnnnhuuunnn... Huuunnnhuuunnnhuuunnnnhuuunnn... – Os Senhores de Castelo reconheceram o som daquele dia em que haviam chegado à ilha de Ev’ve.
            –Quem é você, mostre-se! – Exigiu o pistoleiro de Newho.
            –Eu... Sou... Ébano!!! – O grande grimório usado pelo arauto flutuava no ar ainda aberto e se fechou, na capa um grande olho observava os dois castelares.
            –Então era aí que você estava esse tempo todo! Realmente, eu ainda não havia desconfiado de um objeto... – Thagir parecia despreocupado.
            –O que é isso? – Perguntou Kullat.
            –Este... Esta coisa é... Um comedor de sonhos...
            –Mas, eles não estão presos na dimensão do meio? Para que serve a espada e toda essa movimentação de corpos e estrelas?
            –Huuunnn... Como pode ver, estou preso e com a espada do infinito poderei finalmente sair!!! – Aquilo ecoava estrondosamente.
            A vibração da espada estava no máximo e foi puxada para fora da estrela junto com o livro. Todos os Caçadores Sombrios recitavam as mesmas palavras antigas compelidos por uma força externa anormal que Kullat e Thagir também sentiam. Os antigos chamam essa energia de “O coro de anjos”, dezenas, centenas, milhares, milhões de seres recitando o mesmo cântico. Os reféns deviam estar sobre a influência do livro. Quando essa melodia começou a tocar, as Estrelas Escuras finalmente se iluminaram, vibravam em uníssono, junto à ilha de Ev’ve. Era agora, o tempo e o espaço estavam se rasgando e a dimensão do meio se abriu. De dentro da fenda, uma massa disforme e escura tentava se por para fora aos poucos. O que fazer? As armas haviam acabado, o canhão de potência estava com a bateria gasta depois de tantos tiros, o novo cajado de Jord não poderia ir contra um ser capaz de comer a realidade. Algo horrível estava saindo e iria começar a devorar o multiverso! Thagir se concentrava e tentava lembrar-se daquele dia em Newho, ele estava esquecendo-se de algo e sentia que sua memória estava voltando. Olhou para todos os caçadores e reconheceu algo familiar:
            –Dânima! – Thagir estava livre do feitiço. – Meu amor, acorde!
            O Senhor de Castelo estava parado diante da grande arqueira dos Caçadores Sombrio, que não se movimentava:
            –Thagir, você tem certeza, ela não se parece com a sua esposa...
            –Eu sei que é ela... Naquele dia, ela era o segundo Caçador!
            Kullat estava incrédulo:
–Como poderia ser? Dânima nunca faria uma coisa dessas! Ela nem é guerreira!
–Meu amigo, ela é de Newho! Veja isso... – Thagir tirou a parte da roupa de couro que cobria o rosto, mostrando algo incomum.
–Isto é... – Kullat se aproximou para ver. – Uma tatuagem fantasma!
–Sim, tudo está fazendo sentido agora! É assim que o comedor de sonhos controla os Caçadores Sombrios. Deixe me ver... – Thagir sussurrou algo no ouvido da esposa e a tatuagem desapareceu, fazendo a rainha de Newho desmaiar, caindo nos braços de seu marido.
–O que você fez?
–Durante a luta que tivemos no alto da torre do castelo de Newho, fomos surpreendidos por uma pequena boneca de cachinhos dourados...
–Aquela usada por Inok, certo?
–Certíssimo! Dânima não se mexia diante dela e eu aproveitei para derrubá-la sem maiores esforços. Para meu espanto, aquela boneca medonha começou a falar uma única palavra repetidas vezes: “Dentro, dentro, dentro”...
–Dentro da boneca?
–Isso mesmo! Dentro dela havia um papel e uma jóia. Quando tentei ler o que estava escrito, as letras passaram para a minha mão e subiram, direto para a minha mente! É isso! Os Caçadores Sombrios estavam mandando uma mensagem, nela dizia sobre N’quamor, o contra-feitiço para a tatuagem fantasma e...
–E o que mais homem?! Não podemos perder tempo, o multiverso está sendo desintegrado lá fora!
–Dânima sabe o que precisamos fazer, ela precisa acordar! Acorde meu bem! Acorde! – A rainha não respondia. – Eu te amo...
Como um sopro de vida, as palavras de Thagir ecoaram nos ouvidos de Dânima, despertando-a de seu sono:
–Ahn? O quê? Onde estou? Thagir? Você está chorando? – A esposa passou carinhosamente a mão na barba de seu marido que a apertava fortemente, e ele segurou em sua mão em sinal de resposta.
–Dânima, meu amor, nós precisamos agir! – Thagir ajudava sua bela esposa a se levantar enquanto ela ia retomando a figura serena que o povo de Newho tanto amava.
–Sim, estou me lembrando... Precisamos dar corda nas engrenagens do arauto!
–Fruto da magia e da tecnologia... – Thagir olhava para Kullat, tentando diminuir seu espanto.
Os três se aproximaram do arauto e lhe tiraram a capa que cobria o corpo, mostrando um peito feito de vidro, completamente preenchido por rodas dentadas da mais fina espécie, delicadas e frágeis como flocos de neve. No lugar do coração havia um relógio, havia marcações de ano, mês, dia, hora, minutos e segundos; com uma inscrição por debaixo dos ponteiros: “A única coisa de que me arrependo, é de nunca ter sido amado...”. Dânima olhava para o mecanismo tentando se lembrar do que devia fazer e começou a contar ao marido o que havia acontecido quando fora sequestrada:
–Me lembro de estar com nossas filhas, eu estava bordando e elas lendo alguns livros. De uma hora para outra estávamos num lugar diferente, que parecia um grande cilindro onde cabia quilômetros de chão, florestas e rios... – Thagir prestava atenção na esposa. – Todos que conheço em Newho estavam lá, como éramos prisioneiras importantes, fomos levadas para outro lugar, onde conheci o arauto...
–Continue querida, você está indo muito bem... – Thagir tentava animar a esposa.
–Ele era gentil, nunca nos obrigou a nada... Mas um dia o livro disse que me queria, e o arauto se revoltou contra ele. O livro desregulou seu suporte de vida como retaliação e o deixou sofrendo no meio do chão, quase sem respirar. Ele disse que não queria ser visto naquele estado, eu insisti e me aproximei; e pude ouvir algumas notas musicais que me lembraram aquela velha canção que sua mãe cantava para nossas filhas. – Dânima começou a sussurrar a velha canção, tentando se lembrar, Thagir então pegou em sua mão suavemente e começou a acompanhá-la...
Aquela bela canção parecia surtir efeito, as engrenagens reagiam, se movimentando aos poucos. O arauto abriu os olhos:
–Sistemas em baixa... Tempo de funcionamento acabando... A espada do infinito não serve para destruir, apenas para criar... Ébano possui inteligência... Ébano não possui coração... Vão atrás de Kullat...
Os reis de Newho perceberam que o Senhor de Castelo de Oririn não estava mais com eles:
–Kullat!!! – Thagir gritou furioso.
–Meu amor, vá atrás dele... Eu vou ficar bem.
Thagir olhou para Dânima no fundo dos olhos e tirou um pedaço de papel do bolso, o mesmo que estava dentro da boneca, e entregou a ela:
–Cuide de nossas filhas... – Thagir ia sair e se lembrou de mais uma coisa. – Nunca mais vou me esquecer disso.
E os dois se beijaram, com a mais bela das ternuras, um amor verdadeiro, cuidado com requintes do destino, onde as duas almas, em qualquer lugar do multiverso em que estivessem, se encontrariam novamente para serem, de novo, uma...
...

Transmissão continua...

terça-feira, 12 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Luta e Sobrevivência


            Rigaht havia ficado louco, invocou um dos mais terríveis monstros já conhecidos: o Gaiagon. Apesar de aquela ser uma forma infante e incompleta, seu tremendo poder danificou seriamente as estruturas da árvore de aço, abrindo um rombo na construção. Lutar contra aquele devorador estava fora de questão...
            As duplas se separaram durante a fuga, caminhando por caminhos diferentes rumo ao topo. Thagir havia conseguido atirar no Nogaiag, o que surtiu grande efeito, fazendo-o cair, deixando-a ferida e raivosa na base da árvore. Descer não era mais opcional...
            Kullat pode proteger o amigo com seu poder de maru mágica que os envolveu, protegendo-os do ataque iminente. Infelizmente, o castelar branco fora seriamente ferido, perdendo muito sangue. O pistoleiro conseguiu estancar o sangramento com alguma erva mágica que lhe restava e pôs se a levar o amigo nas costas, subindo pela árvore, mesmo estando num estado tão pior quanto aquele – devia ter alguma costela quebrada, várias escoriações, os ouvidos não ouviam bem. Era como se ele fosse apenas uma máquina agora, agindo por impulso, andando apenas para tentar garantir a sobrevivência daqueles que amava. Não havia como pensar no futuro, no passado, ou no presente, sua única necessidade era para com a espada do infinito.
A mais de três mil metros de altura, a vibração da espada do infinito já podia ser sentida, um alento para um guerreiro cansado. Subindo o próximo lance de escadas, Thagir viu uma porta, disparou contra ela sua última munição e atravessou-a. Diante dele, o último andar, o topo da árvore de aço, um imenso chão de mais de um milhão de metros quadrados. Atrás dele um parapeito que dava para uma queda de morte certa, diante dele, no alto, uma esfera de energia quente e suave que brilhava como uma estrela e do lado oposto a porta por onde saíra havia outra porta. Não tinha certeza se conseguia ver direito, mas era o que parecia, ela estava aberta e, fraco como estava, poderia ser alvo fácil para os Caçadores. Thagir sorriu um pouco, lembrou-se do que o inimigo havia dito: “Ordem dos Caçadores Sombrios, imagine isso, uma ordem que não a dos Senhores de Castelo!”, pensava ele consigo. Ele olhou para Kullat que continuava dormindo, inconsciente daquela visão de um céu estrelado – ou que imitasse um – com uma estrela tão perto deles. Thagir levantou outra vez o amigo nos ombros e continuou andando, ainda havia um longo pedaço de chão para chegar ao centro do lugar.
Subitamente ele sentiu o chão tremer, estava atento para qualquer coisa que acontecesse e sentiu se levemente estranho quando o tremor parou. Olhou para cima e percebeu o que tinha acontecido, mais um andar tinha sido integrado à árvore de aço, deixando a espada do infinito mais próxima. Dando mais um passo, finalmente os adversários apareceram:
            –Hunhun... – Fez Rigaht caminhando uns poucos passos na direção dos Senhores de Castelo. – Vocês não têm uma proteção tão eficiente contra o Nogaiag... Provavelmente do seu lado do multiverso, vocês nem sabem onde eles estão!
            Os olhos do caçador estavam diferentes, muito mais distorcidos e loucos que antes. Thagir também havia notado outra coisa, que o caçador havia se apresentado sozinho e indagou:
            –Onde está o seu companheiro? Porque ele não aparece? Estou desarmado... – E pôs Kullat no chão para mostrar o consentimento.
            –Você realmente quer saber? – Seu sorriso malicioso se completava com o olhar demente. – Ele está bem aqui!
            O caçador se virou e Thagir pode ver que aquilo estava passando dos limites:
            –Isso é impossível!!! Como?!
            –Muito simples... Este é o efeito daquela droga! Hahaha... – A sanidade o abandonara completamente.
            Aquela cena era difícil de entender:
–Por que vocês fariam uma coisa dessas, juntar os dois corpos num só? – Perguntou Thagir.
–Somos mais poderosos assim... Veja! – O novo ser usava as manoplas de Droj, os braceletes das jóias de Rakardnal, o olho de Rudaht e trouxe para si o centro gravitacional de Droj que o orbitava, arremessando-o por cima dos outros prédios do labirinto.
A força era descomunal, nenhum dos enormes prédios resistia a toda aquela força combinada. Thagir não sabia o que fazer, deveria esperar pelo pior? Morrer com honra? Perder tudo contra uma aberração daquelas? Ele ficou parado, sem fazer nada, buscando em si alguma força que pudesse fazer sentido:
–Não está surpreso?! Espere para ver o que vou fazer com vocês! – O monstro caçador começou a caminhar na direção dos dois, rachando o chão ao seu redor, retorcendo os metais.
Naquele momento, Thagir só conseguia se lembrar do pai, daquele momento em que fora salvo do monstro do armário, vendo aquela imagem com perfeição. Sentia-se como se o rei Primir estivesse lhe dando algo como presente. A jóia de Landrakar reagiu a esse sentimento e liberou algo que estava travado nela há muito tempo:
–Este é... O canhão de potência! – Thagir estava maravilhado com a imagem daquela bela arma se materializando em seu braço que tinha uma pequena inscrição: Para meu filho. – Obrigado pai...
Com lágrimas nos olhos o pistoleiro levantou o canhão pesado e ativou a mira automática que logo que estava com carga máxima disparou contra o monstro. Seus poderes psíquicos desviaram o raio, evitando o choque, no entanto, ele foi arrastado uns dez metros. O monstro caçador bufava e transpirava indignação, estourando todo o chão ao seu redor que logo seria arremessado contra o Senhor de Castelo:
–Sabe o que eu mais adoro nessa belezinha? Ela recarrega muito rápido! – E disparou o segundo tiro que ultrapassou os pedaços de metal e novamente repelido pelo mutante que foi jogado para trás mais vinte metros.
–Otidlam!!! – O centro de gravidade parou no meio do ar e caiu no chão, o poder do caçador sobre ele havia cessado. – Argh!!! Ah!!! Hugh!!!
O caçador estava se contorcendo em dor, depois de ter usado tanto poder a mutação que unia os dois caçadores estava se tornando instável. Como Rigaht era a consciência dominante, era ele quem sofria mais, os circuitos internos que faziam parte das próteses eletrônicas de Talluk estavam sendo rejeitadas. A criatura vomitava os próprio órgãos. Thagir se preparou e disparou o terceiro tiro que fez a criatura voar uns duzentos metros para trás:
–Você não vai conseguir me derrotar... – O rosto do caçador se contorcia de diversas formas. – Oãrecelaverp serodaçac so!!!
–Você perdeu a luta quando quis tomar aquela droga... – E Thagir disparou o tiro final.
A criatura conseguiu se defender mais uma vez, sendo arrastada até a beirada da árvore, ficando dependurada. Ela tentava se segurando aqui e ali, porém, seus braços perdiam a rigidez e escorregavam. Lá em baixo, tremores repercutiam por toda a árvore, fazendo Thagir sorrir pelo canto da boca:
–Acho que o seu bichinho está com fome...
Mais um tremor e a criatura disforme despencou os mais de três quilômetros de altura direto na boca do faminto Nogaiag. Thagir relaxou, ajoelhando-se sobre as pernas e olhou para a jóia de Landrakar:
–Então era por isso que o limite dessa jóia era tão inferior a minha... – Kullat começou a acordar. – Kullat, você está bem?
–Acho que sim... – O castelar branco se levantava com a mão na cabeça.
–Meu amigo, nós conseguimos... – Thagir sorria aliviado.
Com os dois guerreiros de Curanaã e Oririn juntos, a espada do infinito reconheceu a sua vitória e desceu para perto deles. Ela mantinha grande intensidade luminosa e vibrações revigorantes que trouxeram de volta a força e o vigor dos Senhores de Castelo. Sua forma eram dois longos filetes de metal prateado puro e polido, refletindo a imagem ao seu redor como um espelho, e se entrelaçavam em espirais na empunhadura:
–Agora só nos falta encontrar o verdadeiro Mestre Caçador...

...

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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios

Os Inversos Rigaht e Talluk



            O guerreiro de casaca vermelha continuava a manipular a mente de Kullat, invadindo o seu maior desgosto, o seu maior medo. Thagir, desnorteado, tateava para se aproximar o suficiente do inimigo para conseguir mirar com mais perfeição e não atingir o companheiro por engano:
            –Kullat! Acorda!!! – Thagir gritou e o castelar reagiu, tomando novamente a aura espectral que sempre o cobre nos combates.
            –...! – O cavaleiro branco puxou sua espada do chão e golpeou certeiramente o adversário no braço, afastando-o.
            –Mob... Vocês oãs extraordinários. – Rigaht falava de maneira inversa e na língua dos castelares ao mesmo tempo. – Isso foi apenas o começo!
            Da ferida de Rigaht larvas típicas de carne podre brotavam aos montes, enojando os Senhores de Castelo e curando sua ferida exposta. O paranormal liberou sua fumaça pela boca que logo o envolveu e inibiu a visão de Kullat, evitando que ele prosseguisse com o ataque. Talluk, que havia se escondido nas paredes da árvore de aço, ampliou o campo de alta vibração e tentou prender Thagir ao chão. O pistoleiro sentiu que o solo se desmanchava aos seus pés e deu um salto para evitar que fosse absorvido. Como o adversário estava perto, seu sentido aguçado conseguiu detectá-lo, então ele enfiou um dos bastões de combate com tudo na parede. Um gemido de dor e desprazer pode ser ouvido pelo andar. Thagir já conseguia ver melhor e foi para perto de Kullat:
            –Você está bem? – Perguntou o castelar de Newho.
            –Só meu orgulho foi ferido... E seus olhos, como estão? – Kullat retribuiu a atenção.
            –Melhores, já consigo enxergar, apesar da minha cabeça doer muito. – Thagir esfregava os olhos tentando agilizar a recuperação.
            –Pelo jeito vai ser um pouco difícil passar por eles...
            Os inversos se colocaram lado a lado na outra extremidade do andar da árvore. Talluk pegou duas coisinhas pequenas no bolso e deu uma para Rigaht, os Senhores de Castelo se indignaram com a cena:
            –Drogas?! Vocês usam drogas para lutar?! Lutem por sua própria honra!– Gritou Thagir querendo ter uma batalha mais digna.
            –Calado! – Respondeu Rigaht. – Não temos medo de lutar por nossa sobrevivência, isso ainda vai demorar a fazer efeito... Enquanto isso, por que não discutem com o meu Cão do Inferno!
            O inverso de Thagir finalmente havia usado a jóia de um dos seus braceletes, invocando uma grande fera, parecida com Mandíbula, o canino gigante, porém negra, fétida, de olhos vermelhos fumegantes com feridas por todo o corpo que rosnava raivosamente. O pistoleiro se lembrou que não conseguia converter maru orgânica para colocar na jóia de Landrakar e que ela era muito visada por pistoleiros por ser muito útil na hora de carregar objetos inorgânicos, a habilidade incomum de converter aquele tipo de maru era muito interessante:
            –É assim que você usa a jóia de Landrakar? – Perguntou Thagir.
            –As jóias de Rakardnal são muito raras... Seu poder de guardar seres vivos é muito útil quando se quer acabar com alguém sem deixar rastros, é por isso que tenho todas as cinco! – Seu tom era de gozação, pois sabia que o Senhor de Castelo tinha grande estima por dividir o poder das poucas jóias com o irmão, uma vez que só haviam mais três; pois Thagir destruíra a que era sua voluntariamente e só restaram a que está com ele, que era de seu pai e que fora roubada e reencontrada por ele, e outras duas de paradeiro ainda desconhecido.
            –Miserável! O que você quer dizer com isso?! – Thagir não queria acreditar na possibilidade que lhe passava pela cabeça.
            –Thagir, acalme-se, ele está tentando te desconcentrar...
            –Hahaha... – O inverso gargalhou profundamente. – Ataque Cão do Inferno!!!
            A fera foi para cima dos castelares e Thagir, para se defender, sacou novamente seu rifle e deu um tiro certeiro na cabeça da fera que voou para trás, caindo de costas. Ele estava apreensivo, sabia que aquele monstro não seria fácil de derrotar. E foi o que aconteceu: os mesmos vermes antes vistos em Rigaht brotavam do interior do animal convulsivamente, restaurando sua forma original. Rapidamente ele se pós de pé e foi com lentidão se aproximando novamente dos Senhores de Castelo, se dividindo em dois!
            Kullat temia que aquilo acontecesse, a fera diante dele era muito parecida com o guardião que encontrara na caverna dentro da montanha de Yaa, a mãe de todas as fadas, no planeta natal de Laryssa. Suas faixas se inflamaram em chamas brancas e pôs a suas mãos no chão que começou a se incendiar. As feras perceberam e pulavam de um lado ao outro a caminho dos alvos evitando serem atingidas. A que foi atacar Kullat, recebeu uma grande quantidade de maru de um golpe no dorso, ela caiu e o cavaleiro fincou-lhe a espada nas costelas prendendo-a ao chão, terminando de ser queimada. Thagir também deu um jeito de se livrar da fera que estava em seu encalço, usando uma nova munição da jóia de Landrakar no rifle que ardeu em chamas a fera com um único tiro. Apesar do impacto que as ofensivas tiveram, elas continuaram rosnando no meio de suas fogueiras:
            –Agora quem se irritou fui eu! – Kullat estava emanando maru descontroladamente e invocou o novo cajado de Jord, postando-se para o combate.
            Thagir confiou no amigo e tirou da jóia de Landrakar uma pistola incomum de cano largo, que misturava a carga de uma jóia de maru no tambor com a emissão de ondas continuas de uma arma binaliana:
            –Pelo jeito, você também se divertiu com as novas invenções do laboratório da Academia? – Thagir apenas sorriu em resposta ao amigo, enquanto mirava com atenção; o tiro tinha que ser preciso, pois aquela era apenas uma arma experimental.
            –Zev ahnim! – Talluk ficou a frente e seu peito mecânico se abriu, liberando uma esfera negra, divida pelo meio por uma faixa que brilhava em diversas cores. – Conheçam o centro gravitacional de Droj!
            –Isso está ficando cada vez melhor! – Rigaht estava ensandecido com tanta determinação. – Também quero que conheçam o meu melhor monstro!
            O inverso juntou as duas jóias dos braceletes nos pulsos, que deveriam ser iguais, e uma força sombria começou a dominar o local, um campo de força de maru vermelha e violeta se formava com grande intensidade à frente dele. Aquilo pulsava, se debatia, esperneava... Queria sair a qualquer custo! Os Senhores de Castelo estavam apreensivos, o que poderia ser aquilo? E então surgiu um ser enorme de pele tão branca que as veias azuis transpareciam vivamente o sangue que era bombeado, tinha olhos por todo o corpo, com dois pares de apêndices nas costas que lembravam asas ao se dobrarem para trás. Toda a árvore de aço estava tremendo ao sentir o imenso poder daquele criatura de feições infantis e terríveis! Aquilo era definitivamente intenso e poderoso:
            –Vejam o meu Nogaiag!!! Hahaha...

...

Transmissão continua...